Resenha: Vermelho, Branco e Sangue Azul – Casey McQuiston

Oi pessoal, tudo bem?

Prontos pra uma dica bem amorzinho, daquelas que prometem aquecer o coração? Então bora que hoje vou dividir minha opinião sobre um queridinho da blogosfera: Vermelho, Branco e Sangue Azul.

Garanta o seu!

Sinopse: O que pode acontecer quando o filho da presidenta dos Estados Unidos se apaixona pelo príncipe da Inglaterra? Quando sua mãe foi eleita presidenta dos Estados Unidos, Alex Claremont-Diaz se tornou o novo queridinho da mídia norte-americana. Bonito, carismático e com personalidade forte, Alex tem tudo para seguir os passos de seus pais e conquistar uma carreira na política, como tanto deseja. Mas quando sua família é convidada para o casamento real do príncipe britânico Philip, Alex tem que encarar o seu primeiro desafio diplomático: lidar com Henry, irmão mais novo de Philip, o príncipe mais adorado do mundo, com quem ele é constantemente comparado ― e que ele não suporta. O encontro sai pior do que o esperado, e no dia seguinte todos os jornais do mundo estampam fotos de Alex e Henry caídos em cima do bolo real, insinuando uma briga séria entre os dois. Para evitar um desastre diplomático, eles passam um fim de semana fingindo ser melhores amigos, e não demora para que essa relação evolua para algo que nenhum dos dois poderia imaginar ― e que não tem nenhuma chance de dar certo. Ou tem?

O livro é narrado em terceira pessoa e é focado na perspectiva de Alex, filho da presidenta dos Estados Unidos, que nutre uma rivalidade meio desproporcional com o príncipe da Inglaterra, Henry. O jeito perfeitinho do príncipe, seu cabelo sedoso, sua pose de quem tem tudo sob controle… tudo isso enerva Alex, que, apesar do talento nato para a política, tem também uma veia rebelde evidente. E essa veia se sobressai no casamento do irmão de Henry, para o qual a família da presidenta é convidada, e na qual Alex decide provocar o príncipe até que os dois se envolvam em um acidente envolvendo a queda de um bolo de casamento caríssimo no chão e uma crise de Relações Públicas estampada nos jornais. É aí que a coisa fica interessante: a mando de ambos os governos, os dois precisam fingir ser melhores amigos pra controlar os estragos feitos no casamento, e essa aproximação forçada vai acabar mostrando a Alex que o príncipe tem muito mais camadas do que transparece – assim como ele próprio.

Vermelho, Branco e Sangue Azul é um enemies to friends to lovers. 😂 E pra mim isso é muito bacana porque a relação dos dois protagonistas vai sendo construída aos poucos, dando tempo ao leitor para compreender a mudança de sentimentos, ou melhor, a compreensão de sentimentos. Enquanto Henry não demora a revelar sua orientação sexual a Alex, identificando-se como um homem gay, o Primeiro-Filho encontra-se numa posição menos clara sobre si mesmo. Ao ser beijado por Henry em um evento na Casa Branca, Alex coloca tudo que vivenciou até aquele momento sob uma nova lente: as experiências sexuais exploratórias com o amigo da escola (que ele considerava apenas consequência dos hormônios), a forma como ele se pegava observando alguns amigos no vestiário, seu interesse meio obsessivo em uma revista adolescente de sua irmã na qual Henry aparecia e até sua rivalidade meio unilateral em relação ao príncipe. O processo de (re)descoberta de Alex acerca de sua sexualidade – e seu entendimento como homem bissexual – é trabalhado de forma muito positiva e dá espaço não apenas para questionamentos, mas para aceitação.

Esse é um tópico importante em Vermelho, Branco e Sangue Azul. A aceitação da sexualidade pelos entes queridos é trabalhada das duas formas bem opostas: enquanto Alex encontra apoio daqueles que o cercam (o que é sempre positivo quando falamos de literatura jovem), Henry lida com a pressão inenarrável de não poder ser quem ele é. Tanto sua avó, a rainha, quanto seu irmão mais velho deixam claro que qualquer modelo desviante do tradicional não será tolerado, afinal, a família real precisa manter as aparências e gerar herdeiros. Além disso, Henry perdeu o pai aos 18 anos e desde então sua mãe vive o luto de forma muito isolada, o que faz com que o personagem possa contar apenas com a irmã mais velha, Bea. Esse cenário já mostra como Henry é solitário, certo? Ao longo das páginas Alex percebe isso também. Ele sente a dor do príncipe tanto quanto nós, leitores, assim como também deseja guardá-lo num potinho e protegê-lo de todo mal. É muito triste ver as crises de ansiedade pelas quais Henry passa e a pressão que ele sofre para cumprir um papel social que suprime toda a sua personalidade e espontaneidade. Tudo isso torna  compreensível o porquê dele demorar a se entregar totalmente a Alex: Henry primeiro enfrenta um medo muito grande de não ser correspondido, e depois, quando é, passa a ter medo desse amor ser tirado dele.

Com o passar das páginas, os dois obviamente se apaixonam e o relacionamento que eles constroem é a coisa mais linda de se ler. Alex é uma força da natureza e impulsiona Henry das mais variadas formas, principalmente a acreditar em si mesmo e que ambos podem fazer o relacionamento dar certo apesar de tudo. Confesso pra vocês que iniciei o livro sem gostar tanto do Alex – ele inicia a trama de modo meio prepotente e arrogante –, mas terminei a leitura sendo cadelinha demais dele. ❤ Já Henry conquistou meu coração de primeira, porque sua doçura e sensibilidade fazem dele alguém por quem você se afeiçoa e deseja a mais pura felicidade.

Além do romance, o livro tem várias passagens divertidas, especialmente quando os personagens secundários são envolvidos. Alex e Henry são pessoas de poucos amigos, mas os que eles têm são sensacionais e valem por mil. June (irmã de Alex) e Nora (neta do vice-presidente dos EUA) são inseparáveis e são as pessoas por quem Alex se atiraria na frente de um trem. A amizade dos três é maravilhosa e a personalidade de cada um se complementa de modo muito legal. Henry, por sua vez, conta com a já mencionada Bea, sua irmã, e com o carismático Pez, seu melhor amigo. Ele é a diversão em pessoa, e quando se junta a June e Nora, tudo se torna possível. Eu adorei todas as cenas em que o grupo estava junto, porque foi um alívio em meio ao caos poder ver os personagens principais se divertindo enquanto sofriam com as dificuldades de manter seu amor em silêncio pra não gerar nenhuma crise política.

Aliás, a parte política do livro foi meu aspecto “menos favorito”, digamos assim. Acho a política norte-americana um pé no saco e grande parte da tensão do livro gira em torno do fato de que a mãe de Alex está em campanha de reeleição. Esse tema não me chama a atenção e, consequentemente, não me senti muito aflita pelos desdobramentos desse plot. Outro aspecto do qual não gostei tanto foram os capítulos longos; sou uma pessoa que gosta de dinamismo e agilidade, ou no mínimo capítulos longos com pausas marcadas no meio pra que eu possa parar sem perder o fio da meada (já que leio no horário de almoço e antes de dormir, normalmente). Por esses fatores, a leitura de Vermelho, Branco e Sangue Azul acabou sendo um pouco mais demorada do que o normal, mesmo que eu tenha amado a história. Vale ressaltar que o fim do livro é um pouco clichê, especialmente quando pensamos no papel da mãe de Henry. Mas esse não chega a ser um grande defeito, especialmente por ser uma característica comum e esperada no gênero.

Por último, mas não menos importante, fica meu elogio à edição de colecionador da editora Seguinte, que ficou linda. As páginas tem um degradê de vermelho e azul que dão um charme todo especial ao livro, e há ilustrações de várias cenas marcantes da história – inclusive foi bem divertido ir dando “check” nelas conforme as situações ocorriam na trama. A única cena que eu não consegui identificar enquanto lia é uma em que Alex e Henry se beijam na escadaria de um prédio, então se alguém se lembrar me conta nos comentários por favor. 😂 Além disso, essa edição contém um capítulo extra narrado sob a perspectiva de Henry que é simplesmente TUDO e encerra com chave de ouro a história desse casalzão. ❤

Vermelho, Branco e Sangue Azul é um romance LGBTQIA+ que fala, sobretudo, sobre liberdade. Liberdade para amar, para se expressar, para dizer ao mundo quem você é de verdade – sem medo e sem reservas. É sobre encontrar alguém que te diga com todas as letras que você não merece nada menos do que isso. ❤ Por esses e por outros motivos é impossível não se apaixonar por Alex e Henry e por sua história de amor. Ah, e as cenas hot entre os dois são um bônus muito bem-vindo, é claro rs. 🔥

Título original: Red, White and Royal Blue
Autora:
Casey McQuiston
Editora: Seguinte
Número de páginas: 416
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Livro cedido em parceria com a editora.
Esse não é um publipost, e a resenha reflete minha opinião sincera sobre a obra.

Resenha: Daisy Jones and The Six – Taylor Jenkins Reid

Oi pessoal, tudo bem?

Hoje saiu mais um trailer da adaptação de Daisy Jones & The Six, então aproveitei esse dia pra compartilhar com vocês minha opinião a respeito desse livro. Considerando o quanto gosto da escrita de Taylor Jenkins Reid, fui com expectativas altíssimas pra essa leitura e… bom, vocês vão descobrir o que achei ao longo do post. 👀

Garanta o seu!

Sinopse: Todo mundo conhece Daisy Jones & The Six. Nos anos setenta, dominavam as paradas de sucesso, faziam shows para plateias lotadas e conquistavam milhões de fãs. Eram a voz de uma geração, e Daisy, a inspiração de toda garota descolada. Mas no dia 12 de julho de 1979, no último show da turnê Aurora, eles se separaram. E ninguém nunca soube por quê. Até agora. Esta é história de uma menina de Los Angeles que sonhava em ser uma estrela do rock e de uma banda que também almejava seu lugar ao sol. E de tudo o que aconteceu — o sexo, as drogas, os conflitos e os dramas — quando um produtor apostou (certo!) que juntos poderiam se tornar lendas da música. Neste romance inesquecível narrado a partir de entrevistas, Taylor Jenkins Reid reconstitui a trajetória de uma banda fictícia com a intensidade presente nos melhores backstages do rock’n’roll.

A história é narrada de uma forma criativa, por meio de “entrevistas” que buscam criar um panorama de como a lendária banda de rock Daisy Jones & The Six se formou, bem como destrinchar o motivo de seu rompimento quando estavam no auge da carreira, na turnê Aurora. TJR entra no mood já no início da obra, com uma Nota da Autora que afirma que o livro é a reunião de inúmeras entrevistas que ela fez com os músicos, como se fosse uma espécie de biografia da banda de verdade mesmo, o que é bem legal. Durante as páginas, encontramos depoimentos de todos os membros, alguns familiares ou pessoas da indústria e, desde o começo, fica claro: nem todos lembram dos fatos do mesmo modo, ou até mesmo interpretaram as coisas sob a mesma ótica. Então, o que de fato é verdade?

Como sempre, Taylor Jenkins Reid faz um ótimo trabalho em investigar o background do tema sobre o qual ela vai escrever: ela fez isso muito bem com o cinema em Evelyn Hugo, arrasou demais com o tênis em Carrie Soto e aqui mergulha no backstage da indústria fonográfica. E ela não poupa o leitor dos detalhes sórdidos, que incluem traições, abuso pesado de drogas, sexo, alcoolismo, disputa de egos e muito mais. Porém, apesar de reconhecer o quanto todo esse mundo foi bem trabalhado, o livro simplesmente não funcionou comigo e, mesmo com sua narrativa rápida (já que são sempre os depoimentos dos entrevistados), demorei a concluí-lo.

Meu maior problema com Daisy Jones & The Six tem motivo e nomes: eu odeio triângulos amorosos e odiei os personagens principais, Daisy Jones e Billy Dunne. E esses motivos merecem que eu os desenvolva nos próximos parágrafos. Billy, vocalista do grupo Dunne Brothers (que posteriormente vira a banda The Six) é um cara intenso, que se apaixona perdidamente por uma moça chamada Camila e entra de cabeça na relação com ela. Quando ela engravida, ele entra em pânico – pois teve um pai ausente e a paternidade representa um buraco horrível no seu peito – e toma uma série de decisões horríveis, de casar com ela às pressas a se afundar nas drogas e traí-la nas turnês. Ainda assim, Camila resolve perdoá-lo e o obriga a entrar numa clínica de reabilitação pra que ele possa ter contato com a filha. Isso faz com que Billy saia do fundo do poço e coloque Camila num pedestal, compondo músicas pra ela e enxergando nela seu porto-seguro, seu farol, e também sua força pra se manter longe das drogas. Até que ele conhece Daisy Jones…

Daisy é uma garota linda e rica, mas totalmente quebrada. Negligenciada pelos pais desde a infância, se tornou groupie aos 14 anos e começou a usar drogas desde então, chegando ao ponto de carregar pílulas soltas nos bolsos, perdendo até a conta do consumo. Mas uma coisa que Daisy tem de sobra (spoiler: não é estabilidade kk) é talento musical. Ela está determinada a mostrar suas composições para o mundo, então agarra a oportunidade de se unir ao The Six, já que o grupo ganhou certo destaque musical antes dela. A relação com Billy começa com animosidade, porque ele se sente intimidado com a garota chegando na banda e “metendo banca”. Mas com o tempo eles começam a se dar muito bem ao perceberem a sintonia criativa que compartilham: eles passam a compor juntos por horas a fio, um melhorando as letras do outro, e Daisy inevitavelmente se apaixona pelo primeiro homem que parece enxergá-la pra além do seu exterior. Só que tudo isso não apaga o fato de que ela é uma garota mimada, que faz tudo girar em torno dela, se mete nas decisões dos Six sem conversar abertamente sobre nada, e ainda desrespeita profundamente Camila ao tentar se envolver com Billy. Também tenho sérios problemas com relação a como Taylor Jenkins Reid explorou o corpo e o vício de Daisy: como alguém que emagrece até virar pele e osso (como alguns personagens insinuam ao longo da história), fumando e se drogando até não poder mais (algo que, sabemos, destrói a pele) conseguiu se manter tão deslumbrante quanto diziam? Impossível. Também achei UÓ a hiperssexualização disfarçada de feminismo. A Karen, pra mim, foi um exemplo melhor disso, porque tudo que ela fazia, ela fazia de modo consciente, enquanto a Daisy tava só pelo caos (ok, direito dela, mas que cansaço). Queria que ela tivesse passado por mais problemas ou causado mais problemas que realmente pesassem a trama, pra evidenciar de modo responsável o horror causado pelo abuso de drogas. O susto que a personagem leva não é o bastante para a dimensão do tanto que ela consumia.

É muito difícil pra mim me envolver com uma história quando os personagens me fazem passar raiva a cada instante. Por mais que eu compreenda a origem de seus traumas, Daisy se resume a uma garota narcisista e Billy é um homem egoísta e covarde que faz sua mulher sofrer. E aí temos o terceiro elemento do triângulo, uma das únicas personagens de quem gosto: Camila Dunne é o ponto de equilíbrio no caos da história. Ela é empática, se dá bem com todos os membros da banda e ainda é capaz de ter fé em Billy, tanto na época da reabilitação quanto no fato de que ele não abandonaria o casamento – mesmo que ela soubesse que algo estava rolando em relação a Daisy em seu coração. E apesar de eu admirar a resiliência e a maturidade da personagem (que sabe o que quer e luta por isso, mesmo que os outros a julguem), também acho que ela é mal explorada e abordada de modo superficial, no sentido de ser quase “santificada” dentro da história. Afinal, ela acredita em Billy, apoia os membros do Six, cuida de duas filhas praticamente sozinha, nunca reclama dos horários horríveis nos quais o marido trabalha, aguenta o fato dele passar mais tempo com Daisy do que com ela, perdoa a série de traições no início do casamento… tudo bem, entendo que na época manter a família era imprescindível (afinal, o livro se passa majoritariamente entre os anos 60 e 70), porém acaba que Camila é uma personagem da qual gostamos, mas sobre a qual sabemos muito pouco. Seu sofrimento, seus verdadeiros sentimentos, tudo é muito raso. A próxima frase tem um spoiler, selecione se quiser ler: também achei péssimo que ela teve que dar um fim à palhaçada que estava rolando entre o Billy e a Daisy. Depois de tudo que ela passou, ela merecia que o próprio Billy tivesse culhões de agir por conta própria.

Os outros membros de Daisy Jones & The Six têm pouco espaço significativo na trama: o baixista (Pete) nem participa das entrevistas; o baterista (Warren) só contribui com comentários de quem olhava tudo de fora; o guitarrista (Eddie) era um cara profundamente recalcado ressentido de Billy que só reclamava. Contudo, dois dos membros valem o destaque: Graham, irmão de Billy, é um cara romântico por quem torcemos, especialmente quando ele consegue ficar com a sua paixão, Karen; Karen é a pianista da banda, uma mulher que valoriza sua independência acima de tudo. Eu amo Karen porque ela aprecia as mulheres à sua volta. Pra ela, ser amiga de Camila é importante, assim como ter Daisy na banda, pra que a desigualdade no meio musical diminua e as mulheres musicistas se fortaleçam. Karen foi a personagem que mais admirei, porque além de ter esse viés feminista nas suas falas, ela também é uma pessoa realista, que ora acerta, ora falha. O mais importante, pra mim, é que ela se mantém fiel a si mesma do início ao fim.

Tenho a sensação de que posso gostar bem mais da adaptação de Daisy Jones & The Six, que estreia em março no Prime Video, do que do livro – ainda que, provavelmente, a coitada da Camila vá sofrer bem mais na tela do que as páginas mostraram. Sinto que a história tem potencial de ganhar profundidade e os aspectos rasos da relação entre os personagens serão mais bem trabalhados. Apesar de inicialmente ter achado criativo o modo de contar a história por meio dos relatos, com o passar das páginas achei o recurso cansativo e ele fez com que tivéssemos um olhar muito enviesado e limitado dos fatos. Além disso, também senti que muitas vezes os personagens não tinham um “tom de voz” próprio, sendo necessário ler o nome de quem estava falando pra associar, e isso deixou a experiência truncada pra mim. E, é claro, como ignorar o fato de que detestei toda a trama que gira em torno dos personagens principais, não é mesmo? 😂 Eu nunca tinha me decepcionado nesse nível com um livro da Taylor Jenkins Reid, mas é como dizem por aí: pra tudo tem uma primeira vez. 🤷‍♀️

P.S.: impossível não associar a “vibe” da Daisy com a Florence Welch. Não em relação às drogas hahaha! Mas em relação ao cabelo ruivo, ao estilo e à sensibilidade musical.

P.S. 2: uma das músicas mais importantes do livro foi completamente alterada pra série. 🤡 Ela se chama “Regret Me” e já está disponível no Spotify, pra quem quiser conferir. Curiosa pra saber como ficarão as outras. 👀

Título original: Daisy Jones & The Six
Autora:
Taylor Jenkins Reid
Editora: Paralela
Número de páginas: 360
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Resenha: A Loteria e Outros Contos – Shirley Jackson

Oi pessoal, tudo bem?

Eu gosto de ler contos especialmente naqueles casos em que tenho curiosidade para entrar em contato com a escrita do autor pela primeira vez. Esse foi o motivo que me fez solicitar A Loteria e Outros Contos, da Shirley Jackson – renomada autora conhecida por Sempre Vivemos no Castelo e A Assombração da Casa da Colina (este segundo dando origem à aclamada adaptação A Maldição da Residência Hill). A Loteria é seu conto mais famoso, mas o livro reúne 25 contos e 1 poema. Vamos conhecer?

Garanta o seu!

Sinopse: Única coletânea publicada enquanto Shirley Jackson ainda era viva, A loteria e outros contos traz histórias que incorporam tanto as características marcantes da escritora quanto seu poder de navegar pelos diversos aspectos da ficção. Publicado pela primeira vez em 1948 na revista The New Yorker, o conto A loteria é considerado um dos mais importantes da literatura americana – seu impacto foi tão profundo que, logo após sua publicação, a revista recebeu diversas cartas reclamando da “imoralidade” da narrativa. Esta e outras 24 histórias curtas formam uma coletânea brutal que analisa com maestria os meandros da sociedade norte-americana, a opressão velada, o lugar a que as mulheres são relegadas, o peso do matrimônio e dezenas de outros temas que ainda fazem parte da sociedade atual. Seja esmiuçando a vida nos subúrbios dos Estados Unidos, como em Estátua de sal, ou retratando a influência da bebida e da juventude na vida de um homem, como em O embriagado, Jackson constrói histórias com personagens vivazes e impressionantes que acompanharão o leitor mesmo depois de fechar o livro.

O tema central dessa coletânea é destrinchar a prisão da mulher de classe média do início do século XX às situações familiares e cotidianas. A maior parte dos contos é protagonizada por mulheres na faixa dos 30 anos, e quase todas elas são donas de casa ou almejam ser. Para ser sincera, quando solicitei esse livro eu achava que encontraria contos de terror e suspense, devido às premissas dos outros livros de Shirley Jackson. Por isso, acabei um tanto frustrada com a repetição de temas e a monotonia deles, que refletem bem o cotidiano entediante dessas mulheres.

Gostaria de dizer que fui cativada pelas problematizações e pela narrativa de Shirley Jackson, mas seria mentira. Comecei o livro entusiasmada por finalmente conhecê-la e, sem demora, me senti quase tão presa quanto as protagonistas dos contos. A verdade é que não existem bons plot twists nas histórias e grande parte delas mal parece ter sequer uma conclusão lógica. Devido à minha decepção com o livro como um todo e com o estilo da autora, decidi focar minhas opiniões nos contos que me causaram mais interesse.

O primeiro deles é O amante diabo, que conta a história de uma moça que está aguardando seu noivo chegar em seu apartamento. É o dia do casamento e o rapaz, James Harris, simplesmente sumiu. A protagonista passa a procurá-lo pelo bairro todo, perguntando nos estabelecimentos se alguém o conhecia, o que a leva até um prédio antigo e a um sótão assustador. Nesse conto o que achei interessante (de um jeito aflitivo) é que as autoridades e as pessoas pra quem ela perguntava pareciam achá-la louca, principalmente se o interlocutor fosse um homem – um claro exemplo do desdém masculino. O segundo conto que gostei se chama A renegada e conta a história de uma mãe de família, a Sra. Walpole, que veio da “cidade grande” e se sente oprimida pela vida interiorana e sua forma brutal de resolver as coisas. A tensão da trama reside no fato de que sua cadela foi acusada de matar as galinhas do vizinho e todo mundo – inclusive seus filhos pequenos – acham natural matar a cadela a tiros, como se não fosse nada. Só a protagonista parece enxergar o horror disso, e ela se sente como a cachorra: com uma coleira cheia de espinhos no pescoço.

O terceiro conto do qual gostei se chama Charles e traz um clichê, mas do tipo que eu curto: aquele que te induz a pensar uma coisa sobre determinado personagem e depois descobrimos que não era bem assim. Nesse caso, acompanhamos um garotinho, Laurie, contando à família que seu coleguinha de escola, Charles, é uma praga: briga com a professora e os colegas, apronta na aula, fica de castigo, fala palavrões, entre outras malcriações. O tal Charles vira até uma expressão no ambiente familiar, tipo um meme. Aos poucos, a autora dá pistas esquisitas sobre Charles e, quando a mãe de Laurie vai até uma reunião de pais e professores, ela descobre fatos surpreendentes. Por último, temos o conto principal da obra, A loteria, que também entrou na lista de melhores contos: nele a autora conta a rotina de uma aldeia fictícia que vai se reunindo na praça da cidade para um momento comunitário sobre o qual não sabemos muito. Tudo parece tranquilo, as famílias interagem, até que os homens que representam as famílias passam a sortear nomes, e é aí que o clima da situação começa a ganhar características ritualísticas macabras. É um conto bastante cruel que narra uma cerimônia tradicional que ninguém sequer pensa em contestar. Quando a vítima desse momento é escolhida, é bem triste ver sua reação.

O poema que encerra o livro também é bacana, e alguns outros contos tem uma ou outra tiradinha interessante, como Estátua de sal (que fala sobre ser esmagado pelo ritmo alucinante de uma cidade que não para e que parece se desfazer à plena vista) e É claro (que mostra como decisões masculinas imbecis podem alienar uma família). Além disso, existe ainda uma denúncia ao racismo, que aparece mais claramente no conto Jardim florido. Outro ponto que vale mencionar é que Shirley Jackson usa um “mesmo” personagem, James Harris, em diversos contos – ou melhor, alguém com o mesmo nome, profissão e descrição. Se é só pra confundir o leitor ou significa algum simbolismo a mais, não sei dizer. Comecei a leitura achando que era tudo uma sacada genial e terminei achando que era uma aleatoriedade. 😂

Enfim, como mencionei no início da resenha, esse livro não me proporcionou uma boa experiência. Porém, enquanto escrevia esse post, fiquei contente por ter conseguido extrair alguns aspectos positivos dela. Acredito muito que a experiência de cada leitor é única e, por isso, as pessoas devem se arriscar nas leituras que façam sentido pra elas. Mas também não posso dizer que recomendo esse título, porque foi bastante desafiador chegar até a última página. Por isso, deixo por sua conta e risco se aventurar nas palavras de Shirley Jackson por meio de A Loteria e Outros Contos.

Título original: The Lottery and Other Stories
Autora:
Shirley Jackson
Editora: Alfaguara
Número de páginas: 264
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Livro cedido em parceria com a editora.
Esse não é um publipost, e a resenha reflete minha opinião sincera sobre a obra.

Resenha: Você Não É Invisível – Lázaro Ramos

Oi oi, tudo bem com vocês?

Se tem uma coisa que minhas experiências literárias e audiovisuais recentes têm me ensinado, é a controlar as expectativas e lidar com decepções. 😂 E isso infelizmente aconteceu com Você Não É Invisível, do Lázaro Ramos.

Garanta o seu!

Sinopse: Esta é a história de uma família em quarentena. Carlos e Vitória são irmãos e moram com o pai, mas só o encontram no fim do dia. Muito diferentes um do outro, se expressam cada um a seu modo. Porém, possuem uma mesma motivação: entender seu lugar no mundo. Carlos vive trancado no quarto, gravando vídeos e áudios sobre si mesmo ou postando nas redes sociais. Já Vitória é mais do papel, escreve um diário e inventa contos de fadas num caderno antigo que era de sua mãe. Mesmo confinados, os irmãos vão trilhando seus caminhos com os recursos e instrumentos que possuem. O autor explora os muitos jeitos que temos de nos comunicar e com linguagem ágil, esse livro nos ensina que, se temos de encarar nossos monstros, que o façamos com coragem, segurando na mão de quem nos ama e quer bem – porque ninguém é, ou deveria se sentir, invisível.

Meu respeito pelo trabalho e pelas opiniões do Lázaro Ramos me deixaram muito animada pra conferir seu primeiro livro infantojuvenil, mas a obra infelizmente não funcionou comigo. Faixa etária, talvez? Não sei. Mas vou tentar explicar meus pontos e ser justa ao mesmo tempo.

A obra se passa durante a pior fase da pandemia, em que ficamos naquele “lockdown” (entre aspas porque o governo nunca instituiu um lockdown real), isolados das nossas atividades sociais e das pessoas que amamos. Os protagonistas são os irmãos Carlos (também conhecido como Carrinho) e Vitória, que lidam com a solidão e o isolamento à sua própria maneira. Na falta da companhia do pai (um homem negro que não pôde se dar ao luxo de se isolar e se proteger), Carlos direciona sua energia para a criação de vídeos, lives e áudios, enquanto Vitória busca conforto nas palavras – e no diário da mãe, ausente por estar viajando e estudando.

Meus aspectos favoritos da obra residem nesses dois pontos de tensão que citei: o fato de que o pai dos jovens precisa trabalhar mesmo em um período perigoso da pandemia e a decisão da mãe de fazer sua pós-graduação no exterior. No caso do primeiro, Lázaro Ramos expõe a problemática de qual camada da população foi obrigada a ficar mais vulnerável, enquanto outras (repletas de gente antivacina, pra não dizer pior) podiam usufruir do privilégio da segurança de suas casas. O racismo estrutural não é debatido como maior foco da obra, mas está ali, nítido nas entrelinhas pra qualquer um que esteja disposto a abrir os olhos. Já no caso da mãe, temos o conflito de emoções: ao mesmo tempo em que a empodera como mulher e profissional, mostrando que a família não é um impeditivo para correr atrás dos sonhos, existem também as consequências dolorosas que isso causa na família – especialmente em Carrinho, que se ressente dela por escolher ficar longe. Esses são, na minha opinião, os pontos fortes da leitura, que dão uma camada de profundidade à trama. Em relação à edição física, também fica meu elogio às ilustrações, que tornam a experiência mais imersiva e estão muito bonitas.

Porém, o andamento do enredo é fraquíssimo. Carlos é um personagem chato, que só fala por gírias, mas não de uma forma natural – parece que Lázaro não sabe como “os jovens” falam e me senti constrangida por ler essa tentativa. Ele é um garoto de 16 anos que fica “viajando” nas lives dele e tentando dar lição de moral nos seus seguidores de uma forma que nem sentido faz. Em paralelo, ele pega o diário da irmã às escondidas e lê o que ela escreve, num exemplo terrível de invasão de privacidade. Os dois convivem na mesma casa e mal interagem, então as leituras do diário são o único elo que Carlos constrói com Vitória. Já Vi é uma menina criativa e sonhadora, que entende o que sua mãe está perseguindo e usa sua imaginação pra criar e contar suas próprias histórias – mas que mal aparece no enredo, tendo pouquíssimo (pra não dizer nenhum) espaço.

O livro também é muito raso, sem se aprofundar em nenhum tema. Ainda que seja uma obra infantojuvenil, acho que o autor pecou em trazer muito o ponto de vista de Carrinho em suas lives, focando nos discursos cheios de gírias e expressões que parecem ter vindo direto da Malhação dos anos 2000. O potencial da obra e da premissa eram enormes, mas infelizmente foi desperdiçado por uma falta de foco, por transmitir a sensação de não saber onde a história queria chegar.

Você Não É Invisível não foi uma boa experiência pra mim, mas talvez seja pra um público bem mais jovem, crianças entrando na adolescência, talvez. Apesar disso, ressalto os pontos positivos ditos no início da resenha e o fato da ambientação ser muito relacionável e (infelizmente) fresca na memória. Nesse sentido, você consegue se identificar com os personagens, que fazem de tudo pra que o tempo passe em um período que cada minuto parece se arrastar. Mas infelizmente os minutos se arrastaram durante a leitura também. 😦

Título original: Você Não É Invisível
Autor:
Lázaro Ramos
Editora: Objetiva
Número de páginas: 112
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Livro cedido em parceria com a editora.
Esse não é um publipost, e a resenha reflete minha opinião sincera sobre a obra.

Resenha: Carrie Soto Está de Volta

Oi gente, tudo certo?

A resenha de hoje é sobre um livro que li faz um tempinho, mas que ainda não tinha encontrado inspiração pra escrever sobre. Espero que essa resenha consiga fazer jus a ele. 😉 Vamos conhecer Carrie Soto Está de Volta?

Garanta o seu!

Sinopse: A tenista Carrie Soto se aposentou no auge, com a tranquilidade de ter atingido um recorde imbatível: foram vinte títulos Grand Slam conquistados ao longo de sua carreira. Mas apenas cinco anos depois de seu retiro das quadras, ela assiste Nicki Chan igualar sua marca, trazendo a sensação de que seu legado está comprometido. Disposta a chegar aos seus limites, Carrie tem o apoio de seu pai, Javier, ex-tenista que a treina desde os dois anos de idade. Ele parece ter seus próprios motivos para incentivar a filha nesta última temporada que promete desafiar ambos num jogo que exige tanto física quanto mentalmente. Em uma inesquecível história sobre segundas chances e determinação, Taylor Jenkins Reid nos cativa com uma protagonista forte como sempre e um romance emocionante como poucos.

Quem leu Malibu Renasce pode reconhecer esse nome: Carrie é a amante de Brandon, o marido de Nina Riva, protagonista do romance. Por isso, inevitavelmente fiquei curiosa quando soube que a Taylor Jenkins Reid escreveria sobre ela, uma personagem com uma carga tão pesada de antipatia prévia. Mas uma coisa eu já adianto pra vocês: o caso de Carrie com o marido de Nina foi uma fração tão pequena de tudo que ela viveu que logo você esquece e passa a focar na complexidade de sua história.

Carrie perdeu a mãe muito cedo, sendo então criada pelo pai, Javier Soto, um ex-jogador de tênis argentino muito talentoso. Ele dava aulas em um clube de ricaços e desde cedo começou a treinar a filha no esporte, tanto como uma forma de conexão com ela (pois sempre acreditou que Carrie estava destinada à grandeza) como também para afastar a dor causada pela perda da esposa. Desde que começou a se entender por gente, Carrie ouvia do pai que seria a melhor tenista do mundo, e eles não faziam ideia do quanto essa frase teria consequências sérias na vida da garota. A confiança do pai nela era motivadora, mas também foi criando uma expectativa colossal e um objetivo tão fixo que não permitia nenhum tipo de desvio na rota.

Carrie Soto Está de Volta gira em torno da carreira de Carrie antes e após a aposentadoria. Esse contexto de sua criação é o “antes”, contando a sua trajetória da infância até a faixa dos 30 anos, quando é obrigada a se aposentar por uma lesão. Aos 37 anos, porém, Carrie vê uma nova tenista em ascensão, Nicki Chan, conquistando todos os títulos que ela conseguiu e estando a apenas uma vitória de bater o seu recorde mundial. É aí que a protagonista decide voltar às quadras para defendê-lo, entrando novamente numa rotina pesada de treinos e tendo que lidar com feridas físicas e psicológicas junto ao pai.

A pressão causada pela grandeza é o fio condutor de Carrie Soto Está de Volta. Na primeira parte do livro, vemos uma Carrie tão focada em vencer que não consegue criar uma conexão genuína: uma amizade, um amor, nada. Ela vive para vencer sua “nêmesis”, Paulina Stepanova, e rompe com diversos limites para conseguir seu objetivo. A ruptura em sua relação com o pai é uma das consequências disso, quando Carrie decide que ele não está mais apto a treiná-la por não acreditar que ela possa vencer Stepanova. É bastante triste ver o isolamento da tenista e o fato de ela se fechar para o mundo e para a vulnerabilidade, especialmente porque sabemos que muito da obsessão pela vitória foi incutida sem querer por seu pai desde que ela era uma garotinha. Javier, por sua vez, é um homem amoroso e que sente muito orgulho de Carrie, o que também ajuda o leitor a sentir empatia apesar de suas atitudes que levaram a personagem a um nível tão alto de autocobrança. Ainda que as consequências tenham sido essas, Javier sempre se orgulhou da Carrie independentemente do resultado de cada jogo. A relação dos dois é um dos principais pilares do livro e rende cenas emocionantes. O amor que sentem um pelo outro é palpável e o fato de ambos se unirem novamente para ultrapassarem seus limites juntos (cada um à sua maneira) consolida uma relação de pai e filha pautada em devoção, respeito e orgulho.

A história de Carrie fica ainda mais inspiradora quando ela já tem 37 anos e ninguém acredita que ela vai conseguir manter seu recorde ou ganhar um Grand Slam. Aqui a discussão começa a ficar mais forte em torno do machismo e do etarismo. Do machismo porque Carrie é melhor do que inúmeros jogadores masculinos e mesmo assim precisa ficar lendo e ouvindo comentaristas esportivos falando mal dela e de seu comportamento, querendo obrigá-la a ser simpática e sorridente para merecer empatia; do etarismo porque fica evidente que todos colocam um selo com prazo de validade em Carrie, partindo do pressuposto que ela não é capaz de vencer mesmo que treine mais duro que todo mundo e seja um dos maiores talentos que o tênis já viu. Se você envelheceu sendo uma mulher, você já era: é isso que o livro critica.

O que mais gosto em Carrie é sua imperfeição e sua recusa a seguir aquilo que esperam dela. Ela é uma pessoa isolada, competitiva, arrogante, mas também determinada e sincera sobre quem ela é. Ela é um exemplo de mulher que recusa a docilidade que querem impor: se os jornalistas e comentaristas esportivos desejam que ela sorria mais pra ser aprovada por todos, ela faz questão de vencer e bater todos os recordes sem se dobrar a nenhuma expectativa que eles tenham. Ela enfrenta o escárnio público sozinha após o caso com Brandon não dar certo, mostrando mais uma vez como as mulheres saem perdendo mesmo quando o pior erro foi o do homem (já que Brandon era a pessoa casada naquela relação). Com o tempo, porém, Carrie vai se tornando mais maleável. Não pela pressão citada anteriormente, mas porque ela amadurece: a protagonista começa a perceber que vinha aceitando migalhas de afeto e que merece mais; passa a aceitar melhor as derrotas, tão raras na sua carreira e mais recorrentes nesse novo momento; ela também permite que seu parceiro de treinos, Bowe, se aproxime dela; passa a jogar tênis novamente por amor, e não para vencer alguém de forma obcecada. Minha conclusão é que perder faz bem à Carrie e lhe dá perspectiva sobre o que realmente importa.

Carrie Soto Está de Volta é um livro que mexe com você. Mesmo quando Carrie está sendo arrogante, teimosa ou metendo os pés pelas mãos, você sente empatia por entender de onde tudo aquilo está vindo, onde o vazio dela se encontra. Nem todas as atitudes da personagem são louváveis, mas ela é brutalmente honesta sobre si mesma e é retratada como alguém cuja garra é inegável e admirável. Carrie é um exemplo de alguém que tem tudo e todos torcendo contra ela, mas ela vai lá e enfrenta mesmo assim. Acho que só por isso já vale a pena conhecê-la. 😉

P.S.: o final é um pouco abrupto, mas nada que estrague a experiência, principalmente porque faz muito sentido.
P.S. 2: fico admirada com a capacidade da Taylor Jenkins Reid de me entreter com assuntos pelos quais nunca tive o menor interesse, como o tênis. 😂

Título original: Carrie Soto is Back
Autora:
 Taylor Jenkins Reid
Editora: Paralela
Número de páginas: 352
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Livro cedido em parceria com a editora.
Esse não é um publipost, e a resenha reflete minha opinião sincera sobre a obra.

Resenha: Os Sete Maridos de Evelyn Hugo – Taylor Jenkins Reid

Oi pessoal, tudo bem?

Os Sete Maridos de Evelyn Hugo é um livro que dispensa apresentações, considerando que é praticamente unânime sua avaliação positiva entre os leitores. Chegou a minha vez de entrar pro fã-clube e panfletar essa obra que se tornou não só a favorita de 2022 como uma das favoritas da vida! Bora conhecer essa história maravilhosa, que é pra começar o ano em grande estilo. 🙌

Garanta o seu!

Sinopse: Lendária estrela de Hollywood, Evelyn Hugo sempre esteve sob os holofotes – seja estrelando uma produção vencedora do Oscar, protagonizando algum escândalo ou aparecendo com um novo marido… pela sétima vez. Agora, prestes a completar oitenta anos e reclusa em seu apartamento no Upper East Side, a famigerada atriz decide contar a própria história – ou sua “verdadeira história” –, mas com uma condição: que Monique Grant, jornalista iniciante e até então desconhecida, seja a entrevistadora. Ao embarcar nessa misteriosa empreitada, a jovem repórter começa a se dar conta de que nada é por acaso – e que suas trajetórias podem estar profunda e irreversivelmente conectadas.

Os Sete Maridos de Evelyn Hugo tem uma premissa simples, mas instigante: a estrela de cinema que dá nome ao livro, já na casa dos 70 anos, praticamente “convoca” uma jornalista de pouco renome, Monique Grant, para entrevistá-la. Escolhi a palavra “convoca” porque Evelyn se recusa a conversar com outro redator da revista em que Monique trabalha que não ela. Quando a jornalista enfim conhece a grande estrela, Evelyn Hugo revela que seu verdadeiro desejo é que Monique escreva sua biografia, que promete ser um estouro de vendas. As únicas regras são: ela só deve ser publicada após a morte de Evelyn e Monique deve ser fiel às palavras da atriz, revelando sua verdade sem manipulação ou incompreensão. Ainda que desconfiada do motivo para ter sido escolhida, Monique aceita a proposta, que pode ser sua chance de finalmente crescer na carreira. A partir desse acordo inesperado, Evelyn começa sua história, que inicia na infância com o sonho de se mudar para Hollywood.

Eu amei tanto esse livro e essa personagem que, quando terminei, senti um vazio esquisito por não estar mais na companhia de Evelyn Hugo. Ela é uma personagem tão real que é difícil virar a última página e saber que você não lerá mais nenhuma história, não saberá mais nenhum detalhe de sua vida. E essa é a característica que sempre me encanta na escrita de Taylor Jenkins Reid, mesmo nos livros dela que não me arrebatam tanto: ela domina com maestria a arte de criar personagens reais e multifacetados, com sonhos próprios, qualidades e falhas. Evelyn, apesar de ser a protagonista e a principal narradora, não é a única a ter seu desenvolvimento bem feito: Monique também tem revelados aspectos de sua vida pessoal que impactam diretamente nas decisões que ela toma. Conforme ouve o relato de Evelyn, Monique vai criando coragem e questionando as próprias decisões: ela é inspirada e desafiada pela atriz, aprende com suas artimanhas e faz movimentos pelos próprios interesses que são capazes de deixar sua entrevistada orgulhosa.

Um dos grandes segredos que Evelyn se dispõe a contar no livro é quem foi seu grande amor. Preciso falar sobre essa parte da história porque é uma questão-chave no estilo do livro e no porquê ele emociona tanto, então se quiser evitar, pule este e o próximo parágrafo. A obra é dividida entre os sete maridos de Evelyn, cada um marcando uma fase importante da sua vida. Há Ernie, com quem ela casou por interesse pra ser levada pra Hollywood; há o nojento Mick Riva, que aparece em Malibu Renasce e por quem sinto o mais profundo desprezo; há Rex, com quem ela mantém um casamento de fachada pra evitar escândalos, entre outros. Mas nenhum deles foi seu grande amor romântico. Seu grande amor romântico foi Celia St. James, sua primeira amiga e a segunda (e última) pessoa por quem se apaixonou. Após casar por amor com Don Adler e ser vítima de um relacionamento abusivo, Evelyn vira uma amiga inseparável de Celia, encontrando conforto e compreensão na sua presença. Quando Evelyn descobre que Celia é lésbica, seu coração entra em descompasso e ela percebe que o que pensava ser amizade era na verdade outra coisa. Porém, as duas estão vivendo a década de 50, e o preconceito era pesado demais para suportar – podendo levá-las à ruina. Evelyn sempre soube disso, e o desejo de não expor o segredo das duas é o principal motivo que as afasta durante muitos anos. O amor de Evelyn e Celia é inspirador e verdadeiro, intenso e imutável, mas também comove porque as duas perdem muito tempo devido à teimosia, ao medo e ao risco de perderem tudo caso sejam descobertas.

Celia é uma personagem doce e afetuosa, mas ela sabe ser cruel também. Ela fere Evelyn com suas palavras em mais de uma ocasião, e se recusa a enxergar que algumas decisões que sua amada toma visam protegê-la, considerando que Celia é uma atriz talentosíssima e em ascensão, ganhando mais de um Oscar ao longo da carreira. Evelyn, por sua vez, é muito conhecida pela sensualidade, ainda que a reconheçam como a excelente atriz que é. Mas Taylor Jenkins Reid usa de sua protagonista pra exibir o machismo do ramo, e em mais de uma ocasião Evelyn é punida pela academia e pela sociedade, perdendo chances de reconhecimento e aparecendo nos tabloides (principalmente por causa de seus casamentos). As passagens em que Evelyn e Celia estão sem se falar são aflitivas porque o leitor sabe o quanto elas se amam, mas existe um caminho a ser trilhado para que estejam prontas para ficarem juntas.

Outro personagem que vale ser mencionado é Harry Cameron, o melhor amigo de Evelyn. Ele é um produtor de Hollywood conhecido pelo bom gosto e é quem descobre uma Evelyn com menos de 17 anos atendendo em uma lanchonete. Encantado por sua beleza, ele sabe que a garota tem potencial de brilhar, e é quem a ajuda a dar os primeiros passos em Hollywood. Com o tempo, porém, ele se revela um amigo leal, uma pessoa que está ali para defendê-la e com quem ela cria uma família – real e metafórica. Harry é um personagem pelo qual o leitor se afeiçoa, e ele tem suas próprias questões para resolver, algumas delas bastante trágicas e comoventes. Mais um exemplo de que os personagens inseridos na história têm um papel a cumprir, causando sentimentos intensos no leitor.

A obra também é interessantíssima por revelar com leveza e fluidez os bastidores do cinema, os escândalos das celebridades, as maquinações necessárias para chegar ao estrelato – e, principalmente, mantê-lo – e as falsidades que acontecem por trás das cortinas. Taylor Jenkins Reid constrói a história de modo que o leitor sinta que está lendo uma biografia de verdade, de tão imersivas que essas passagens são. Você realmente se sente “aprendendo” sobre o backstage do cinema e vendo de perto os segredos desse ramo sendo revelados.

Os Sete Maridos de Evelyn Hugo é um livro comovente, que fala sobre amar verdadeiramente e sobre o quanto o preconceito pode roubar a sua vida quando você não se encaixa no “modelo pré-estabelecido” de amor. Fala também sobre uma mulher que tomou atitudes condenáveis e egoístas para crescer na vida e proteger seus interesses, mas que também agiu da forma mais altruísta possível pra cuidar daqueles que amava. Evelyn Hugo é uma personagem complexa, apaixonante, cativante e instigante. Você pode até não concordar com suas decisões, mas decididamente você vai compreendê-las e possivelmente respeitá-las. Evelyn é um exemplo de força e de determinação, alguém que acredita em si mesma sem pensar duas vezes. Acho que, no fundo, eu queria ser um pouquinho mais como ela. Sei que Monique também, e a gente vê isso acontecendo diante dos nossos olhos ao longo da leitura. Se você ainda não conheceu essa mulher marcante, meu conselho é que o faça o mais breve possível. Assim como todos que a viram atuar durante seus anos de ouro, você vai se apaixonar por ela também. ❤

Título original: The Seven Husbands of Evelyn Hugo: A Novel
Autores:
Taylor Jenkins Reid
Editora: Paralela
Número de páginas: 360
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Resenha: Heartstopper: Volume 4 (De Mãos Dadas) – Alice Oseman

Oi pessoal, tudo bem?

Preparados pra mais uma resenha da minha graphic novel queridinha? Estou falando dela, é claro: Heartstopper. ❤ Ah, de praxe, não custa nada avisar: como o tema é o 4º volume da série, essa resenha inevitavelmente tem spoilers das edições anteriores.

Garanta o seu!

Sinopse: Charlie e Nick já não precisam esconder de ninguém no colégio que estão namorando, e agora, mais do que nunca, Charlie quer finalmente dizer “Eu te amo”. O que parece um gesto simples se torna bem complicado quando sua ansiedade o faz questionar se Nick se sente da mesma forma…
Nick, por sua vez, está com a cabeça cheia. Afinal, ele ainda não teve a oportunidade de se assumir para o pai, e se preocupa constantemente com Charlie, que dá sinais claros de ter um transtorno alimentar. Conforme o relacionamento dos dois amadurece, os desafios que vêm pela frente ficam cada vez mais difíceis ― mas os garotos logo vão aprender que amar alguém nada mais é do que estar ao seu lado, juntos, de mãos dadas.

O relacionamento de Nick e Charlie continua firme e forte, mas nessa edição os personagens enfrentam problemas que colocam suas mentes e corações em assuntos mais tensos do que nas edições anteriores da série. Nick lida com um irmão babaca e ainda não conseguiu se encontrar com o pai para contar sobre Charlie; para piorar, ele começa a pesquisar sobre transtornos alimentares ao perceber, desde o volume 3, que o namorado parece ter bastante dificuldade quando o assunto é comida. Charlie, por sua vez, deseja dizer o famigerado “eu te amo” para Nick, mas tem medo de que não seja recíproco e ele não consiga lidar com isso. Toda a ansiedade do personagem está muito mais exacerbada nesse volume, e seus problemas com a comida se tornam cada vez mais claros.

Esse foi o primeiro volume de Heartstopper que me fez chorar. Eu tenho um apego muito grande em Nick e Charlie, e ver os dois sofrendo e passando por situações tão difíceis foi de partir o coração. Nick é uma peça-chave para que Charlie decida contar aos pais sobre seu problema, o que leva a medidas mais drásticas para protegê-lo de si mesmo e de seus pensamentos destrutivos. O lado bom desse plot é que desmistifica as instituições e os tratamentos psiquiátricos, colocando-os sob uma ótica muito positiva. Isso é excelente principalmente ao pensar que o público-alvo da graphic novel é jovem, ou seja, podem ser pessoas que ainda não saibam lidar com essa pressão sozinhas (por medo, desconforto, tabus, pressão familiar, entre mil outros motivos). Ao mesmo tempo que o cuidado psiquiátrico é mostrado de forma bacana, também é de entristecer que a família de Charlie não tivesse notado que o garoto vinha demonstrando sintomas de um distúrbio alimentar. Muitas vezes a gente convive de perto com alguém que está sofrendo e, mesmo assim, não conseguimos enxergar. 😦 Acho que De Mãos Dadas faz um bom trabalho em deixar esse alerta.

Preciso dedicar um momento pra exaltar a mãe do Nick, uma personagem compreensiva, sensível e leal. Ela é a pessoa quem ajuda Nick a ordenar os pensamentos em relação ao distúrbio de Charlie, especialmente porque Nick quer salvá-lo a todo custo dessa condição. É também Sarah Nelson que fala para o filho (e para o leitor) que não é papel de um companheiro “salvar” a outra pessoa de um transtorno mental, pois é um fardo muito pesado pro amor carregar (além de transtornos mentais serem multifatoriais e mais complexos de serem resolvidos). Ela ensina o filho que amar é muito mais sobre estar presente nos momentos difíceis e saber que a pessoa pode contar com seu colo. Sim, essa foi uma das passagens em que eu chorei. 🥲

Heartstopper: De Mãos Dadas é o volume mais “pesado” da série até agora, por finalmente tocar em assuntos com os quais a trama vinha flertando, mas sem se aprofundar. Alice Oseman toma muito cuidado ao abordar o quanto devemos levar a sério o assunto de saúde mental, mas ao mesmo tempo trazendo doses de esperança e caminhos possíveis para a cura. Além de Nick, Charlie pode contar com o apoio incondicional da família e dos amigos, e mesmo que o caminho para a cura seja tortuoso e cheio de percalços, com altos e baixos, é lindo de ver que sempre tem alguém pra segurar a mão dele. ❤

Título original: Heartstopper #4: A Graphic Novel
Série: Heartstopper
Autora:
 Alice Oseman
Editora: Seguinte
Número de páginas: 384
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Livro cedido em parceria com a editora.
Esse não é um publipost, e a resenha reflete minha opinião sincera sobre a obra.

Resenha: Solitária – Eliana Alves Cruz

Oi pessoal, tudo bem?

A dica de hoje é sobre um título que já entrou pra lista de favoritos do ano: Solitária, de Eliana Alves Cruz. É um livro curtinho, mas que atinge dores da sociedade brasileira com uma maestria ímpar. Vamos conhecer?

Garanta o seu!

Sinopse: Solitária conta a história de duas mulheres negras, Mabel e Eunice, mãe e filha, que “moram no trabalho”, um condomínio de luxo situado em localidade não nomeada, mas que pode ser qualquer grande cidade brasileira. Eunice, a mãe, é testemunha-chave de um crime chocante ocorrido na casa dos patrões. Mabel, a filha, constrói o caminho que levará à elucidação do crime e à libertação de ambas. Em prosa direta e ágil, voraz e assertiva, Eliana Alves Cruz remexe o imaginário do trabalho doméstico no Brasil, ainda tão vinculado ao mundo escravocrata, e o relaciona a questões contemporâneas fundamentais, como o debate sobre ações afirmativas, a ascensão da extrema direita e a pandemia. Testemunho de uma crucial mudança de sensibilidade no espírito de nosso tempo, Solitária dá provas do quão urgente se tornou elaborar – sem meias-palavras – não apenas a história, mas as sobrevidas da escravidão colonial. E, ao fazê-lo, mostra como é possível enfrentar o desafio moral e ético de abordar estas experiências de vida sem replicar narrativamente a violência a que estão sujeitas nem reencená-las sob a égide de qualquer pacto sub-reptício de subalternidade. É um romance libertação.

A obra acompanha os anos de vida de duas mulheres negras, mãe e filha, que têm suas vidas marcadas pelas consequências de um país que coloca corpos negros em posição de servidão. Mabel, a filha, sabe desde cedo que não quer traçar os mesmos passos da mãe, almejando um futuro melhor e conquistando sua tão sonhada vaga no curso de Medicina; Eunice, a mãe, trabalhou como empregada doméstica a vida toda e tem um conflito interno muito forte sobre os sentimentos em relação à família de classe média alta que por tantos anos a empregou. Um acontecimento trágico é um catalisador para que Mabel pressione a mãe a se libertar desse vínculo, ao mesmo tempo em que Eunice tenta entender como lidar com o que aconteceu. Os capítulos são (quase) todos narrados em primeira pessoa por essas personagens e trazem experiências de anos, o que permite que o leitor mergulhe a fundo em suas vidas.

Uma alegoria importantíssima ao longo da obra é o conceito do quartinho – não apenas como cômodo, mas como espaço metafórico para o corpo negro. Eliana Alves Cruz não teme expor as fragilidades raciais da nossa sociedade, tendo um texto pungente e, ao mesmo tempo, de grande fluidez (o que torna o livro ágil). Mabel observa desde criança sua mãe sendo obrigada a limpar, cuidar, organizar e fazer tudo para seus empregadores brancos, que adoram dizer que “ela é praticamente da família” ao mesmo tempo em que a relegam a um espaço apertado e apartado dos demais. A própria Mabel, diferente das crianças que ela vê crescer na casa dos patrões (como a filha do casal, Camila, e outros amigos do prédio), também não recebe o mesmo tratamento: enquanto a infância de uns é preservada, a de outros é destinada a ajudar “na lida”, fazendo o possível para se tornar invisível e não atrapalhar o dia a dia da branquitude que frequenta aquele apartamento.

A história de Mabel é uma história de superação. Mesmo estando nesse ambiente desde novinha e passando por uma experiência traumática aos 14 anos (que reflete o destino de muitas meninas da mesma idade e classe social), ela conseque realizar o sonho de entrar na faculdade de Medicina. Mas o livro não faz com que pareça uma meritocracia utópica da qual a classe média tanto gosta de falar; vemos na prática a dor e os sacrifícios que sua família passa pra que ela chegue lá. Sua infância é roubada muito cedo e ela logo percebe que não pode se dar ao luxo de ter as mesmas experiências e erros que os “verdadeiros moradores” do condomínio podem se permitir. O acesso a clínicas e a medicamentos importantes são um bom exemplo disso, mostrando que a autora ainda consegue falar com sutileza sobre temas pesados como aborto e saúde coletiva.

Eunice também é uma personagem profunda e bem trabalhada. Para ela, de origem humilde, a vida doméstica acabou trazendo certa estabilidade pela qual ela é grata. Cada pequeno gesto de seus patrões parecem vir carregados de uma expectativa de gratidão eterna por parte de Nice, e durante parte do livro ela cumpre esse papel. Seu maior conflito interno reside no fato de que ela passa mais tempo cuidando da filha do casal, Camila, do que da sua própria; é uma necessidade que, além de doer, faz com que ela sinta que Camila também é “um pouco sua filha”. Quando a garota se envolve no evento propulsor do livro, Eunice é confrontada e precisa olhar para o seu passado a fim de entender qual o seu papel nos desdobramentos de tal evento. É como ler sobre o caso Miguel novamente, só que dessa vez nas páginas de uma ficção (nem tão ficção assim).

Para além das duas personagens e da família branca para a qual Eunice trabalha, também entramos em contato com Jurandir, o porteiro e novo amor de Eunice, e seus dois filhos, Cacau e João Pedro, que possuem laços fortes com Mabel. João Pedro é o símbolo da rebeldia dentro desse contexto, sendo aquele que se recusa ao papel de subserviência que percebe em seu pai e em Nice. Ele é julgado por seu “jeito problemático”, mas é também um grito de liberdade e de revolta muito necessário. E já que estou falando em personagens, digo apenas que os espaços ocupados por todos já citados também têm um papel interessante e marcante na narrativa do livro – mas o como eu vou deixar pra vocês descobrirem.

Solitária é um livro excelente, que toca em diversas feridas abertas em relação ao racismo no Brasil. Com uma narrativa leve, mas firme, Eliana Alves Cruz faz um passeio por diversas desigualdades que assolam com muito mais força a camada mais vulnerável da população: de subempregos a gravidez indesejada, de escravidão moderna (mas sem a espetacularização de A Mulher da Casa Abandonada) até a maior vulnerabilidade frente à Covid-19. São temas pesados, que impactam, mas trabalhados de forma tão didática que as páginas fluem e você sente a revolta no fundo do coração por saber que nada do que está escrito ali é tão ficcional assim. Pra mim, Solitária entrou pro hall de livros que todo mundo deveria ler.

Título original: Solitária
Autora: Eliana Alves Cruz
Editora: Companhia das Letras
Número de páginas: 168
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Livro cedido em parceria com a editora.
Esse não é um publipost, e a resenha reflete minha opinião sincera sobre a obra.

Resenha: A Ponte Entre Reinos – Danielle L. Jensen

Oi pessoal, tudo bem?

A Ponte Entre Reinos se tornou um dos livros queridinhos da blogosfera em 2022 e hoje chegou a minha vez de dividir com vocês o que achei da obra. Vamos nessa? 🥰

Garanta o seu!

Sinopse: Lara é uma princesa treinada para ser uma espiã letal. Ela tem duas certezas: 1) o rei Aren de Ithicana é seu maior inimigo; 2) ela será a responsável por destruí-lo. Por ser a única rota possível num mundo assolado por tempestades, a ponte de Ithicana gera poder e riqueza ― e a miséria dos territórios vizinhos, entre eles a terra natal de Lara. Então, quando é enviada para cumprir um acordo de paz e se casar com Aren, Lara está decidida a descobrir todas as fraquezas desse reino impenetrável. Mas, conforme se infiltra em seu novo lar e entende o preço que Ithicana paga para manter o controle da ponte, Lara começa a questionar suas convicções. E, quando seus sentimentos por Aren passam da hostilidade para uma paixão intensa, ela terá de escolher qual reino vai salvar ― e qual vai destruir.

Ithicana e Maridrina são reinos rivais que travaram uma guerra por anos, até que um tratado de paz – o Tratado de Quinze Anos – foi firmado. Nele, ficou estabelecido que Maridrina forneceria uma princesa para casar com o príncipe e futuro rei de Ithicana. Mas Silas, rei de Maridrina, nunca aceitou a paz de fato, e treinou 20 filhas em segredo pra se transformarem em guerreiras letais e espiãs de ponta, no intuito de seduzirem o novo rei, Aren, e extraírem o maior segredo de Ithicana: como penetrar as defesas da ponte que liga o reino aos vizinhos e é responsável por todo o trajeto do comércio de norte a sul, protegendo os comerciantes dos terríveis mares Tempestuosos. Lara é quem consegue ser a princesa escolhida, e vai até Ithicana determinada a não falhar em sua missão. Porém, aos poucos, a jovem espiã vai percebendo que muitas das coisas que incutiram em sua cabeça durante seu treinamento (que começou aos 5 anos de idade) não eram verdadeiras, colocando sua missão – e sua lealdade – em xeque.

Na minha opinião, diversos livros de fantasia correm o risco de ficarem confusos e cansativos quando estão apresentando muitos conceitos novos de world building, especialmente nos primeiros volumes de uma série. Contudo, aqui a autora consegue equilibrar o “show” com o “tell”, ou seja, ao mesmo tempo em que descreve o mundo proposto, há parágrafos dedicados a explicar as dinâmicas e regras que regem esse mundo também por meio de diálogos ou pensamentos dos personagens, evitando que inúmeros conceitos novos sejam simplesmente largados na narrativa. Isso faz com que A Ponte Entre Reinos não seja enfadonho e prenda a atenção desde as primeiras páginas.

O livro oferece um desenvolvimento bem instigante, com uma narrativa em terceira pessoa ora focada em Lara, ora em Aren. Ainda que desde o início o leitor já saiba que se trata de um romance, a autora leva o desenvolvimento dessa relação com paciência, especialmente porque Lara e Aren têm muito a perder: ela não pode ser descoberta como espiã; ele não pode colocar a segurança de Ithicana em risco. Com o passar das páginas, eles vão ficando mais confortáveis na presença um do outro, em parte porque Aren não deseja fazer de Lara uma prisioneira, dando mais espaço a ela no reino, e em parte porque Lara revela traços reais de sua personalidade que vão cativando o rei (que provavelmente seriam criticados pelos mestres de sedução que lhe ensinaram enquanto crescia rs). Como não sou fã de instalove, gostei que a dinâmica dos dois tenha sido construída com o tempo, e Danielle L. Jensen deixa claro que vários meses se passam desde que o casamento acontece.

Os protagonistas de A Ponte Entre Reinos são bons personagens. Lara é uma garota de fibra e, nas primeiras páginas, já fui enganada por ela e pela autora, que nos faz acreditar que a jovem matou suas irmãs para salvar a própria pele. Felizmente ela não demora a mostrar que se condenou ao destino de ir para Ithicana para salvá-las, devido ao amor profundo que sente por elas. Isso foi fundamental para humanizar uma personagem que, em essência, vai para o Reino da Ponte em uma posição de “vilã”, para espionar. Lara pode ter feito coisas horríveis, mas em sua maior parte foi por coação ou instinto de sobrevivência, e não por maldade – e ela não usa isso pra se vitimizar, reconhecendo seus defeitos ao longo de toda a obra.

Aren, por sua vez, não demora a surpreender a esposa. Logo fica claro para Lara e para o leitor que ele é um homem leal e justo, e que sua ferocidade em batalha é consequência de uma vida tendo que proteger seu reino de ataques. Ithicana não busca a guerra, mas sim é alvo dela. Meu único problema com Aren é que ele é meio perfeitinho demais: é lindo, forte, musculoso, leal, honesto, paciente, respeitoso, bom de cama e ainda se apaixona perdidamente por Lara. Fácil gostar dele assim, né? 😂 Felizmente, ainda que ele seja vítima do odiado (pra mim) recurso instalove, Aren é sensato: não importa que tenha caído de amores por Lara, ele demora a confiar nela e toma várias precauções nos primeiros meses da jovem em seu lar.

Os pontos fracos de A Ponte Entre Reinos começam no seu terço final. Ele é tão slow burn que em determinado ponto as coisas demoram a ganhar velocidade, especialmente quando fica nítido que os sentimentos já “oficialmente” mudaram. Além disso, tem uma atitude de Lara que torna o final do livro bastante óbvio, fazendo com que o impacto do que acontece e qualquer consequência advinda se tornem previsíveis. Apesar disso, o livro termina com um bom gancho; ele promete muita ação e uma necessidade de garra e resiliência por parte dos personagens. Pra uma duologia, foi uma boa forma de encerrar essa primeira parte, capaz de deixar o leitor com muita vontade de ver a ação que sua continuação promete.

A Ponte Entre Reinos é uma ótima fantasia e um ótimo romance. Digo “e” porque o livro foi competente em ambas as esferas: apresentou um universo rico é bem construído, com relações políticas interessantes, ao mesmo tempo em que trouxe um enemies to lovers bem feito. Aren é um pouco perfeitinho demais? Sim. O instalove dele por ela é meio clichê? Também. Mas o fato de que o romance em si tenha demorado um tempo coerente pra se consolidar – especialmente considerando os riscos e responsabilidades de Lara e Aren – me convenceu. Se você curte esse estilo de leitura, A Ponte Entre Reinos está recomendadíssima!

Título original: The Bridge Kingdom
Série: A Ponte Entre Reinos
Autora: Danielle L. Jensen
Editora: Seguinte
Número de páginas: 416
Gostou do livro? Então adquira seu exemplar aqui e ajude o Infinitas Vidas! ❤

Livro cedido em parceria com a editora.
Esse não é um publipost, e a resenha reflete minha opinião sincera sobre a obra.

Resenha: Heartstopper: Volume 3 (Um Passo Adiante) – Alice Oseman

Oi pessoal, tudo bem?

Como fiz questão de evidenciar na resenha das HQs e da série, me tornei fã de carteirinha de Heartstopper. ❤ Então pensem na alegria dessa pessoinha quando recebi da Seguinte o terceiro volume, Um Passo Adiante. Continua lendo que eu te conto mais!

Garanta o seu!

Sinopse: No terceiro volume da série Heartstopper, acompanhamos os primeiros desafios do namoro de Charlie e Nick enquanto os garotos viajam a Paris. Depois de entenderem o que sentiam um pelo outro, Charlie e Nick se tornaram oficialmente namorados, e cada dia é uma nova oportunidade para se conhecerem um pouco mais. Mas nem tudo é fácil, principalmente quando se trata de se assumir enquanto casal para o mundo. Mesmo com medo da reação das pessoas, os garotos sabem que em breve terão de contar a verdade, pelo menos para os amigos mais próximos ― ainda mais quando a turma toda viaja a Paris. Enquanto decidem como dar este próximo passo, os dois vão descobrir que, não importa qual seja o desafio, eles podem sempre contar um com o outro.

Se no volume 1 a dupla se aproximou e começou a desenvolver seus sentimentos e no volume 2 o foco foi na autodescoberta de Nick como bissexual e o início do namoro dos dois, em Um Passo Adiante o casal precisa tomar decisões sobre como conduzir a relação. Essa edição traz uma vibe gostosíssima ao colocar os personagens em uma viagem escolar com destino a Paris, e o leitor fica imerso naquela atmosfera de comédia romântica cheia de descobertas, cenários lindos e momentos divertidos.

Nick e Charlie ainda não contaram aos amigos sobre seu namoro, e aos poucos eles vão criando coragem – e decidindo juntos – a melhor forma de fazer isso. Achei fundamental que Alice Oseman tenha trabalhado esse tema com tanta delicadeza e cuidado, especialmente quando lembramos que Charlie foi retirado do armário contra sua vontade, causando todo o bullying que ele sofreu na escola. Por isso, o fato de que o casal protagonista está disposto a fazer isso da sua própria maneira é um sinal de empoderamento super importante, além de transmitir uma mensagem positiva a quem possa estar na mesma situação.

Outro aspecto muito bacana de Um Passo Adiante é o foco em outros personagens, que na série da Netflix já ganharam mais atenção mas, até agora nas HQs, nem tanto. É o caso de Tao e Elle, que visivelmente nutrem sentimentos um pelo outro. Durante a viagem, eles têm a oportunidade de passarem mais tempo sozinhos e refletirem sobre os ônus e bônus de se declararem. É natural ter medo de alterar uma relação que até então é pautada na amizade e algo dar errado, mas é lindo ver Tao e Elle tendo coragem de arriscar.

Além do foco na relação de Nick e Charlie como casal, Alice Oseman também insere elementos que desenvolvem os personagens individualmente, o que considero fundamental. No caso de Nick, a autora mostra ao leitor que o personagem tem uma relação fragilizada com seu irmão mais velho e com seu pai. Enquanto o primeiro é rude e faz bullying com ele (que não se deixa intimidar e o enfrenta), o segundo é ausente e, mesmo morando em Paris, não parece fazer questão de ver o filho durante a viagem. Esses elementos dão profundidade a Nick, que até então era “apenas” nosso golden retriever fofo e maravilhoso. Charlie, por sua vez, começa a ser observado pelo namorado devido a um comportamento que vai ficando nítido para o leitor também: em diversas situações de stress, ele mal toca na comida. Alice Oseman ainda não aprofunda o assunto de distúrbios alimentares nesse volume, mas pra mim ficou muito claro que é algo no horizonte. Tenho certeza de que ela vai tratar desse tema com muito cuidado e sensibilidade, como tudo que vi dela até agora.

Heartstopper: Um Passo Adiante é uma leitura deliciosa, com gostinho de verão (europeu rs) e com todo o carisma e fofura que os volumes 1 e 2 da HQ já haviam nos presenteado. É muito bom ser fã de uma obra que consegue deixar meu coração feliz já nas primeiras páginas, e Alice Oseman consegue me transportar pra história de Nick e Charlie sem esforço. É como se o leitor se tornasse parte daquele grupo de amigos, torcendo e vibrando por cada uma de suas conquistas. Se você ainda está em dúvida sobre ler ou não Heartstopper, a dica é: não pensa mais e só se joga! Vai valer a pena. ❤

Título original: Heartstopper #3: A Graphic Novel
Série: Heartstopper
Autora:
 Alice Oseman
Editora: Seguinte
Número de páginas: 384
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Livro cedido em parceria com a editora.
Esse não é um publipost, e a resenha reflete minha opinião sincera sobre a obra.