Review: Chainsaw Man

Oi pessoal, tudo bem?

Um dos animes mais hypados do mainstream recentemente é Chainsaw Man, que estreou em 2022 e virou queridinho dos otakus (já expliquei sobre o termo aqui, mas relembrando, aqui no Brasil é a conotação está mais fortemente relacionada a fãs de animes e mangás). Demorei pra assistir, mas hoje venho compartilhar minhas impressões com vocês.

Sinopse: Denji é um adolescente que mora com Pochita, o Demônio da Motosserra. Por conta das dívidas que herdou de seu pai, ele vive na miséria, exterminando outros demônios com Pochita para pagar as contas. Até que, um dia, Denji é traído e morre. Em seus últimos momentos de consciência, ele firma um contrato com Pochita e renasce como o Homem-Motosserra – um humano com coração de demônio.

No universo de Chainsaw Man, os seres humanos convivem com a ameaça dos demônios, e existem órgãos públicos e empresas privadas responsáveis por matá-los. Nosso protagonista, Denji, curiosamente é melhor amigo de uma dessas criaturas, Pochita. Desde criança, Denji é tratado como um objeto sem valor pela Yakuza (ou como um cachorro, na analogia do anime), herdando de seu pai as dívidas que ele tinha com eles. Ao alimentar e cuidar de Pochita, um demônio com uma serra elétrica na cabeça que foi encontrado por Denji ferido e com fome, eles se tornaram inseparáveis, e Pochita passou a ajudar Denji nos serviços para a Yakuza. Entretanto, numa emboscada, Denji é traído e morto pelo grupo, e Pochita resolve se fundir a Denji, dando seu próprio coração ao amigo para que ele possa viver. É assim que Denji se torna um híbrido de humano e demônio, a criatura que dá nome ao anime, um homem-motosserra com potencial destrutivo ímpar. Ele entra na mira de Makima, líder de um esquadrão especial da Segurança Pública responsável por caçar demônios, e para se manter vivo, Denji tem como única alternativa trabalhar pra ela. É a partir daí que a ação realmente começa e figuras cada vez mais perigosas começam a se interessar por Denji.

O primeiro aviso que faço sobre Chainsaw Man é que ele é um anime adulto. Não no sentido de ter cenas de sexo explícitas nem nada do tipo, mas há sim cenas sensuais, personagens que exploram sua sexualidade pra conseguirem o que querem, assim como muitos palavrões e violência gore. Imaginem uma luta de motosserra: não tem como não haver sangue pra todo o lado, né? Então se esses elementos te incomodam, realmente, Chainsaw não vai ser a melhor opção pra você. Contudo, se você busca ver cenas de ação muito bem dirigidas e coreografadas, com lutas empolgantes e um protagonista insano, isso ele vai te entregar.

Em termos de trama, pelo menos no que tange a primeira temporada, Chainsaw Man não é extremamente inovador. Existe um demônio ameaçador que está interessado no Denji, um dos personagens principais (Aki, o meu favorito) deseja se vingar dele e o plot gira bastante em torno de descobrirem o paradeiro dessa ameaça. Mas pra além dessa narrativa, o que me mantém intrigada de verdade é saber mais sobre a Makima. A chefe de Denji é extremamente poderosa e usa da sua sexualidade pra manipular aqueles que a cercam, de modo a conseguir seus objetivos e subjugar as vontades dos homens que trabalham pra ela. Ela sabe quais os pontos fracos de cada um de seus subordinados e não hesita em atingi-los, enquanto veste uma máscara de inocência fingida. Eu a detesto e, ao mesmo tempo, quero saber mais sobre ela, quero ver essa máscara cair.

Denji, por sua vez, é um personagem simplório, o próprio reflexo da pirâmide de Maslow: o garoto nunca teve o mínimo de suas necessidades básicas atendidas, passando fome, sede, frio e carecendo de todos os cuidados físicos e emocionais possíveis. Desde o início, o protagonista deixa claro que é movido por instintos básicos, sendo os principais ter um teto sob o qual dormir e alimento quente para encher sua barriga. Posteriormente, seu desejo se transforma em algo sexual, já que a perda da virgindade pra ele é um objetivo a ser conquistado. Sei que pode parecer meio ridículo falando dessa forma, mas não deixa de ser realista quando pensamos num adolescente de 16-17 anos cheio de hormônios que nunca ganhou uma pitada de afeto (à exceção de Pochita). Quando você olha pra necessidades tão básicas movendo uma pessoa, é meio difícil não achar graça e até empatizar um pouco com ela.

Contudo, já que sempre sou honesta com vocês, não posso dizer que realmente fui cativada por Chainsaw Man. Assisti ao anime de forma meio automática, entretida pelas cenas de ação mas com pouco interesse genuíno pelo desenrolar da trama. Meu episódio favorito girou em torno de uma missão em que um grupo de personagens ficou preso em um hotel no qual um demônio os prendeu sem que o tempo passasse, numa espécie de loop infinito. Esse episódio é excelente pra trabalhar a decadência psicológica dos personagens e as diferentes formas como o ser humano reage a situações extremas de estresse. Se tem um ponto alto no anime, eu considero que é esse.

Chainsaw Man é um anime com um roteiro linear e personagens que já vimos por aí. A dinâmica de uma garota explosiva como a demônio Power e o cara quietão como o Aki junto de um protagonista mais efusivo como Denji foi vista em Naruto, em Jujutsu Kaisen e em vários outros animes. Considero que é um passatempo pra quem quer ver excelentes cenas de ação com uma pegada mais gore, mas não recomendo como uma grande obra inovadora nem com o hype que toma conta da internet por aí. Contudo, fica a dica: assistam todas as endings! O estúdio responsável fez algo MUITO foda nesse sentido, investindo em uma música diferente para cada episódio, produzindo praticamente um álbum pra temporada. Vale conferir. 😉

Título original: Chensō Man
Ano de lançamento: 2022
Direção: Ryû Nakayama
Elenco: Kikunosuke Toya, Tomori Kusunoki, Shogo Sakata, Fairouz Ai, Mariya Ise, Karin Takahashi, Shiori Izawa

Review: Haikyuu!!

Oi pessoal, tudo bem?

É engraçado pensar que eu, que detesto praticar esportes, goste tanto de animes desse nicho. Acontece que Haikyuu!! (ou Haikyū!!) é simplesmente um dos meus animes favoritos, focado numa equipe de vôlei escolar que sonha em chegar à final nacional do Japão. Se eu assisto vôlei na vida real? Nunca, não tenho o menor interesse. 😂 E eu faço questão de enfatizar isso pra encorajar você, que talvez também não tenha um pingo de afinidade com temas esportivos, a dar uma chance a esse anime envolvente, carismático e com cliffhangers tão angustiantes que fazem você ir pra beira do sofá pra assistir à próxima jogada. Vamos conhecer?

Sinopse: Shoyo Hinata é um jovem fascinado pelo vôlei e sonha se tornar o melhor no esporte desde que viu o lendário jogador conhecido como “Pequeno Gigante” competir nas finais do campeonato nacional. Mas, ao enfrentar o seu último jogo oficial no Ensino Fundamental, tem sua primeira grande decepção: é derrotado por Kageyama, conhecido como o “Rei da Quadra”. Hinata jura vingança e decide entrar para o clube de vôlei do colégio Karasuno, onde tentará provar que não é preciso ser alto para jogar vôlei quando se pode “voar”. Com os novos integrantes, o time do Karasuno, que antes estava em declínio, tem uma chance de se reerguer.

Nosso protagonista é Hinata, um estudante que é apaixonado por vôlei, mas sempre teve um desafio difícil de vencer: sua própria altura. Considerado baixinho pro esporte, ele sempre sentiu que precisava se esforçar muitas vezes mais que qualquer outro pra conseguir jogar. Quando ele participa de seu primeiro campeonato, Hinata se depara com um rival, Kageyama, que o derrota de forma esmagadora, mas também o faz se sentir inspirado a treinar cada vez mais duro. Eles acabam se tornando colegas de escola e fazendo parte do mesmo time no Ensino Médio, o Karasuno, e apesar da rivalidade latente, percebem que são capazes de aflorar o potencial um do outro como ninguém mais consegue. Com a chegada dos novatos, os outros membros mais velhos do Karasuno também começam a enxergar a possibilidade de encontrarem a glória novamente, já que a equipe outrora foi muito respeitada e já chegou a ser campeã nacional, tendo inclusive sido o time do Pequeno Gigante (a maior inspiração de Hinata no vôlei).

Um dos motivos que faz você se afeiçoar a Haikyuu!! é, sem dúvidas, a obstinação de Hinata. O personagem não começa jogando vôlei bem, e não sabe todos os fundamentos do esporte, cometendo erros básicos mas treinando de todas as formas (e em todas as oportunidades) que pode. Isso faz com que o espectador crie uma empatia muito grande pelas dificuldades e inseguranças que ele sente, ao mesmo tempo em que torce pelo seu sucesso, pra que ele vença os obstáculos atrelados à questão física (a altura) e ao fato dele ser subestimado pelos outros. Quando falamos de Kageyama, por outro lado, falamos daquele talento natural atrelado à disciplina, sendo ele um atleta pronto pra brilhar. Sua personalidade é seu maior empecilho, já que desde o Ensino Fundamental ele carrega a alcunha de “rei” de forma pejorativa, tamanha a sua arrogância e falta de paciência com os colegas que não conseguem acompanhar o seu ritmo. De forma inesperada, os dois vão crescendo juntos e o espectador testemunha uma dinâmica de gato e rato que diverte mas que também é muito estimulante, já que Hinata e Kageyama se tiram da zona de conforto o tempo todo.

Mas Haikyuu!! faz um trabalho excelente em construir nossa relação com todos os personagens, não apenas com os protagonistas. Os outros membros do time também ganham espaço, e aos poucos vamos descobrindo mais sobre eles, suas personalidades e motivações. Sou apaixonada em vários dos personagens (ainda que o líbero, Nishinoya, tenha meu coração) e, principalmente, amo a lealdade e as dinâmicas entre eles. Mesmo alguns jogadores que não têm tanto espaço nas primeiras temporadas vão ganhando desenvolvimento com o tempo e brilham mais adiante, e quando isso acontece, acreditem: é de arrepiar! Minha única crítica negativa nesse sentido é referente a algo que, infelizmente, é recorrente em animes: a representação feminina. As meninas da equipe são pouco exploradas e seus papéis giram em torno de ajudar o time de maneira pouco expressiva, especialmente a Shimizu, que é uma das gerentes do clube de vôlei. Suas falas são ínfimas e ela acaba sendo um sex symbol durante a maior parte de sua participação no anime, rendendo muitos alívios cômicos envolvendo os meninos, que são gamados nela. Essa é minha principal insatisfação com a história, e o aspecto que mais me incomodou ao longo das três temporadas (já que Shimizu só ganha um pouco mais de espaço na terceira).

E como falar de um anime de esporte sem mencionar o esporte em si? As partidas de vôlei de Haikyuu!! são de arrepiar! Eu nunca assisto vôlei, mas fiquei 100% “GO GO KARASUNO” enquanto assistia, roendo as unhas a cada saque, a cada set point, a cada partida. E não pensem que os meninos contam com privilégio de protagonista e ganham tudo, não. O anime sabe mostrar pra eles (e pra nós) que existem jogadores muito talentosos que eles precisam derrotar pra chegar às finais, e que pra isso vai ser necessário treinar com muito empenho caso não queiram perder novamente. Lidar com essas emoções – de derrota, vitória, treinamento duro, companheirismo, obstinação, determinação – é uma das melhores partes de Haikyuu!! e um dos motivos pelos quais esse anime é tão marcante.

Pra quem gosta ou não de esportes, Haikyuu!! é uma ótima opção de entretenimento porque cativa com bons personagens e uma condução bem realista (na medida do possível pra uma animação). Tudo é pautado em treinamento, não em poderes especiais, e ainda que algumas habilidades possam ser um pouquinho exageradas pra fins de impacto, são movimentos e jogadas que existem na vida real. Você se sente assistindo partidas de verdade e se pega torcendo pelos times que estão na tela, com a vantagem de que mesmo os rivais do Karasuno também têm personagens e histórias que brilham e conquistam. Recomendo fortemente pra quem quer assistir uma história que vai te deixar na beira do sofá, segurando a respiração até o próximo saque!

Título original: Haikyū!!
Ano de lançamento: 2014
Direção: Susumu Mitsunaka
Elenco: Ayumu Murase, Kaito Ishikawa, Yu Hayashi, Satoshi Hino, Miyu Irino, Kôki Uchiyama, Sôma Saitô, Nobuhiko Okamoto, Yoshimasa Hosoya, Kaori Nazuka

Resenha: Não Confie Em Ninguém – Charlie Donlea

Oi gente, tudo bem?

Uma das leituras favoritas do ano passado e que estava há tempos na minha wishlist finalmente ganhou um espaço por aqui: Não Confie Em Ninguém, do Charlie Donlea! Esse autor é sempre muito elogiado por seus thrillers e, como fã do gênero, estava animada pra conhecer sua escrita.

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Sinopse: O destino de Grace Sebold toma um rumo inesperado durante uma tranquila viagem com o namorado. O rapaz é assassinado… e ela é condenada pelo crime. Depois de dez anos na prisão, surge a chance de Grace provar sua inocência ao conhecer a cineasta Sidney. Em um documentário que exibe as falhas do processo, a cineasta questiona se a condenação foi fruto de incompetência policial ou se a jovem foi vítima de uma conspiração. Antes do término das filmagens, o clamor popular leva o caso ser reaberto, mas um novo fato provoca uma reviravolta: Sidney recebe uma carta anônima afirmando que ela está sendo enganada pela assassina. A cineasta começa a investigar o passado de Grace e quanto mais se aprofunda na história, mais dúvidas aparecem. No entanto, agora, o que está em jogo não é apenas a repentina fama e carreira, mas sua própria vida.

A premissa do livro reúne dois elementos que por si só me instigam muito: uma personagem não confiável e um documentário de true crime como pano de fundo. Vamos explorar o primeiro elemento: Grace Sebold é o foco do documentário de Sidney Ryan, uma cineasta em ascensão que produz documentários sobre condenados que alegam inocência pelos crimes dos quais foram acusados. Grace cumpre pena numa ilha caribenha pelo assassinato de seu namorado há 10 anos, em tese empurrado por ela de um penhasco. Durante todo o seu tempo de prisão, Grace, sua melhor amiga e sua família escreveram cartas para Sidney, pedindo para que ela investigasse seu caso, afirmando sem hesitar que Grace não foi responsável pela morte do rapaz. Sidney decide pesquisar a respeito, deparando-se então com várias falhas processuais tanto na investigação quanto no julgamento, fazendo então com que Grace seja a protagonista de sua próxima produção. Porém, durante essa investigação, Sidney também se aprofunda no passado de Grace e algumas peças não parecem se encaixar com os relatos de sua entrevistada, fazendo com que ela – e o leitor – passem a ter dúvidas sobre sua inocência. Quem é a verdadeira Grace Sebold? O que Sidney vai encontrar em suas pesquisas sobre ela? Essa ambiguidade deixa o leitor curioso para saber mais e mais a respeito da personagem, cuja aura de mistério é envolvente. E aí entramos no segundo elemento atrelado ao plot de Não Confie Em Ninguém: ele gira em torno de um documentário de true crime investigado em tempo real, e o autor explora isso para nos deixar curiosos e imersos. Ou seja, há capítulos focados no presente e na investigação de Sidney e outros focados em descrições sobre os episódios, que constroem a narrativa que põe em xeque a culpa de Grace. Esse paralelismo anda para o mesmo rumo até o ponto de ruptura, aí o leitor chega numa encruzilhada: em qual vertente acreditar? Na inocência ou na culpa de Grace?

Outro elemento que Charlie Donlea utiliza ao longo do livro pra manter o leitor fisgado é inserir conversas de um júri a respeito de um caso misterioso que está sendo discutido. É um pouco revoltante perceber os motivos que levam determinadas pessoas a serem escolhidas para liderar, ou como o machismo também afeta a capacidade de julgamento de outras, que estão dispostas a serem taxativas a respeito de uma decisão que vai impactar para sempre a vida de alguém mesmo sem ter todos os fatos debatidos e expostos ainda. Ao longo da obra, você se pergunta sobre quem essas pessoas estão falando, tenta descobrir se é a respeito do caso de Grace e faz o possível pra juntar essas pistas com o que vai descobrindo junto da investigação de Sidney. As entrevistas que a cineasta conduz com as pessoas de interesse são ricas em detalhes, revelando nuances do passado de Grace que a força policial de Santa Lúcia, o paraíso no qual a tragédia ocorreu e onde ela esteve presa, não fez questão de investigar.

Existem poucos personagens secundários, o que eu considero positivo. Isso dá margem para que todos sejam possíveis suspeitos, com motivos plausíveis para terem matado Julian, o namorado assassinado. Inclusive a própria Grace. Ninguém é eliminado completamente da equação, especialmente após a inserção na história de um ex-policial que envia uma carta a Sidney informando que ela possivelmente cometeu um engano ao acreditar na protagonista de seu documentário. Para o detetive aposentado, Grace é inegavelmente culpada, e coloca Sidney na pista que pode comprovar sua teoria. Com isso, Charlie Donlea busca deixar o caminho pavimentado para confundir ainda mais os leitores, e acredito que com muitos tenha funcionado. Porém, eu tenho duas opiniões divergentes sobre o final: eu não fui surpreendida pela pessoa responsável pela morte, porque consegui desvendar sua identidade; entretanto, fiquei de queixo caído com a ousadia do autor em ter escolhido o caminho que escolheu. Então, por mais que talvez a revelação da pessoa culpada possa ser descoberta pelo leitor, como foi o meu caso, Charlie Donlea ainda assim consegue surpreender pela tomada de decisão chocante da reta final da história. 

Não Confie Em Ninguém é um livro que você devora, pois é construído de uma forma ágil e que mantém você desconfiado do que está sendo dito nas páginas. Intercalando a investigação com cenas do documentário, você se sente parte da trama, como se o que estivesse acontecendo ali fosse real – o que torna a experiência muito imersiva. Talvez certos aspectos abertos do final desagradem alguns leitores, mas pra mim ficou uma sensação mais de “possibilidades” do que de “não fechamento”, por assim dizer, então o desfecho não chegou a me incomodar. Ou talvez eu só estivesse tentando levantar meu queixo mesmo, depois de ler certa cena. 😂 Foi uma ótima primeira experiência com Charlie Donlea e recomendo bastante pra quem gosta de livros do gênero!

Título original: Don’t Believe It
Autor:
Charlie Donlea
Editora: Faro Editorial
Número de páginas: 352
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Resenha: É Sobre Amor – Jenna Ortega

Oi pessoal, como estão?

Hoje vim compartilhar com vocês minhas impressões sobre um livro esperado por muitos: É Sobre Amor, da Jenna Ortega, que ganhou ainda mais notoriedade após seu papel como Wandinha.

Garanta o seu!

Sinopse: Eu quero que você saiba que não está sozinho. Estamos juntos. Jenna Ortega, estrela da série Wandinha, teve que equilibrar sua carreira como atriz, sua vida particular e muitas expectativas públicas desde bem jovem. Com isso, aprendeu que a única forma de superar esses desafios é por meio do amor: por seus amigos, sua família, sua fé e, acima de tudo, por si mesma. Ela usou a sabedoria que desenvolveu com seus fracassos e triunfos e colocou tudo neste livro de estreia, uma coleção de pensamentos e reflexões honestas e emocionantes. Dividindo histórias sobre o universo artístico, namoros, família, amizades e saúde mental, entremeadas por afirmações tocantes, Jenna mostra aos leitores que, enquanto houver amor, tudo é possível.

O livro foi escrito quando Jenna tinha 17 anos, e reúne anotações de seu diário, relatos de quando ela fez parte da série A Irmã do Meio, sua chegada em You e, principalmente, sua relação com a família e com a fé (porque a religião é uma parte bem importante da sua criação). Além disso, ela discorre sobre relacionamentos amorosos, aconselha os leitores sobre amizades e também fala sobre sua persistência no que diz respeito à carreira de atriz. Os assuntos prometem ser bem interessantes, mas a verdade é que eu fiquei me perguntando o que uma garota tão jovem teria de tão relevante pra dizer em termos de grandes experiências de vida. Decidi deixar meu preconceito de lado, afinal, cada processo e cada vida são únicos, e dar uma chance a essa leitura, torcendo para ser surpreendida por lições valiosas. Para a minha infelicidade, tais lições não vieram e minha percepção inicial se manteve: os conselhos de Jenna são dignos de um diário mesmo, e mais parecem frases prontas que eu encontraria no Tumblr.

Não me entendam mal, eu gosto muito dela e acredito que Jenna é uma atriz madura e sensível, com uma base forte para enfrentar as dificuldades que Hollywood impõe. Percebe-se, ao longo da leitura, que sua estrutura familiar sólida e suas crenças bem estabelecidas foram fundamentais pra construir essa jovem tão centrada que ela parece ser. Minha admiração (ainda que superficial, pois não a acompanho muito, apesar de gostar dos seus trabalhos) não mudou, e eu torço pra que ela continue com essa mesma postura para continuar crescendo nesse mercado tão competitivo e tóxico. Minha crítica diz respeito somente à forma como ela escreve mesmo, o que é esperado de uma adolescente de 17 anos que está compartilhando os pensamentos de um diário. E eu me sinto na obrigação de ser honesta sobre o teor das reflexões pra que vocês não comprem o livro pensando que vão encontrar conselhos profundos, porque não vão. São capítulos rápidos, curtos e superficiais, e você tem que ler nas entrelinhas e tirar leite de pedra pra encontrar lições que sejam valiosas pra você. Eu encontrei algumas, não nego, mas de forma geral não foi uma experiência marcante.

Eu gostaria de ter lido menos frases prontas e genéricas e mais relatos pessoais sobre as experiências de Jenna como pessoa e como atriz. O livro, apesar de ter sido baseado no diário dela, é surpreendentemente impessoal. Existem poucas passagens que mostrem realmente o quanto ela deu duro pra chegar onde chegou, como ela fez pra abrir tais caminhos ou quais foram as maiores dificuldades no set ou fora dele. No lugar desse tipo de abordagem, o livro é mais focado em conselhos sobre ser você mesma, não perder a fé, manter a gratidão e a positividade, coisas nesse sentido. Pra mim, foi complicado me manter conectada à Jenna, porque parecia que eu estava lendo algo muito plástico e cuidadosamente recortado, em vez de uma experiência real.

É Sobre Amor pode ser uma leitura bacana para jovens que estejam entrando na adolescência e busquem inspiração para começar essa faixa etária com uma referência positiva na vida e que possam ser mais facilmente impactados por “frases de Instagram”. Comigo não deu muito certo, mas como cada leitor tem uma experiência, fica a resenha sincera pra quem se sentir com vontade de ponderar a respeito e dar uma chance. 😉

Título original: It’s All Love: Reflections for Your Heart & Soul
Autora:
Jenna Ortega
Editora: Rocco
Número de páginas: 232
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Livro cedido em parceria com a editora.
Esse não é um publipost, e a resenha reflete minha opinião sincera sobre a obra.

Resenha: O Assassinato de Roger Ackroyd – Agatha Christie

Oi pessoal, tudo bem?

Pra terminar o ano, trago pra vocês uma dica literária que esteve presente na lista de favoritos de 2023: O Assassinato de Roger Ackroyd, da Agatha Christie. Afinal, nada melhor do que começar o próximo ano com uma boa leitura em vista, né?

Garanta o seu!

Sinopse: Em uma noite de setembro, o milionário Roger Ackroyd é encontrado morto, esfaqueado com uma adaga tunisiana – objeto raro de sua coleção particular – no quarto da mansão Fernly Park na pacata vila de King’s Abbott. A morte do fidalgo industrial é a terceira de uma misteriosa sequência de crimes, iniciada com a de Ashley Ferrars, que pode ter sido causada ou por uma ingestão acidental de soníferos ou envenenamento articulado por sua esposa – esta, aliás, completa a sequência de mortes, num provável suicídio. Os três crimes em série chamam a atenção da velha Caroline Sheppard, irmã do dr. Sheppard, médico da cidade e narrador da história. Suspeitando de que haja uma relação entre as mortes, dada a proximidade de miss Ferrars com o também viúvo Roger Ackroyd, Caroline pede a ajuda do então aposentado detetive belga Hercule Poirot, que passava suas merecidas férias na vila. Ameaças, chantagens, vícios, heranças, obsessões amorosas e uma carta reveladora deixada por miss Ferrars compõem o cenário desta surpreendente trama, cujo transcorrer elenca novos suspeitos a todo instante, exigindo a habitual perspicácia do detetive Poirot em seu retorno ao mundo das investigações. O assassinato de Roger Ackroyd é um dos mais famosos romances policiais da rainha do crime.

Do vasto portfólio de obras da Rainha do Crime, até o momento eu só tinha lido E Não Sobrou Nenhum, então estava curiosa pra ler alguma aventura do Hercule Poirot. Em O Assassinato de Roger Ackroyd, acompanhamos uma versão aposentada do detetive, que está vivendo na pacata vila de King’s Abbott. As coisas se agitam quando duas mortes acontecem em rápida sucessão: primeiro, o suicídio da viúva Miss Ferrars; em seguida, o assassinato inesperado do ricaço Roger Ackroyd, com quem supostamente ela estava se relacionando. Quando o enteado de Ackroyd, Ralph Paton, é acusado do assassinato, sua noiva, Flora (sobrinha de Ackroyd), implora a Poirot que investigue o caso e prove sua inocência (diferentemente do que diz a sinopse, viu?). O detetive então resolve ajudá-la, e é assistido informalmente pelo narrador da história, o Dr. James Sheppard, médico e amigo de Ackroyd.

Confesso que, de início, demorei um pouco a me conectar com o livro. Somos apresentados a muitos personagens em uma dinâmica cheia de diálogos que parecem supérfluos. Aos poucos, porém, o leitor vai compreendendo que as fofocas dos personagens dão o tom que representam o clima geral de King’s Abbott: todos ali cuidam da vida uns dos outros, vigiam seus afazeres e sabem detalhes não ditos que podem interferir na investigação de Poirot. Entender esse padrão de comportamento, esse “pacto de silêncio” para manter os próprios segredos (e fofocas), é fundamental pra compreender qual é a atmosfera geral da ambientação da história, e aos poucos essa estranheza passa e a peculiaridade dos personagens se torna natural. Todos as pessoas que conviveram com Ackroyd no dia de sua morte – funcionários, amigos e familiares – são investigados por Hercule Poirot, e ele não deixa pedra sobre pedra, ainda que não fique claro pra ninguém qual é a linha investigativa que está sendo utilizada. Agatha Christie não divide os pensamentos de seu detetive com o leitor, mantendo-o misterioso para os personagens e para nós.

Ou, pelo menos, era isso que ela esperava aqui. Diferente do que vi muita gente comentando por aí, de que o final é surpreendente e pega o leitor desprevenido, eu consegui descobrir o assassino com as pistas que foram sendo dadas ao longo da história. Os diálogos de Poirot com alguns personagens – com o suspeito, em especial – foram plantando a semente da desconfiança na minha cabeça. Quando a autora conduziu a revelação, não houve surpresa. Isso acabou tirando parte do brilho da história e um pouco da graça também, já que é divertido ser surpreendida pelo plot twist em livros policiais. Contudo, como aspecto positivo, reconheço que as pontas soltas ao longo da história foram bem amarradas para levar à conclusão apresentada e para a pessoa responsável pelo assassinato, então nesse sentido fiquei satisfeita.

Me diverti bastante com a personalidade de Poirot. Eu só havia assistido a adaptações dos livros da Agatha Christie (seja por meio de filmes ou minisséries da BBC), então não tinha nenhum material original no qual me basear. Achei o personagem bastante eloquente e pitoresco, com um ego bem fortalecido (rs) e frases misteriosas e soltas que deixam o tom da história engraçado. Fiquei com vontade de ler mais livros protagonizados por ele pra saber se vou gostar. Aceito dicas nos comentários. 😀

O Assassinato de Roger Ackroyd é um livro policial que entretém e apresenta um Poirot afiado, mesmo aposentado. Ele mostra ao leitor e às pessoas de King’s Abbott que não deve ser subestimado, mesmo quando seu foco é apenas relaxar plantando abobrinhas. 😂 Achei que o livro começa de forma lenta e demorou um pouco pra me fisgar, mas conforme a investigação do detetive ganha ritmo, o livro fica mais divertido e envolvente. Mesmo que eu tenha descoberto o assassino, o processo de tentar fazer isso foi muito divertido. Eu tenho lido muitos thrillers, e estava com saudades de ler um livro policial raiz, no estilo “whodunnit”, e me distrair tentando descobrir o culpado por trás do crime. Se você também gosta desse estilo, acho que você vai curtir essa leitura! 😉

Título original: The Murder of Roger Ackroyd
Autora:
Agatha Christie
Editora: Globo Livros
Número de páginas: 312
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Aproveito para encerrar esse post deixando meus votos de um feliz 2024 pra todos vocês! ✨
Obrigada de coração por me acompanharem em mais um ano. Vejo vocês por aqui no próximo? Espero que sim! ❤

Dica de Série: Tudo Bem Não Ser Normal

Oi gente, tudo bem?

O ano tá acabando, mas ainda dá tempo de assistir uma série legal, hein? Ou, mais especificamente, um dorama hihi. ❤ Hoje vim indicar pra vocês um que entrou pra lista de favoritos, Tudo Bem Não Ser Normal.

Sinopse: Um caminho para a cura emocional se abre para uma escritora de livros infantis e para um cuidador de sala de psiquiátrica quando seus caminhos se cruzam.

Ko Mun-young é uma autora de livros infantis de renome, mas sua personalidade agressiva e antissocial faz dela uma pessoa super difícil de lidar (basicamente, só o dono da editora que a publica consegue essa façanha). Quando ela encontra o cuidador Moon Gang-tae em uma sessão de autógrafos de um de seus livros em uma situação inesperada – ele a impede de agredir um paciente psiquiátrico perigoso com uma faca -, o mundo dos dois colide e nunca mais volta ao normal. Gang-tae tem seus motivos para querer se manter longe dela: seu fardo já é muito pesado por cuidar sozinho do irmão mais velho, Moon Sang-tae, um rapaz que se encontra no Transtorno do Espectro Autista. Lidar com os rompantes de humor de uma autora temperamental definitivamente não está em seus planos. Além disso, os irmãos guardam seus próprios traumas em segredo, e essa solidão esmagadora faz com que Gang-tae se isole do mundo. Porém, Ko Mun-young é uma mulher teimosa e obstinada (pra não dizer mimada rs) e não está disposta a desistir do seu objetivo.

Preciso começar esse review com sinceridade: de início, achei muito difícil de torcer pelo casal principal e me envolver com a proposta de romance que o dorama sugeria. O motivo? A Ko Mun-young começa a série sendo extremamente tóxica. Ela é uma stalker obcecada, possessiva e manipuladora, e se as ações dela fossem cometidas por um homem, qualquer pessoa sensata ligaria pra polícia. Essa sensação me incomodou muito e me afastou demais da personagem, que tem uma personalidade difícil e fria, demorando muito a se expor e a demonstrar qualquer outra faceta que não a de uma mulher que olha apenas para seus próprios interesses. Contudo, doramas tendem a ser longos, e isso dá margem pra que os personagens ganhem desenvolvimento – o que ocorre aqui. Com o passar dos longos episódios, a protagonista vai tendo outros aspectos de si apresentados ao espectador. Ko Mun-young é fruto de uma família desequilibrada e tóxica, criada por uma mãe narcisista que deixou profundas marcas nela. Sua forma de lidar com as outras pessoas revela uma fragilidade imensa e um medo paralisante de perder as pessoas que a cercam. Seus traumas são profundos e ela nem consegue reconhecê-los, de tão grossa que é a casca que ela precisou criar para sobreviver. A proximidade com os irmãos Moon, aos poucos, vai criando rachaduras nessa casca, e o que mais gostei foi ver a transformação que ela passa não somente por se abrir para o amor verdadeiro com Gang-tae, mas pelo senso de família e de fraternidade que Sang-tae também oferece.

Contudo, apesar de ser uma história de amor, o grande destaque de Tudo Bem Não Ser Normal pra mim é a relação entre os irmãos Moon. O Transtorno do Espectro Autista é trabalhado com muita sensibilidade na figura de Sang-tae, mas o dorama também explora as dificuldades que Gang-tae enfrenta por ter que cuidar do irmão neurodivergente. Ele é um rapaz que precisou amadurecer muito cedo e abraçar responsabilidades que não eram condizentes com a sua idade, e como consequência ele não se permite viver experiências que sejam prazerosas ou focadas em si mesmo. Seu senso de abnegação é tão grande que é quase um atentado à sua própria autopreservação. Em contrapartida, Sang-tae não é retratado como uma pessoa neurodivergente perfeita e angelical, colocada em um pedestal de pureza apenas por enfrentar desafios. O personagem tem virtudes e defeitos, que são explorados ao longo do dorama, e tem uma construção maravilhosa em torno de seus próprios desejos, medos e desafios. É emocionante e intenso ver como a trama gira em torno da relação entre os irmãos, com suas dores e delícias, revelando como eles fariam de tudo um pelo outro ao mesmo tempo em que também são aqueles que mais podem se magoar.

O pano de fundo da história é o hospital psiquiátrico no qual Gang-tae trabalha, então existem muitos pacientes lá cujas histórias são contadas. Isso traz muita emoção ao dorama, além de carisma e também apego emocional para quem está assistindo. Você se afeiçoa aos personagens secundários e torce pra que eles encontrem a cura de seus traumas, para que eles consigam lidar com seus fantasmas ou apenas consigam encontrar uma forma de conviver com sua forma de existir no mundo. Para além dos dramas dos personagens, o dorama também carrega um tom de mistério muito envolvente: o passado de Ko Mun-young é repleto de pontas soltas, e existe um aspecto sombrio na história que é muito bem trabalhado. Foi o primeiro dorama que assisti com um típico vilão e foi muito interessante ver esse papel se desdobrando e movendo as peças do jogo.

Recomendo Tudo Bem Não Ser Normal pra todo mundo que busca uma série que emociona, com a construção de relações fortes entre os personagens e que aprofunde seus dramas com competência. Poucas séries que vi recentemente me emocionaram tanto quanto essa, e muito disso vem da entrega do elenco principal em cada cena que exigia a demonstração da dor e da intensidade dos sentimentos de cada personagem. A cada episódio eu torcia pra que o processo de cura deles evoluísse mais um passo, e a cada episódio eu percebia como os laços que eles firmavam uns com os outros era fundamental pra fechar as feridas e formar as cicatrizes necessárias. É um dorama inspirador, visualmente impecável e com lições incríveis sobre como somos muito mais do que nossos traumas. Vale a pena dar uma chance! ❤

Título original: It’s Okay to Not Be Okay
Ano de lançamento: 2020
Direção: Park Shin Woo
Elenco: Kim Soo-hyun, Seo Ye-Ji, Oh Jung-se, Park Gyuyoung, Kim Joo-hun, Park Jin-joo, Kang Ki-doong, Jang Young-Nam

Resenha: Amêndoas – Won-pyung Sohn

Oi pessoal, tudo bem?

É sempre difícil pra mim escrever sobre livros hypados, especialmente quando eles não causam em mim a mesma comoção que nos outros leitores. Por isso, demorei meses pra vir falar sobre Amêndoas com vocês.

Garanta o seu!

Sinopse: Yunjae nasceu com uma condição neurológica chamada alexitimia, ou a incapacidade de identificar e expressar sentimentos, como medo, tristeza, desejo ou raiva. Ele não tem amigos ― as duas estruturas em forma de amêndoas localizadas no fundo de seu cérebro causaram isso ―, mas a mãe e a avó lhe proporcionam uma vida segura e tranquila. O pequeno apartamento em que moram, acima do sebo da mãe, é decorado com cartazes coloridos com lembretes de quando sorrir, quando agradecer e quando demonstrar preocupação. Então, no seu décimo sexto aniversário, véspera de Natal, tudo muda. Um ato chocante de violência destrói tudo que Yunjae conhece, deixando-o sozinho. Lutando para lidar com a perda, o garoto se isola no silêncio, até a chegada do problemático colega de escola Gon. Conforme começa a se abrir para novas pessoas, algo se modifica lentamente dentro dele. Quando suas novas amizades passam a apresentar níveis de complexidade, Yunjae precisará aprender a lidar com um mundo que não compreende e até se colocar em risco para sair de sua zona de conforto.

Somos apresentados a Yunjae, um jovem que foi diagnosticado com uma condição rara: suas amígdalas – partes do cérebro parecidas com pequenas amêndoas, responsáveis por processar e regular as nossas emoções – são subdesenvolvidas desde seu nascimento, por isso ele foi diagnosticado com alexitimia, ou a incapacidade de indentificar e expressar sentimentos como medo, tristeza, desejo ou raiva. Para lidar com essa situação incomum, a mãe e a avó de Yunjae criaram um ecossistema pensado para protegê-lo: elas lhe ensinaram tudo que podiam sobre expressões faciais, respostas e reações ideais a diversas situações, treinaram com ele diálogos hipotéticos e imprimiram cartazes pela casa com palavras importantes que ele precisaria aprender. Em seu pequeno mundo controlado, Yunjae estava em paz. Os três viviam juntos e felizes em cima do sebo da mãe de Yunjae, ele frequentava a escola e existia harmonia na rotina da família. Porém, uma tragédia acontece em seu aniversário de 16 anos, levando à morte de sua avó e ao coma de sua mãe. Yunjae se vê sozinho pela primeira vez, tendo que enfrentar o desconhecido em um mundo que não está preparado para lidar com suas peculiaridades. A partir daí, o jovem é exposto a novos personagens, com destaque para dois: o Dr. Shin, amigo de sua mãe e dono do prédio em que eles moram, que se torna uma espécie de amigo e mentor do rapaz; e Gon, seu novo colega de escola, um rapaz briguento e problemático que cruza o caminho de Yunjae de um modo bastante marcante.

O livro é narrado pela ótica de Yunjae, acompanhando sua vida e sua perspectiva. Os capítulos são curtos e fáceis de ler, com uma narrativa leve e fluida que fazem o virar das páginas ser bastante ágil. Porém, apesar dessas características, demorei mais do que gostaria pra concluir essa leitura. E o motivo é fácil de resumir: desconexão com o protagonista, pois Yunjae não é um personagem ao qual me afeiçoei. A forma como ele narra é, obviamente, sem sentimentos, mas nem foi (só) por isso que o livro não me cativou. Acredito que eu esperava uma narrativa mais reflexiva, mas ela é muito mais factual: ele apenas vai contando o dia a dia dele, e as reflexões sobre o que ocorre não são poéticas ou profundas. Isso torna o livro ágil e fácil de ler, porém, superficial. Talvez o público-alvo dele seja muito jovem, ou talvez seja uma escolha estilística intencional pra refletir a sensação da alexitimia do personagem, mas acabou me afastando emocionalmente da obra. Tanto que a primeira parte, focada na condição de Yunjae, na qual ele reflete mais sobre como sua mãe e sua avó construíram o universo particular deles para prepará-lo para o futuro, foi a parte mais intrigante, porque era menos focada nos fatos cotidianos e mais reflexiva sobre seu universo peculiar.

Somada à minha indiferença por Yunjae, existe o fato de que Gon foi um personagem que roubou a cena. Isso, por um lado, é muito positivo, mas também acabou atrapalhando um pouco a conexão com a história como um todo. Explico: o lado bom é que o livro me ofereceu um personagem por quem torcer e por quem me afeiçoar. Gon tem uma origem sofrida e camadas muito instigantes, que mesclam seu coração empático, sua forma reativa de agir, sua violência contra o mundo e seu profundo sofrimento. Ao mesmo tempo que sua primeira aparição o mostra com uma faceta de um típico bully, aos poucos ele revela sua sensibilidade e seu lado mais doce, o que faz dele alguém fascinante e com quem o leitor deseja passar mais tempo. E esse é o lado “negativo”, digamos assim: Gon é tão interessante que eu gostaria de ler uma história todinha sobre ele. Gostaria de saber mais sobre seu relacionamento com o pai, sobre seu ponto de vista da amizade com Yunjae e também seu processo de cura. O problema é que quando Gon não estava em cena e eu precisava voltar minha atenção para Yunjae novamente, eu perdia o interesse e voltava a me arrastar pelas páginas, porque sentia que o carisma da história tinha ido junto com Gon.

Por fim, fiquei decepcionada com o ritmo veloz e o final abrupto da última parte do livro. Tudo acontece de forma súbita e, ademais, temos um desfecho otimista quase surreal de tão repentino, vindo após uma sequência bastante intensa de ação que, por sinal, achei mal escrita e explicada envolvendo Yunjae, Gon e Arame, um antagonista que aparece nos capítulos finais. O epílogo do personagem principal pareceu desencaixado com o que eu havia lido até então, resolvendo tudo de uma forma meio etérea. Contudo, é preciso fazer um disclaimer aqui: essa questão mais pura e otimista do final pode ser uma característica da cultura sul-coreana com a qual eu ainda não estivesse acostumada no momento da leitura. Conforme tenho assistido mais doramas, tenho percebido que isso ocorre também em produções audiovisuais, e aos poucos estou me acostumando mais com algumas escolhas desse estilo. Então achei importante trazer esse adendo pra ponderar minha própria estranheza rs.

Em suma, Amêndoas é um livro com um potencial gigantesco, mas que não funcionou comigo. Senti muita apatia enquanto lia a história, que acabou sendo uma experiência mediana pra mim. Gon foi o grande responsável pelo aspecto positivo da leitura, e foi por ele e por sua relação com Yunjae que eu resolvi dar 3 estrelas quando avaliei o livro no Skoob. Contudo, a sensação que a obra deixou foi bastante agridoce, especialmente levando em conta o hype envolvido em torno do título. E você, já leu Amêndoas? O que achou?

Título original: Almond
Autora:
Won-pyung Sohn
Editora: Rocco
Número de páginas: 288
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Livro cedido em parceria com a editora.
Esse não é um publipost, e a resenha reflete minha opinião sincera sobre a obra.

Dica de Série: Sorriso Real

Oi pessoal, tudo bem?

Sim, a era dos doramas segue firme e forte por aqui, e eu tenho mais um super fofo pra indicar pra vocês: Sorriso Real, disponível na Netflix!

Sinopse: Em meio a uma disputa pela herança, um charmoso herdeiro de uma rede de hotéis se apaixona por uma mulher carismática e seu enorme sorriso.

Sorriso Real conta a história de um casal improvável, mas que me conquistou profundamente pela maturidade com que lidam com seu relacionamento ao longo dos episódios depois que a coisa engrena. Sa-rang é uma moça dedicada e apaixonada por hotelaria e turismo, que sempre estudou muito e trabalhou duro pra ser concierge. Ela consegue uma oportunidade no Hotel King – o mais prestigiado da Coreia do Sul – mesmo sem ter formação universitária graças às suas habilidades diversificadas mas também ao seu belo e cativante sorriso, porque uma das características da rede é justamente essa: o sorriso sempre radiante para atender bem aos hóspedes. Já Gu Won é um dos herdeiros da rede, um rapaz brilhante mas pouco interessado no negócio da família e que tem um profundo asco por sorrisos falsos. Essa premissa do Hotel King faz com que ele antipatize de Sa-rang num primeiro momento, mas logo ele entende que essa antipatia está se transformando em outra coisa, e o gelo no seu coração está sendo derretido pelo sorriso da moça. Gu Won tem um relacionamento conturbado com a família, mas aos poucos – graças à proximidade com Sa-rang – ele começa a se interessar pelas atividades do Hotel King e também pelo bem-estar dos funcionários, diferente do viés ganancioso de sua meia-irmã, que gere o hotel.

Essa é só a pontinha do iceberg de Sorriso Real, o pretexto pelo qual os protagonistas se aproximam, mas nem de longe é a única razão pela qual gostei tanto desse dorama. Vamos começar falando de Sa-rang: ela é o tipo de protagonista que inspira você a ser alguém melhor. Apesar de sua positividade, ela não é uma pessoa tóxica que só vê o lado bom da vida. Ela mostra para as amigas e mesmo para Gu Won suas frustrações quando lhe é permitido parar de sorrir. Mas, mesmo assim, sempre que possível optar por uma visão otimista, ela procura inspirar um comportamento assim e proporcionar bons momentos a quem está ao redor dela. Eu sou uma pessoa mais pessimista e fiquei muito inspirada pelo jeitinho Sa-rang de ser. ❤ Além disso, ela é uma personagem batalhadora, que não se intimida pelas adversidades que a vida impõe. Isso não torna o caminho dela mais fácil: a série mostra que foram necessários anos de estudo e dedicação para que ela atingisse o nível de conhecimento e excelência que ela possui como concierge, mesmo sem ter acesso financeiro a uma universidade de ponta como seus colegas, mas ela fez tudo que estava ao seu alcance para ter um repertório cultural vasto, aprender diversos idiomas e ter uma postura impecável para ser reconhecida como o melhor talento do Hotel King. Por fim, como par romântico, ela também promove conversas maduras com Gu Won, o que é um acalento para alguém como eu, que está cansada de ver séries de TV americanas mostrando adultos se comportando como adolescentes.

Gu Won também é um mocinho cativante! Ele é o “fall first” da relação e o dono do meu coração todinho. É fofo demais como ele tenta conquistar Sa-rang incansavelmente. E assim, ele é um pouco insistente e isso pode ser visto de uma forma meio “cara, você é chefe dela, tá forçando a barra”, mas eu consegui relevar como um estereótipo (fica a seu critério, tá?). Enfim, pra mim o Gu Won é uma green flag total e eu me apaixonei completamente por ele. Os dois são um casal que sabem conversar, que são vulneráveis juntos e que melhoram um ao outro, respeitando seus sonhos e impulsionando um ao outro sempre a alçar voos maiores e mais altos. Tudo que ele faz pela Sa-rang me faz suspirar, sinceramente. ❤ Fora que ele é lindo, mas enfim, nem vou entrar nesse mérito HAHAHAHAHA! Além disso, eu também admiro profundamente a ética profissional do protagonista masculino, que defende a equipe e os funcionários do Hotel King e da Terra King (a equipe “de elite”, sob sua responsabilidade) com unhas e dentes, lutando por mais dignidade e condições justas de trabalho para todos. Gu Won também protagoniza um dos núcleos dramáticos do dorama por estar no centro de uma família disfuncional: sua meia-irmã compete com ele por poder e o sabota sempre que possível, o que dá também uma carga de reviravoltas bem interessante para a história. Porém, apesar disso, ele surpreendentemente protagoniza algumas das cenas mais engraçadas da série – mesmo sendo avesso a sorrisos. Suas cenas com seu leal assistente, o atrapalhado Sang-sik, me faziam gargalhar!

Já que mencionei Sang-sik, vale dizer que os personagens secundários de Sorriso Real são ótimos e possuem histórias próprias. As melhores amigas de Sa-rang são o ponto de destaque pra mim, sendo simplesmente exemplos maravilhosos de amizade feminina. Elas não competem entre si, sendo uma segunda família umas para as outras e se apoiando em todas as circunstâncias. Da-eul e Pyung-hwa não apenas giram em torno do plot de Sa-rang, mas também são mostradas vivendo seus desafios pessoais no trabalho e em suas vidas particulares, o que é muito bacana porque nos faz sentir mais conexão e afinidade com elas. Quando as três estão juntas – desabafando, bebendo, cantando e dançando – a gente quer fazer parte do grupo instantaneamente. ❤

Sorriso Real é um dorama perfeito pra quem quer passar o tempo sentindo o coração derreter  e se encantar por um casal que não poderia ser mais diferente, mas que se completa perfeitamente. ❤ Com ótimos personagens, cenas engraçadas e muito romance (sério gente, esse dorama SERVE cenas cheinhas de fanservice que deixam a gente com borboletas no estômago), essa foi uma série que me conquistou de cara e que deixou saudades. Espero que você se apaixone também!

Título original: King the Land
Ano de lançamento: 2023
Criação: Lim Hyun-ook, Chun Sung-il, Choi Rome
Elenco: Lee Jun-Ho, Im Yoon-ah, Go Won-Hee, Kim Ga-eun, Se-ha Ahn, Sun-young Kim, Kim Jae-Won

Resenha: Nada Fica no Passado – Jennifer Hillier

Oi pessoal, tudo bem?

Depois de muita demora, finalmente encontrei um thriller pra me fazer mergulhar de cabeça: Nada Fica no Passado, da Jennifer Hillier. Mas antes de partirmos pra resenha, fica o aviso de gatilho, pois esse livro tem cenas explícitas de estupro, mutilação e assassinato. Se você se considera sensível para leituras com esses temas, talvez não seja o melhor título pra você. Dito isso, bora saber mais sobre a história – que é surpreendente!

Garanta o seu!

Sinopse: Esta é a história de três amigos: uma que foi assassinada, uma que foi para a prisão e aquele que está procurando a verdade por 14 anos… Por quanto tempo você consegue guardar um terrível segredo? A garota mais popular da escola, Angela Wong, tinha apenas dezesseis anos quando desapareceu sem deixar vestígios. Até então, ninguém suspeitou que sua melhor amiga, Georgina, agora vice-presidente de uma grande empresa farmacêutica, estivesse envolvida em seu desaparecimento, exceto, Kaiser Brody, que se tornou detetive do Departamento de Polícia de Seattle e era colega das duas no ensino médio. Catorze anos depois, os restos mortais de Angela são finalmente encontrados e a verdade vem à tona: Angela foi vítima de Calvin James, primeiro amor obsessivo de Georgina. Calvin, o serial killer, havia assassinado pelo menos outras três mulheres. Durante todos esses anos, Geo sabia o que tinha acontecido com sua melhor amiga, mas guardou o segredo. Após Geo ir para a prisão, todos acharam que o caso foi solucionado. Mas o que aconteceu naquela noite é mais complexo e arrepiante do que qualquer um realmente sabe. Então, o passado alcança o presente de forma mortal, quando novos corpos começam a aparecer, mortos exatamente da mesma maneira que Angela Wong. Qual o limite de alguém disposto a enterrar seus segredos? Como uma grave mentira pode transformar uma vida? E quais são as consequências disso?

A sinopse é bem clara sobre a história, então não vou me alongar sobre e isso e partirei para minhas impressões a respeito da obra. Nada Fica no Passado já começa nos apresentando a uma Georgina sendo julgada e presa, então nos deparamos com uma protagonista ambígua e (obviamente) nada inocente. Como lidar com o fato de que ela escondeu a verdade sobre o assassinato da melhor amiga por 14 anos? Como empatizar com uma personagem assim? Porém, Jennifer Hillier é inteligente e sabe conduzir a história de forma a mostrar as fragilidades e o lado humano de Geo, assim como seu sofrimento na prisão: os abusos que ela sofre, a culpa que ela carrega e o fardo de que ainda existem outros segredos não revelados no julgamento. Esses segredos permeiam o livro todo e fazem o leitor ficar curioso pra saber o que Geo esconde, porque de algum modo a autora deixa a isca ali: quando descobrirmos esse segredo é quando realmente entenderemos o que aconteceu e por que Geo manteve a morte de Angela em segredo.

A narrativa se divide ora pela ótica de Geo, ora pela de Kaiser, que apesar de ter todos os motivos do mundo pra se ressentir da protagonista, não consegue se desvencilhar dos seus sentimentos por ela. Ou seja, nenhum personagem nesse livro é totalmente são ou totalmente ético, e mesmo Kaiser tem algum parafuso a menos por conseguir manter seus sentimentos vivos após descobrir o envolvimento de Geo no assassinato da melhor amiga dos dois. O papel dele ao longo do livro é oferecer a etapa investigativa do thriller, o que é bem interessante, mas eu diria que não é o grande foco da obra; sua contribuição também gira em torno das lembranças do Ensino Médio e de sua raiva em torno de Calvin, o ex-namorado de Geo e serial killer responsável pela morte de Angela e de outras mulheres depois dela. Por meio de algumas memórias de Kai, o leitor percebe que Geo se transformava em outra pessoa perto de Calvin, contribuindo pra narrativa de relacionamento abusivo que o livro constrói.

Esse, aliás, é o cerne de Nada Fica no Passado. Mais do que descobrir o paradeiro de Calvin – que fugiu da prisão e está sendo suspeito de matar mulheres para chamar a atenção de Geo –, a trama nos leva pela tempestade turbulenta que é o passado de Georgina. Além de sua amizade disfuncional e competitiva com Angela, que inclusive a impeliu ainda mais a querer a atenção de Calvin, a história nos mostra com detalhes todas as etapas do seu namoro com o rapaz mais velho, que ela conheceu aos 16 anos e foi responsável pela sua destruição física e psicológica. Como em todo relacionamento abusivo, Calvin começou como um galanteador e um amante gentil, que respeitava inclusive a virgindade de Geo e a fazia se sentir a pessoa mais especial do mundo; com o tempo, porém, as agressões físicas e as brigas passaram a fazer parte do cotidiano dos dois, e a dependência e manipulação emocionais eram tantas que Geo media cada palavra que dizia, com medo de irritá-lo. Esse contexto é trabalhado com a calma devida, porque é fundamental pra construir o clímax que muda a vida de todos para sempre.

Mas por mais que Jennifer Hillier construa uma protagonista que sofreu muito e saiba construir camadas de humanidade que nos fazem sofrer com e por ela, fica o aviso: ninguém é completamente inocente nessa história. Tampouco apenas vítimas. A complexidade dos personagens é um dos pontos fortes do livro, e é onde a autora mais brilha. Em contrapartida, como aspecto negativo, eu diria que o final é um pouco anticlimático. Eu gosto da revelação que acontece, mas acredito que os acontecimentos em si são narrados de forma muito rápida e conveniente. A sequência final é corrida e me soou um tanto brusca, e por conta disso acabei tirando meia estrela do livro.

Nada Fica no Passado é um livro com personagens complexos e uma protagonista que promete dividir opiniões e mexer com os sentimentos do leitor. É impossível ficar imune a sentir alguma coisa por Georgina Shaw, isso eu te garanto. Esse thriller foi um respiro em meio a tantos livros genéricos e “mais do mesmo” que eu vinha lendo, renovando minha esperança no gênero. Recomendo muito!

Título original: Jar of Hearts
Autora:
Jennifer Hillier
Editora: Faro Editorial
Número de páginas: 288
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Dica de Série: Não Estou Morta!

Oi gente, tudo bem?

A indicação de hoje é pra quem está em busca de um entretenimento despretensioso, com episódios curtinhos pra passar o tempo: Não Estou Morta!, a nova série da Gina Rodriguez, protagonista da ótima Jane The Virgin (que, por sinal, eu adoro).

Sinopse: “Não Estou Morta!” acompanha Nell Serrano (Gina Rodriguez), falida e recém-solteira, que se descreve como um desastre, trabalhando para recomeçar a vida e a carreira que ela deixou para trás dez anos atrás. Quando ela aceita o único emprego que consegue encontrar – escrever obituários – Nell começa a receber conselhos de vida de uma fonte improvável.

Nell Serrano está com a vida virada de cabeça pra baixo: ela deixou sua carreira pra trás e se mudou pra Londres por amor, mas seu noivado não deu certo e ela voltou pra casa com um coração partido e tendo que recomeçar do zero, dividindo apartamento com um cara cheio de manias bem restritivas e com a única vaga que o jornal em que ela trabalhava tinha disponível, a de escrever obituários. Como se tudo já não estivesse confuso o bastante, toda biografia que ela recebe para escrever a respeito vem acompanhada da companhia de um… fantasma. Isso mesmo: no momento em que um obituário entra na pauta de Nell, ela começa a ser acompanhada do fantasma da pessoa sobre a qual precisa escrever. Pensando estar enlouquecendo de vez, ela precisa lidar com o turbilhão de sentimentos que seu recomeço forçado lhe impõe enquanto tenta se livrar das companhias indesejadas e ao mesmo tempo crescer novamente na carreira.

Não vou mentir pra vocês: Não Estou Morta! começa fraquíssima. Os primeiros episódios não têm ritmo, são truncados e sempre terminam com uma lição de moral da Nell que ela aprende depois de conviver com o fantasma sobre o qual precisa escrever. Parece até que você é uma criança e o episódio é uma fábula. Considerando o carisma de Gina Rodriguez e seu potencial cômico, fiquei decepcionada com o início da série e também achei que havia um potencial desperdiçado ali, já que a temática dos obituários também gira em torno da morte em si, que é um tema bastante interessante e com uma carga dramática cheia de nuances para serem exploradas. Felizmente, depois de alguns percalços, a série entende que pra funcionar ela precisa focar não apenas na interação da Nell com os fantasmas, mas nos dramas dos personagens principais e nas suas relações interpessoais, dando-lhes mais profundidade e fazendo com que, finalmente, o espectador se importe com eles e com o que está acontecendo na tela. É aí que Não Estou Morta! começa a mostrar que pode ser sim um bom entretenimento.

Meu aspecto favorito da série é o fato de que Nell é uma mulher na casa dos 30 e poucos anos que “falhou” nos milestones esperados da faixa etária dela e se vê precisando dar vários passos atrás na vida. Ela é uma jornalista talentosa, mas deixou a carreira pra trás para casar (algo ainda bastante esperado das mulheres); seu casamento não aconteceu, e ela precisou enfrentar a perspectiva de recomeçar na carreira, o que ela enxerga como fracasso. Fica nítida a frustração de Nell com o status da sua vida, especialmente porque ela quer recomeçar de onde parou – porém, aos poucos ela vai enxergando que a vida adulta também envolve aceitar que quando escolhemos um caminho, abrimos mão de outro. Seus amigos têm um papel importante nisso, e vão ajudando Nell a compreender que não é nenhum demérito dar alguns passos pra trás pra reorganizar a vida novamente e colocar tudo nos eixos.

Na esfera pessoal, a protagonista também sofre ao perceber que as pessoas ao seu redor seguiram com suas vidas enquanto ela esteve ausente. Nell demora a aceitar que sua melhor amiga agora é amiga de um de seus desafetos, e que essa aproximação aconteceu durante seu tempo em Londres. O mais interessante nesse processo é que Nell tem atitudes mesquinhas e infantis, muito motivadas por ciúmes, mas isso é conduzido pela série de uma forma que você consegue compreendê-la sem odiá-la. É possível criticar suas atitudes, assim como a própria Sam (sua melhor amiga) o faz; mas ao mesmo tempo a série é gentil com o processo de todos os envolvidos, mostrando os sentimentos de quem ficou e de quem partiu para construir uma relação de empatia.

Não Estou Morta! é uma série focada no processo de uma mulher que está reconstruindo muitas coisas: sua autoestima, sua carreira e também sua força emocional para lidar com traumas que ainda machucam seu coração. Com a ajuda de personagens secundários excelentes, como o colega de apartamento de Nell (Edward) e a chefe dela (Lexi), a série tem carisma e humor pra manter o entretenimento acontecendo até que ela consiga ganhar ritmo pra prender o espectador. Apesar de começar com o pé esquerdo, aos poucos a trama vai encontrando a fórmula certa e se tornando um entrenimento cada vez mais divertido. Os assuntos abordados são bem interessantes pra quem se identifica com os dilemas 30+ e eu gostei de ver esse tipo de discussão na tela. Como são poucos episódios de menos de 30 minutos, acho que vale a pena dar uma espiadinha e ver se você curte. 😉

Título original: Not Dead Yet
Ano de lançamento: 2023
Criação: Casey Johnson, David Windsor
Elenco: Gina Rodriguez, Hannah Simone, Lauren Ash, Rick Glassman, Josh Banday, Angela Elayne Gibbs, Martin Mull