Dica de Série: Tudo Bem Não Ser Normal

Oi gente, tudo bem?

O ano tá acabando, mas ainda dá tempo de assistir uma série legal, hein? Ou, mais especificamente, um dorama hihi. ❤ Hoje vim indicar pra vocês um que entrou pra lista de favoritos, Tudo Bem Não Ser Normal.

Sinopse: Um caminho para a cura emocional se abre para uma escritora de livros infantis e para um cuidador de sala de psiquiátrica quando seus caminhos se cruzam.

Ko Mun-young é uma autora de livros infantis de renome, mas sua personalidade agressiva e antissocial faz dela uma pessoa super difícil de lidar (basicamente, só o dono da editora que a publica consegue essa façanha). Quando ela encontra o cuidador Moon Gang-tae em uma sessão de autógrafos de um de seus livros em uma situação inesperada – ele a impede de agredir um paciente psiquiátrico perigoso com uma faca -, o mundo dos dois colide e nunca mais volta ao normal. Gang-tae tem seus motivos para querer se manter longe dela: seu fardo já é muito pesado por cuidar sozinho do irmão mais velho, Moon Sang-tae, um rapaz que se encontra no Transtorno do Espectro Autista. Lidar com os rompantes de humor de uma autora temperamental definitivamente não está em seus planos. Além disso, os irmãos guardam seus próprios traumas em segredo, e essa solidão esmagadora faz com que Gang-tae se isole do mundo. Porém, Ko Mun-young é uma mulher teimosa e obstinada (pra não dizer mimada rs) e não está disposta a desistir do seu objetivo.

Preciso começar esse review com sinceridade: de início, achei muito difícil de torcer pelo casal principal e me envolver com a proposta de romance que o dorama sugeria. O motivo? A Ko Mun-young começa a série sendo extremamente tóxica. Ela é uma stalker obcecada, possessiva e manipuladora, e se as ações dela fossem cometidas por um homem, qualquer pessoa sensata ligaria pra polícia. Essa sensação me incomodou muito e me afastou demais da personagem, que tem uma personalidade difícil e fria, demorando muito a se expor e a demonstrar qualquer outra faceta que não a de uma mulher que olha apenas para seus próprios interesses. Contudo, doramas tendem a ser longos, e isso dá margem pra que os personagens ganhem desenvolvimento – o que ocorre aqui. Com o passar dos longos episódios, a protagonista vai tendo outros aspectos de si apresentados ao espectador. Ko Mun-young é fruto de uma família desequilibrada e tóxica, criada por uma mãe narcisista que deixou profundas marcas nela. Sua forma de lidar com as outras pessoas revela uma fragilidade imensa e um medo paralisante de perder as pessoas que a cercam. Seus traumas são profundos e ela nem consegue reconhecê-los, de tão grossa que é a casca que ela precisou criar para sobreviver. A proximidade com os irmãos Moon, aos poucos, vai criando rachaduras nessa casca, e o que mais gostei foi ver a transformação que ela passa não somente por se abrir para o amor verdadeiro com Gang-tae, mas pelo senso de família e de fraternidade que Sang-tae também oferece.

Contudo, apesar de ser uma história de amor, o grande destaque de Tudo Bem Não Ser Normal pra mim é a relação entre os irmãos Moon. O Transtorno do Espectro Autista é trabalhado com muita sensibilidade na figura de Sang-tae, mas o dorama também explora as dificuldades que Gang-tae enfrenta por ter que cuidar do irmão neurodivergente. Ele é um rapaz que precisou amadurecer muito cedo e abraçar responsabilidades que não eram condizentes com a sua idade, e como consequência ele não se permite viver experiências que sejam prazerosas ou focadas em si mesmo. Seu senso de abnegação é tão grande que é quase um atentado à sua própria autopreservação. Em contrapartida, Sang-tae não é retratado como uma pessoa neurodivergente perfeita e angelical, colocada em um pedestal de pureza apenas por enfrentar desafios. O personagem tem virtudes e defeitos, que são explorados ao longo do dorama, e tem uma construção maravilhosa em torno de seus próprios desejos, medos e desafios. É emocionante e intenso ver como a trama gira em torno da relação entre os irmãos, com suas dores e delícias, revelando como eles fariam de tudo um pelo outro ao mesmo tempo em que também são aqueles que mais podem se magoar.

O pano de fundo da história é o hospital psiquiátrico no qual Gang-tae trabalha, então existem muitos pacientes lá cujas histórias são contadas. Isso traz muita emoção ao dorama, além de carisma e também apego emocional para quem está assistindo. Você se afeiçoa aos personagens secundários e torce pra que eles encontrem a cura de seus traumas, para que eles consigam lidar com seus fantasmas ou apenas consigam encontrar uma forma de conviver com sua forma de existir no mundo. Para além dos dramas dos personagens, o dorama também carrega um tom de mistério muito envolvente: o passado de Ko Mun-young é repleto de pontas soltas, e existe um aspecto sombrio na história que é muito bem trabalhado. Foi o primeiro dorama que assisti com um típico vilão e foi muito interessante ver esse papel se desdobrando e movendo as peças do jogo.

Recomendo Tudo Bem Não Ser Normal pra todo mundo que busca uma série que emociona, com a construção de relações fortes entre os personagens e que aprofunde seus dramas com competência. Poucas séries que vi recentemente me emocionaram tanto quanto essa, e muito disso vem da entrega do elenco principal em cada cena que exigia a demonstração da dor e da intensidade dos sentimentos de cada personagem. A cada episódio eu torcia pra que o processo de cura deles evoluísse mais um passo, e a cada episódio eu percebia como os laços que eles firmavam uns com os outros era fundamental pra fechar as feridas e formar as cicatrizes necessárias. É um dorama inspirador, visualmente impecável e com lições incríveis sobre como somos muito mais do que nossos traumas. Vale a pena dar uma chance! ❤

Título original: It’s Okay to Not Be Okay
Ano de lançamento: 2020
Direção: Park Shin Woo
Elenco: Kim Soo-hyun, Seo Ye-Ji, Oh Jung-se, Park Gyuyoung, Kim Joo-hun, Park Jin-joo, Kang Ki-doong, Jang Young-Nam

Dica de Série: Sorriso Real

Oi pessoal, tudo bem?

Sim, a era dos doramas segue firme e forte por aqui, e eu tenho mais um super fofo pra indicar pra vocês: Sorriso Real, disponível na Netflix!

Sinopse: Em meio a uma disputa pela herança, um charmoso herdeiro de uma rede de hotéis se apaixona por uma mulher carismática e seu enorme sorriso.

Sorriso Real conta a história de um casal improvável, mas que me conquistou profundamente pela maturidade com que lidam com seu relacionamento ao longo dos episódios depois que a coisa engrena. Sa-rang é uma moça dedicada e apaixonada por hotelaria e turismo, que sempre estudou muito e trabalhou duro pra ser concierge. Ela consegue uma oportunidade no Hotel King – o mais prestigiado da Coreia do Sul – mesmo sem ter formação universitária graças às suas habilidades diversificadas mas também ao seu belo e cativante sorriso, porque uma das características da rede é justamente essa: o sorriso sempre radiante para atender bem aos hóspedes. Já Gu Won é um dos herdeiros da rede, um rapaz brilhante mas pouco interessado no negócio da família e que tem um profundo asco por sorrisos falsos. Essa premissa do Hotel King faz com que ele antipatize de Sa-rang num primeiro momento, mas logo ele entende que essa antipatia está se transformando em outra coisa, e o gelo no seu coração está sendo derretido pelo sorriso da moça. Gu Won tem um relacionamento conturbado com a família, mas aos poucos – graças à proximidade com Sa-rang – ele começa a se interessar pelas atividades do Hotel King e também pelo bem-estar dos funcionários, diferente do viés ganancioso de sua meia-irmã, que gere o hotel.

Essa é só a pontinha do iceberg de Sorriso Real, o pretexto pelo qual os protagonistas se aproximam, mas nem de longe é a única razão pela qual gostei tanto desse dorama. Vamos começar falando de Sa-rang: ela é o tipo de protagonista que inspira você a ser alguém melhor. Apesar de sua positividade, ela não é uma pessoa tóxica que só vê o lado bom da vida. Ela mostra para as amigas e mesmo para Gu Won suas frustrações quando lhe é permitido parar de sorrir. Mas, mesmo assim, sempre que possível optar por uma visão otimista, ela procura inspirar um comportamento assim e proporcionar bons momentos a quem está ao redor dela. Eu sou uma pessoa mais pessimista e fiquei muito inspirada pelo jeitinho Sa-rang de ser. ❤ Além disso, ela é uma personagem batalhadora, que não se intimida pelas adversidades que a vida impõe. Isso não torna o caminho dela mais fácil: a série mostra que foram necessários anos de estudo e dedicação para que ela atingisse o nível de conhecimento e excelência que ela possui como concierge, mesmo sem ter acesso financeiro a uma universidade de ponta como seus colegas, mas ela fez tudo que estava ao seu alcance para ter um repertório cultural vasto, aprender diversos idiomas e ter uma postura impecável para ser reconhecida como o melhor talento do Hotel King. Por fim, como par romântico, ela também promove conversas maduras com Gu Won, o que é um acalento para alguém como eu, que está cansada de ver séries de TV americanas mostrando adultos se comportando como adolescentes.

Gu Won também é um mocinho cativante! Ele é o “fall first” da relação e o dono do meu coração todinho. É fofo demais como ele tenta conquistar Sa-rang incansavelmente. E assim, ele é um pouco insistente e isso pode ser visto de uma forma meio “cara, você é chefe dela, tá forçando a barra”, mas eu consegui relevar como um estereótipo (fica a seu critério, tá?). Enfim, pra mim o Gu Won é uma green flag total e eu me apaixonei completamente por ele. Os dois são um casal que sabem conversar, que são vulneráveis juntos e que melhoram um ao outro, respeitando seus sonhos e impulsionando um ao outro sempre a alçar voos maiores e mais altos. Tudo que ele faz pela Sa-rang me faz suspirar, sinceramente. ❤ Fora que ele é lindo, mas enfim, nem vou entrar nesse mérito HAHAHAHAHA! Além disso, eu também admiro profundamente a ética profissional do protagonista masculino, que defende a equipe e os funcionários do Hotel King e da Terra King (a equipe “de elite”, sob sua responsabilidade) com unhas e dentes, lutando por mais dignidade e condições justas de trabalho para todos. Gu Won também protagoniza um dos núcleos dramáticos do dorama por estar no centro de uma família disfuncional: sua meia-irmã compete com ele por poder e o sabota sempre que possível, o que dá também uma carga de reviravoltas bem interessante para a história. Porém, apesar disso, ele surpreendentemente protagoniza algumas das cenas mais engraçadas da série – mesmo sendo avesso a sorrisos. Suas cenas com seu leal assistente, o atrapalhado Sang-sik, me faziam gargalhar!

Já que mencionei Sang-sik, vale dizer que os personagens secundários de Sorriso Real são ótimos e possuem histórias próprias. As melhores amigas de Sa-rang são o ponto de destaque pra mim, sendo simplesmente exemplos maravilhosos de amizade feminina. Elas não competem entre si, sendo uma segunda família umas para as outras e se apoiando em todas as circunstâncias. Da-eul e Pyung-hwa não apenas giram em torno do plot de Sa-rang, mas também são mostradas vivendo seus desafios pessoais no trabalho e em suas vidas particulares, o que é muito bacana porque nos faz sentir mais conexão e afinidade com elas. Quando as três estão juntas – desabafando, bebendo, cantando e dançando – a gente quer fazer parte do grupo instantaneamente. ❤

Sorriso Real é um dorama perfeito pra quem quer passar o tempo sentindo o coração derreter  e se encantar por um casal que não poderia ser mais diferente, mas que se completa perfeitamente. ❤ Com ótimos personagens, cenas engraçadas e muito romance (sério gente, esse dorama SERVE cenas cheinhas de fanservice que deixam a gente com borboletas no estômago), essa foi uma série que me conquistou de cara e que deixou saudades. Espero que você se apaixone também!

Título original: King the Land
Ano de lançamento: 2023
Criação: Lim Hyun-ook, Chun Sung-il, Choi Rome
Elenco: Lee Jun-Ho, Im Yoon-ah, Go Won-Hee, Kim Ga-eun, Se-ha Ahn, Sun-young Kim, Kim Jae-Won

Dica de Série: Não Estou Morta!

Oi gente, tudo bem?

A indicação de hoje é pra quem está em busca de um entretenimento despretensioso, com episódios curtinhos pra passar o tempo: Não Estou Morta!, a nova série da Gina Rodriguez, protagonista da ótima Jane The Virgin (que, por sinal, eu adoro).

Sinopse: “Não Estou Morta!” acompanha Nell Serrano (Gina Rodriguez), falida e recém-solteira, que se descreve como um desastre, trabalhando para recomeçar a vida e a carreira que ela deixou para trás dez anos atrás. Quando ela aceita o único emprego que consegue encontrar – escrever obituários – Nell começa a receber conselhos de vida de uma fonte improvável.

Nell Serrano está com a vida virada de cabeça pra baixo: ela deixou sua carreira pra trás e se mudou pra Londres por amor, mas seu noivado não deu certo e ela voltou pra casa com um coração partido e tendo que recomeçar do zero, dividindo apartamento com um cara cheio de manias bem restritivas e com a única vaga que o jornal em que ela trabalhava tinha disponível, a de escrever obituários. Como se tudo já não estivesse confuso o bastante, toda biografia que ela recebe para escrever a respeito vem acompanhada da companhia de um… fantasma. Isso mesmo: no momento em que um obituário entra na pauta de Nell, ela começa a ser acompanhada do fantasma da pessoa sobre a qual precisa escrever. Pensando estar enlouquecendo de vez, ela precisa lidar com o turbilhão de sentimentos que seu recomeço forçado lhe impõe enquanto tenta se livrar das companhias indesejadas e ao mesmo tempo crescer novamente na carreira.

Não vou mentir pra vocês: Não Estou Morta! começa fraquíssima. Os primeiros episódios não têm ritmo, são truncados e sempre terminam com uma lição de moral da Nell que ela aprende depois de conviver com o fantasma sobre o qual precisa escrever. Parece até que você é uma criança e o episódio é uma fábula. Considerando o carisma de Gina Rodriguez e seu potencial cômico, fiquei decepcionada com o início da série e também achei que havia um potencial desperdiçado ali, já que a temática dos obituários também gira em torno da morte em si, que é um tema bastante interessante e com uma carga dramática cheia de nuances para serem exploradas. Felizmente, depois de alguns percalços, a série entende que pra funcionar ela precisa focar não apenas na interação da Nell com os fantasmas, mas nos dramas dos personagens principais e nas suas relações interpessoais, dando-lhes mais profundidade e fazendo com que, finalmente, o espectador se importe com eles e com o que está acontecendo na tela. É aí que Não Estou Morta! começa a mostrar que pode ser sim um bom entretenimento.

Meu aspecto favorito da série é o fato de que Nell é uma mulher na casa dos 30 e poucos anos que “falhou” nos milestones esperados da faixa etária dela e se vê precisando dar vários passos atrás na vida. Ela é uma jornalista talentosa, mas deixou a carreira pra trás para casar (algo ainda bastante esperado das mulheres); seu casamento não aconteceu, e ela precisou enfrentar a perspectiva de recomeçar na carreira, o que ela enxerga como fracasso. Fica nítida a frustração de Nell com o status da sua vida, especialmente porque ela quer recomeçar de onde parou – porém, aos poucos ela vai enxergando que a vida adulta também envolve aceitar que quando escolhemos um caminho, abrimos mão de outro. Seus amigos têm um papel importante nisso, e vão ajudando Nell a compreender que não é nenhum demérito dar alguns passos pra trás pra reorganizar a vida novamente e colocar tudo nos eixos.

Na esfera pessoal, a protagonista também sofre ao perceber que as pessoas ao seu redor seguiram com suas vidas enquanto ela esteve ausente. Nell demora a aceitar que sua melhor amiga agora é amiga de um de seus desafetos, e que essa aproximação aconteceu durante seu tempo em Londres. O mais interessante nesse processo é que Nell tem atitudes mesquinhas e infantis, muito motivadas por ciúmes, mas isso é conduzido pela série de uma forma que você consegue compreendê-la sem odiá-la. É possível criticar suas atitudes, assim como a própria Sam (sua melhor amiga) o faz; mas ao mesmo tempo a série é gentil com o processo de todos os envolvidos, mostrando os sentimentos de quem ficou e de quem partiu para construir uma relação de empatia.

Não Estou Morta! é uma série focada no processo de uma mulher que está reconstruindo muitas coisas: sua autoestima, sua carreira e também sua força emocional para lidar com traumas que ainda machucam seu coração. Com a ajuda de personagens secundários excelentes, como o colega de apartamento de Nell (Edward) e a chefe dela (Lexi), a série tem carisma e humor pra manter o entretenimento acontecendo até que ela consiga ganhar ritmo pra prender o espectador. Apesar de começar com o pé esquerdo, aos poucos a trama vai encontrando a fórmula certa e se tornando um entrenimento cada vez mais divertido. Os assuntos abordados são bem interessantes pra quem se identifica com os dilemas 30+ e eu gostei de ver esse tipo de discussão na tela. Como são poucos episódios de menos de 30 minutos, acho que vale a pena dar uma espiadinha e ver se você curte. 😉

Título original: Not Dead Yet
Ano de lançamento: 2023
Criação: Casey Johnson, David Windsor
Elenco: Gina Rodriguez, Hannah Simone, Lauren Ash, Rick Glassman, Josh Banday, Angela Elayne Gibbs, Martin Mull

Dica de Série: Uma Advogada Extraordinária

Oi galera, tudo bem?

Chegou a hora de dividir com vocês a coisa mais legal que aconteceu recentemente a nível de entretenimento por aqui: minha nova personalidade dorameira. 🫰 SIM, esse momento chegou! E ele foi possível graças a Uma Advogada Extraordinária, um dorama maravilhoso que assisti na Netflix e que arrebatou meu coração. Vamos conhecer?

Sinopse: Recém-contratada por um grande escritório de advocacia, uma jovem brilhante no espectro autista enfrenta desafios dentro e fora do tribunal.

Woo Young-woo (não importa a a ordem que for lido rs) é uma advogada brilhante, se formou como a mais inteligente da sua turma, mas que ainda não conseguiu oportunidades de emprego por enfrentar preconceitos devido ao seu diagnóstico de TEA – Transtorno do Espectro Austista. Porém, ao conseguir uma vaga em um dos escritórios mais importantes da Coreia do Sul, o Hanbada Advocacia, a jovem advogada tem a oportunidade de colocar seu talento à prova, mas também desenvolver seu contato humano e aprender que além da paixão pela lei, ela também precisa aprimorar sua sensibilidade para lidar com os clientes e com as sutilezas de cada caso.

Se você já assistiu Atypical (outra série maravilhosa da Netflix que eu recomendo muito), é bem possível que você goste de Uma Advogada Extraordinária. Park Eun-bin também entrega uma atuação delicada, com algumas características do espectro mais acentuadas, e me chamou a atenção a coincidência de que sua personagem também tenha um encanto muito especial por um animal marinho: no caso de Woo Young-woo, baleias, enquanto Sam era aficcionado por pinguins. Meu carinho por Atypical e por Sam fez com que eu me afeiçoasse rapidamente por Woo Young-woo, mas logo a personagem se afastou dele e ganhou seu espaço próprio no meu coração por sua gentileza, sensibilidade e pureza.

Comentei há alguns posts que vivi um ano 2023 bem difícil, e justamente por isso eu estava em busca de entretenimento que pudesse me trazer conforto, leveza e uma sensação de que as coisas poderiam dar certo. Uma Advogada Extraordinária foi tudo que eu precisava, chegando no melhor momento possível e me trazendo os melhores sentimentos que eu poderia querer. Cada episódio é focado em um caso, o que por si só já é um formato que me atrai muito e me deixa super curiosa pra maratonar, fazendo com que os mais de 60 minutos de duração de cada episódio passem voando. Além disso, ver o amadurecimento pessoal de Woo Young-woo e sua relação com os colegas, bem como os desafios que ela precisa enfrentar como uma pessoa neurodivergente, também torna o dorama muito instigante. Ainda que o tom da série seja sempre otimista, Uma Advogada Extraordinária não nos poupa dos desafios diários da protagonista, nos expondo aos preconceitos e às dificuldades que ela vivencia somente por ser diferente. Por muitas vezes ela é diminuída e subestimada exclusivamente por seu diagnosticado de TEA, mesmo sendo uma advogada fantástica, e há muitas barreiras a serem vencidas tanto em sua vida profissional quanto pessoal.

Quando entramos nas relações amorosas da série, esses aspectos não são deixados de lado. Uma Advogada Extraordinária discute o tema do consentimento de forma bastante direta, e existem muitos paralelismos entre os casos que a Hanbada defende e a própria condição de Woo Young-woo. O grau do espectro da protagonista é leve, mas existem outras neurodivergências mais graves ao longo da série que colocam em debate questões como consentimento, atribuição de culpa e temas muito interessantes no que tangem a esfera de possíveis limitações intelectuais. A própria Woo Young-woo nunca teve um relacionamento amoroso e se apaixona pela primeira vez por seu colega de trabalho, também conhecido como o crush dos crushes e o maior good guy que a televisão já viu, Lee Jun-ho. Pela pouca experiência que tenho com os doramas que assisti, é um tanto óbvio o desenvolvimento do amor dos dois, especialmente pela forma como tudo se dá desde o primeiro episódio, com trocas de olhares significativas e trilha sonora romântica, mas ainda assim o desenvolvimento é super lento e gradual, o que quase ME MATOU DO CORAÇÃO e ao mesmo tempo me deixou cheia de borboletas no estômago. 😂 Me apaixonei perdidamente por eles e, ao mesmo tempo que fiquei ansiosa pra ver tudo se concretizando, também achei bacana como a série lentamente foi construindo um terreno seguro pra que alguém como Woo Young-woo pudesse se sentir confortável pra dar passos que ela nunca pensou em dar. E isso só foi possível porque existe alguém que a enxerga para além de sua neurodivergência, capaz de vê-la como um ser humano completo e fascinante. Porém, os desafios que eles enfrentam como casal – o preconceito e o estranhamento das outras pessoas – são bem tristes e revoltantes, principalmente pelo caráter realista dos comentários que eles recebem: é super possível imaginar isso acontecendo com as pessoas fora da ficção. 😥

Os personagens secundários de Uma Advogada Extraordinária são todos bem trabalhados. Os colegas da Hanbada têm tempo de tela, possuem personalidades distintas e motivações próprias (ainda que um dos antagonistas, Min-woo, tenha tido um desenvolvimento tosco e conveniente na reta final), o que torna interessante acompanhá-los e não deixa a série totalmente dependente de sua protagonista. Há espaço também para a família e amigos de Woo Young-woo, que contribuem com a “normalidade” de sua rotina, saindo daquele ~juridiquês todo do escritório. Em suma, é fácil torcer pelo belo “raio de sol” Su-yeon, se comover com a história do Dr. Jung ou ainda morrer de rir com os conselhos amorosos de Geu-ra-mi e do Min-shi no bar.

Por último, mas não menos importante, eu não poderia deixar de fora os elementos artísticos que me encantaram na atmosfera de Uma Advogada Extraordinária. Eu estava muito acostumada com as produções americanas, que de certa forma são bastante pausterizadas e há muito tempo não me ofereciam nada de muito inovador que não fosse o roteiro mesmo. Quando resolvi assistir dorama pela primeira vez, tudo foi motivo de estranhamento, mas não necessariamente de um jeito ruim. A forma de atuação, a trilha sonora, a identidade visual: fui impactada pelo estilo como um todo. E acredito que a delicadeza desse estilo, somada ao capricho visual e à trilha sonora repleta de músicas ao piano e belas paisagens, foi um dos principais pontos fortes que conseguiu me transportar pra esse mundo novo de uma forma muito imersiva.

Uma Advogada Extraordinária reuniu tudo que eu gosto em uma série, mas foi além: também trouxe aquilo que eu nem sabia que precisava. É uma história sobre uma profissional talentosa, resiliente, e sobre alguém que acredita em suas paixões e não está disposta a desistir dos seus sonhos por maiores que sejam os desafios impostos. Se essa mensagem não é encorajadora o suficiente, não sei qual seria. 😛 Além disso, o dorama está embalado em uma direção de arte de beleza ímpar, com um romance que inspira e encanta, e um rol de personagens que conquista e cativa. E aí, te convenci a dar uma chance? Espero que sim, porque vale a pena. ❤

Título original: Extraordinary Attorney Woo
Ano de lançamento: 2022
Direção: Yu In-sik
Elenco: Park Eun-bin, Kang Tae-oh, Kang Ki-young, Jeon Bae-soo, Ha Yoon-kyung, Joo Jong-hyuk, Joo Hyun-young, Im Sung-jae, Baek Ji-won, Jin Kyung

Dica de Série: Falando a Real

Oi pessoal, tudo bem?

Falando a Real, ou Shrinking, foi mais uma das gratas surpresas da Apple Tv. Inicialmente, ela me chamou a atenção pelos atores (afinal, qual a chance de ver uma série com o Marshall, de How I Met Your Mother, e o Han Solo, juntos?), mas não demorou a me cativar pela trama também, que reúne a dose certa de comédia e drama.

Sinopse: Jimmy está enfrentando o luto pela perda de sua esposa enquanto é pai, amigo e terapeuta. Ele decide tentar uma nova abordagem com todos em seu caminho: honestidade brutal e sem filtros. Ele pode ajudar a si mesmo ajudando os outros?

Jimmy é um terapeuta que se vê no fundo do poço após a morte da esposa, Tia. Seu processo de luto está bastante destrutivo: ele se afastou completamente da filha adolescente, Alice, que passa mais tempo na casa da vizinha, Liz, do que na própria; drogas e álcool viraram rotina em suas festas com prostitutas na piscina; sua carreira está sendo levada de forma negligente no consultório chefiado pelo seu mentor, o rabugento Paul… ou seja, o puro suco do caos. Em determinado dia, cansado de reviver sempre as mesmas situações com os pacientes em terapia (que, na opinião do psicólogo, parecem não evoluir a partir de suas próprias decisões e conclusões), Jimmy resolve tentar uma nova abordagem: ser brutalmente sincero e dar conselhos que vão contra o código de ética da psicologia ao dizer claramente as atitudes que, em sua visão, os pacientes devem tomar. Quando alguns deles resolvem seguir suas sugestões e parecem fazer progresso, Jimmy passa a sentir uma nova adrenalina em sua rotina, vendo uma nova motivação para colocar a vida nos trilhos e até retomar o relacionamento com a filha.

Existem muitos pontos positivos em Falando a Real, e eu vou começar pelo primeiro deles: a performance do elenco. Jason Segel é um ator muito versátil, que sabe ser caricato em um instante e sensível no seguinte. Ao mesmo tempo em que seus exageros fazem de Jimmy um personagem engraçado, as cenas em que ele se mostra deprimido, tentando se reconectar com Alice ou relembrando a falecida esposa te levam pra um tom de melancolia muito profundos. Eu já sabia desse potencial do ator devido a HIMYM (pra mim, ele é o melhor do elenco), mas a visão que eu tinha dele se consolidou em Falando a Real. Além disso, ele tem muita química com seus colegas de elenco. A parceria com Harrison Ford dá muito certo, e Ford entrega um Paul carrancudo e até um pouco clichê, naquela figura de homem hetero e cis intocável que, paradoxalmente, apesar de sua profissão, não fala sobre seus sentimentos. A figura de Paul se torna complexa devido ao fato dele lidar com o mal de Parkinson, que é trabalhado com muita delicadeza ao longo dos episódios, sem jamais desumanizá-lo ou transformá-lo em um drama ambulante incapaz de oferecer mais do que sua doença. O único clichê desagradável, na minha opinião, é o de “homem brilhante divorciado que foi um péssimo pai”, algo que já está bem batido nas produções audiovisuais e que vemos novamente em Falando a Real. O terceiro elemento da clínica de psicólogos não aparece no pôster, o que é provavelmente 1) uma jogada de marketing pra focar nos atores mais conhecidos 2) um ato possível de racismo e machismo? Acredito que sim, possa ser. Mas enfim, esse terceiro elemento é brilhante, essencial, a cola que mantém os três unidos: estou falando da maravilhosa Gabby, a sensatez, a beleza e o carisma encarnados naquela que foi a melhor amiga de Tia, a esposa de Jimmy. Gabby traz à tona alguns dilemas vividos por uma mulher negra, mas também pautas universais como estar solteira depois de anos casada, amizade feminina, entre outras situações relacionáveis que fazem com que você queira sentar com ela numa mesa de bar e passar horas a fio conversando.

Outro ponto forte de Falando a Real está no equilíbrio entre a comédia e o drama. O cerne da história gira em torno da morte de Tia e como isso impactou na vida de Jimmy, da sua filha (Alice), de Gabby, e até de seus vizinhos, que acabaram “adotando” Alice por um bom tempo. Essa perda gera cenas de muita comoção e diálogos que realmente mexem com as emoções do espectador, especialmente se você sabe como é perder alguém. Alice tem longas conversas com Paul sem o conhecimento de seu pai, e é muito triste sentir o desamparo de uma adolescente que teve sua mãe – e sua melhor amiga – tirada de si tão cedo. O próprio Jimmy tem diversas questões mal resolvidas consigo mesmo, incluindo muita culpa, devido a tudo que aconteceu. Além do luto, outro tema que surge na história é o Transtorno do Estresse Pós-Traumático, representado por Sean, um dos pacientes de Jimmy com quem ele cria um protocolo nada ortodoxo de enfrentamento e que acaba se tornando um amigo pessoal. São assuntos pesados, sérios, e trazidos com delicadeza durante toda a série. Em contrapartida, Falando a Real é recheada de tiradas cômicas e de cenas genuinamente engraçadas. Liz, a vizinha de Jimmy que cuidou de Alice durante o período mais tenso do luto de Jimmy, é uma personagem que você jura que vai detestar, mas que é tão divertida que aos poucos vai ganhando um espaço no seu coração (assim como o marido esquisito e sem noção dela). O próprio Jimmy protagoniza tantas cenas hilárias e surreais que, se numa cena você estava chorando, na seguinte você está gargalhando.

Mas um dos aspectos de que mais gostei em Falando a Real é que, por mais que você consiga se afeiçoar a todos os personagens, em nenhum momento a série tenta pintá-los como exemplos ideais. Eles são falhos, possuem defeitos, e aqui coloco bastante ênfase em Jimmy e Paul – que pecaram bastante em seus papéis como pais. Por mais que você aprenda a gostar deles, Falando a Real não deixa você esquecer que eles estão tentando compensar seus erros, ou seja, há uma bagagem ali causada por negligência e por decisões que causaram dor. Ver a evolução dos personagens é importante pra criação dessa afeição, inclusive. Além disso, é uma forma bacana de lembrar que o fato deles serem psicólogos não os torna mais sábios ou imunes a erros – eles também estão suscetíveis a tropeçar e precisar de ajuda. Talvez, se eu tivesse que resumir muito do que senti assistindo a série, é isso: está tudo bem precisar de ajuda. Desmistificar isso e conseguir pedir por essa ajuda é muito importante. 

Se você procura por uma comédia dramática que não fale sobre terapia de forma estigmatizada e que tenha personagens humanos e reais, Falando a Real é a escolha certa. Você vai encontrar bons personagens, relações humanas que vão sendo cada vez mais desenvolvidas e solidificadas e, é claro, vai dar boas risadas – com eventuais lágrimas também. Recomendo!

Título original: Shrinking
Ano de lançamento: 2023
Criação: Brett Goldstein, Bill Lawrence, Jason Segel
Elenco: Jason Segel, Harrison Ford, Jessica Williams, Luke Tennie, Lukita Maxwell, Christa Miller, Michael Urie

Dica de Série: The Last of Us

Oi pessoal, tudo bem?

Ainda que o timing esteja um pouquinho atrasado, não poderia deixar de falar sobre The Last of Us, uma das séries que ganharam o público e a crítica esse ano – com razão. Muito aguardada por quem já era fã do jogo, ela também fez um ótimo trabalho em conquistar quem não era, e eu me enquadro nesse público. Vamos falar a respeito?

Sinopse: Vinte anos após a queda da civilização, Joel é contratado pra tirar Ellie de uma zona de quarentena perigosa. O que começa como um pequeno trabalho, logo se transforma em uma jornada brutal pela sobrevivência.

Faz um tempo que histórias pós-apocalípticas não me interessam mais. Sendo um pouquinho mais específica, desde que The Walking Dead (da qual já fui muito fã) perdeu totalmente minha atenção e eu dropei. Por isso, mesmo sabendo que The Last of Us vinha de um jogo cuja história era elogiadíssima, temi que fosse sentir a mesma monotonia que TWD me causou, o que felizmente não aconteceu. The Last of Us compartilha da melhor fase de The Walking Dead, da época em que a série mais me cativava, trazendo dois elementos dos quais eu sentia muita falta nesse tipo de produção: a aflição pura pelo medo real de que algo possa acontecer com os personagens e o foco total no desenvolvimento psicológico deles e na construção de suas relações. Essa combinação faz de The Last of Us uma série que se desenvolve lentamente, mas com doses de adrenalina bem colocadas.

A história gira em torno de Joel e Ellie, uma dupla que se une contra a própria vontade. No futuro em que eles vivem, a humanidade foi quase dizimada por um fungo – que existe e se chama Cordyceps, mas na série ele evoluiu para uma versão muito mais violenta, capaz de controlar o corpo dos seres humanos –, e os sobreviventes vivem em colônias controladas por um exército ditatorial, a FEDRA. Contra essa forma de governo estão os Vagalumes, um grupo rebelde que deseja a liberdade, e Ellie é feita de refém por esse grupo, que acredita na possibilidade dela ser a chave para uma possível cura. Joel, por motivos particulares (e por seu posicionamento político neutro, aliando-se a quem for necessário para sobreviver), aceita escoltar Ellie até uma base dos Vagalumes, mesmo sem ter a menor simpatia pela garota e não desejar se aproximar de ninguém devido aos próprios traumas e perdas. Com o tempo, porém, os dois vão criando um vínculo que vai além da sobrevivência.

Eu amei demais a performance de Pedro Pascal como Joel e Bella Ramsey como Ellie. Não joguei o jogo pra comparar, mas as emoções que eles transmitem na série pra mim são completamente críveis em relação ao que ambos viveram. Joel é um personagem que teve a pior perda possível: no primeiro episódio da série, em meio ao caos do apocalipse acontecendo, ele perde sua filha, a quem ele amava mais do que tudo no mundo. A série tem um salto temporal de 20 anos a partir daí, e é perceptível o quanto ele fechou o seu coração devido ao ocorrido. Mesmo que no presente ele tenha uma companheira (Tess), que também deixa uma marca profunda em Joel, é nítido que nada é tão doloroso pra ele quanto a perda da jovem Sarah. E isso torna ainda mais difícil a aproximação com Ellie, porque o papel de pai que ele exercera no passado não é algo que ele deseje pra si novamente, ou até mesmo que ele sinta ser capaz. Ele não tem a menor pretensão de se aproximar da garota, mas conforme ela vai conquistando sua simpatia e, com o tempo, o seu afeto, as coisas vão se transformando contra a sua vontade e Joel ganha uma segunda chance.

Ellie, por sua vez, é uma jovem que foi treinada a vida toda pra fazer parte do exército, a FEDRA. Mas mesmo sendo tão jovem, ela também enfrentou perdas significativas: cresceu sem os pais, perdeu amigos, teve pouquíssimo afeto destinado a si mesma e, no presente, tornou-se uma espécie de moeda de troca. Ela tem muita dificuldade em acreditar que Joel também não vai abandoná-la, mas sua forma de lidar com tudo que sente é com hostilidade ou com excesso de humor. Demora até que ela consiga se abrir, e quando vemos os lampejos da sua fragilidade fica claro para o espectador (e para Joel) que ela é apenas uma criança.

Mas para além da dupla de protagonistas, The Last of Us consegue fazer a proeza de te fazer se apaixonar, se apegar e depois te deixar em lágrimas por personagens que você conhece em um único episódio. Sendo mais específica, o terceiro. Sim, o polêmico, que causou o maior burburinho quando saiu porque tem um monte de nerdola homofóbico por aí que não consegue admirar a beleza de uma história de amor bem contada só porque quem a protagoniza é gay. O terceiro episódio de The Last of Us é um dos mais bonitos a que assisti em muito tempo, com um romance comovente entre Frank e Bill, dois homens que não poderiam ser mais diferentes e, ainda assim, encontram um no outro a salvação e o amor necessários para viver cada dia. Eu literalmente trouxe um rolo de papel higiênico para o braço do sofá enquanto assistia esse episódio de tantas lágrimas que eu chorei, precisava secar os olhos e assoar o nariz com frequência, me emocionei demais com a delicadeza dessa história. A beleza do romance e o final agridoce desse episódio são inesquecíveis e, sinceramente, só por esse episódio a temporada inteira já valeu. Mas não pensem que foi a única história marcante a ser contada: The Last of Us mexe conosco em praticamente cada episódio. Quando conhecemos os irmãos Henry e Sam, por exemplo, um pedaço do nosso coração fica naquele episódio, e eles nos fazem questionar o que é ser humano, afinal. Enfim, se eu ficar me alongando sobre todas as emoções causadas pelos personagens de The Last of Us, vai ser impossível parar de digitar.

Mesmo que você não se identifique com histórias pós-apocalípticas, sugiro que você dê uma chance a The Last of Us. Ela utiliza a infestação de Cordyceps como pano de fundo para construir relações entre personagens e questionamentos sobre quem somos. É uma série que faz você pensar sobre o que realmente vale a pena na vida, colocando diversas coisas em perspectiva por meio de uma situação extrema. Além disso, tem dois protagonistas carismáticos – com aquela dinâmica perfeita e divertida entre um grumpy e uma sunshine – que nos conquistam sem esforço. Vale a pena conferir!

Título original: The Last of Us
Ano de lançamento: 2023
Criação: Craig Mazin, Neil Druckmann
Elenco: Pedro Pascal, Bella Ramsey, Anna Torv, Lamar Johnson, Melanie Lynskey, Nico Parker, Keivonn Woodard, Merle Dandridge, Nick Offerman, Murray Bartlett

Dica de Série: Rainha Charlotte: Uma História Bridgerton

Oi pessoal, tudo bem?

Confesso que inicialmente não hypei no anúncio do spin-off Rainha Charlotte: Uma História Bridgerton (mesmo sendo fã da série Bridgerton), mas acabei dando uma chance pra série durante as férias e cá estou pra me redimir e indicar pra vocês essa produção que, sim, conseguiu trazer uma história mais profunda e madura do que o material de origem. ❤ Vamos conhecer?

Sinopse: Neste spin-off, o casamento da rainha Charlotte com o rei George é muito mais que uma história de amor: é uma transformação na alta sociedade do universo de Bridgerton.

A série tem como foco duas linhas do tempo: no passado, conhecemos a origem da rainha, como ela foi trazida para conhecer o rei George, o início de seu casamento, a doença do rei, a construção do amor deles, mas também todo o impacto que essa união teve na sociedade inglesa na época; no presente, acompanhamos Charlotte constantemente preocupada em saber se George morreu ou não, e também com o futuro da sua família, pois infelizmente a esposa de seu filho mais velho e seu neto faleceram, e agora não há um herdeiro legítimo ao trono e ela precisa que algum de seus filhos se case e gere uma criança. O impacto da linha do tempo presente provavelmente vai refletir na próxima temporada de Bridgerton, já que existem interações entre Lady Danbury e Violet Bridgerton também, mas o que realmente fisga o espectador é a timeline do passado, em que descobrimos como a sociedade chegou ao ponto que vimos lá na primeira temporada da série de origem, além de ser também a linha do tempo que nos revela a história de amor que – até então – só tinha sido levemente abordada, e o espectador tinha apenas pequenas peças que possibilitavam saber que Charlotte e George se amavam muito, mas sem conhecer a fundo seu passado.

Devo dizer que eu esperava uma série bastante romântica, justamente por saber que Charlotte viveu uma vida devotada a George. O modo como a doença dele foi apresentada em Bridgerton, e o cuidado que ela tem com a situação, mostra uma ternura que já indicava que ali existia um sentimento muito verdadeiro. Para a minha surpresa, Rainha Charlotte é uma série que foca muito pouco no romance. Nos três primeiros episódios, o casal protagonista mal se fala! Eles compartilham uma cena muito fofa quando se conhecem, aí logo se casam (pois Charlotte é trazida à Inglaterra já como uma noiva prometida ao rei) e brigam logo após a cerimônia, quando George se recusa a dormir com ela e morar na Casa Buckingham. Charlotte passa dias e dias a fio solitária, sentindo-se abandonada e com a sensação de que falhou como esposa, arrependida de ter se casado e com uma sensação de amargura muito profunda. Posteriormente, a série nos apresenta os primeiros episódios pelo ponto de vista de George, e é nesse momento que o espectador tem seu coração partido em mil pedacinhos: finalmente entendemos o motivo pelo qual ele tomou tais decisões e o que George realmente esteve fazendo enquanto se manteve distante da rainha. Ainda assim, isso não muda o fato de que, ao longo dos 6 episódios, a maior parte do tempo os dois passam separados. Tanto que eu demorei bastante a acreditar que Charlotte já estivesse apaixonada por George, mesmo sabendo que a recíproca fosse verdadeira; foi apenas no fim da temporada que senti de verdade esse amor acontecendo, e quando ele veio, ele veio arrebatador. O último episódio de Rainha Charlotte – em especial, a última cena – é de arrepiar, e eu chorei de soluçar. É linda, sensível, cheia de referências a coisas importantes na história do casal e dá uma sensação agridoce muito marcante. É um final primoroso, e ao mesmo tempo em que parte o nosso coração, ele também nos dá um pouquinho de esperança, revelando um lampejo da sanidade de George e o profundo amor que os conecta desde a juventude.

Uma surpresa de Rainha Charlotte diz respeito à doença do rei, que esteve presente ao longo de todo o relacionamento dos dois. De certo modo, esperei por um romance arrebatador que, talvez no final, fosse ser atrapalhado pela descoberta dos sintomas, o que não ocorreu. Isso traz um peso emocional muito mais intenso do que as temporadas prévias de Bridgerton (por exemplo) haviam apresentado, e Charlotte e George lidam com uma pressão em seu relacionamento que vai muito além do peso da responsabilidade de governarem a Grã-Bretanha. O fato deles serem tão jovens e já serem marcados por esse desafio torna tudo ainda mais difícil, porque o espectador descobre que a vida do casal foi marcada por um obstáculo instransponível. Por outro lado, saber que George encontrou uma parceira capaz de amá-lo sob todas as circunstâncias, e de aceitar todas as suas facetas, também é acalentador. Além disso, esse plot mexe muito com quem assiste por mostrar a terrível face dos tratamentos psiquiátricos da época, que eram baseados na mais pura tortura. A barbárie que George enfrenta é revoltante, e saber que muito disso foi perpetrado durante séculos é de embrulhar o estômago. Pessoas que tinham condições mentais ainda mais instáveis, incapazes de se defender, sofreram muito mais nas mãos de médicos que faziam os piores experimentos em nome de “curar a mente”, e ver isso refletido na série é bastante impactante.

Mas se eu disse que Rainha Charlotte foca pouco no romance (pelo fato de Charlotte e George passarem bastante tempo afastados ou brigados), no que ela foca? Na minha opinião, no impacto social que ter uma rainha negra causou na sociedade inglesa no universo fictício de Bridgerton. Charlotte faz amizade com a jovem Lady Danbury, que ganha o título graças à mãe de George, a princesa-viúva Augusta. Esse título é fornecido ao marido de Agatha Danbury pra mostrar ao Parlamento que o intuito de casar George com uma mulher de pele escura foi intencional – o que eles chamam de Grande Experimento. O “escurecimento” da corte é um movimento político que Augusta faz pra que não haja dúvidas de que tudo foi planejado previamente (o que não é verdade, pois ela imaginava que a pele de Charlotte fosse mais clara). Ainda assim, uma vez que se torna Lady Danbury, Agatha usufrui desse título com muita sabedoria, negociando seus direitos com Augusta em troca de informações e garantindo que aquilo que é fornecido aos lordes brancos também seja fornecido ao seu marido e à sua família. O plot de Lady Danbury é extremamente interessante: ela odeia o marido, que pratica estupro marital constantemente, mas quando ele morre (afinal, é um idoso) ela se vê bastante perdida com a total liberdade que passa a ter, considerando que foi prometida a ele aos 3 anos de idade e toda a sua vida girou em torno dele e de seus gostos pessoais. Agatha é uma mulher que precisa reaprender sobre si mesma e entender o que é ter seu próprio espaço no mundo, além de lutar com unhas e dentes pra não perder seus privilégios e garantir os seus direitos. Sua amizade com Charlotte também é muito bacana, porque ela consegue conscientizar a rainha da importância que ela tem ao servir de exemplo para a corte e para a sociedade como a primeira mulher negra em sua posição. Adorei acompanhar sua evolução e sua história de origem e terminei a série admirando-a ainda mais como personagem.

Além de tudo, é claro que Rainha Charlotte mantém o mesmo nível de excelência de Bridgerton no que diz respeito à trilha sonora e belos figurinos. Há também representatividade LGBTQIA+ por meio de Brimsley, o leal braço direito de Charlotte, e Reynolds, também leal valete de George. Em relação às cenas de sexo, achei menos calientes quando comparadas às da série original. Quem assistiu, o que achou? 👀

Em resumo, quebrando várias das minhas expectativas, Rainha Charlotte: Uma História Bridgerton me surpreendeu demais, de uma forma totalmente positiva. Eu esperava uma coisa e encontrei outra, muito mais profunda, bem trabalhada e complexa. Amei isso! A série trata de saúde mental, de mudanças sociais, de racismo, de um amor que é construído com o tempo e que também perdura com o tempo. É uma história sobre aceitar quem amamos em todas as suas facetas, mesmo aquelas que a própria pessoa não aceita e das quais ela quer fugir. É uma história inspiradora e muito bonita, que me emocionou muito mais do que pensei que poderia quando dei um “play” tão despretensioso. Se tornou minha temporada favorita no universo Bridgerton! ❤ Recomendadíssima!

Título original: Queen Charlotte: A Bridgerton Story
Ano de lançamento: 2023
Direção: Tom Verica
Elenco: India Amarteifio, Corey Mylchreest, Arsema Thomas, Golda Rosheuvel, Adjoa Andoh, Michelle Fairley, Ruth Gemmell, Sam Clemmett, Freddie Dennis, Hugh Sachs

Daisy Jones and The Six: erros e acertos

Oi pessoal, tudo bem?

Não é segredo pra ninguém que tenha lido minha resenha de Daisy Jones & The Six ou visto meus posts no Instagram que eu não gostei do livro por diversas razões, mas que tinha expectativas de que gostaria mais da série. Novamente fui gongada pela vida e tive mais uma sessão intensa de “passando raiva graças a Daisy Jones e Billy Dunne”, dessa vez ao longo de 10 longos episódios. Brincadeiras à parte, a série realmente funcionou mais do que o livro pra mim, me mantendo mais interessada e “consertando” alguns problemas que me incomodaram nas páginas. Por outro lado, ela também me decepcionou bastante em relação a certos plots e personagens importantes do livro ao adaptá-los de forma bem problemática. 🥲

Então, pra tentar ser justa no meu balanço final a respeito da adaptação – e pra não escrever uma resenha repetitiva, já que falei sobre o livro há pouco tempo –, resolvi fazer um post semelhante ao que escrevi sobre a segunda temporada de Stranger Things, trazendo pra vocês quais foram (na minha opinião) os erros e acertos de Daisy Jones & The Six! Por motivos óbvios, esse post tem spoilers sobre a série.

Erros

Higienização e romantização da personagem de Daisy: uma das primeiras coisas que ficam claras para o leitor no livro é que, desde a adolescência, Daisy faz uso intenso de drogas e álcool. Negligenciada (e indesejada) pelos pais, ela se torna uma groupie aos 14 anos e começa a frequentar bares e pubs, saindo com caras mais velhos e entrando em contato com o rock n’ roll, mas também com o abuso de substâncias. Quando ela passa a fazer parte dos Six, seu vício é uma parte fortíssima de quem ela é, tanto que ela nem sabe quantas pílulas toma por dia ou quais drogas mistura. Na série, porém, até o terceiro episódio isso mal é mencionado. Daisy parece uma jovem inspirada que só quer poder fazer a sua música em paz enquanto mal e mal fuma um baseado. Além disso, todo o lado negativo da sua personalidade demora muito a ser mostrado: no livro, Daisy é egoísta, irresponsável e não liga se suas ações vão afetar os outros negativamente. A sensação que tive enquanto assistia à série é de que criaram uma versão “palatável” de Daisy, para que o espectador pudesse gostar e torcer por ela.

Falta de magnetismo em Billy e Daisy individualmente: enquanto eu lia Daisy Jones & The Six, a dupla de protagonistas era sempre descrita como pessoas das quais você não conseguia desviar o olhar. O magnetismo que ambos exerciam era – depois da química e do talento musical – um dos grandes motivos pelos quais a parceria dava tão certo. Todo mundo queria ver Daisy e Billy de perto, e eles eram verdadeiros ícones do rock. Na série, contudo… Daisy começa bem sem sal pro meu gosto, mas com o passar dos episódios vai se destacando e ganhando a personalidade marcante que eu tanto queria ver. Já o Billy, coitado, não poderia ser mais sem graça. A adaptação foca totalmente no seu sofrimento como alguém que luta contra o vício em drogas e álcool, o que mostra a competência dramática da atuação de Sam Claffin, mas deixa todo o brilho do “showman” Billy Dunne de lado, o que é uma pena.

“Consumação” da atração de Billy e Daisy: eu odeio triângulos amorosos, e se envolvem traição meu ranço fica ainda pior. No caso do livro, pelo menos, Taylor Jenkins Reid opta por contar uma história nunca concretizada, o que torna essa história cheia de reminiscências ainda mais melancólica, já que gira em torno de muitos “e se?”. Na série, porém, fizeram a burrada de incluir no roteiro (mais de uma vez!) cenas em que Billy beija Daisy, desrespeitando seu casamento com Camila da pior forma e toda sua própria construção de personagem feita no livro. O que me leva ao próximo e, provavelmente, pior erro da adaptação.

O desrespeito à personagem de Camila e ao amor de Billy por ela: que Billy eventualmente se apaixona por Daisy é evidente, especialmente durante o processo de composição do álbum Aurora. Porém, ao longo das páginas, ele deixa claro de diversas formas o quanto amou Camila e o quanto ela sempre foi sua prioridade. Não porque ela era sua esposa, não porque era mãe de suas filhas, não por seu senso de dever: pelo que ela representava pra ele e porque ele a amava. Em determinado momento, Billy diz que se Daisy era fogo, Camila era sua água, e era disso que ele precisava. Em suas entrevistas ele deixa claro o quanto faria de tudo pra ter mais momentos com ela e o quanto ela representou em sua vida. A série falhou durante todo esse processo, especialmente ao colocar falas que indicavam que ele só não ficava com Daisy porque tinha uma família, ou seja, como se o amor por Camila já nem existisse mais. Isso é um desrespeito tremendo por aquela relação e pela personagem que foi a cola do casamento e da banda como um todo. Até tentaram se redimir nas cenas finais, quando Billy conversa com a filha, mas sinceramente? Já não adiantava mais. Pra quem só viu a série, acho difícil compreender a magnitude do sentimento entre ele e a Camila. E eu, como fã dessa personagem, acho um verdadeiro desperdício. 🙁

Acertos

Trilha sonora: apesar de inicialmente eu ter ficado meio de nariz torcido por terem trocado as letras originais das músicas, tenho que elogiar o empenho da série em fazer uma trilha sonora tão realista e um trabalho de divulgação tão bem feito pra tornar Daisy Jones & The Six e o álbum Aurora reais. Mesmo que não seja meu estilo de música especificamente (achei que ficou um pouco country rock demais pra mim), a produção caprichou e o resultado é excelente e imersivo.

Figurinos e ambientação: assistir Daisy Jones & The Six é mergulhar na época em que a série se passa. A paisagem, os figurinos, os cenários, cada detalhe é pensado com cuidado e transporta o espectador para as décadas de 60 e 70. É engraçado sentir nostalgia por uma época em que você não estava vivo, mas é uma sensação parecida com essa que a série te faz sentir. Dá vontade de estar naqueles estádios lotados, assistir a banda se apresentar ao vivo e sentir aquela energia também.

Camila como sexto membro dos Six: quando anunciaram que Pete Loving, o sexto membro da banda, não faria parte da série, os fãs no Twitter começaram a especular que a Camila poderia ser o sexto membro da banda – inclusive pelo destaque dado a ela nas fotos em grupo. Bingo! Eu adorei essa mudança e acho que fez todo sentido, especialmente pelo papel que ela tem em manter todos unidos e até pelo próprio papel de esposa do Billy, que sempre o apoiou na carreira musical. Além do mais, a série traz mais foco pra Camila como pessoa, o que é um grande acerto: ela ganha uma profissão (fotógrafa, e muito talentosa), e alguns dilemas próprios bem interessantes.

Mudanças no personagem de Eddie: no livro, Eddie é um cara recalcado (com boas razões) que passa a entrevista inteira reclamando do ego gigantesco do Billy (e tá errado?). Na série, provavelmente pra torná-lo menos insuportável, os roteiristas dão mais razões pra ele ser amargo como é. Primeiro, ele é tirado do seu posto inicial como guitarrista contra sua vontade, sendo colocado no baixo; depois, quando assume os vocais na ausência de Billy, também é retirado da sua posição sem muita consideração; e por fim, a mudança mais interessante diz respeito a seus sentimentos por Camila. Adorei esse plot e achei que essa (e as outras) mudança ajudou muito a dar profundidade a um personagem que, no livro, era raso e só sabia reclamar por despeito.

Foco na cena LGBTQIA+ negra de Nova York: Simone, a melhor amiga de Daisy, é uma personagem que não tem tanto espaço no livro, ainda que seja super importante para a protagonista. Na série, ela ganha um episódio com bastante foco na sua vida em Nova York, onde ela conhece uma DJ que a ajuda a ascender na carreira cantando em boates. As duas iniciam um relacionamento amoroso e constroem uma relação muito bonita, e eu adorei ver esse espaço na trama destinada à cena queer e negra da época.

Acho que os principais tópicos que eu gostaria de abordar são esses, pessoal.
E vocês, já assistiram Daisy Jones & The Six? Curtiram?
Vou adorar saber nos comentários! 😀 

Dica de Série: Ruptura

Oi pessoal, tudo bem?

Hoje a dica é de uma das séries mais interessantes a que assisti nos últimos tempos, e olha que isso não é pouca coisa, hein? Hoje o nosso papo é sobre Ruptura.

Sinopse: Mark lidera uma equipe de funcionários cujas memórias foram cirurgicamente divididas entre vida profissional e pessoal. Um misterioso colega aparece fora do ambiente trabalho, e ele começa uma jornada para descobrir a verdade sobre seu emprego.

Imagine uma realidade em que você pudesse separar sua vida pessoal da profissional. Mas não estou dizendo isso de forma metafórica, daquele jeito saudável que a gente tenta fazer quando busca equilíbrio entre os nossos compromissos. Estou falando de um modo brutalmente literal: nessa realidade, você poderia fazer uma intervenção no seu cérebro que “apagaria” a sua versão de “fora do trabalho” (ou “Outie”) no momento em que você chegasse ao escritório, assim como apagaria sua versão “do escritório” (ou “Innie”) quando você saísse dele. Durante o expediente, você não lembraria nada sobre quem você é lá fora: seus gostos, sua família, seus hobbies, seus amores; fora do expediente, você não saberia se seu trabalho é meramente burocrático ou se, digamos, envolve escravizar ou matar pessoas, por exemplo. Esse é o grande dilema moral de Ruptura, que gira em torno desse procedimento médico que dá nome à série e é realizado pelo protagonista – Mark S. – após perder a esposa em um acidente, sendo consumido pelo luto. Como cerca de 8h ou 9h do seu dia são dedicadas ao trabalho, lhe parece uma boa troca não ter que lembrar que essa dor existe durante esse período. Porém, quando ele é abordado por um homem que alega ser seu ex-colega de departamento, Mark começa a apresentar sintomas estranhos e a nutrir dúvidas desse sistema.

Ruptura é o tipo de série que vem e faz você sentir o impacto. A fotografia é pálida, a abertura é profundamente angustiante e o tom da história faz você se sentir tão preso quanto os personagens. A ambientação por si só é um personagem também: Mark e sua equipe trabalham em um escritório que mais parece um labirinto, todo sem janelas e com fortes luzes brancas, causando neles uma sensação de que o tempo não passa. Considerando que os Innies realmente não sentem o tempo passar (afinal, no momento em que eles saem do escritório, sua consciência é desligada e só é religada ao retornarem), é como se eles vivessem aprisionados dentro das paredes da Lumon, a empresa por trás do procedimento da ruptura.

A saúde mental no ambiente de trabalho é um dos tópicos mais latentes de Ruptura, e fica evidente na personagem Helly. Ela é a novata da equipe e tem grande dificuldade de se ajustar, tentando se demitir a todo custo. Acontece que, ao entrar na Lumon e fazer a ruptura, sua versão Outie grava um vídeo contando pra você que foi realmente você quem decidiu por aquilo, e que é de fato a melhor escolha, numa tentativa de fazer a versão Innie se tranquilizar e aproveitar o trabalho. Contudo, isso não funciona com Helly, que tenta diariamente burlar o sistema para fugir do prédio e conseguir ter suas memórias de volta no ambiente exterior, de modo que possa “avisar a si mesma” lá fora que a Lumon é uma cilada. O plot de Helly vem acompanhado de alguns gatilhos, inclusive suicídio, então fica o aviso caso você seja uma pessoa sensível a esse tópico. Mas por meio dela vemos como é o desespero de alguém que deseja se libertar de uma rotina esmagadora e claustrofóbica e não consegue, enquanto seus pares ao redor parecem ter se conformado a ponto de fazer parte da engrenagem. Essa problematização perdura ao longo de toda temporada, até que pequenos sinais de rebeldia vão acontecendo e o status quo vai sendo alterado.

É muito bacana ver a transformação da equipe de Mark ao longo da temporada. Os já mencionados Mark e Helly têm grande foco porque o primeiro é o principal protagonista e a segunda é justamente quem mexe com a “paz” do setor, mas temos também Irving e Dylan, os outros dois membros da equipe que são fundamentais pra que movimentos significativos aconteçam ao longo dos episódios. Acho que a grande questão aqui é que essa equipe representa a rebeldia, a curiosidade e a liberdade do espírito humano: por mais que tentem cercear as pessoas, limar suas possibilidades e controlar os seus passos, a busca por ir além sempre está ali, no fundo do coração, por fazer parte da nossa natureza. A curiosidade de saber o que está acontecendo, de ir mais a fundo, de se ver livre da opressão, principalmente depois que você “quebra o vidro” da ilusão que tentam criar (ilusão essa que a Lumon faz na mesma medida em que utiliza de coerção física e psicológica pra colocar as pessoas “nos trilhos”).

Ruptura é uma série de desenvolvimento lento, com cenas mais pacatas, que focam nos diálogos e no aprofundamento psicológico dos personagens e das suas relações, mas nem por isso ela é uma série entediante ou cansativa. Pelo contrário, a sensação que os episódios causam é de querer ver mais para descobrir mais informações, e também angústia, tanto no ambiente externo (enquanto a versão Outie de Mark tenta investigar as pistas que seu ex-colega de departamento deixou) mas, principalmente, no ambiente interno (devido a opressão do escritório). Ainda que a série crie um ambiente inóspito de forma proposital e, quem sabe, levemente exacerbada, não podemos dizer que é irreal; muitos lugares pelo mundo oferecem condições de trabalho iguais ou piores para seus funcionários, influenciando diretamente na sua sensação de bem-estar e saúde psicológica. Passando ou não pelo procedimento médico, Ruptura nos faz confrontar o equilíbrio entre vida e trabalho de uma forma bastante dura, e como eu disse antes: você sente o impacto. 👀 Vale a pena conferir!

Título original: Severance
Ano de lançamento: 2022
Direção: Dan Erickson
Elenco: Adam Scott, Britt Lower, Zach Cherry, John Turturro, Tramell Tillman, Jen Tullock, Dichen Lachman, Christopher Walken, Patricia Arquette

Dica de Série: Ted Lasso

Oi gente, tudo bem?

Nem só de decepções minhas últimas semanas têm sido (quem leu os dois posts anteriores vai entender 😂). Hoje eu quero dividir com vocês uma dica que simplesmente ganhou meu coração todinho, me arrancando sorrisos, lágrimas e esperança: Ted Lasso, uma série que já ganhou vários prêmios e é super elogiada. ❤

Sinopse: Jason Sudeikis é Ted Lasso, treinador de um pequeno time de futebol americano de faculdade da cidade de Kansas contratado para ser o técnico de um time de futebol profissional na Inglaterra, apesar da falta de experiência.

Quem diria que eu, que sou zero apegada a esportes, teria meu coração arrebatado por uma série que fala sobre isso? Na trama, Ted Lasso é um treinador de futebol americano que é contratado, junto de seu treinador técnico – Beard –, para treinar um time de futebol inglês (ou seja, nosso futebol tradicional). Ted nada entende do assunto, mas topa o desafio mesmo assim, e é recebido em Londres com muita animosidade, já que o esporte é forte na cultura do país e o time para qual Ted é contratado – AFC Richmond – tem uma legião leal de fãs. Com o tempo, Ted precisa construir relações fortes no time, ao mesmo tempo que passa por desafios na sua vida pessoal.

Como descrever Ted Lasso? Bom, começo dizendo que ele é o tipo de amigo que todo mundo deveria ter na vida. Ele é quase irreal de tão perfeito? Sim, mas isso não vem ao caso. 😂 Ted é alguém que te cativa à primeira vista. Ele tem um nível de empatia enorme, um coração que mal cabe no peito e uma crença ferrenha no potencial de cada uma das pessoas com quem trabalha. Um exemplo dos seus gestos de carinho tão naturais é o ritual que ele constrói com Rebecca, sua chefe: toda segunda-feira ele vai até o escritório dela com biscoitos pelos quais ela se apaixona, e esse dia da semana ganha um caráter especial graças a esse pequeno momento.

Rebecca é uma personagem que, à primeira vista, pode incomodar. Ela contratou Ted sabendo que ele tinha zero experiência com futebol porque seu intuito verdadeiro era afundar o Richmond. Essa atitude é um desejo de vingança contra o ex-marido, que a traiu e a trocou por mulheres mais jovens, mas que tinha no clube de futebol sua maior paixão. Como Rebecca ficou com Richmond após a separação, ela quer feri-lo levando o time para o buraco. Isso é super mesquinho, né? É claro. Mas juro pra vocês, a série consegue humanizar Rebecca de uma forma muito natural. A gente sente a dor do abandono, o medo de ficar sozinha e a humilhação e o escárnio públicos que ela enfrenta. Porém, quanto mais convive com Ted, mais ela vai sendo contagiada por seu otimismo e a amizade que os dois constroem pouco a pouco se torna uma das melhores coisas da produção.

Os personagens são definitivamente o ponto alto de Ted Lasso. Adoro a alegria contagiante de Keeley (e sua amizade com Rebecca), os palavrões do craque veterano Roy Kent, o caminho de redenção do petulante Jamie Tartt, o jeitão taciturno (mas leal ao Ted) de Beard, entre outros personagens que roubam a cena quando estão na tela. Até os vilões conseguem causar uma profunda comoção na gente. Por mais que Ted Lasso seja uma série sobre um time de futebol, ela é muito mais sobre as relações humanas, o poder dos laços e, é claro, sobre liderança.

Me senti inspirada pelo jeito de liderar de Ted. Ele é muito mais atento do que as pessoas ao seu redor imaginam, prestando atenção em pequenos detalhes que podem fazer a diferença na motivação de alguém. Ele se preocupa genuinamente com as pessoas que ele lidera, fazendo tudo que está ao seu alcance pra que elas acreditem em si mesmas tanto quanto ele acredita nelas. Ted Lasso foi uma série que mexeu comigo até em questões profissionais, no sentido de admirar profundamente o modo que o personagem lida com o dia a dia e querer ser cada vez mais parecida com ele. ❤

Ted Lasso é tudo e mais um pouco. Ela é bom humor, ela é emoção, ela é amadurecimento, ela é sensível (fala inclusive sobre saúde mental), ela é emoção (com os jogos de futebol) e ela é inspiração. Se você nunca quis dar uma chance por não se identificar com o mundo esportivo, juro que te entendo porque eu também não me identifico. Mas meu conselho é: abra seu coração e conheça essa série e esse personagem – ou melhor, essa gama de personagens – que vão te deixar com um sorriso no rosto.

Título original: Ted Lasso
Ano de lançamento: 2020
Direção: Jason Sudeikis, Bill Lawrence, Joe Kelly
Elenco: Jason Sudeikis, Brendan Hunt, Hannah Waddingham, Nick Mohammed, Brett Goldstein, Juno Temple, Phil Dunster, Jeremy Swift, Toheeb Jimoh