Review: Anatomia de Uma Queda

Oi gente, tudo bem?

Esse ano, vários dos candidatos do Oscar despertaram a minha curiosidade, e é claro que um filme que traz um mistério envolvendo um crime ao mesmo tempo que aborda um drama familiar chamaria minha atenção. Estou falando de Anatomia de Uma Queda, que levou a estatueta de Melhor Roteiro Original e gerou debates acalorados aqui em casa depois que terminamos de assistir. 😂

Sinopse: Uma mulher é suspeita de ter assassinado o marido, e o seu filho cego enfrenta um dilema moral como única testemunha.

O filme permeia alguns cenários que também dão o tom da narrativa: há o contexto familiar da protagonista, há o imaginário sobre seu casamento e há o julgamento propriamente dito. Dependendo do momento em que o filme se foca, a condução é mais lenta e dramática ou mais intensa e aflitiva, levando o espectador a uma montanha-russa de emoções. Mesmo girando em torno de um plot relativamente simples (Sandra Voyter empurrou ou não seu marido para a morte?), a condução do filme te mantém preso e em momento algum entedia ou faz sentir que está se arrastando por mais tempo do que deveria.

Acho que grande parte do mérito de Anatomia de Uma Queda funcionar tão bem é o fato de que Sandra não é uma personagem linear e fácil de compreender. As primeiras cenas do filme mostram uma dinâmica entre ela e seu marido, Samuel, que é facilmente interpretada como uma panela de pressão. Mesmo que a gente nunca veja Samuel vivo pelas lentes da diretora, somente pela ótica do julgamento e pelos relatos que nele aparecem, a primeira cena do filme já estabelece uma tensão entre os dois que prepara o terreno pra toda a dúvida que vai permear as circunstâncias da morte dele. Se inicialmente o espectador pode achar Samuel um babaca pelo que faz com Sandra, ao longo do julgamento o promotor também vai expondo as facetas menos admiráveis da protagonista – e não são poucas. Considero isso positivo pra construção de camadas não só dos personagens, mas como da própria história. O filme toca muito no questionamento acerca do quanto conseguimos avaliar a relação das pessoas com base em pequenos fragmentos observados de fora, e os argumentos de Sandra sobre isso são muito relevantes, já que é bastante fácil distorcer uma vida juntos com base em discussões ou situações vistas de forma isolada (indepentendemente de qualquer debate sobre inocência ou culpa).

As atuações também são impecáveis. Sandra Hüller impressiona tanto ao imprimir frieza em momentos inesperados, fazendo com que as suspeitas sobre ela cresçam, mas também em seus momentos de mental breakdown ao se ver sozinha, afastada do filho, tendo sua credibilidade posta em xeque. Quando ela chora no carro ao lado do advogado, é difícil não sentir empatia. Porém, é inegável que a cena mais marcante é seu monólogo com o marido, quando ele a acusa de plagiar seu trabalho e de não evoluir na carreira por culpa dela, e ela devolve com uma resposta mordaz que faz o espectador ficar vidrado em cada palavra. Milo Machado Graner também é impecável no papel de Daniel, o filho de Sandra e peça-chave em todo o julgamento, considerando que foi ele que encontrou o corpo do pai. Tanto nas cenas de maior emoção quanto ao expressar as dúvidas do menino sobre o que fazer (em termos de dilemas morais), o ator convence. E Swann Arlaud e Samuel Theis (o advogado e o marido de Sandra, respectivamente) também entregam atuações marcantes, o primeiro claramente apaixonado desde sempre por aquela que foi sua amiga no passado e o segundo sendo um marido numa relação complexa e cheia de ressentimentos.

Anatomia de Uma Queda é um filme que não se propõe a explicar as coisas de forma fechadinha e transparente, então não assista esperando uma trama investigativa ou de júri com esse intuito. É um filme que utiliza de uma morte (uma tragédia? Um assassinato?) pra abordar a complexidade das relações humanas e das falhas e fortalezas individuais dos envolvidos nelas. Gostei de cada minuto e recomendo sem pensar duas vezes!

Título original: Anatomie d’une chute
Ano de lançamento: 2023
Direção: Justine Triet
Elenco: Sandra Hüller, Swann Arlaud, Milo Machado-Graner, Antoine Reinartz, Samuel Theis, Jehnny Beth

Review: Duna – Parte 2

Oi meu povo, tudo bem?

Cheguei com o review da continuação do épico de ficção científica, Duna – Parte 2. Como comentei na resenha do primeiro longa, ele termina deixando um gostinho de quero mais e uma vontade louca de correr pro cinema, e foi o que fiz. Vamos saber se valeu a pena? Essa resenha obviamente contém spoilers do primeiro filme.

Sinopse: Diante da difícil escolha entre o amor de sua vida e o destino do universo conhecido, Paul Atreides, agora ao lado de Chani e dos Fremen, dará tudo de si para evitar o futuro terrível que só ele pode prever.

Duna – Parte 2 inicia exatamente onde seu antecessor termina. Após serem aceitos pelo grupo de Stilgar, o líder dos Fremen, Paul e Lady Jessica são conduzidos por eles para seu lar. Eles demoram para serem aceitos pelos outros nativos de Arrakis, mas aos poucos passam a fazer parte daquela comunidade, especialmente devido a manobras políticas e – principalmente – religiosas fundamentais que ocorrem com ambos: Lady Jessica é transformada na nova Reverenda Madre dos Fremen depois de passar por um ritual de quase morte, e Paul Atreides é visto por Stilgar como Mahdi, o messias prometido que vai salvar Arrakis da opressão e transformar o planeta no oásis das profecias. Essas movimentações políticas são fundamentais nos planos de vingança de Paul e Lady Jessica contra os Harkonnen, responsáveis por dizimar toda a Casa Atreides no filme anterior. Contudo, Paul também vive um conflito interno em assumir o papel de Mahdi, considerando que suas visões do futuro mostram uma guerra religiosa desoladora, que mostram bilhões de pessoas morrendo em seu nome.

Duna 2 tem muito mais ação do que a primeira parte, então o problema de deixar o espectador sonolento não existe aqui. Paul e os Fremen se mantêm em movimento o tempo todo pra boicotar os Harkonnen e também para treinar Paul como membro daquela sociedade (ele aprende, por exemplo, a usar os vermes do deserto como transporte!). Para além disso, o longa apresenta novos personagens e trabalha diversas maquinações políticas e religiosas cujos desdobramentos se tornam cada vez maiores. Lady Jessica como a nova Reverenda Madre é uma das principais peças do tabuleiro: ela quer a todo custo que Paul se torne o messias prometido e guie a todos rumo à guerra. Como membro das Bene Gesserit e responsável por gerar o futuro líder da humanidade, o Kwisatz Haderach, ela deseja que Paul assuma essa responsabilidade e está disposta a manipular o que for necessário para tal. Stilgar divide a mesma crença que ela, mas pelo viés da religião dos Fremen, vendo Paul como o Mahdi (o guia) de seu povo. Sinceramente? É revoltante de assistir. Não importa o quanto as coisas possam soar forçadas, o quanto Lady Jessica mexa seus pauzinhos, o quanto Stilgar veja sinais até na RESPIRAÇÃO de Paul, simplesmente a religião é usada como resposta para tudo por ambos. A força da crença toma conta de tudo e determina o futuro de todo um povo, independentemente dos desejos de quem não divide das mesmas opiniões e credos. Mesmo sendo um sci-fi baseado num livro dos anos 60, Duna 2 mostra a religião sendo usada como massa de manobra de forma muito parecida com o que ainda vemos no presente.

Um plot que eu achei mal aproveitado é o de um dos vilões que aparecia nos pôsteres, Feyd-Rautha. Ele é um dos sobrinhos do Barão Harkonnen e irmão mais novo de Rabban, os dois principais vilões do filme anterior. Feyd-Rautha é mostrado como um exímio lutador e um verdadeiro sociopata, tentando fazer com que o espectador sinta algum tipo de medo dele ou tema por seus adversários. Eu achei que o tempo de tela dele foi minúsculo e esquecível, sendo bem sincera. O mesmo ocorre com Irulan, a Princesa e filha do Imperador, membro das Bene Gesserit que passa o filme inteiro apenas narrando as coisas e tendo pouquíssima influência real no que acontece na história.

O destaque positivo em termos de personagem fica pra Chani, o grande romance de Paul, que é carismática e tem opiniões bem definidas sobre suas crenças, e mesmo assim consegue abrir espaço pra Paul em sua comunidade e em seu coração – ainda que outras pessoas debochem dele quando ele se junta aos Fremen. O relacionamento dos dois é muito bonito e o final do filme angustia pelo rumo que as coisas tomam. Acredito que, sem a Chani, o próprio Paul não seria tão marcante. E já que mencionei o protagonista, confesso que gostaria de saber mais sobre os rumos de sua mente pra que suas decisões tenham sido tomadas no terceiro ato. Acredito que o veneno do verme do deserto tenha sido a peça-chave, mas o filme não deixou 100% claro. Quem já assistiu tem alguma opinião sobre isso?

Duna – Parte 2 foi uma ótima continuação com um final controverso, que te surpreende e te incomoda. Novamente, faz com que o espectador queira logo assistir a próxima parte pra saber quais serão os desdobramentos de tais decisões. É um filme que gira em torno do poder destrutivo do fundamentalismo religioso e expõe como muitas vezes as crenças das pessoas são usadas para benefícios próprios. O que vai acontecer com Paul Atreides e com a galáxia como um todo? Estou curiosa e animada pra descobrir. Espero que um terceiro filme venha logo por aí. Se você curte sci-fi com uma pegada de crítica política e religiosa bem forte, vale a pena dar uma chance a essa franquia – mesmo correndo o risco de ter que assistir o primeiro filme em partes pra não sentir soninho rs. Recomendo!

Título original: Dune: Part Two
Ano de lançamento: 2024
Direção: Denis Villeneuve
Elenco: Timothée Chalamet, Zendaya, Rebecca Ferguson, Javier Bardem, Josh Brolin, Austin Butler, Florence Pugh, Dave Bautista, Christopher Walken, Stellan Skarsgård

Review: Chainsaw Man

Oi pessoal, tudo bem?

Um dos animes mais hypados do mainstream recentemente é Chainsaw Man, que estreou em 2022 e virou queridinho dos otakus (já expliquei sobre o termo aqui, mas relembrando, aqui no Brasil é a conotação está mais fortemente relacionada a fãs de animes e mangás). Demorei pra assistir, mas hoje venho compartilhar minhas impressões com vocês.

Sinopse: Denji é um adolescente que mora com Pochita, o Demônio da Motosserra. Por conta das dívidas que herdou de seu pai, ele vive na miséria, exterminando outros demônios com Pochita para pagar as contas. Até que, um dia, Denji é traído e morre. Em seus últimos momentos de consciência, ele firma um contrato com Pochita e renasce como o Homem-Motosserra – um humano com coração de demônio.

No universo de Chainsaw Man, os seres humanos convivem com a ameaça dos demônios, e existem órgãos públicos e empresas privadas responsáveis por matá-los. Nosso protagonista, Denji, curiosamente é melhor amigo de uma dessas criaturas, Pochita. Desde criança, Denji é tratado como um objeto sem valor pela Yakuza (ou como um cachorro, na analogia do anime), herdando de seu pai as dívidas que ele tinha com eles. Ao alimentar e cuidar de Pochita, um demônio com uma serra elétrica na cabeça que foi encontrado por Denji ferido e com fome, eles se tornaram inseparáveis, e Pochita passou a ajudar Denji nos serviços para a Yakuza. Entretanto, numa emboscada, Denji é traído e morto pelo grupo, e Pochita resolve se fundir a Denji, dando seu próprio coração ao amigo para que ele possa viver. É assim que Denji se torna um híbrido de humano e demônio, a criatura que dá nome ao anime, um homem-motosserra com potencial destrutivo ímpar. Ele entra na mira de Makima, líder de um esquadrão especial da Segurança Pública responsável por caçar demônios, e para se manter vivo, Denji tem como única alternativa trabalhar pra ela. É a partir daí que a ação realmente começa e figuras cada vez mais perigosas começam a se interessar por Denji.

O primeiro aviso que faço sobre Chainsaw Man é que ele é um anime adulto. Não no sentido de ter cenas de sexo explícitas nem nada do tipo, mas há sim cenas sensuais, personagens que exploram sua sexualidade pra conseguirem o que querem, assim como muitos palavrões e violência gore. Imaginem uma luta de motosserra: não tem como não haver sangue pra todo o lado, né? Então se esses elementos te incomodam, realmente, Chainsaw não vai ser a melhor opção pra você. Contudo, se você busca ver cenas de ação muito bem dirigidas e coreografadas, com lutas empolgantes e um protagonista insano, isso ele vai te entregar.

Em termos de trama, pelo menos no que tange a primeira temporada, Chainsaw Man não é extremamente inovador. Existe um demônio ameaçador que está interessado no Denji, um dos personagens principais (Aki, o meu favorito) deseja se vingar dele e o plot gira bastante em torno de descobrirem o paradeiro dessa ameaça. Mas pra além dessa narrativa, o que me mantém intrigada de verdade é saber mais sobre a Makima. A chefe de Denji é extremamente poderosa e usa da sua sexualidade pra manipular aqueles que a cercam, de modo a conseguir seus objetivos e subjugar as vontades dos homens que trabalham pra ela. Ela sabe quais os pontos fracos de cada um de seus subordinados e não hesita em atingi-los, enquanto veste uma máscara de inocência fingida. Eu a detesto e, ao mesmo tempo, quero saber mais sobre ela, quero ver essa máscara cair.

Denji, por sua vez, é um personagem simplório, o próprio reflexo da pirâmide de Maslow: o garoto nunca teve o mínimo de suas necessidades básicas atendidas, passando fome, sede, frio e carecendo de todos os cuidados físicos e emocionais possíveis. Desde o início, o protagonista deixa claro que é movido por instintos básicos, sendo os principais ter um teto sob o qual dormir e alimento quente para encher sua barriga. Posteriormente, seu desejo se transforma em algo sexual, já que a perda da virgindade pra ele é um objetivo a ser conquistado. Sei que pode parecer meio ridículo falando dessa forma, mas não deixa de ser realista quando pensamos num adolescente de 16-17 anos cheio de hormônios que nunca ganhou uma pitada de afeto (à exceção de Pochita). Quando você olha pra necessidades tão básicas movendo uma pessoa, é meio difícil não achar graça e até empatizar um pouco com ela.

Contudo, já que sempre sou honesta com vocês, não posso dizer que realmente fui cativada por Chainsaw Man. Assisti ao anime de forma meio automática, entretida pelas cenas de ação mas com pouco interesse genuíno pelo desenrolar da trama. Meu episódio favorito girou em torno de uma missão em que um grupo de personagens ficou preso em um hotel no qual um demônio os prendeu sem que o tempo passasse, numa espécie de loop infinito. Esse episódio é excelente pra trabalhar a decadência psicológica dos personagens e as diferentes formas como o ser humano reage a situações extremas de estresse. Se tem um ponto alto no anime, eu considero que é esse.

Chainsaw Man é um anime com um roteiro linear e personagens que já vimos por aí. A dinâmica de uma garota explosiva como a demônio Power e o cara quietão como o Aki junto de um protagonista mais efusivo como Denji foi vista em Naruto, em Jujutsu Kaisen e em vários outros animes. Considero que é um passatempo pra quem quer ver excelentes cenas de ação com uma pegada mais gore, mas não recomendo como uma grande obra inovadora nem com o hype que toma conta da internet por aí. Contudo, fica a dica: assistam todas as endings! O estúdio responsável fez algo MUITO foda nesse sentido, investindo em uma música diferente para cada episódio, produzindo praticamente um álbum pra temporada. Vale conferir. 😉

Título original: Chensō Man
Ano de lançamento: 2022
Direção: Ryû Nakayama
Elenco: Kikunosuke Toya, Tomori Kusunoki, Shogo Sakata, Fairouz Ai, Mariya Ise, Karin Takahashi, Shiori Izawa

Review: Duna

Oi gente, tudo bem?

Com Duna 2 no cinema, resolvi criar vergonha na cara fazer um aquece aqui em casa e assistir ao primeiro filme pra poder conferir a sequência na telona. Vou compartilhar minhas considerações com vocês sobre Duna e quero saber a opinião de quem já assistiu também nos comentários, beleza? 😀

Sinopse: Paul Atreides é um jovem prodígio com um futuro grandioso e envolto em mistério que precisa viajar para o planeta mais perigoso do universo para garantir o futuro de sua família e seu povo.

Ficção científica não é meu gênero favorito, e talvez por isso eu tenha me enrolado tanto pra assistir Duna. Os relatos de que o filme era um pouco lento também não me animavam muito, sendo honesta. Por outro lado, tramas que envolvem intrigas políticas sempre ganham pontos comigo (minha trilogia favorita de Star Wars é a I, II e III haha) e esses elementos acabaram me impulsionando a finalmente conferir o épico de Denis Villeneuve. A trama acompanha a Casa Atreides ganhando do Imperador a incumbência de ser a nova responsável pelo planeta Arrakis, o local onde é possível fazer a mineração de uma especiaria encontrada no deserto que possibilita as viagens espaciais e tem inúmeras outras utilidades que a tornam um bem valioso. A antiga Casa que dominava Arrakis, os Harkonnen, é uma das mais poderosas da galáxia, e não fica nem um pouco satisfeita com a mudança política, arquitetando um plano que visa dizimar a Casa Atreides para sempre. Acontece que esse plano não é totalmente bem-sucedido: Paul, o filho do Duque, e sua mãe, Lady Jessica, sobrevivem. Os dois têm poderes sobrenaturais e Paul é visto por muitos como uma espécie de Salvador de Arrakis. Exilados e em perigo, os dois precisam se aliar aos Fremen – os verdadeiros nativos de Arrakis – para tentar sobreviver aos perigos do deserto e retomar o controle do planeta.

O filme começa com um ritmo bastante lento e, de certa forma, até mesmo confuso. Existem muitos termos que não são explicados, ficando somente subentendidos ou compreendidos pelo contexto. Lady Jessica, por exemplo, tem um poder que envolve uma tal de Voz: ela consegue controlar as pessoas usando esse poder, por meio da indução. Ela diz pra você fazer algo, e você faz. E ao longo dos anos, ela vem treinando Paul para fazer o mesmo, ainda que ele não esteja 100% no controle. É dito que Lady Jessica é uma Bene Gesserit, mas em nenhum momento explica direito o que é isso (eu tive que procurar no Google pra entender 100%, por exemplo), e esse excesso de nomenclaturas vai tornando o filme bastante enfadonho e cansativo. Paul, como alguém que herdou os poderes da mãe, tem uma série de visões do futuro e confusões mentais sobre Arrakis e sobre uma mulher misteriosa, vendo a si mesmo com ela em diversas circunstâncias. Ele sonha com ela, vê a si mesmo com roupas típicas de Arrakis e não sabe se está vendo uma premonição ou se está sendo confundido por seu poder. Esses elementos também tornam o início do filme um tanto truncado, porque são muitas informações novas pra absorver.

Entretanto, uma coisa fica clara desde o começo: está todo mundo tramando contra os Atreides, o Imperador incluso. Nesse sentido, o filme faz um bom trabalho em deixar o espectador situado de que os Atreides estão sendo boicotados e de que o Imperador tem medo da influência política deles, desejando que eles sejam enfraquecidos. Mas quem é esse Imperador? Como as coisas chegaram ao ponto atual? Isso não é explicado. Se um dia será, também não sei. O ponto é: existe um Imperador que manda na porra toda e existem Casas Maiores que são influentes e ganham planetas como se fossem condados. Essa é a explicação que fica clara nesse primeiro filme. Agora, quem é esse manda-chuva e qual é a dele, bom, aí resta você aceitar que ele existe.

Depois que os Atreides vão pra Arrakis e a coisa toda dá errado, o filme ganha um ritmo MUITO bom. Toda a monotonia introdutória fica pra trás e a aflição sobre o que vai acontecer ganha espaço. Paul e Lady Jessica precisam garantir sua sobrevivência, existem cenas de batalha muito boas, há momentos de muita aflição com vermes tenebrosos de 450 metros do deserto sim, parecem uns c* gigantes, e Paul finalmente mostra a que veio. O problema é que quando o filme finalmente fica bom, ele acaba. 😂 A Zendaya passou o filme inteiro passeando pelo deserto nas visões do Timothée Chalamet pra, quando finalmente aparece, não durar quase nada. Foi um final meio frustrante e, ao mesmo tempo, muito envolvente, porque eu terminei o filme já querendo comprar os ingressos pra continuação. Olhando pro panorama geral, esse gancho acabou dando certo, né? Hahaha!

Duna é muito impressionante em efeitos visuais e em fotografia, dando uma imersão bem eficiente no universo construído. E isso inclui a monotonia visual de Arrakis. Você olha pra todo lado e só vê areia e tons terrosos, é um pouco agoniante. Ao mesmo tempo, quando os personagens são obrigados a enfrentar as ameaças dos vermes do deserto, aquela imensidão se torna apavorante, porque a monotonia da areia se transforma em pânico e destruição causada por seres abissais. Essa sensação é transmitida muito bem pro espectador, e eu fiquei bastante aflita vendo os personagens sucumbindo ao deserto ou tentando fugir com todas as forças do seu destino. As atuações também são muito boas e conseguem refletir as nuances dos personagem: Paul é um personagem visivelmente perturbado e em conflito interno; Jessica é uma personagem cheia de dualidade; o Duque Leto Atreides é um bom homem, que não demoraria a ser traído e sucumbir, mas que deixou uma marca positiva pra trás; e eu gostei também de Duncan, especialmente por ver uma atuação mais leve e diferente do Jason Momoa, sem ser o machão turrão dos papéis anteriores que eu conheço.

Gostei muito de Duna e, mesmo tendo dividido a sessão cinema em duas partes (até o momento em que eles chegam a Arrakis, o filme me deu sono e precisei fazer uma pausa pra cochilar rs), achei que a experiência como um todo foi muito bacana. A história tem muito potencial e eu estou ansiosa pra ver as transformações que Paul vai passar ao longo da sua trajetória. Além disso, o foco não são em lutas com naves e viagens espaciais, que são os aspectos que eu menos gosto na ficção científica, o que já ajuda bastante a me conectar mais com a trama. Espero ver ainda mais aprofundamento psicológico e desdobramentos políticos e religiosos na próxima parte, e recomendo bastante pra quem também gosta desse tipo de conflito em histórias de fantasia e ficção científica. 😉

Título original: Dune: Part One
Ano de lançamento: 2021
Direção: Denis Villeneuve
Elenco: Timothée Chalamet, Rebecca Ferguson, Oscar Isaac, Jason Momoa, Stellan Skarsgård, Josh Brolin, Javier Bardem, Sharon Duncan-Brewster, Chang Chen, Dave Bautista, Zendaya

Review: Haikyuu!!

Oi pessoal, tudo bem?

É engraçado pensar que eu, que detesto praticar esportes, goste tanto de animes desse nicho. Acontece que Haikyuu!! (ou Haikyū!!) é simplesmente um dos meus animes favoritos, focado numa equipe de vôlei escolar que sonha em chegar à final nacional do Japão. Se eu assisto vôlei na vida real? Nunca, não tenho o menor interesse. 😂 E eu faço questão de enfatizar isso pra encorajar você, que talvez também não tenha um pingo de afinidade com temas esportivos, a dar uma chance a esse anime envolvente, carismático e com cliffhangers tão angustiantes que fazem você ir pra beira do sofá pra assistir à próxima jogada. Vamos conhecer?

Sinopse: Shoyo Hinata é um jovem fascinado pelo vôlei e sonha se tornar o melhor no esporte desde que viu o lendário jogador conhecido como “Pequeno Gigante” competir nas finais do campeonato nacional. Mas, ao enfrentar o seu último jogo oficial no Ensino Fundamental, tem sua primeira grande decepção: é derrotado por Kageyama, conhecido como o “Rei da Quadra”. Hinata jura vingança e decide entrar para o clube de vôlei do colégio Karasuno, onde tentará provar que não é preciso ser alto para jogar vôlei quando se pode “voar”. Com os novos integrantes, o time do Karasuno, que antes estava em declínio, tem uma chance de se reerguer.

Nosso protagonista é Hinata, um estudante que é apaixonado por vôlei, mas sempre teve um desafio difícil de vencer: sua própria altura. Considerado baixinho pro esporte, ele sempre sentiu que precisava se esforçar muitas vezes mais que qualquer outro pra conseguir jogar. Quando ele participa de seu primeiro campeonato, Hinata se depara com um rival, Kageyama, que o derrota de forma esmagadora, mas também o faz se sentir inspirado a treinar cada vez mais duro. Eles acabam se tornando colegas de escola e fazendo parte do mesmo time no Ensino Médio, o Karasuno, e apesar da rivalidade latente, percebem que são capazes de aflorar o potencial um do outro como ninguém mais consegue. Com a chegada dos novatos, os outros membros mais velhos do Karasuno também começam a enxergar a possibilidade de encontrarem a glória novamente, já que a equipe outrora foi muito respeitada e já chegou a ser campeã nacional, tendo inclusive sido o time do Pequeno Gigante (a maior inspiração de Hinata no vôlei).

Um dos motivos que faz você se afeiçoar a Haikyuu!! é, sem dúvidas, a obstinação de Hinata. O personagem não começa jogando vôlei bem, e não sabe todos os fundamentos do esporte, cometendo erros básicos mas treinando de todas as formas (e em todas as oportunidades) que pode. Isso faz com que o espectador crie uma empatia muito grande pelas dificuldades e inseguranças que ele sente, ao mesmo tempo em que torce pelo seu sucesso, pra que ele vença os obstáculos atrelados à questão física (a altura) e ao fato dele ser subestimado pelos outros. Quando falamos de Kageyama, por outro lado, falamos daquele talento natural atrelado à disciplina, sendo ele um atleta pronto pra brilhar. Sua personalidade é seu maior empecilho, já que desde o Ensino Fundamental ele carrega a alcunha de “rei” de forma pejorativa, tamanha a sua arrogância e falta de paciência com os colegas que não conseguem acompanhar o seu ritmo. De forma inesperada, os dois vão crescendo juntos e o espectador testemunha uma dinâmica de gato e rato que diverte mas que também é muito estimulante, já que Hinata e Kageyama se tiram da zona de conforto o tempo todo.

Mas Haikyuu!! faz um trabalho excelente em construir nossa relação com todos os personagens, não apenas com os protagonistas. Os outros membros do time também ganham espaço, e aos poucos vamos descobrindo mais sobre eles, suas personalidades e motivações. Sou apaixonada em vários dos personagens (ainda que o líbero, Nishinoya, tenha meu coração) e, principalmente, amo a lealdade e as dinâmicas entre eles. Mesmo alguns jogadores que não têm tanto espaço nas primeiras temporadas vão ganhando desenvolvimento com o tempo e brilham mais adiante, e quando isso acontece, acreditem: é de arrepiar! Minha única crítica negativa nesse sentido é referente a algo que, infelizmente, é recorrente em animes: a representação feminina. As meninas da equipe são pouco exploradas e seus papéis giram em torno de ajudar o time de maneira pouco expressiva, especialmente a Shimizu, que é uma das gerentes do clube de vôlei. Suas falas são ínfimas e ela acaba sendo um sex symbol durante a maior parte de sua participação no anime, rendendo muitos alívios cômicos envolvendo os meninos, que são gamados nela. Essa é minha principal insatisfação com a história, e o aspecto que mais me incomodou ao longo das três temporadas (já que Shimizu só ganha um pouco mais de espaço na terceira).

E como falar de um anime de esporte sem mencionar o esporte em si? As partidas de vôlei de Haikyuu!! são de arrepiar! Eu nunca assisto vôlei, mas fiquei 100% “GO GO KARASUNO” enquanto assistia, roendo as unhas a cada saque, a cada set point, a cada partida. E não pensem que os meninos contam com privilégio de protagonista e ganham tudo, não. O anime sabe mostrar pra eles (e pra nós) que existem jogadores muito talentosos que eles precisam derrotar pra chegar às finais, e que pra isso vai ser necessário treinar com muito empenho caso não queiram perder novamente. Lidar com essas emoções – de derrota, vitória, treinamento duro, companheirismo, obstinação, determinação – é uma das melhores partes de Haikyuu!! e um dos motivos pelos quais esse anime é tão marcante.

Pra quem gosta ou não de esportes, Haikyuu!! é uma ótima opção de entretenimento porque cativa com bons personagens e uma condução bem realista (na medida do possível pra uma animação). Tudo é pautado em treinamento, não em poderes especiais, e ainda que algumas habilidades possam ser um pouquinho exageradas pra fins de impacto, são movimentos e jogadas que existem na vida real. Você se sente assistindo partidas de verdade e se pega torcendo pelos times que estão na tela, com a vantagem de que mesmo os rivais do Karasuno também têm personagens e histórias que brilham e conquistam. Recomendo fortemente pra quem quer assistir uma história que vai te deixar na beira do sofá, segurando a respiração até o próximo saque!

Título original: Haikyū!!
Ano de lançamento: 2014
Direção: Susumu Mitsunaka
Elenco: Ayumu Murase, Kaito Ishikawa, Yu Hayashi, Satoshi Hino, Miyu Irino, Kôki Uchiyama, Sôma Saitô, Nobuhiko Okamoto, Yoshimasa Hosoya, Kaori Nazuka

Review: A Sociedade da Neve

Oi pessoal, tudo bem?

A Tragédia dos Andes, acontecida em 1972, é uma história que já foi recontada muitas vezes. Eu a conheci quando tinha cerca de 12 ou 13 anos, ao ler o livro Os Sobreviventes, de Piers Paul Read, no qual é narrada a trajetória do time de rugby uruguaio Old Christians Club, cujo avião cai na Cordilheira dos Andes e os sobreviventes da queda tentam permanecer vivos em condições extremas. Dos 45 passageiros, somente 16 foram resgatados com vida após 71 dias. Recentemente estreou na Netflix uma produção que traz uma nova perspectiva sobre essa história, baseada no livro de Pablo Vierci, e está concorrendo ao Oscar de melhor filme internacional: A Sociedade da Neve. Vamos conhecer?

Sinopse: Após um acidente de avião no coração dos Andes, os sobreviventes unem forças e contam uns com os outros na luta para voltarem para casa.

Devido à notoridade da história dos sobreviventes dos Andes, acredito que não preciso discorrer muito sobre o tema do filme: de forma resumida, ele conta toda a trajetória dos tripulantes do momento em que têm a oportunidade de ir ao Chile até o momento de seu resgate – e todos percalços entre esses dois pontos fatídicos. Na queda, muitos tripulantes morreram, e quem sobreviveu precisou lutar contra a fome e o frio extremo, até o ponto em que não havia mais nenhuma fonte de alimento a qual recorrer que não fossem os corpos de quem havia falecido. Esse é um dos aspectos mais tristes e desconfortáveis da história, mas foi também o pacto que permitiu com que todos pudessem viver. Contudo, a maneira como A Sociedade da Neve trata de sobrevivência é sublime, transformando esse filme em uma história sobre companheirismo e fé.

Diferente de outras adaptações dessa tragédia, que exploram a antropofagia com um viés sensacionalista pra atrair mais público e explorar uma vivência muito dolorosa pela qual os sobreviventes passaram, A Sociedade da Neve enfatiza todas as maneiras pelas quais o grupo se articula para vencer cada dia. As lideranças que atuam de diferentes formas, as presenças tranquilizadoras que são fundamentais para manter a estabilidade, os momentos de leveza emocional em meio ao caos e também a coragem pra fazer o que ninguém mais deseja fazer – como, por exemplo, aqueles que assumem a tarefa de cortar a carne dos mortos. Todos esses papéis ganham destaque ao longo da trama, mostrando ao espectador todas as dificuldades que o grupo enfrenta e também as formas que eles encontram de suportarem esses terrores: juntos.

Outro aspecto fundamental que é trabalhado pelo roteiro é a importância da fé. Mas não unicamente a fé cristã, que sim, era bastante importante para o grupo. O filme é muito conduzido pelo olhar de Numa, uma das últimas pessoas a aceitar se alimentar de carne humana, e cujos valores estavam fortemente atrelados a sua moral religiosa. Porém, o longa também evidencia como a fé pode ser ampla e desassociada de religiões ou entidades: em um diálogo poderoso e emocionante, que me levou às lágrimas, Arturo Nogueira diz que a fé dele está depositada nos companheiros que cuidam de suas feridas, nos que saem para caminhar em busca de salvação para o grupo, nos que partem a carne sem dizer a quem pertenceu. Essa fé que eles tinham uns nos outros (e a sensibilidade do filme para mostrar  esse companheirismo) foi fundamental para a sobrevivência do grupo.

Em termos técnicos, A Sociedade da Neve é impecável. O elenco é excelente, entregando atuações intensas e mostrando transformações físicas que revelam todas as provações vividas na montanha. O roteiro é angustiante e, mesmo contando uma história que muitos já sabem como se desenrolou, consegue trazer plot twists pra quem não lembra exatamente o nome de cada pessoa que sobreviveu, como era o meu caso. A fotografia é de cair o queixo, com um visual impressionante que mostra toda a beleza e a imponência dos Andes, causando ao mesmo tempo a sensação de admiração e desolação. É um filme que impacta do início ao fim.

A minha dica é: não percam tempo e assistam A Sociedade da Neve. Diferente dos filmes que vieram antes, essa adaptação não tem um viés predatório, desejando explorar a história dos sobreviventes para ganhar audiência, mas sim contar as transformações psicológicas que um grupo cheio de sonhos e esperanças passou ao viver uma experiência traumática e inexplicável, para a qual ninguém poderia estar preparado. Deem o play, vale a pena.

Título original: La Sociedad de la Nieve
Ano de lançamento: 2023
Direção: J.A. Bayona
Elenco: Enzo Vogrincic, Agustín Pardella, Matías Recalt, Esteban Bigliardi, Diego Vegezzi, Esteban Kukuriczka, Francisco Romero, Rafael Federman

Resenha: Não Confie Em Ninguém – Charlie Donlea

Oi gente, tudo bem?

Uma das leituras favoritas do ano passado e que estava há tempos na minha wishlist finalmente ganhou um espaço por aqui: Não Confie Em Ninguém, do Charlie Donlea! Esse autor é sempre muito elogiado por seus thrillers e, como fã do gênero, estava animada pra conhecer sua escrita.

Garanta o seu!

Sinopse: O destino de Grace Sebold toma um rumo inesperado durante uma tranquila viagem com o namorado. O rapaz é assassinado… e ela é condenada pelo crime. Depois de dez anos na prisão, surge a chance de Grace provar sua inocência ao conhecer a cineasta Sidney. Em um documentário que exibe as falhas do processo, a cineasta questiona se a condenação foi fruto de incompetência policial ou se a jovem foi vítima de uma conspiração. Antes do término das filmagens, o clamor popular leva o caso ser reaberto, mas um novo fato provoca uma reviravolta: Sidney recebe uma carta anônima afirmando que ela está sendo enganada pela assassina. A cineasta começa a investigar o passado de Grace e quanto mais se aprofunda na história, mais dúvidas aparecem. No entanto, agora, o que está em jogo não é apenas a repentina fama e carreira, mas sua própria vida.

A premissa do livro reúne dois elementos que por si só me instigam muito: uma personagem não confiável e um documentário de true crime como pano de fundo. Vamos explorar o primeiro elemento: Grace Sebold é o foco do documentário de Sidney Ryan, uma cineasta em ascensão que produz documentários sobre condenados que alegam inocência pelos crimes dos quais foram acusados. Grace cumpre pena numa ilha caribenha pelo assassinato de seu namorado há 10 anos, em tese empurrado por ela de um penhasco. Durante todo o seu tempo de prisão, Grace, sua melhor amiga e sua família escreveram cartas para Sidney, pedindo para que ela investigasse seu caso, afirmando sem hesitar que Grace não foi responsável pela morte do rapaz. Sidney decide pesquisar a respeito, deparando-se então com várias falhas processuais tanto na investigação quanto no julgamento, fazendo então com que Grace seja a protagonista de sua próxima produção. Porém, durante essa investigação, Sidney também se aprofunda no passado de Grace e algumas peças não parecem se encaixar com os relatos de sua entrevistada, fazendo com que ela – e o leitor – passem a ter dúvidas sobre sua inocência. Quem é a verdadeira Grace Sebold? O que Sidney vai encontrar em suas pesquisas sobre ela? Essa ambiguidade deixa o leitor curioso para saber mais e mais a respeito da personagem, cuja aura de mistério é envolvente. E aí entramos no segundo elemento atrelado ao plot de Não Confie Em Ninguém: ele gira em torno de um documentário de true crime investigado em tempo real, e o autor explora isso para nos deixar curiosos e imersos. Ou seja, há capítulos focados no presente e na investigação de Sidney e outros focados em descrições sobre os episódios, que constroem a narrativa que põe em xeque a culpa de Grace. Esse paralelismo anda para o mesmo rumo até o ponto de ruptura, aí o leitor chega numa encruzilhada: em qual vertente acreditar? Na inocência ou na culpa de Grace?

Outro elemento que Charlie Donlea utiliza ao longo do livro pra manter o leitor fisgado é inserir conversas de um júri a respeito de um caso misterioso que está sendo discutido. É um pouco revoltante perceber os motivos que levam determinadas pessoas a serem escolhidas para liderar, ou como o machismo também afeta a capacidade de julgamento de outras, que estão dispostas a serem taxativas a respeito de uma decisão que vai impactar para sempre a vida de alguém mesmo sem ter todos os fatos debatidos e expostos ainda. Ao longo da obra, você se pergunta sobre quem essas pessoas estão falando, tenta descobrir se é a respeito do caso de Grace e faz o possível pra juntar essas pistas com o que vai descobrindo junto da investigação de Sidney. As entrevistas que a cineasta conduz com as pessoas de interesse são ricas em detalhes, revelando nuances do passado de Grace que a força policial de Santa Lúcia, o paraíso no qual a tragédia ocorreu e onde ela esteve presa, não fez questão de investigar.

Existem poucos personagens secundários, o que eu considero positivo. Isso dá margem para que todos sejam possíveis suspeitos, com motivos plausíveis para terem matado Julian, o namorado assassinado. Inclusive a própria Grace. Ninguém é eliminado completamente da equação, especialmente após a inserção na história de um ex-policial que envia uma carta a Sidney informando que ela possivelmente cometeu um engano ao acreditar na protagonista de seu documentário. Para o detetive aposentado, Grace é inegavelmente culpada, e coloca Sidney na pista que pode comprovar sua teoria. Com isso, Charlie Donlea busca deixar o caminho pavimentado para confundir ainda mais os leitores, e acredito que com muitos tenha funcionado. Porém, eu tenho duas opiniões divergentes sobre o final: eu não fui surpreendida pela pessoa responsável pela morte, porque consegui desvendar sua identidade; entretanto, fiquei de queixo caído com a ousadia do autor em ter escolhido o caminho que escolheu. Então, por mais que talvez a revelação da pessoa culpada possa ser descoberta pelo leitor, como foi o meu caso, Charlie Donlea ainda assim consegue surpreender pela tomada de decisão chocante da reta final da história. 

Não Confie Em Ninguém é um livro que você devora, pois é construído de uma forma ágil e que mantém você desconfiado do que está sendo dito nas páginas. Intercalando a investigação com cenas do documentário, você se sente parte da trama, como se o que estivesse acontecendo ali fosse real – o que torna a experiência muito imersiva. Talvez certos aspectos abertos do final desagradem alguns leitores, mas pra mim ficou uma sensação mais de “possibilidades” do que de “não fechamento”, por assim dizer, então o desfecho não chegou a me incomodar. Ou talvez eu só estivesse tentando levantar meu queixo mesmo, depois de ler certa cena. 😂 Foi uma ótima primeira experiência com Charlie Donlea e recomendo bastante pra quem gosta de livros do gênero!

Título original: Don’t Believe It
Autor:
Charlie Donlea
Editora: Faro Editorial
Número de páginas: 352
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Minisséries imperdíveis #1

Oi pessoal, tudo bem?

Apesar de ter várias produções longas, com várias temporadas, no meu “currículo”, adoro uma boa minissérie. Acredito que são ótimas maneiras de contar uma história de um modo que não canse o espectador se estendendo demais, e muitas vezes funcionam perfeitamente para adaptar livros, por exemplo. Por esse motivo, resolvi reunir alguns títulos que eu considero imperdíveis e que recomendo fortemente que vocês coloquem na To Watch List de vocês. ❤ Pra fins de critério de seleção, escolhi somente minisséries de temporada única, e nesse post não vou falar sobre doramas – vou produzir conteúdos exclusivos pra eles. Vamos pra lista?

Mare of Easttown

Essa produção da HBO reúne todos os elementos que eu gosto: desenvolvimento psicológico dos personagens, uma protagonista cheia de camadas, investigação policial instigante e plot twists. É uma série que causa aflição enquanto Mare investiga a morte de uma jovem, mas também pelas facetas emocionais que vão sendo reveladas aos poucos a respeito de cada pessoa envolvida com a protagonista, assim como a própria – uma mulher que carrega traumas significativos, mas que tenta seguir em frente da maneira que consegue. Além de uma condução brilhante, as atuações em Mare of Easttown também são incríveis e fazem você se conectar com todos os envolvidos na história. Recomendo muito!

And Then There Were None

Essa é a adaptação de um dos meus suspenses favoritos, o livro homônimo da Agatha Christie. Além de ser muito fiel à obra, essa produção da BBC tem um elenco muito competente e um clima claustrofóbico que remete à sensação causada pelo livro ao colocar seus personagens em uma ilha e apresentá-los à ameaça de perderem suas vidas, um a um. Com o passar dos episódios, eles vão se virando uns contra os outros, passando a desconfiar de suas motivações e tentando descobrir o culpado por trás de tudo. Apesar de ter pequenas mudanças em relação ao material de origem, não é algo que atrapalhe ou que não lhe faça justiça. Pelo contrário: And Then There Were None é uma adaptação digna e de respeito de um dos melhores livros de suspense que eu já li. Vale a pena espiar!

Alias Grace

Alias Grace é um mergulho profundo nos mistérios da mente de Grace, acusada de ter matado seu patrão e a governanta da casa em que morava. Ao longo da minissérie, acompanhamos o psiquiatra Simon Jordan avaliando Grace, no intuito de entender se ela merece ser libertada ou não, e por meio das palavras de Grace somos guiados pelo seu passado e por sua história. Portanto, toda a condução é feita por uma narradora não-confiável, que deseja convencer quem a escuta de que ela é a representação da inocência – e isso transparece em seu tom de voz, em seu olhar, em seus trejeitos. Observar como Grace conduz as conclusões do Dr. Jordan, assim como coloca o espectador em dúvida também, é o aspecto mais fascinante de Alias Grace. Some esse mistério a belos figurinos, uma narrativa cheia de dissonâncias e nuances dúbias e você tem uma minissérie que te deixa fisgado, exatamente como Grace queria. Eu adorei!

Inacreditável

Eu considero Inacreditável mais do que um entretenimento de qualidade, mas uma série necessária. Baseado numa história real, ele conta como uma garota foi processada pelo Estado pelo falso testemunho de estupro – até que anos depois duas policiais mulheres encontraram o estuprador serial culpado pelo caso dessa vítima. Inacreditável deixa explícita a inabilidade do Estado e da polícia em lidar com vítimas de estupro, colocando-as em uma situação de violência mesmo após o trauma vivido, e exemplificando porque tantas mulheres evitam denunciar seus agressores. Mais do que uma minissérie competente, com um roteiro impecável e atuações ímpares, Inacreditável expõe as fragilidades de um sistema que invalida as violências sexuais e de gênero sofridas pelas mulheres, bem como joga luz no fato de que esse mesmo sistema também nos violenta. Imperdível.

O Gambito da Rainha

Uma série que merece muito os prêmios e o hype que recebeu. Demorei pra assistir O Gambito da Rainha, mas quando comecei, entendi porque foi tão elogiada. Acompanhar a jornada de Beth Harmon, uma órfã que aprende a jogar xadrez no orfanato, é adotada e aos poucos vai ganhando fama como uma enxadrista prodígio é uma experiência envolvente. A personagem passa por diversas experiências marcantes e, por mais que as partidas de xadrez sejam o cerne da história, também nos conectamos à forma como ela interage com o mundo: suas primeiras relações no orfanato, depois sua conexão com a mãe adotiva, suas frustrações e regozijos conforme cresce no xadrez, seus períodos de autodestruição e diversos outros cenários que se apresentam ao longo da trama. Vale muito a pena assistir (e torcer, é claro).

Curtiram a seleção?
Incluiriam ou tirariam alguma série da lista?
Me contem nos comentários, vou adorar saber! ❤

10 anos de infinitas vidas: reflexões, mudanças e sorteio :)

Uma década de Infinitas Vidas. Esse é o marco que hoje, dia 11 de janeiro de 2024, celebra.
Lá em 2014, quando comecei o blog, eu sinceramente não imaginava aonde esse espaço iria me levar. Não imaginava que faria novas amizades, que teria parceria com autores e que trabalharia com grandes editoras que sempre consumi e admirei.
Na época, minha única pretensão era poder me reconectar ao hábito da leitura e, no processo, compartilhar minhas impressões a respeito do que eu lia com quem pudesse se interessar pelo assunto.

Os meses foram passando.
Os meses viraram anos.
Completei uma mão cheia.
Mais tempo transcorreu.
E agora, aqui estamos… há 10 anos falando sobre livros na internet.

E eu escrevo no plural porque você também faz parte disso.
Você, que me acompanha desde aquela época, ou há um pouco menos de tempo. Você, que confia nas minhas indicações, que lê o que eu escrevo, que comenta aqui nos posts ou simplesmente gosta desse blog tanto quanto eu.

O Infinitas Vidas não existiria sem a companhia de quem me lê. ❤
Então fica aqui o meu agradecimento: a mim mesma, por nunca ter desistido. E a você, aí do outro lado, que me incentiva (talvez até sem saber disso) a continuar. Espero que possamos continuar juntos por todo o tempo que fizer sentido, e que eu possa ainda levar muitas indicações bacanas pra entreter, fazer pensar, emocionar e mexer com o coração de vocês. Obrigada por esses 10 anos. 

Mas o último ano também foi um ano que me deixou bastante reflexiva. Para onde quero ir? O que ainda quero fazer? Já tive parcerias com editoras que admiro, já vi como é a obrigação de cumprir prazos para resenhar livros, já vivi a experiência de influenciar pessoas e participar de divulgações literárias importantes. Em 2023, enfrentei desafios relacionados à minha saúde mental e com isso o blog ficou de lado, me fazendo questionar várias coisas – inclusive o que ainda faz meu coração vibrar por aqui. E eu decidi que, para 2024, eu vou tentar viver um Infinitas Vidas mais leve e diferente, que reflita mais meus interesses do momento e me traga de volta aquela sensação gostosa de quando o criei: a de dividir minhas paixões e opiniões com quem quiser ler e compartilhar delas também. Por isso, esperem por muitas resenhas de mangás, animes e doramas por aqui ao longo desse ano, que têm sido parte bem mais frequente do meu cotidiano ultimamente (animes e mangás sempre foram, mas eu nunca trouxe muito pra cá por achar que não cabiam, e resolvi deixar esse “tabu” de lado definitivamente).

Espero contar com vocês nesse novo momento também.
Vou adorar continuar tendo essa companhia que eu valorizo tanto. 🥰

E para encerrar esse texto e comemorar os 10 anos de parceria, preparei um sorteio lá no Instagram. Bora participar? Espero vocês! 📚

Resenha: É Sobre Amor – Jenna Ortega

Oi pessoal, como estão?

Hoje vim compartilhar com vocês minhas impressões sobre um livro esperado por muitos: É Sobre Amor, da Jenna Ortega, que ganhou ainda mais notoriedade após seu papel como Wandinha.

Garanta o seu!

Sinopse: Eu quero que você saiba que não está sozinho. Estamos juntos. Jenna Ortega, estrela da série Wandinha, teve que equilibrar sua carreira como atriz, sua vida particular e muitas expectativas públicas desde bem jovem. Com isso, aprendeu que a única forma de superar esses desafios é por meio do amor: por seus amigos, sua família, sua fé e, acima de tudo, por si mesma. Ela usou a sabedoria que desenvolveu com seus fracassos e triunfos e colocou tudo neste livro de estreia, uma coleção de pensamentos e reflexões honestas e emocionantes. Dividindo histórias sobre o universo artístico, namoros, família, amizades e saúde mental, entremeadas por afirmações tocantes, Jenna mostra aos leitores que, enquanto houver amor, tudo é possível.

O livro foi escrito quando Jenna tinha 17 anos, e reúne anotações de seu diário, relatos de quando ela fez parte da série A Irmã do Meio, sua chegada em You e, principalmente, sua relação com a família e com a fé (porque a religião é uma parte bem importante da sua criação). Além disso, ela discorre sobre relacionamentos amorosos, aconselha os leitores sobre amizades e também fala sobre sua persistência no que diz respeito à carreira de atriz. Os assuntos prometem ser bem interessantes, mas a verdade é que eu fiquei me perguntando o que uma garota tão jovem teria de tão relevante pra dizer em termos de grandes experiências de vida. Decidi deixar meu preconceito de lado, afinal, cada processo e cada vida são únicos, e dar uma chance a essa leitura, torcendo para ser surpreendida por lições valiosas. Para a minha infelicidade, tais lições não vieram e minha percepção inicial se manteve: os conselhos de Jenna são dignos de um diário mesmo, e mais parecem frases prontas que eu encontraria no Tumblr.

Não me entendam mal, eu gosto muito dela e acredito que Jenna é uma atriz madura e sensível, com uma base forte para enfrentar as dificuldades que Hollywood impõe. Percebe-se, ao longo da leitura, que sua estrutura familiar sólida e suas crenças bem estabelecidas foram fundamentais pra construir essa jovem tão centrada que ela parece ser. Minha admiração (ainda que superficial, pois não a acompanho muito, apesar de gostar dos seus trabalhos) não mudou, e eu torço pra que ela continue com essa mesma postura para continuar crescendo nesse mercado tão competitivo e tóxico. Minha crítica diz respeito somente à forma como ela escreve mesmo, o que é esperado de uma adolescente de 17 anos que está compartilhando os pensamentos de um diário. E eu me sinto na obrigação de ser honesta sobre o teor das reflexões pra que vocês não comprem o livro pensando que vão encontrar conselhos profundos, porque não vão. São capítulos rápidos, curtos e superficiais, e você tem que ler nas entrelinhas e tirar leite de pedra pra encontrar lições que sejam valiosas pra você. Eu encontrei algumas, não nego, mas de forma geral não foi uma experiência marcante.

Eu gostaria de ter lido menos frases prontas e genéricas e mais relatos pessoais sobre as experiências de Jenna como pessoa e como atriz. O livro, apesar de ter sido baseado no diário dela, é surpreendentemente impessoal. Existem poucas passagens que mostrem realmente o quanto ela deu duro pra chegar onde chegou, como ela fez pra abrir tais caminhos ou quais foram as maiores dificuldades no set ou fora dele. No lugar desse tipo de abordagem, o livro é mais focado em conselhos sobre ser você mesma, não perder a fé, manter a gratidão e a positividade, coisas nesse sentido. Pra mim, foi complicado me manter conectada à Jenna, porque parecia que eu estava lendo algo muito plástico e cuidadosamente recortado, em vez de uma experiência real.

É Sobre Amor pode ser uma leitura bacana para jovens que estejam entrando na adolescência e busquem inspiração para começar essa faixa etária com uma referência positiva na vida e que possam ser mais facilmente impactados por “frases de Instagram”. Comigo não deu muito certo, mas como cada leitor tem uma experiência, fica a resenha sincera pra quem se sentir com vontade de ponderar a respeito e dar uma chance. 😉

Título original: It’s All Love: Reflections for Your Heart & Soul
Autora:
Jenna Ortega
Editora: Rocco
Número de páginas: 232
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Livro cedido em parceria com a editora.
Esse não é um publipost, e a resenha reflete minha opinião sincera sobre a obra.