Dica de Série: The Last of Us

Oi pessoal, tudo bem?

Ainda que o timing esteja um pouquinho atrasado, não poderia deixar de falar sobre The Last of Us, uma das séries que ganharam o público e a crítica esse ano – com razão. Muito aguardada por quem já era fã do jogo, ela também fez um ótimo trabalho em conquistar quem não era, e eu me enquadro nesse público. Vamos falar a respeito?

Sinopse: Vinte anos após a queda da civilização, Joel é contratado pra tirar Ellie de uma zona de quarentena perigosa. O que começa como um pequeno trabalho, logo se transforma em uma jornada brutal pela sobrevivência.

Faz um tempo que histórias pós-apocalípticas não me interessam mais. Sendo um pouquinho mais específica, desde que The Walking Dead (da qual já fui muito fã) perdeu totalmente minha atenção e eu dropei. Por isso, mesmo sabendo que The Last of Us vinha de um jogo cuja história era elogiadíssima, temi que fosse sentir a mesma monotonia que TWD me causou, o que felizmente não aconteceu. The Last of Us compartilha da melhor fase de The Walking Dead, da época em que a série mais me cativava, trazendo dois elementos dos quais eu sentia muita falta nesse tipo de produção: a aflição pura pelo medo real de algo possa acontecer com os personagens e o foco total no desenvolvimento psicológico deles e na construção de suas relações. Essa combinação faz de The Last of Us uma série que se desenvolve lentamente, mas com doses de adrenalina bem colocadas.

A história gira em torno de Joel e Ellie, uma dupla que se une contra a própria vontade. No futuro em que eles vivem, a humanidade foi quase dizimada por um fungo – que existe e se chama Cordyceps, mas na série ele evoluiu para uma versão muito mais violenta, capaz de controlar o corpo dos seres humanos –, e os sobreviventes vivem em colônias controladas por um exército ditatorial, a FEDRA. Contra essa forma de governo estão os Vagalumes, um grupo rebelde que deseja a liberdade, e Ellie é feita de refém por esse grupo, que acredita na possibilidade dela ser a chave para uma possível cura. Joel, por motivos particulares (e por seu posicionamento político neutro, aliando-se a quem for necessário para sobreviver), aceita escoltar Ellie até uma base dos Vagalumes, mesmo sem ter a menor simpatia pela garota e não desejar se aproximar de ninguém devido aos próprios traumas e perdas. Com o tempo, porém, os dois vão criando um vínculo que vai além da sobrevivência.

Eu amei demais a performance de Pedro Pascal como Joel e Bella Ramsey como Ellie. Não joguei o jogo pra comparar, mas as emoções que eles transmitem na série pra mim são completamente críveis em relação ao que ambos viveram. Joel é um personagem que teve a pior perda possível: no primeiro episódio da série, em meio ao caos do apocalipse acontecendo, ele perde sua filha, a quem ele amava mais do que tudo no mundo. A série tem um salto temporal de 20 anos a partir daí, e é perceptível o quanto ele fechou o seu coração devido ao ocorrido. Mesmo que no presente ele tenha uma companheira (Tess), que também deixa uma marca profunda em Joel, é nítido que nada é tão doloroso pra ele quanto a perda da jovem Sarah. E isso torna ainda mais difícil a aproximação com Ellie, porque o papel de pai que ele exercera no passado não é algo que ele deseje pra si novamente, ou até mesmo que ele sinta ser capaz. Ele não tem a menor pretensão de se aproximar da garota, mas conforme ela vai conquistando sua simpatia e, com o tempo, o seu afeto, as coisas vão se transformando contra a sua vontade e Joel ganha uma segunda chance.

Ellie, por sua vez, é uma jovem que foi treinada a vida toda pra fazer parte do exército, a FEDRA. Mas mesmo sendo tão jovem, ela também enfrentou perdas significativas: cresceu sem os pais, perdeu amigos, teve pouquíssimo afeto destinado a si mesma e, no presente, tornou-se uma espécie de moeda de troca. Ela tem muita dificuldade em acreditar que Joel também não vai abandoná-la, mas sua forma de lidar com tudo que sente é com hostilidade ou com excesso de humor. Demora até que ela consiga se abrir, e quando vemos os lampejos da sua fragilidade fica claro para o espectador (e para Joel) que ela é apenas uma criança.

Mas para além da dupla de protagonistas, The Last of Us consegue fazer a proeza de te fazer se apaixonar, se apegar e depois te deixar em lágrimas por personagens que você conhece em um único episódio. Sendo mais específica, o terceiro. Sim, o polêmico, que causou o maior burburinho quando saiu porque tem um monde de nerdola homofóbico por aí que não consegue admirar a beleza de uma história de amor bem contada só porque quem a protagoniza é gay. O terceiro episódio de The Last of Us é um dos mais bonitos a que assisti em muito tempo, com um romance comovente entre Frank e Bill, dois homens que não poderiam ser mais diferentes e, ainda assim, encontram um no outro a salvação e o amor necessários para viver cada dia. Eu literalmente trouxe um rolo de papel higiênico para o braço do sofá enquanto assistia esse episódio de tantas lágrimas que eu chorei, precisava secar os olhos e assoar o nariz com frequência, me emocionei demais com a delicadeza dessa história. A beleza do romance e o final agridoce desse episódio são inesquecíveis e, sinceramente, só por esse episódio a temporada inteira já valeu. Mas não pensem que foi a única história marcante a ser contada: The Last of Us mexe conosco em praticamente cada episódio. Quando conhecemos os irmãos Henry e Sam, por exemplo, um pedaço do nosso coração fica naquele episódio, e eles nos fazem questionar o que é ser humano, afinal. Enfim, se eu ficar me alongando sobre todas as emoções causadas pelos personagens de The Last of Us, vai ser impossível parar de digitar.

Mesmo que você não se identifique com histórias pós-apocalípticas, sugiro que você dê uma chance a The Last of Us. Ela utiliza a infestação de Cordyceps como pano de fundo para construir relações entre personagens e questionamentos sobre quem somos. É uma série que faz você pensar sobre o que realmente vale a pena na vida, colocando diversas coisas em perspectiva por meio de uma situação extrema. Além disso, tem dois protagonistas carismáticos – com aquela dinâmica perfeita e divertida entre um grumpy e uma sunshine – que nos conquistam sem esforço. Vale a pena conferir!

Título original: The Last of Us
Ano de lançamento: 2023
Criação: Craig Mazin, Neil Druckmann
Elenco: Pedro Pascal, Bella Ramsey, Anna Torv, Lamar Johnson, Melanie Lynskey, Nico Parker, Keivonn Woodard, Merle Dandridge, Nick Offerman, Murray Bartlett

Dica de Série: Rainha Charlotte: Uma História Bridgerton

Oi pessoal, tudo bem?

Confesso que inicialmente não hypei no anúncio do spin-off Rainha Charlotte: Uma História Bridgerton (mesmo sendo fã da série Bridgerton), mas acabei dando uma chance pra série durante as férias e cá estou pra me redimir e indicar pra vocês essa produção que, sim, conseguiu trazer uma história mais profunda e madura do que o material de origem. ❤ Vamos conhecer?

Sinopse: Neste spin-off, o casamento da rainha Charlotte com o rei George é muito mais que uma história de amor: é uma transformação na alta sociedade do universo de Bridgerton.

A série tem como foco duas linhas do tempo: no passado, conhecemos a origem da rainha, como ela foi trazida para conhecer o rei George, o início de seu casamento, a doença do rei, a construção do amor deles, mas também todo o impacto que essa união teve na sociedade inglesa na época; no presente, acompanhamos Charlotte constantemente preocupada em saber se George morreu ou não, e também com o futuro da sua família, pois infelizmente a esposa de seu filho mais velho e seu neto faleceram, e agora não há um herdeiro legítimo ao trono e ela precisa que algum de seus filhos se case e gere uma criança. O impacto da linha do tempo presente provavelmente vai refletir na próxima temporada de Bridgerton, já que existem interações entre Lady Danbury e Violet Bridgerton também, mas o que realmente fisga o espectador é a timeline do passado, em que descobrimos como a sociedade chegou ao ponto que vimos lá na primeira temporada da série de origem, além de ser também a linha do tempo que nos revela a história de amor que – até então – só tinha sido levemente abordada, e o espectador tinha apenas pequenas peças que possibilitavam saber que Charlotte e George se amavam muito, mas sem conhecer a fundo seu passado.

Devo dizer que eu esperava uma série bastante romântica, justamente por saber que Charlotte viveu uma vida devotada a George. O modo como a doença dele foi apresentada em Bridgerton, e o cuidado que ela tem com a situação, mostra uma ternura que já indicava que ali existia um sentimento muito verdadeiro. Para a minha surpresa, Rainha Charlotte é uma série que foca muito pouco no romance. Nos três primeiros episódios, o casal protagonista mal se fala! Eles compartilham uma cena muito fofa quando se conhecem, aí logo se casam (pois Charlotte é trazida à Inglaterra já como uma noiva prometida ao rei) e brigam logo após a cerimônia, quando George se recusa a dormir com ela e morar na Casa Buckingham. Charlotte passa dias e dias a fio solitária, sentindo-se abandonada e com a sensação de que falhou como esposa, arrependida de ter se casado e com uma sensação de amargura muito profunda. Posteriormente, a série nos apresenta os primeiros episódios pelo ponto de vista de George, e é nesse momento que o espectador tem seu coração partido em mil pedacinhos: finalmente entendemos o motivo pelo qual ele tomou tais decisões e o que George realmente esteve fazendo enquanto se manteve distante da rainha. Ainda assim, isso não muda o fato de que, ao longo dos 6 episódios, a maior parte do tempo os dois passam separados. Tanto que eu demorei bastante a acreditar que Charlotte já estivesse apaixonada por George, mesmo sabendo que a recíproca fosse verdadeira; foi apenas no fim da temporada que senti de verdade esse amor acontecendo, e quando ele veio, ele veio arrebatador. O último episódio de Rainha Charlotte – em especial, a última cena – é de arrepiar, e eu chorei de soluçar. É linda, sensível, cheia de referências a coisas importantes na história do casal e dá uma sensação agridoce muito marcante. É um final primoroso, e ao mesmo tempo em que parte o nosso coração, ele também nos dá um pouquinho de esperança, revelando um lampejo da sanidade de George e o profundo amor que os conecta desde a juventude.

Uma surpresa de Rainha Charlotte diz respeito à doença do rei, que esteve presente ao longo de todo o relacionamento dos dois. De certo modo, esperei por um romance arrebatador que, talvez no final, fosse ser atrapalhado pela descoberta dos sintomas, o que não ocorreu. Isso traz um peso emocional muito mais intenso do que as temporadas prévias de Bridgerton (por exemplo) haviam apresentado, e Charlotte e George lidam com uma pressão em seu relacionamento que vai muito além do peso da responsabilidade de governarem a Grã-Bretanha. O fato deles serem tão jovens e já serem marcados por esse desafio torna tudo ainda mais difícil, porque o espectador descobre que a vida do casal foi marcada por um obstáculo instransponível. Por outro lado, saber que George encontrou uma parceira capaz de amá-lo sob todas as circunstâncias, e de aceitar todas as suas facetas, também é acalentador. Além disso, esse plot mexe muito com quem assiste por mostrar a terrível face dos tratamentos psiquiátricos da época, que eram baseados na mais pura tortura. A barbárie que George enfrenta é revoltante, e saber que muito disso foi perpetrado durante séculos é de embrulhar o estômago. Pessoas que tinham condições mentais ainda mais instáveis, incapazes de se defender, sofreram muito mais nas mãos de médicos que faziam os piores experimentos em nome de “curar a mente”, e ver isso refletido na série é bastante impactante.

Mas se eu disse que Rainha Charlotte foca pouco no romance (pelo fato de Charlotte e George passarem bastante tempo afastados ou brigados), no que ela foca? Na minha opinião, no impacto social que ter uma rainha negra causou na sociedade inglesa no universo fictício de Bridgerton. Charlotte faz amizade com a jovem Lady Danbury, que ganha o título graças à mãe de George, a princesa-viúva Augusta. Esse título é fornecido ao marido de Agatha Danbury pra mostrar ao Parlamento que o intuito de casar George com uma mulher de pele escura foi intencional – o que eles chamam de Grande Experimento. O “escurecimento” da corte é um movimento político que Augusta faz pra que não haja dúvidas de que tudo foi planejado previamente (o que não é verdade, pois ela imaginava que a pele de Charlotte fosse mais clara). Ainda assim, uma vez que se torna Lady Danbury, Agatha usufrui desse título com muita sabedoria, negociando seus direitos com Augusta em troca de informações e garantindo que aquilo que é fornecido aos lordes brancos também seja fornecido ao seu marido e à sua família. O plot de Lady Danbury é extremamente interessante: ela odeia o marido, que pratica estupro marital constantemente, mas quando ele morre (afinal, é um idoso) ela se vê bastante perdida com a total liberdade que passa a ter, considerando que foi prometida a ele aos 3 anos de idade e toda a sua vida girou em torno dele e de seus gostos pessoais. Agatha é uma mulher que precisa reaprender sobre si mesma e entender o que é ter seu próprio espaço no mundo, além de lutar com unhas e dentes pra não perder seus privilégios e garantir os seus direitos. Sua amizade com Charlotte também é muito bacana, porque ela consegue conscientizar a rainha da importância que ela tem ao servir de exemplo para a corte e para a sociedade como a primeira mulher negra em sua posição. Adorei acompanhar sua evolução e sua história de origem e terminei a série admirando-a ainda mais como personagem.

Além de tudo, é claro que Rainha Charlotte mantém o mesmo nível de excelência de Bridgerton no que diz respeito à trilha sonora e belos figurinos. Há também representatividade LGBTQIA+ por meio de Brimsley, o leal braço direito de Charlotte, e Reynolds, também leal valete de George. Em relação às cenas de sexo, achei menos calientes quando comparadas às da série original. Quem assistiu, o que achou? 👀

Em resumo, quebrando várias das minhas expectativas, Rainha Charlotte: Uma História Bridgerton me surpreendeu demais, de uma forma totalmente positiva. Eu esperava uma coisa e encontrei outra, muito mais profunda, bem trabalhada e complexa. Amei isso! A série trata de saúde mental, de mudanças sociais, de racismo, de um amor que é construído com o tempo e que também perdura com o tempo. É uma história sobre aceitar quem amamos em todas as suas facetas, mesmo aquelas que a própria pessoa não aceita e das quais ela quer fugir. É uma história inspiradora e muito bonita, que me emocionou muito mais do que pensei que poderia quando dei um “play” tão despretensioso. Se tornou minha temporada favorita no universo Bridgerton! ❤ Recomendadíssima!

Título original: Queen Charlotte: A Bridgerton Story
Ano de lançamento: 2023
Direção: Tom Verica
Elenco:India Amarteifio, Corey Mylchreest, Arsema Thomas, Golda Rosheuvel, Adjoa Andoh, Michelle Fairley, Ruth Gemmell, Sam Clemmett, Freddie Dennis, Hugh Sachs

TAG: Rinite Book Tag

Oi pessoal, tudo bem?

O friozinho finalmente chegou a Porto Alegre, por isso resolvi responder à Rinite Book Tag, que vi no Instagram da Sil. Achei a proposta super engraçada e, como sempre sofro com a troca de temperatura, mega pertinente também hahaha! 😂 Partiu conhecer? 📚

Um livro que está juntando poeira na sua estante

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Eu comprei a série As Crônicas de Gelo e Fogo em 2012, quando estava hypadíssima na série, mas nunca li. Game of Thrones foi uma das minhas séries favoritas, mas depois daquele final, a chama se apagou. Além disso, o fato do George Martin nunca focar em terminar de escrever a saga também me desanima. Vai que o autor nunca finalize? Prefiro nem me arriscar a ler algo inacabado, ainda mais que os livros são verdadeiros calhamaços.

Um livro que você não sabe se é o remédio ou ele que está te dando sono

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Escolhi Aurora Ascende porque foi um livro que demorei bastante pra ler, ainda que a história estivesse super legal e cheia de ação. Por algum motivo, ainda que eu estivesse gostando dos acontecimentos, simplesmente o livro não engrenou 100% comigo. Apesar dos pesares, considerei a experiência positiva.

Um personagem de livro que você desejaria que tivesse rinite pra sempre como castigo

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A chata da Daisy Jones, pra ver se aprende a ter humildade, para de agir como se fosse o centro do universo e, de bônus, pra ver se deixa de ser talarica de macho alheio. 😛

Um livro que você detesta tanto quanto ficar espirrando igual um(a) condenado(a)

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Harry Potter e a Criança Amaldiçoada, também conhecido como a pior ideia que essa saga já viu. Pra mim foi um surto coletivo e eu finjo que essa porcaria delirante não é canon coisa nenhuma.

Um título de livro que reflete seu estado de espírito quando está tendo um ataque de espirros

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Acho que Sem Ar, da Jennifer Niven, é uma boa opção, considerando que junto com o ataque de espirros costuma vir um nariz entupido. 😂

Um livro triste que você precisa deixar lencinhos por perto tanto quanto precisa pela rinite

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O último livro que me fez chorar foi Um Homem Chamado Ove, e ele poderia entrar facilmente nessa categoria por ser muito tocante, mas escolhi Amanhã, Amanhã e Ainda Outro Amanhã pela intensidade do choro que ele provocou. Não foi um livro que favoritei, mas existe um acontecimento específico que foi tão triste e que mexeu tanto comigo que chorei muito, aquele choro intenso, sabem? Então o título mereceu estar nessa categoria.

Gostaram da TAG?
Estão todos convidados a responderem também! 🙌

Beijos e até o próximo post!

Roteiro por Fernando de Noronha (parte 3)

Oi meu povo, tudo certo?

Chegamos à terceira e última parte do meu roteiro por Fernando de Noronha! 🥰 Relembrando os posts anteriores, na parte 1 falei um pouquinho das dicas gerais pra você preparar sua viagem pra ilha e no post 2 compartilhei minha opinião sobre os passeios pagos que meu namorado e eu fizemos. Hoje, a ideia é contar um pouquinho mais sobre as praias que ganharam o meu coração. Vem comigo?

Praia do Cachorro

Essa praia foi uma das nossas queridinhas, e a primeira que visitamos ao chegar, já no primeiro dia! Na ocasião em que fomos (setembro de 2022),  o mar tava super tranquilo, então voltamos mais de uma vez pra aproveitar. Fica a dica: antes de chegar na praia tem o famoso Bar do Cachorro, mas lá é bem caro, então a gente comeu e bebeu num quiosque pé na areia mesmo. A caipirinha era gigante e custava R$ 30 (mesmo preço de vários bares em Porto Alegre), e os petiscos eram mais baratos que esse outro bar mais badalado. Recomendo fazer o mesmo. A única desvantagem da Praia do Cachorro é que pra chegar nela você precisa descer uma lomba gigante e íngreme, então no primeiro dia foi cansativo pra caramba. 😂 Depois alugamos moto, como contei no primeiro post, e facilitou horrores a nossa vida. Outro detalhe bacana: é a partir da Praia do Cachorro que você visita pontos turísticos famosos como o Buraco do Galego e a Lasca da Velha. São duas piscinas naturais lindas, mas a Lasca da Velha é especialmente sensacional, vale a pena demaaais o esforço de ir! 🥰 Digo esforço porque envolve escalar um paredão de pedra e, no nosso caso, no sol do meio-dia (horário da maré baixa). Só que o lugar é incrível, então compensou muito. Recomendo! Já o Buraco do Galego envolve uma fila do cão porque é o lugar em que os famosos fazem fotos, então se prepare pra esperar a sua vez pra fazer uma foto instagramável. Como eu sou dessas, esperei. 😂 Mas se eu for indicar apenas um dos rolês, indico a Lasca da Velha sem pensar duas vezes.

Piscina natural formada na maré baixa na Lasca da Velha 😍

Praia do Porto

Não vejo as pessoas elogiando tanto essa praia nos roteiros que eu encontrei, mas sério, foi uma das minhas favoritas! Se o mar na do Praia do Cachorro já era calmo, aqui era uma verdadeira piscininha. Essa é a praia da qual saem os passeios de barco, então algumas pessoas consideram ela mais “feinha” por conta disso, já que o mar também é menos transparente. Contudo, tem um outro viés muito interessante na Praia do Porto: se você fizer snorkel, a vida marinha, que é riquíssima por ali, vai te surpreender! Foi fazendo esse passeio na Praia do Porto que vimos arraias, inúmeros cardumes e muitas tartarugas. Lindo demais. ❤ Além disso, o pôr do sol é encantador, e eu amei o contraste dos barquinhos contra o horizonte enquanto o sol ia descendo e colorindo tudo de vermelho e laranja. Com águas tranquilas e quentinhas, a Praia do Porto certamente virou uma das minhas queridinhas.

Pura tranquilidade na Praia do Porto

Cacimba do Padre

Essa praia é de uma beleza estonteante, de cair o queixo mesmo. Nela você fica super próximo do Morro Dois Irmãos, e lembro de me sentir uma formiguinha olhando pra eles tão de perto. O mar era um pouco mais agitado, mas consegui entrar e curtir no dia do Ilha Tour. Mais pro fim da viagem, o swell deixou o mar mais inóspito pros banhistas, mas atraiu diversos surfistas que conseguiram pegar ondas bem legais por lá. Eu fiquei admirando de longe mesmo rs. Seja como for, essa praia precisa estar no roteiro, porque é simplesmente maravilhosa, de uma beleza ímpar.

A beleza e a energia desse lugar são simplesmente indescritíveis ❤

Praia do Sancho

Como deixar a praia eleita inúmeras vezes pelo TripAdvisor como a mais linda do mundo de fora dessa lista? A Praia do Sancho é tudo isso mesmo! ❤ A beleza começa pela paisagem, já que você a vê pela primeira vez por meio de um mirante bem alto que te permite contemplar o mar batendo na areia e admirar todo aquele verde ao redor. Pra chegar nela, você desce uma escada bem apertada dentro do paredão de pedra e, após essa etapa, mais uma escadaria a céu aberto. É um pouco cansativo, mas vale cada minuto! O único ponto de alerta é: quem sofre de claustrofobia precisa refletir um pouquinho sobre o passeio, porque uma vez que você começa a descida, é complicado retornar, já que os guias fazem com que uma pessoa siga atrás da outra pra não haver “congestionamento”. Isso acontece porque existem horários fixos de descida e de subida, no intuito de manter a passagem sempre livre para determinada direção – já que existe somente um acesso à praia que não seja pelo mar. Eu fui três vezes à Praia do Sancho, sendo a primeira delas com o Ilha Tour, e tinha bastante fila. Nessa ocasião, uma moça travou todo o fluxo porque não tinha coragem de seguir descendo, então fica bem complicado se você não sabe se tem coragem ou não de fazer o passeio. Vale a pena chegar na borda e olhar pra baixo antes de efetivamente começar, sabe? Ou talvez ir bem cedinho, em que a passagem é livre, pra ter mais tempo de descer com calma. Se for nos horários agendados, a pressão pra descer rápido acontece. 👀 Quando meu namorado e eu fomos por conta própria, fomos nos horários livres e foi uma santa paz, sem ninguém atrás da gente e descemos com toda a tranquilidade do mundo, tendo a praia todinha pra nós. ❤ Delícia demais!

Vista do mirante da Praia do Sancho

Praia da Conceição

É a famosa praia do “picão de Noronha” (😂) e também um dos pontos mais famosos pra assistir ao pôr do sol. Ela tem vários guarda-sóis pra alugar, e é onde fica o Bar do Meio, que o pessoal da ilha chama de Bar do Euro pelos preços levemente superfaturados rs. Porém, a dica de ouro é não assistir ao pôr do sol do bar, e sim da própria praia ou das pedras que ficam na lateral do bar: é de graça e a vista é bem mais bonita. 🤓

Pôr do sol na Praia da Conceição

Visitamos outras praias ao longo da viagem, mas essas realmente foram os destaques que ganharam o nosso coração. Fica uma menção honrosa pra Baía dos Porcos, que apesar da maré alta também era um charme e permitiu fotos lindas do Morro Dois Irmãos. 🥰

Espero que tenham gostado das dicas, pessoal!
E qualquer dúvida que tiverem sobre a viagem, podem me perguntar nos comentários.

Beijos e até o próximo post!

Resenha: As Garotas Que Eu Fui – Tess Sharpe

Oi pessoal, tudo bem?

Após ver muitos elogios no bookstagram, estava com as expectativas bem altas pra ler As Garotas Que Eu Fui, um thriller psicológico com um público-alvo mais adolescente que em breve vai virar filme da Netflix. Vamos conhecer?

Garanta o seu!

Sinopse: O nome dela é Nora… no momento. Ela já foi muitas outras garotas: Rebecca, Samantha, Haley, Katie e Ashley. A vida de mentiras não foi sua escolha, e sim sua herança enquanto filha de uma golpista. A criminosa, cujos alvos sempre foram homens fora da lei, usava a filha como acessório em todos os seus trambiques. Mas quando um dos esquemas da mãe se transformou em paixão, Nora resolveu que era a sua vez de aplicar um golpe e desapareceu. Já faz cinco anos que Nora finge ser normal, mas ela sabe que, na sua vida, as coisas nunca permanecem calmas por muito tempo. Em meio a uma situação que já era esquisita, junto com o ex-namorado e a amiga deles (com quem ela está saindo atualmente), Nora se vê vítima de um assalto a banco. Por um lado, ela sabe que tem a lábia necessária para tirar os reféns vivos dali. Por outro, os assaltantes não sabem quem ela realmente é – uma garota que tem muito a esconder…

Considerando que a sinopse resume bem o cerne da história, vou partir direto para minhas impressões a respeito do livro. A narrativa de Tess Sharpe é bastante ágil, e o primeiro ponto positivo a me chamar a atenção foram os capítulos curtos, que conferem dinamismo à história. Nora, sua namorada Iris e seu ex-namorado/melhor amigo Wes se veem vítimas de um assalto a banco junto de algumas poucas pessoas e toda a história no tempo presente se passa em torno da angústia dos personagens de não saberem se irão ou não sobreviver à situação. Os assaltantes – apelidados por Nora de Boné Cinza, o líder, e Boné Vermelho, o lacaio – são violentos e estão sem máscara, o que a leva a crer que não têm nada a perder. Isso faz com que os instintos de sobrevivência da protagonista se ativem na potência máxima, trazendo seu passado (e sua identidade como golpista) à tona, algo que até então apenas Wes conhecia. Entre o drama de Iris descobrir o seu segredo e Nora tentar enganar os bandidos na lábia, a autora também nos leva à melhor parte da história: os flashbacks das identidades anteriores da protagonista, todas as garotas que sua mãe a obrigou a ser desde a mais tenra idade para auxiliá-la a enganar os piores tipos de homens.

Nora cresceu sendo usada pela sua mãe, Abby, uma mulher que ganhava a vida dando golpes do baú em homens criminosos. E Nora não foi a primeira a ser criada assim: sua irmã mais velha, Lee, veio antes dela, e passou por atrocidades tão ruins quanto. Foi graças a Lee que Nora pôde escapar das garras da Abby, pois ela bolou o plano que permitiu colocar a mãe e o marido atrás das grades e conseguir a guarda da irmã. Esse marido foi a chave para a liberdade de Nora, mas também é a grande ameaça que paira sobre sua cabeça: o nome dele é Robert Keane, um criminoso de grande interesse do FBI, responsável por crimes como assassinatos, chantagem, corrupção, tráfico, etc. Contudo, mesmo da prisão ele ainda exerce grande poder sobre sua rede de contatos, e se descobrir que a enteada ainda está viva, certamente mandará alguém atrás dela para matá-la. Robert foi o único homem que Abby amou, e ela o colocou à frente do bem-estar da própria filha. Ela permitiu que Robert as agredisse, as controlasse e, se ele quisesse, também permitiria que as matasse.

Mas Robert não foi o único homem que marcou a vida de Nora com violência. Inclusive, esse é um gatilho importante de ser mencionado: As Garotas Que Eu Fui é um livro essencialmente sobre abuso. Nora sofreu todos os tipos de violência possíveis, da psicológica à física e à sexual. Mas se você pensa que apenas os homens que eram os alvos dos golpes do baú de Abby foram responsáveis por ferir a protagonista, devo dizer que você está enganado. Talvez a principal pessoa a machucá-la profundamenta seja justamente sua mãe. Considero o abuso parental essencial de ser discutido, porque a influência de Abby é sentida em cada linha e em cada reflexão da narração de Nora. O leitor percebe que a protagonista deseja a aprovação da mãe mais do que tudo na vida, que ela foi uma criança que queria agradar a todo custo, que desejava ser amada e ser fonte de orgulho para Abby, mesmo que fosse tratada como um mero acessório nos golpes. Abby fez com que Nora dissociasse de sua personalidade, forçando-a a ser uma criança que assumia diferentes identidades e características a seu bel-prazer, de acordo com seu objetivo e com o homem que queria conquistar. Pior: Abby permitia que Nora fosse vítima de violências variadas ao longo dos anos, e a fazia se sentir culpada caso não aguentasse suportar alguma delas. O nível de distorção psicológica que isso causa na protagonista é muito profundo, e a autora toma a decisão acertada de mostrar que Nora precisa de ajuda e de muita terapia pra começar a superar essas feridas abertas.

O passado de Nora e as consequências psicológicas do abuso são tão interessantes que acabam tendo um revés meio negativo no livro: o plot do assalto a banco se torna desinteressante. Não existe um verdadeiro plot twist muito marcante nem uma sensação que cause verdadeira aflição nos capítulos em que Nora interage com os bandidos. Eu, pelo menos, não senti nenhuma sensação parecida durante essas cenas. Parte do meu desinteresse com esse plot também envolve meu desinteresse nos personagens envolvidos nele: Iris, por exemplo, eu achei um tédio. Ela é o estereótipo de Manic Pixie Dream Girl e, mesmo que a representatividade bissexual seja um ponto super positivo, não consegui comprar a paixão entre as duas e a química simplesmente não rolou. A conexão com Wes foi muito mais verdadeira, e a autora dedicou muito mais tempo em construir o elo entre Nora e ele do que entre Nora e Iris, por mais que ela tente forçar o amor entre as duas. Wes, além de ter sido o primeiro amor dela e o primeiro homem do qual ela não precisou se proteger, também foi uma pessoa que compartilhou da mesma dor que ela – a dor do abuso parental. A profundidade da relação dos dois me convenceu bem mais e, mesmo como amigos, gostei muito mais da interação deles, o que me fez achar que Iris era um elemento bastante dispensável.

As Garotas Que Eu Fui é um livro que poderia ser um pouco mais curto, especialmente no plot do banco, que achei que se arrastou por tempo demais. Entretanto, gostei muito de toda a história do passado de Nora e da forma como Tess Sharpe trabalhou o enredo de uma criança crescendo como filha de uma golpista e as consequências de ser moldada por uma mãe narcisista. Apesar das frases de efeito de Nora sobre ser perigosa (que por vezes me cansavam um pouco rs), eu gostei bastante dela como personagem. Ela é muito humana, tem empatia, ainda luta contra os próprios traumas e suas reações fazem sentido. Além disso, ela não é idealizada, tendo defeitos e pequenas falhas de caráter que me fizeram gostar ainda mais dela, justamente por mostrar que ela não é perfeita e nem deseja ser. Apesar do final aberto (característica da qual eu não gosto muito), a autora passa uma mensagem clara: Nora está pronta para a luta, assim como a maioria de nós, mulheres, somos ensinadas desde muito cedo a estar. Apesar de não ser um livro inesquecível, gostei muito de conhecer Nora e fiquei orgulhosa de ver quão longe ela chegou no seu processo de cura. 🙂

Título original: The Girls I’ve Been
Autora:
Tess Sharpe
Editora: Rocco
Número de páginas: 352
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Livro cedido em parceria com a editora.
Esse não é um publipost, e a resenha reflete minha opinião sincera sobre a obra.

Resenha: Chrno Crusade – Daisuke Moriyama

Oi pessoal, tudo bem?

Depois de um tempo sem nenhuma otakice por aqui, vim compartilhar com vocês minha opinião sobre um mangá que comprei há cerca de 10 anos, mas que só li agora: Chrno Crusade!

Sinopse: A história se passa no final dos anos 1920 nos EUA. O grande desenvolvimento econômico dos EUA faz com que a ganância domine cada vez mais seres humanos. Este se torna um ambiente ideal para os demônios fazerem suas maldades: enquanto fingem ajudar os humanos, na realidade se utilizam destes para os seus próprios objetivos. Para enfrentar tamanho mal, a igreja católica criou a Ordem de Magdala, cujos membros (padres, freiras e etc) têm a função de exorcizar e destruir estes monstros através do uso de armas especializadas na captura e abatimento destes inimigos. O anime/mangá conta a história de Rosette Christopher, uma jovem freira que definitivamente não age como tal. Há quatro anos, Rosette vivia em um orfanato com seu irmão mais novo Joshua, que era um dos Apóstolos (sete humanos foram abençoados com poderes divinos), porém ele é sequestrado por um demônio chamado Aion. Desesperada, ela faz um pacto com outro demônio, Chrno, para que ele possa ajudá-la a encontrar seu irmão e salvá-lo. Mas ao fazer isso, Rosette vira sua contratante, e toda vez que Chrno usar seus poderes a vida dela será consumida. O símbolo desse contrato é um relógio que Rosette sempre carrega pendurado no pescoço e que mostra o seu tempo de vida.

Acho que demorei tanto tempo pra conferir essa coleção porque, na época da compra, eu não tinha curtido muito o anime (que eu assisti antes de ler). Acontece que esse ano eu estou colocando várias leituras antigas em dia e finalmente chegou o momento de Chrno Crusade. Enquanto eu lia, só conseguia pensar: por que demorei tanto tempo pra dar uma chance? É bom demais! ❤

A história acompanha Rosette, uma freira da Ordem de Magdala (uma instituição católica que combate e exorciza demônios), e Chrno, um demônio que faz um pacto com ela. Os dois são melhores amigos e parceiros de combate, mesmo que tal aliança possa ser vista com maus olhos, especialmente na Ordem, dada a natureza de Chrno. Com o passar dos capítulos, descobrimos que eles se conheceram quando Rosette tinha 12 anos e ainda estava acompanhada de seu irmão mais novo, Joshua – hoje desaparecido –, e as duas crianças acordaram o demônio de um sono de 50 anos numa cripta. Quando Aion, um antigo inimigo de Chrno ressurge e sequestra Joshua, Rosette e Chrno fazem o pacto e determinam que sua missão de vida será encontrá-lo e resgatá-lo são e salvo, sendo este o motivo de Rosette decidir ser treinada pela Ordem, para que possa aprender a combater os demônios. Chrno Crusade então retrata os combates da dupla, a formação de novas alianças e a busca dos dois por Joshua, ao passo que revela a ambição de Aion e os motivos nefastos pelos quais ele sequestrou o irmão de Rosette.

Com apenas 8 volumes, o mangá é curto e muito ágil. Não  há tempo para enrolação ou aventuras desnecessárias, e eu diria que apenas o primeiro mangá é um pouco mais “bobo”, retratando algumas missões dos protagonistas com o intuito de ambientar qual é o dia a dia deles como exorcistas. Do segundo volume em diante, quando o passado de ambos começa a ser revelado, se torna impossível de largar. A história é muito instigante e ela ganha uma virada dramática inesperada, porque os personagens precisam lidar com um peso enorme nos ombros após o sequestro de Joshua. Mesmo que Rosette seja uma personagem bem-humorada, explosiva, expansiva e de personalidade forte, ela vivenciou uma série de traumas muito significativos ao longo da vida: perdeu os pais muito nova, em seguida teve seu irmão sequestrado e, por fim, teve que fazer o pacto com Chrno. Esse pacto é muito importante para a história, porque é em torno dele que o simbolismo de Chrno Crusade gira: a finitude do tempo.

Na ambientação de Chrno Crusade, a fonte do poder dos demônios são seus chifres. Aion, contudo, roubou os chifres de Chrno para dar a Joshua, de modo a executar o seu plano de acabar com a mãe dos demônios, Pandemonium, a fim de libertar os demônios de qualquer tipo de controle. Para vencê-lo, Chrno precisava de uma nova fonte de poder, e essa fonte costuma vir de um pactuante (nesse caso, Rosette). O grande dilema do mangá se dá pelo fato de que, toda vez que Chrno precisa libertar o selo que Rosette carrega e que “prende” seus poderes, a alma dela é consumida e seu tempo de vida diminui. No momento em que Rosette firma o pacto com ele, ela também assume que viverá uma vida mais curta e, a cada instante de batalha ou de tensão, essa situação piora. Chrno faz o possível pra nunca precisar de seus poderes, mas a determinação de Rosette de salvá-lo e de salvar Joshua faz com que ela negligencie seu bem-estar e a própria vida, liberando o selo em inúmeras ocasiões e consumindo seu tempo de vida em prol do seu objetivo maior. Como leitora, eu ficava profundamente angustiada vendo o desenrolar da história acontecendo desse modo, porque o mangá trabalha essa questão de modo muito sério e realista, então não existe um milagre ou um Deus ex-machina servindo como uma luz no fim do túnel que resolva essa questão. Lidar com a ideia de que os minutos estão contados e de que você tem pouco tempo com quem você ama é o cerne de Chrno Crusade, o que faz desse mangá uma história muito mais profunda do que ela inicialmente indica ser.

Ao longo dos volumes, outros personagens vão sendo incluídos na história e se tornando parte do grupo de Rosette. Azmaria é uma jovem com poderes curativos, sendo considerada uma Apóstola (assim como Joshua), o que faz dela um alvo de Aion. Ela é doce, leal e se inspira fortemente em Rosette, pois também tem uma vida marcada por tristezas e enxerga na protagonista alguém em quem se espelhar. Posteriormente conhecemos Satella, uma bruxa que controla gemas poderosas e que está em busca de vingança contra um demônio que sequestrou sua irmã e matou seus pais. Ela provoca Rosette e traz um pouquinho de tensão ao grupo, mas também impulsiona Rosette a enxergar seus verdadeiros sentimentos em relação a Chrno. E já que não falei especificamente dele, mas já falei sobre Rosette, vale mencionar que eu só queria guardar esse personagem num potinho. Chrno é sensível, de coração puro e faria de tudo pra garantir a segurança e a felicidade de Rosette. Sou completamente apaixonada pelos dois. O romance presente no mangá é sutil, delicado e trabalhado de forma bastante orgânica e natural, o que faz a gente sofrer ainda mais pela forma como tudo se desenrola.

Chrno Crusade inicia parecendo uma história de ação, mas se transforma num drama que explora questões profundas e delicadas como o luto, a inevitabilidade da perda, a impossibilidade de voltar no tempo e a finitude da vida. Foi uma história que me deixou de ressaca literária e me fez procurar teorias em fóruns na internet e ir debater o final com fãs no TikTok, coisa que há muito tempo uma obra não fazia. Chorei que nem criança e sinto que ainda não superei o final, mas posso dizer que foi uma história que me marcou profundamente. Tudo isso embalado em um traço maravilhoso, com cenas lindamente desenhadas. Se você gosta de drama e de mangás, recomendo sem pestanejar. ❤

Título original: Kurono Kuruseido
Autor: Daisuke Moriyama
Editora: Panini
Volumes: 8
Número de páginas (por volume): cerca de 190

Review: Glass Onion: Um Mistério Knives Out

Oi pessoal, tudo bem?

Eu não perco a chance de assistir ou ler uma história de mistério/investigação policial, mas apesar das críticas positivas, o primeiro filme Knives Out (Entre Facas e Segredos, aqui no Brasil) não me ganhou, e eu fiz um review bem decepcionado aqui no blog. Contudo, as ótimas críticas da continuação, Glass Onion, acabaram me deixando curiosa, e cá estou pra contar pra vocês se valeu a pena dar uma segunda chance. Bora de resenha? 😉

Sinopse: O ricaço Miles Bron convida seus amigos excêntricos para sua ilha para jogar um jogo de detetive. Mas um assassinato real é cometido e as coisas saem do controle. Todos são suspeitos e a morte pode vir de onde se menos imagina.

A sinopse é curta, direta e eficiente, então não vou me estender muito além dela pra resumir a trama. O adendo que farei é que, além dos amigos de Miles, quem também recebe um convite para a ilha é o detetive Benoit Blanc. Quando ele chega ao local, o próprio Miles fica surpreso, pois não foi ele quem enviou o convite a Benoit. Porém, a presença do detetive se torna mais um elemento para “abrilhantar” o jogo maluco de Miles, cujo ego supera qualquer estranheza com o fato de que alguém enviou um convite sem seu consentimento. Para completar o panorama geral, uma das convidadas – Cassandra “Andi” Brand – é a ex-sócia de Miles, e foi muito prejudicada ao ser expulsa da empresa que ela idealizou e que fez de Miles milionário, o que deixa o clima da confraternização super tenso.

Podemos definir o cenário de Glass Onion como uma torta de climão. O espectador não demora a perceber que a amizade entre os personagens é frágil como um castelo de cartas, pronta a ruir ao menor sopro. O dinheiro de Miles parece comprar muito mais do que bens materiais, e ao longo do filme isso vai sendo mostrado aos poucos: cada personagem deve algum tipo de lealdade a ele, e isso é fundamental para o cerne do crime que ocorre lá pela metade do filme. Miles convida seus antigos amigos para esse jogo de detetive que ele idealizou, mas demora um certo tempo até que um assassinato de verdade aconteça. Porém, para a minha surpresa, não achei que o filme se tornou lento ou entediante até que isso ocorresse (diferente do seu antecessor, que mesmo tendo um assassinato de cara me fez querer dormir o longa inteiro). O ritmo de Glass Onion é muito bom, e ele intercala a comédia de uma forma bem mais competente e interessante do que o primeiro Entre Facas e Segredos. Deixo também o mérito pra atuação de Edward Norton, que entrega bem esse tipo de papel – conseguindo ser ao mesmo tempo mesquinho, engraçado de modo constrangedor e profundamente irritante, tal qual esses milionários sem noção.

Glass Onion é um filme que satiriza diversos tipos sociais, então temos uma socialite envolvida em escândalos trabalhistas com sua fábrica de roupas, uma política que conta com o dinheiro sujo do amigo na sua campanha, um homem extremamente machista que faz vídeos pro Youtube, entre outros estereótipos que, quando colocados juntos, transformam o ambiente numa panela de pressão prestes a explodir. Benoit é o ponto de equilíbrio, aquele observador externo que vai juntando as pontas soltas pra descobrir o verdadeiro culpado pelo assassinato que ocorre na ilha, mas também por outro mistério – sobre o qual não vou falar pra não estragar uma das melhores partes do filme. Mas é um plot bem interessante e que é a verdadeira graça da história. Inclusive, preciso destacar a atuação de Janelle Monáe como Andi, que é o grande destaque do longa. Ela consegue entregar nuances super diferentes na sua interpretação (que vão da inocência ao rancor), além de protagonizar as melhores cenas do filme com uma energia hipnotizante.

Em resumo, adorei Glass Onion e fiquei contente por decidir dar uma nova chance a essa franquia (já podemos chamar assim?). Com o sucesso, é possível que venham mais filmes, e agora estou definitivamente mais empolgada para conferir os próximos. Glass Onion: Um Mistério Knives Out é uma ótima história de detetive com humor na medida certa, um final surreal divertidíssimo e plot twists que mantêm o espectador ligado o tempo todo. Recomendo!

Título original: Glass Onion: A Knives Out Mystery
Ano de lançamento: 2022
Direção: Rian Johnson
Elenco: Daniel Craig, Edward Norton, Janelle Monáe, Kathryn Hahn, Leslie Odom Jr., Kate Hudson, Dave Bautista, Jessica Henwick, Madelyn Cline, Noah Segan

Review: Super Mario Bros. – O Filme

Oi pessoal, tudo bem?

Uma das estreias pelas quais eu estava mais ansiosa esse ano era Super Mario Bros. – O Filme, que parecia lúdico, divertido e cheio de referências aos jogos. O longa chegou aos cinemas essa semana e é claro que corri para assistir!

Sinopse: Mario é um encanador junto com seu irmão Luigi. Um dia, eles vão parar no reino dos cogumelos, governado pela Princesa Peach, mas ameaçado pelo rei dos Koopas, que faz de tudo para conseguir reinar em todos os lugares.

O Reino Cogumelo está em perigo. Depois de colocar as mãos na Super Estrela que lhe confere poderes sem igual, Bowser – rei dos Koopas – está determinado a governar todos os reinos, e o dos Cogumelos é o próximo em seu radar. Sua governante, a Princesa Peach, está planejando alianças com reinos vizinhos e tentando todas as estratégias possíveis para proteger seus súditos. O que ela não imaginava é que seu maior aliado poderia ser um encanador bigodudo do Brooklyn que caiu por acidente em seu reino após encontrar uma tubulação mágica que une a Terra a outros universos. Já sabem de quem estou falando, né? Mas nosso querido Mario também teu seus próprios objetivos: ele precisa salvar Luigi, seu irmão, que também caiu na tubulação com ele mas teve um destino menos auspicioso: em vez de cair no Reino Cogumelo, Luigi caiu no território de Bowser, e Mario precisa correr contra o tempo pra resgatá-lo.

Posso começar exaltando o fato de que quem precisa ser salvo aqui não é a princesa, mas sim Luigi? Além de Peach não ser colocada nessa posição de fragilidade, sendo na verdade uma governante decidida, corajosa e que coloca a mão na massa, Super Mario Bros. ainda escolhe focar no elo entre os irmãos e em quanto um confia no outro: Luigi sabe que Mario não vai desistir dele, enquanto Mario está disposto a ir até os confins do mundo para resgatar seu irmão. A relação de irmandade é muito bonita, e não é somente no mundo fantástico em que estão que ela é evidenciada. Mesmo no Brooklyn, vivendo a vida de encanadores, fica claro pro espectador que Mario e Luigi são o suporte um do outro. Os dois decidiram abrir a própria empresa e, mesmo que todas as pessoas duvidem que a empreitada vai dar certo, eles se apoiam mutuamente.

O filme gira em torno da missão de Mario de resgatar o irmão e de Peach de conseguir a aliança do reino dos Kongs (ou Donkey Kong Island) para combater o exército de Bowser. Não vou revelar muito mais sobre o enredo pra não estragar um dos elementos mais legais do filme: as referências e easter eggs. Desde os primeiros momentos, os fãs do jogo são presenteados com detalhes que arrancam sorrisos. A trilha sonora clássica já aparece na primeira cena, com Bowser chegando em um de seus ataques. Em outro momento, quando Mario e Luigi precisam correr pelo Brooklyn pra chegar na casa de um cliente, vemos a cena numa perspectiva que se assemelha a um 2D, como se fosse uma fase do jogo. É divertido demais! Há aparições e referências de diversos cenários, fases, memes, personagens e situações de inúmeros jogos da franquia, mas tudo isso é inserido de forma bem orgânica.

Com um roteiro simples, mas que entretém do início ao fim, Super Mario Bros. tem como ponto forte o amor e a confiança entre irmãos, assim como a subversão do clichê da princesa que precisa ser salva. É um prato cheio pra quem é fã dos jogos, mas também diverte quem não tem todas as referências do mundo, como é o meu caso (sempre preferi Donkey Kong a Super Mario rs). A história me empolgou e fiquei deslumbrada com as paisagens, com o carisma dos personagens, com as referências a jogos que eu adoro (como Mario Kart) e com a forma despretensiosa que o filme deu vida a esses personagens clássicos na telona. Apesar do filme ter encerrado de forma redondinha, as cenas pós-créditos dão abertura para mais, e se um segundo filme vier com certeza eu estarei prontinha pra assistir. Resumindo: recomendo muito!

Título original: The Super Mario Bros. Movie
Ano de lançamento: 2023
Direção: Aaron Horvath, Michael Jelenic
Elenco: Chris Pratt, Charlie Day, Jack Black, Anya Taylor-Joy, Keegan-Michael Key, Seth Rogen, Fred Armisen

TAG: No Outono É Sempre Igual Book Tag

Oi gente, tudo bem?

Já faz algumas semanas que o outono chegou, mas ainda dá tempo de responder uma Book Tag inspirada na estação, né? 🍁 Vi a “No Outono É Sempre Igual” no Instagram da Sil e adorei a proposta, por isso resolvi responder também.

A noite cai, o frio desce:
Um livro que se passa em uma época fria

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Como não lembrar de Boneco de Neve, que traz o clima frio já no título? Tudo bem que é um mood mais invernal, mas vou contar com a licença poética aqui rs. Esse é um ótimo thriller policial que me manteve entretida do início ao fim, mesmo fazendo parte de uma série que eu não acompanho (ganhei esse livro de presente e foi o único dela que li).

Mas aqui dentro predomina esse amor que me aquece, protege da solidão:
Um livro quentinho no coração

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Pra vocês não me acusarem de só indicar Heartstopper nesse tipo de categoria (😂), resolvi trazer outra opção fofíssima que combina demais com “quentinho no coração”: Arlindo, da artista nacional Ilustralu. É uma história LGBTQIA+ inspiradora e que pre-ci-sa-va estar presente nessa TAG porque o protagonista é super fã de Sandy & Junior. ❤

A noite cai, a chuva traz o medo e a aflição:
Um livro com uma atmosfera sombria

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Acho que O Impulso é um thriller que combina muito bem com essa categoria. Ele fala sobre maternidade compulsória e acompanha uma mãe que não tem certeza se sua filha tem ou não sinais de psicopatia. O livro todo é uma tensão sem tamanho, a narradora não é totalmente confiável e você se sente aflita por ela o tempo todo, especialmente devido a um trauma específico que ela passa. A vibe é pesada, mas o livro é muito bom.

Mas é o amor que está aqui dentro que acalma meu coração:
Um livro que você gostaria de poder viver dentro e interagir com os personagens

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Como mencionei na minha resenha, Evelyn Hugo foi uma personagem tão real pra mim que me senti esquisita por não ter mais a companhia dela ao terminar o livro. Por isso, gostaria de poder ser eu a entrevistá-la e de passar alguns momentos almoçando, tomando café ou chá com ela e ouvindo as suas histórias pessoalmente.

No outono é sempre igual:
Um livro, autor ou gênero que você sempre gosta de ler nessa época do ano

Assim como a Sil, não tenho uma resposta específica pra essa questão, então escolho a Taylor Jenkins Reid, que tem sido a autora que tem combinado com todas as estações do ano pra mim. ❤

As folhas caem no quintal:
Um livro que trata sobre algum assunto delicado

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Solitária é um livro poderoso que fala sobre racismo estrutural, pacto da branquitude, expectativa de subserviência, escravidão moderna e muitos outros temas de forma acessível e de fácil compreensão. É um título necessário e que eu indico pra todo mundo, porque ele é cirúrgico nas críticas e expõe com exemplos perfeitos todas as desigualdades raciais que fazem parte do cotidiano brasileiro.

Só não cai o meu amor:
Um livro com uma história de amor

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Que tal uma dica não óbvia pra essa categoria? Um Homem Chamado Ove não é um romance, mas sim uma comédia dramática, porém toda a trama do protagonista gira em torno do seu amor genuíno e inabalável por sua esposa que faleceu, Sonja. A história de amor deles é lindíssima e com certeza vale a pena conhecer. ❤

Pois não tem jeito, não, é imortal:
Um livro que você acha que deveria virar um clássico para que todas as futuras gerações pudessem ler

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O Peso do Pássaro Morto se tornou um dos meus livros favoritos e, além da história impactante sobre uma mulher que teve seu futuro tirado de si devido à violência masculina e da sociedade, ele também tem um estilo narrativo criativo e muito particular – algo estilístico da Aline Bei mesmo – que vale a pena ser conferido.

Espero que tenham curtido a TAG, pessoal. Sintam-se à vontade pra responder também! ❤
Beijos e até o próximo post!

Daisy Jones and The Six: erros e acertos

Oi pessoal, tudo bem?

Não é segredo pra ninguém que tenha lido minha resenha de Daisy Jones & The Six ou visto meus posts no Instagram que eu não gostei do livro por diversas razões, mas que tinha expectativas de que gostaria mais da série. Novamente fui gongada pela vida e tive mais uma sessão intensa de “passando raiva graças a Daisy Jones e Billy Dunne”, dessa vez ao longo de 10 longos episódios. Brincadeiras à parte, a série realmente funcionou mais do que o livro pra mim, me mantendo mais interessada e “consertando” alguns problemas que me incomodaram nas páginas. Por outro lado, ela também me decepcionou bastante em relação a certos plots e personagens importantes do livro ao adaptá-los de forma bem problemática. 🥲

Então, pra tentar ser justa no meu balanço final a respeito da adaptação – e pra não escrever uma resenha repetitiva, já que falei sobre o livro há pouco tempo –, resolvi fazer um post semelhante ao que escrevi sobre a segunda temporada de Stranger Things, trazendo pra vocês quais foram (na minha opinião) os erros e acertos de Daisy Jones & The Six! Por motivos óbvios, esse post tem spoilers sobre a série.

Erros

Higienização e romantização da personagem de Daisy: uma das primeiras coisas que ficam claras para o leitor no livro é que, desde a adolescência, Daisy faz uso intenso de drogas e álcool. Negligenciada (e indesejada) pelos pais, ela se torna uma groupie aos 14 anos e começa a frequentar bares e pubs, saindo com caras mais velhos e entrando em contato com o rock n’ roll, mas também com o abuso de substâncias. Quando ela passa a fazer parte dos Six, seu vício é uma parte fortíssima de quem ela é, tanto que ela nem sabe quantas pílulas toma por dia ou quais drogas mistura. Na série, porém, até o terceiro episódio isso mal é mencionado. Daisy parece uma jovem inspirada que só quer poder fazer a sua música em paz enquanto mal e mal fuma um baseado. Além disso, todo o lado negativo da sua personalidade demora muito a ser mostrado: no livro, Daisy é egoísta, irresponsável e não liga se suas ações vão afetar os outros negativamente. A sensação que tive enquanto assistia à série é de que criaram uma versão “palatável” de Daisy, para que o espectador pudesse gostar e torcer por ela.

Falta de magnetismo em Billy e Daisy individualmente: enquanto eu lia Daisy Jones & The Six, a dupla de protagonistas era sempre descrita como pessoas das quais você não conseguia desviar o olhar. O magnetismo que ambos exerciam era – depois da química e do talento musical – um dos grandes motivos pelos quais a parceria dava tão certo. Todo mundo queria ver Daisy e Billy de perto, e eles eram verdadeiros ícones do rock. Na série, contudo… Daisy começa bem sem sal pro meu gosto, mas com o passar dos episódios vai se destacando e ganhando a personalidade marcante que eu tanto queria ver. Já o Billy, coitado, não poderia ser mais sem graça. A adaptação foca totalmente no seu sofrimento como alguém que luta contra o vício em drogas e álcool, o que mostra a competência dramática da atuação de Sam Claffin, mas deixa todo o brilho do “showman” Billy Dunne de lado, o que é uma pena.

“Consumação” da atração de Billy e Daisy: eu odeio triângulos amorosos, e se envolvem traição meu ranço fica ainda pior. No caso do livro, pelo menos, Taylor Jenkins Reid opta por contar uma história nunca concretizada, o que torna essa história cheia de reminiscências ainda mais melancólica, já que gira em torno de muitos “e se?”. Na série, porém, fizeram a burrada de incluir no roteiro (mais de uma vez!) cenas em que Billy beija Daisy, desrespeitando seu casamento com Camila da pior forma e toda sua própria construção de personagem feita no livro. O que me leva ao próximo e, provavelmente, pior erro da adaptação.

O desrespeito à personagem de Camila e ao amor de Billy por ela: que Billy eventualmente se apaixona por Daisy é evidente, especialmente durante o processo de composição do álbum Aurora. Porém, ao longo das páginas, ele deixa claro de diversas formas o quanto amou Camila e o quanto ela sempre foi sua prioridade. Não porque ela era sua esposa, não porque era mãe de suas filhas, não por seu senso de dever: pelo que ela representava pra ele e porque ele a amava. Em determinado momento, Billy diz que se Daisy era fogo, Camila era sua água, e era disso que ele precisava. Em suas entrevistas ele deixa claro o quanto faria de tudo pra ter mais momentos com ela e o quanto ela representou em sua vida. A série falhou durante todo esse processo, especialmente ao colocar falas que indicavam que ele só não ficava com Daisy porque tinha uma família, ou seja, como se o amor por Camila já nem existisse mais. Isso é um desrespeito tremendo por aquela relação e pela personagem que foi a cola do casamento e da banda como um todo. Até tentaram se redimir nas cenas finais, quando Billy conversa com a filha, mas sinceramente? Já não adiantava mais. Pra quem só viu a série, acho difícil compreender a magnitude do sentimento entre ele e a Camila. E eu, como fã dessa personagem, acho um verdadeiro desperdício. 🙁

Acertos

Trilha sonora: apesar de inicialmente eu ter ficado meio de nariz torcido por terem trocado as letras originais das músicas, tenho que elogiar o empenho da série em fazer uma trilha sonora tão realista e um trabalho de divulgação tão bem feito pra tornar Daisy Jones & The Six e o álbum Aurora reais. Mesmo que não seja meu estilo de música especificamente (achei que ficou um pouco country rock demais pra mim), a produção caprichou e o resultado é excelente e imersivo.

Figurinos e ambientação: assistir Daisy Jones & The Six é mergulhar na época em que a série se passa. A paisagem, os figurinos, os cenários, cada detalhe é pensado com cuidado e transporta o espectador para as décadas de 60 e 70. É engraçado sentir nostalgia por uma época em que você não estava vivo, mas é uma sensação parecida com essa que a série te faz sentir. Dá vontade de estar naqueles estádios lotados, assistir a banda se apresentar ao vivo e sentir aquela energia também.

Camila como sexto membro dos Six: quando anunciaram que Pete Loving, o sexto membro da banda, não faria parte da série, os fãs no Twitter começaram a especular que a Camila poderia ser o sexto membro da banda – inclusive pelo destaque dado a ela nas fotos em grupo. Bingo! Eu adorei essa mudança e acho que fez todo sentido, especialmente pelo papel que ela tem em manter todos unidos e até pelo próprio papel de esposa do Billy, que sempre o apoiou na carreira musical. Além do mais, a série traz mais foco pra Camila como pessoa, o que é um grande acerto: ela ganha uma profissão (fotógrafa, e muito talentosa), e alguns dilemas próprios bem interessantes.

Mudanças no personagem de Eddie: no livro, Eddie é um cara recalcado (com boas razões) que passa a entrevista inteira reclamando do ego gigantesco do Billy (e tá errado?). Na série, provavelmente pra torná-lo menos insuportável, os roteiristas dão mais razões pra ele ser amargo como é. Primeiro, ele é tirado do seu posto inicial como guitarrista contra sua vontade, sendo colocado no baixo; depois, quando assume os vocais na ausência de Billy, também é retirado da sua posição sem muita consideração; e por fim, a mudança mais interessante diz respeito a seus sentimentos por Camila. Adorei esse plot e achei que essa (e as outras) mudança ajudou muito a dar profundidade a um personagem que, no livro, era raso e só sabia reclamar por despeito.

Foco na cena LGBTQIA+ negra de Nova York: Simone, a melhor amiga de Daisy, é uma personagem que não tem tanto espaço no livro, ainda que seja super importante para a protagonista. Na série, ela ganha um episódio com bastante foco na sua vida em Nova York, onde ela conhece uma DJ que a ajuda a ascender na carreira cantando em boates. As duas iniciam um relacionamento amoroso e constroem uma relação muito bonita, e eu adorei ver esse espaço na trama destinada à cena queer e negra da época.

Acho que os principais tópicos que eu gostaria de abordar são esses, pessoal.
E vocês, já assistiram Daisy Jones & The Six? Curtiram?
Vou adorar saber nos comentários! 😀