Oi pessoal, tudo bem?
Não é segredo pra ninguém que tenha lido minha resenha de Daisy Jones & The Six ou visto meus posts no Instagram que eu não gostei do livro por diversas razões, mas que tinha expectativas de que gostaria mais da série. Novamente fui gongada pela vida e tive mais uma sessão intensa de “passando raiva graças a Daisy Jones e Billy Dunne”, dessa vez ao longo de 10 longos episódios. Brincadeiras à parte, a série realmente funcionou mais do que o livro pra mim, me mantendo mais interessada e “consertando” alguns problemas que me incomodaram nas páginas. Por outro lado, ela também me decepcionou bastante em relação a certos plots e personagens importantes do livro ao adaptá-los de forma bem problemática. 🥲
Então, pra tentar ser justa no meu balanço final a respeito da adaptação – e pra não escrever uma resenha repetitiva, já que falei sobre o livro há pouco tempo –, resolvi fazer um post semelhante ao que escrevi sobre a segunda temporada de Stranger Things, trazendo pra vocês quais foram (na minha opinião) os erros e acertos de Daisy Jones & The Six! Por motivos óbvios, esse post tem spoilers sobre a série.
Erros
Higienização e romantização da personagem de Daisy: uma das primeiras coisas que ficam claras para o leitor no livro é que, desde a adolescência, Daisy faz uso intenso de drogas e álcool. Negligenciada (e indesejada) pelos pais, ela se torna uma groupie aos 14 anos e começa a frequentar bares e pubs, saindo com caras mais velhos e entrando em contato com o rock n’ roll, mas também com o abuso de substâncias. Quando ela passa a fazer parte dos Six, seu vício é uma parte fortíssima de quem ela é, tanto que ela nem sabe quantas pílulas toma por dia ou quais drogas mistura. Na série, porém, até o terceiro episódio isso mal é mencionado. Daisy parece uma jovem inspirada que só quer poder fazer a sua música em paz enquanto mal e mal fuma um baseado. Além disso, todo o lado negativo da sua personalidade demora muito a ser mostrado: no livro, Daisy é egoísta, irresponsável e não liga se suas ações vão afetar os outros negativamente. A sensação que tive enquanto assistia à série é de que criaram uma versão “palatável” de Daisy, para que o espectador pudesse gostar e torcer por ela.
Falta de magnetismo em Billy e Daisy individualmente: enquanto eu lia Daisy Jones & The Six, a dupla de protagonistas era sempre descrita como pessoas das quais você não conseguia desviar o olhar. O magnetismo que ambos exerciam era – depois da química e do talento musical – um dos grandes motivos pelos quais a parceria dava tão certo. Todo mundo queria ver Daisy e Billy de perto, e eles eram verdadeiros ícones do rock. Na série, contudo… Daisy começa bem sem sal pro meu gosto, mas com o passar dos episódios vai se destacando e ganhando a personalidade marcante que eu tanto queria ver. Já o Billy, coitado, não poderia ser mais sem graça. A adaptação foca totalmente no seu sofrimento como alguém que luta contra o vício em drogas e álcool, o que mostra a competência dramática da atuação de Sam Claffin, mas deixa todo o brilho do “showman” Billy Dunne de lado, o que é uma pena.
“Consumação” da atração de Billy e Daisy: eu odeio triângulos amorosos, e se envolvem traição meu ranço fica ainda pior. No caso do livro, pelo menos, Taylor Jenkins Reid opta por contar uma história nunca concretizada, o que torna essa história cheia de reminiscências ainda mais melancólica, já que gira em torno de muitos “e se?”. Na série, porém, fizeram a burrada de incluir no roteiro (mais de uma vez!) cenas em que Billy beija Daisy, desrespeitando seu casamento com Camila da pior forma e toda sua própria construção de personagem feita no livro. O que me leva ao próximo e, provavelmente, pior erro da adaptação.
O desrespeito à personagem de Camila e ao amor de Billy por ela: que Billy eventualmente se apaixona por Daisy é evidente, especialmente durante o processo de composição do álbum Aurora. Porém, ao longo das páginas, ele deixa claro de diversas formas o quanto amou Camila e o quanto ela sempre foi sua prioridade. Não porque ela era sua esposa, não porque era mãe de suas filhas, não por seu senso de dever: pelo que ela representava pra ele e porque ele a amava. Em determinado momento, Billy diz que se Daisy era fogo, Camila era sua água, e era disso que ele precisava. Em suas entrevistas ele deixa claro o quanto faria de tudo pra ter mais momentos com ela e o quanto ela representou em sua vida. A série falhou durante todo esse processo, especialmente ao colocar falas que indicavam que ele só não ficava com Daisy porque tinha uma família, ou seja, como se o amor por Camila já nem existisse mais. Isso é um desrespeito tremendo por aquela relação e pela personagem que foi a cola do casamento e da banda como um todo. Até tentaram se redimir nas cenas finais, quando Billy conversa com a filha, mas sinceramente? Já não adiantava mais. Pra quem só viu a série, acho difícil compreender a magnitude do sentimento entre ele e a Camila. E eu, como fã dessa personagem, acho um verdadeiro desperdício. 🙁
Acertos
Trilha sonora: apesar de inicialmente eu ter ficado meio de nariz torcido por terem trocado as letras originais das músicas, tenho que elogiar o empenho da série em fazer uma trilha sonora tão realista e um trabalho de divulgação tão bem feito pra tornar Daisy Jones & The Six e o álbum Aurora reais. Mesmo que não seja meu estilo de música especificamente (achei que ficou um pouco country rock demais pra mim), a produção caprichou e o resultado é excelente e imersivo.
Figurinos e ambientação: assistir Daisy Jones & The Six é mergulhar na época em que a série se passa. A paisagem, os figurinos, os cenários, cada detalhe é pensado com cuidado e transporta o espectador para as décadas de 60 e 70. É engraçado sentir nostalgia por uma época em que você não estava vivo, mas é uma sensação parecida com essa que a série te faz sentir. Dá vontade de estar naqueles estádios lotados, assistir a banda se apresentar ao vivo e sentir aquela energia também.
Camila como sexto membro dos Six: quando anunciaram que Pete Loving, o sexto membro da banda, não faria parte da série, os fãs no Twitter começaram a especular que a Camila poderia ser o sexto membro da banda – inclusive pelo destaque dado a ela nas fotos em grupo. Bingo! Eu adorei essa mudança e acho que fez todo sentido, especialmente pelo papel que ela tem em manter todos unidos e até pelo próprio papel de esposa do Billy, que sempre o apoiou na carreira musical. Além do mais, a série traz mais foco pra Camila como pessoa, o que é um grande acerto: ela ganha uma profissão (fotógrafa, e muito talentosa), e alguns dilemas próprios bem interessantes.
Mudanças no personagem de Eddie: no livro, Eddie é um cara recalcado (com boas razões) que passa a entrevista inteira reclamando do ego gigantesco do Billy (e tá errado?). Na série, provavelmente pra torná-lo menos insuportável, os roteiristas dão mais razões pra ele ser amargo como é. Primeiro, ele é tirado do seu posto inicial como guitarrista contra sua vontade, sendo colocado no baixo; depois, quando assume os vocais na ausência de Billy, também é retirado da sua posição sem muita consideração; e por fim, a mudança mais interessante diz respeito a seus sentimentos por Camila. Adorei esse plot e achei que essa (e as outras) mudança ajudou muito a dar profundidade a um personagem que, no livro, era raso e só sabia reclamar por despeito.
Foco na cena LGBTQIA+ negra de Nova York: Simone, a melhor amiga de Daisy, é uma personagem que não tem tanto espaço no livro, ainda que seja super importante para a protagonista. Na série, ela ganha um episódio com bastante foco na sua vida em Nova York, onde ela conhece uma DJ que a ajuda a ascender na carreira cantando em boates. As duas iniciam um relacionamento amoroso e constroem uma relação muito bonita, e eu adorei ver esse espaço na trama destinada à cena queer e negra da época.
Acho que os principais tópicos que eu gostaria de abordar são esses, pessoal.
E vocês, já assistiram Daisy Jones & The Six? Curtiram?
Vou adorar saber nos comentários! 😀