Oi gente, tudo bem?
O ano tá acabando, mas ainda dá tempo de assistir uma série legal, hein? Ou, mais especificamente, um dorama hihi. ❤ Hoje vim indicar pra vocês um que entrou pra lista de favoritos, Tudo Bem Não Ser Normal.
Sinopse: Um caminho para a cura emocional se abre para uma escritora de livros infantis e para um cuidador de sala de psiquiátrica quando seus caminhos se cruzam.
Ko Mun-young é uma autora de livros infantis de renome, mas sua personalidade agressiva e antissocial faz dela uma pessoa super difícil de lidar (basicamente, só o dono da editora que a publica consegue essa façanha). Quando ela encontra o cuidador Moon Gang-tae em uma sessão de autógrafos de um de seus livros em uma situação inesperada – ele a impede de agredir um paciente psiquiátrico perigoso com uma faca -, o mundo dos dois colide e nunca mais volta ao normal. Gang-tae tem seus motivos para querer se manter longe dela: seu fardo já é muito pesado por cuidar sozinho do irmão mais velho, Moon Sang-tae, um rapaz que se encontra no Transtorno do Espectro Autista. Lidar com os rompantes de humor de uma autora temperamental definitivamente não está em seus planos. Além disso, os irmãos guardam seus próprios traumas em segredo, e essa solidão esmagadora faz com que Gang-tae se isole do mundo. Porém, Ko Mun-young é uma mulher teimosa e obstinada (pra não dizer mimada rs) e não está disposta a desistir do seu objetivo.
Preciso começar esse review com sinceridade: de início, achei muito difícil de torcer pelo casal principal e me envolver com a proposta de romance que o dorama sugeria. O motivo? A Ko Mun-young começa a série sendo extremamente tóxica. Ela é uma stalker obcecada, possessiva e manipuladora, e se as ações dela fossem cometidas por um homem, qualquer pessoa sensata ligaria pra polícia. Essa sensação me incomodou muito e me afastou demais da personagem, que tem uma personalidade difícil e fria, demorando muito a se expor e a demonstrar qualquer outra faceta que não a de uma mulher que olha apenas para seus próprios interesses. Contudo, doramas tendem a ser longos, e isso dá margem pra que os personagens ganhem desenvolvimento – o que ocorre aqui. Com o passar dos longos episódios, a protagonista vai tendo outros aspectos de si apresentados ao espectador. Ko Mun-young é fruto de uma família desequilibrada e tóxica, criada por uma mãe narcisista que deixou profundas marcas nela. Sua forma de lidar com as outras pessoas revela uma fragilidade imensa e um medo paralisante de perder as pessoas que a cercam. Seus traumas são profundos e ela nem consegue reconhecê-los, de tão grossa que é a casca que ela precisou criar para sobreviver. A proximidade com os irmãos Moon, aos poucos, vai criando rachaduras nessa casca, e o que mais gostei foi ver a transformação que ela passa não somente por se abrir para o amor verdadeiro com Gang-tae, mas pelo senso de família e de fraternidade que Sang-tae também oferece.
Contudo, apesar de ser uma história de amor, o grande destaque de Tudo Bem Não Ser Normal pra mim é a relação entre os irmãos Moon. O Transtorno do Espectro Autista é trabalhado com muita sensibilidade na figura de Sang-tae, mas o dorama também explora as dificuldades que Gang-tae enfrenta por ter que cuidar do irmão neurodivergente. Ele é um rapaz que precisou amadurecer muito cedo e abraçar responsabilidades que não eram condizentes com a sua idade, e como consequência ele não se permite viver experiências que sejam prazerosas ou focadas em si mesmo. Seu senso de abnegação é tão grande que é quase um atentado à sua própria autopreservação. Em contrapartida, Sang-tae não é retratado como uma pessoa neurodivergente perfeita e angelical, colocada em um pedestal de pureza apenas por enfrentar desafios. O personagem tem virtudes e defeitos, que são explorados ao longo do dorama, e tem uma construção maravilhosa em torno de seus próprios desejos, medos e desafios. É emocionante e intenso ver como a trama gira em torno da relação entre os irmãos, com suas dores e delícias, revelando como eles fariam de tudo um pelo outro ao mesmo tempo em que também são aqueles que mais podem se magoar.
O pano de fundo da história é o hospital psiquiátrico no qual Gang-tae trabalha, então existem muitos pacientes lá cujas histórias são contadas. Isso traz muita emoção ao dorama, além de carisma e também apego emocional para quem está assistindo. Você se afeiçoa aos personagens secundários e torce pra que eles encontrem a cura de seus traumas, para que eles consigam lidar com seus fantasmas ou apenas consigam encontrar uma forma de conviver com sua forma de existir no mundo. Para além dos dramas dos personagens, o dorama também carrega um tom de mistério muito envolvente: o passado de Ko Mun-young é repleto de pontas soltas, e existe um aspecto sombrio na história que é muito bem trabalhado. Foi o primeiro dorama que assisti com um típico vilão e foi muito interessante ver esse papel se desdobrando e movendo as peças do jogo.
Recomendo Tudo Bem Não Ser Normal pra todo mundo que busca uma série que emociona, com a construção de relações fortes entre os personagens e que aprofunde seus dramas com competência. Poucas séries que vi recentemente me emocionaram tanto quanto essa, e muito disso vem da entrega do elenco principal em cada cena que exigia a demonstração da dor e da intensidade dos sentimentos de cada personagem. A cada episódio eu torcia pra que o processo de cura deles evoluísse mais um passo, e a cada episódio eu percebia como os laços que eles firmavam uns com os outros era fundamental pra fechar as feridas e formar as cicatrizes necessárias. É um dorama inspirador, visualmente impecável e com lições incríveis sobre como somos muito mais do que nossos traumas. Vale a pena dar uma chance! ❤
Título original: It’s Okay to Not Be Okay
Ano de lançamento: 2020
Direção: Park Shin Woo
Elenco: Kim Soo-hyun, Seo Ye-Ji, Oh Jung-se, Park Gyuyoung, Kim Joo-hun, Park Jin-joo, Kang Ki-doong, Jang Young-Nam