Dica de Série: The Last of Us

Oi pessoal, tudo bem?

Ainda que o timing esteja um pouquinho atrasado, não poderia deixar de falar sobre The Last of Us, uma das séries que ganharam o público e a crítica esse ano – com razão. Muito aguardada por quem já era fã do jogo, ela também fez um ótimo trabalho em conquistar quem não era, e eu me enquadro nesse público. Vamos falar a respeito?

Sinopse: Vinte anos após a queda da civilização, Joel é contratado pra tirar Ellie de uma zona de quarentena perigosa. O que começa como um pequeno trabalho, logo se transforma em uma jornada brutal pela sobrevivência.

Faz um tempo que histórias pós-apocalípticas não me interessam mais. Sendo um pouquinho mais específica, desde que The Walking Dead (da qual já fui muito fã) perdeu totalmente minha atenção e eu dropei. Por isso, mesmo sabendo que The Last of Us vinha de um jogo cuja história era elogiadíssima, temi que fosse sentir a mesma monotonia que TWD me causou, o que felizmente não aconteceu. The Last of Us compartilha da melhor fase de The Walking Dead, da época em que a série mais me cativava, trazendo dois elementos dos quais eu sentia muita falta nesse tipo de produção: a aflição pura pelo medo real de algo possa acontecer com os personagens e o foco total no desenvolvimento psicológico deles e na construção de suas relações. Essa combinação faz de The Last of Us uma série que se desenvolve lentamente, mas com doses de adrenalina bem colocadas.

A história gira em torno de Joel e Ellie, uma dupla que se une contra a própria vontade. No futuro em que eles vivem, a humanidade foi quase dizimada por um fungo – que existe e se chama Cordyceps, mas na série ele evoluiu para uma versão muito mais violenta, capaz de controlar o corpo dos seres humanos –, e os sobreviventes vivem em colônias controladas por um exército ditatorial, a FEDRA. Contra essa forma de governo estão os Vagalumes, um grupo rebelde que deseja a liberdade, e Ellie é feita de refém por esse grupo, que acredita na possibilidade dela ser a chave para uma possível cura. Joel, por motivos particulares (e por seu posicionamento político neutro, aliando-se a quem for necessário para sobreviver), aceita escoltar Ellie até uma base dos Vagalumes, mesmo sem ter a menor simpatia pela garota e não desejar se aproximar de ninguém devido aos próprios traumas e perdas. Com o tempo, porém, os dois vão criando um vínculo que vai além da sobrevivência.

Eu amei demais a performance de Pedro Pascal como Joel e Bella Ramsey como Ellie. Não joguei o jogo pra comparar, mas as emoções que eles transmitem na série pra mim são completamente críveis em relação ao que ambos viveram. Joel é um personagem que teve a pior perda possível: no primeiro episódio da série, em meio ao caos do apocalipse acontecendo, ele perde sua filha, a quem ele amava mais do que tudo no mundo. A série tem um salto temporal de 20 anos a partir daí, e é perceptível o quanto ele fechou o seu coração devido ao ocorrido. Mesmo que no presente ele tenha uma companheira (Tess), que também deixa uma marca profunda em Joel, é nítido que nada é tão doloroso pra ele quanto a perda da jovem Sarah. E isso torna ainda mais difícil a aproximação com Ellie, porque o papel de pai que ele exercera no passado não é algo que ele deseje pra si novamente, ou até mesmo que ele sinta ser capaz. Ele não tem a menor pretensão de se aproximar da garota, mas conforme ela vai conquistando sua simpatia e, com o tempo, o seu afeto, as coisas vão se transformando contra a sua vontade e Joel ganha uma segunda chance.

Ellie, por sua vez, é uma jovem que foi treinada a vida toda pra fazer parte do exército, a FEDRA. Mas mesmo sendo tão jovem, ela também enfrentou perdas significativas: cresceu sem os pais, perdeu amigos, teve pouquíssimo afeto destinado a si mesma e, no presente, tornou-se uma espécie de moeda de troca. Ela tem muita dificuldade em acreditar que Joel também não vai abandoná-la, mas sua forma de lidar com tudo que sente é com hostilidade ou com excesso de humor. Demora até que ela consiga se abrir, e quando vemos os lampejos da sua fragilidade fica claro para o espectador (e para Joel) que ela é apenas uma criança.

Mas para além da dupla de protagonistas, The Last of Us consegue fazer a proeza de te fazer se apaixonar, se apegar e depois te deixar em lágrimas por personagens que você conhece em um único episódio. Sendo mais específica, o terceiro. Sim, o polêmico, que causou o maior burburinho quando saiu porque tem um monde de nerdola homofóbico por aí que não consegue admirar a beleza de uma história de amor bem contada só porque quem a protagoniza é gay. O terceiro episódio de The Last of Us é um dos mais bonitos a que assisti em muito tempo, com um romance comovente entre Frank e Bill, dois homens que não poderiam ser mais diferentes e, ainda assim, encontram um no outro a salvação e o amor necessários para viver cada dia. Eu literalmente trouxe um rolo de papel higiênico para o braço do sofá enquanto assistia esse episódio de tantas lágrimas que eu chorei, precisava secar os olhos e assoar o nariz com frequência, me emocionei demais com a delicadeza dessa história. A beleza do romance e o final agridoce desse episódio são inesquecíveis e, sinceramente, só por esse episódio a temporada inteira já valeu. Mas não pensem que foi a única história marcante a ser contada: The Last of Us mexe conosco em praticamente cada episódio. Quando conhecemos os irmãos Henry e Sam, por exemplo, um pedaço do nosso coração fica naquele episódio, e eles nos fazem questionar o que é ser humano, afinal. Enfim, se eu ficar me alongando sobre todas as emoções causadas pelos personagens de The Last of Us, vai ser impossível parar de digitar.

Mesmo que você não se identifique com histórias pós-apocalípticas, sugiro que você dê uma chance a The Last of Us. Ela utiliza a infestação de Cordyceps como pano de fundo para construir relações entre personagens e questionamentos sobre quem somos. É uma série que faz você pensar sobre o que realmente vale a pena na vida, colocando diversas coisas em perspectiva por meio de uma situação extrema. Além disso, tem dois protagonistas carismáticos – com aquela dinâmica perfeita e divertida entre um grumpy e uma sunshine – que nos conquistam sem esforço. Vale a pena conferir!

Título original: The Last of Us
Ano de lançamento: 2023
Criação: Craig Mazin, Neil Druckmann
Elenco: Pedro Pascal, Bella Ramsey, Anna Torv, Lamar Johnson, Melanie Lynskey, Nico Parker, Keivonn Woodard, Merle Dandridge, Nick Offerman, Murray Bartlett

Dica de Série: Rainha Charlotte: Uma História Bridgerton

Oi pessoal, tudo bem?

Confesso que inicialmente não hypei no anúncio do spin-off Rainha Charlotte: Uma História Bridgerton (mesmo sendo fã da série Bridgerton), mas acabei dando uma chance pra série durante as férias e cá estou pra me redimir e indicar pra vocês essa produção que, sim, conseguiu trazer uma história mais profunda e madura do que o material de origem. ❤ Vamos conhecer?

Sinopse: Neste spin-off, o casamento da rainha Charlotte com o rei George é muito mais que uma história de amor: é uma transformação na alta sociedade do universo de Bridgerton.

A série tem como foco duas linhas do tempo: no passado, conhecemos a origem da rainha, como ela foi trazida para conhecer o rei George, o início de seu casamento, a doença do rei, a construção do amor deles, mas também todo o impacto que essa união teve na sociedade inglesa na época; no presente, acompanhamos Charlotte constantemente preocupada em saber se George morreu ou não, e também com o futuro da sua família, pois infelizmente a esposa de seu filho mais velho e seu neto faleceram, e agora não há um herdeiro legítimo ao trono e ela precisa que algum de seus filhos se case e gere uma criança. O impacto da linha do tempo presente provavelmente vai refletir na próxima temporada de Bridgerton, já que existem interações entre Lady Danbury e Violet Bridgerton também, mas o que realmente fisga o espectador é a timeline do passado, em que descobrimos como a sociedade chegou ao ponto que vimos lá na primeira temporada da série de origem, além de ser também a linha do tempo que nos revela a história de amor que – até então – só tinha sido levemente abordada, e o espectador tinha apenas pequenas peças que possibilitavam saber que Charlotte e George se amavam muito, mas sem conhecer a fundo seu passado.

Devo dizer que eu esperava uma série bastante romântica, justamente por saber que Charlotte viveu uma vida devotada a George. O modo como a doença dele foi apresentada em Bridgerton, e o cuidado que ela tem com a situação, mostra uma ternura que já indicava que ali existia um sentimento muito verdadeiro. Para a minha surpresa, Rainha Charlotte é uma série que foca muito pouco no romance. Nos três primeiros episódios, o casal protagonista mal se fala! Eles compartilham uma cena muito fofa quando se conhecem, aí logo se casam (pois Charlotte é trazida à Inglaterra já como uma noiva prometida ao rei) e brigam logo após a cerimônia, quando George se recusa a dormir com ela e morar na Casa Buckingham. Charlotte passa dias e dias a fio solitária, sentindo-se abandonada e com a sensação de que falhou como esposa, arrependida de ter se casado e com uma sensação de amargura muito profunda. Posteriormente, a série nos apresenta os primeiros episódios pelo ponto de vista de George, e é nesse momento que o espectador tem seu coração partido em mil pedacinhos: finalmente entendemos o motivo pelo qual ele tomou tais decisões e o que George realmente esteve fazendo enquanto se manteve distante da rainha. Ainda assim, isso não muda o fato de que, ao longo dos 6 episódios, a maior parte do tempo os dois passam separados. Tanto que eu demorei bastante a acreditar que Charlotte já estivesse apaixonada por George, mesmo sabendo que a recíproca fosse verdadeira; foi apenas no fim da temporada que senti de verdade esse amor acontecendo, e quando ele veio, ele veio arrebatador. O último episódio de Rainha Charlotte – em especial, a última cena – é de arrepiar, e eu chorei de soluçar. É linda, sensível, cheia de referências a coisas importantes na história do casal e dá uma sensação agridoce muito marcante. É um final primoroso, e ao mesmo tempo em que parte o nosso coração, ele também nos dá um pouquinho de esperança, revelando um lampejo da sanidade de George e o profundo amor que os conecta desde a juventude.

Uma surpresa de Rainha Charlotte diz respeito à doença do rei, que esteve presente ao longo de todo o relacionamento dos dois. De certo modo, esperei por um romance arrebatador que, talvez no final, fosse ser atrapalhado pela descoberta dos sintomas, o que não ocorreu. Isso traz um peso emocional muito mais intenso do que as temporadas prévias de Bridgerton (por exemplo) haviam apresentado, e Charlotte e George lidam com uma pressão em seu relacionamento que vai muito além do peso da responsabilidade de governarem a Grã-Bretanha. O fato deles serem tão jovens e já serem marcados por esse desafio torna tudo ainda mais difícil, porque o espectador descobre que a vida do casal foi marcada por um obstáculo instransponível. Por outro lado, saber que George encontrou uma parceira capaz de amá-lo sob todas as circunstâncias, e de aceitar todas as suas facetas, também é acalentador. Além disso, esse plot mexe muito com quem assiste por mostrar a terrível face dos tratamentos psiquiátricos da época, que eram baseados na mais pura tortura. A barbárie que George enfrenta é revoltante, e saber que muito disso foi perpetrado durante séculos é de embrulhar o estômago. Pessoas que tinham condições mentais ainda mais instáveis, incapazes de se defender, sofreram muito mais nas mãos de médicos que faziam os piores experimentos em nome de “curar a mente”, e ver isso refletido na série é bastante impactante.

Mas se eu disse que Rainha Charlotte foca pouco no romance (pelo fato de Charlotte e George passarem bastante tempo afastados ou brigados), no que ela foca? Na minha opinião, no impacto social que ter uma rainha negra causou na sociedade inglesa no universo fictício de Bridgerton. Charlotte faz amizade com a jovem Lady Danbury, que ganha o título graças à mãe de George, a princesa-viúva Augusta. Esse título é fornecido ao marido de Agatha Danbury pra mostrar ao Parlamento que o intuito de casar George com uma mulher de pele escura foi intencional – o que eles chamam de Grande Experimento. O “escurecimento” da corte é um movimento político que Augusta faz pra que não haja dúvidas de que tudo foi planejado previamente (o que não é verdade, pois ela imaginava que a pele de Charlotte fosse mais clara). Ainda assim, uma vez que se torna Lady Danbury, Agatha usufrui desse título com muita sabedoria, negociando seus direitos com Augusta em troca de informações e garantindo que aquilo que é fornecido aos lordes brancos também seja fornecido ao seu marido e à sua família. O plot de Lady Danbury é extremamente interessante: ela odeia o marido, que pratica estupro marital constantemente, mas quando ele morre (afinal, é um idoso) ela se vê bastante perdida com a total liberdade que passa a ter, considerando que foi prometida a ele aos 3 anos de idade e toda a sua vida girou em torno dele e de seus gostos pessoais. Agatha é uma mulher que precisa reaprender sobre si mesma e entender o que é ter seu próprio espaço no mundo, além de lutar com unhas e dentes pra não perder seus privilégios e garantir os seus direitos. Sua amizade com Charlotte também é muito bacana, porque ela consegue conscientizar a rainha da importância que ela tem ao servir de exemplo para a corte e para a sociedade como a primeira mulher negra em sua posição. Adorei acompanhar sua evolução e sua história de origem e terminei a série admirando-a ainda mais como personagem.

Além de tudo, é claro que Rainha Charlotte mantém o mesmo nível de excelência de Bridgerton no que diz respeito à trilha sonora e belos figurinos. Há também representatividade LGBTQIA+ por meio de Brimsley, o leal braço direito de Charlotte, e Reynolds, também leal valete de George. Em relação às cenas de sexo, achei menos calientes quando comparadas às da série original. Quem assistiu, o que achou? 👀

Em resumo, quebrando várias das minhas expectativas, Rainha Charlotte: Uma História Bridgerton me surpreendeu demais, de uma forma totalmente positiva. Eu esperava uma coisa e encontrei outra, muito mais profunda, bem trabalhada e complexa. Amei isso! A série trata de saúde mental, de mudanças sociais, de racismo, de um amor que é construído com o tempo e que também perdura com o tempo. É uma história sobre aceitar quem amamos em todas as suas facetas, mesmo aquelas que a própria pessoa não aceita e das quais ela quer fugir. É uma história inspiradora e muito bonita, que me emocionou muito mais do que pensei que poderia quando dei um “play” tão despretensioso. Se tornou minha temporada favorita no universo Bridgerton! ❤ Recomendadíssima!

Título original: Queen Charlotte: A Bridgerton Story
Ano de lançamento: 2023
Direção: Tom Verica
Elenco:India Amarteifio, Corey Mylchreest, Arsema Thomas, Golda Rosheuvel, Adjoa Andoh, Michelle Fairley, Ruth Gemmell, Sam Clemmett, Freddie Dennis, Hugh Sachs

Review: Glass Onion: Um Mistério Knives Out

Oi pessoal, tudo bem?

Eu não perco a chance de assistir ou ler uma história de mistério/investigação policial, mas apesar das críticas positivas, o primeiro filme Knives Out (Entre Facas e Segredos, aqui no Brasil) não me ganhou, e eu fiz um review bem decepcionado aqui no blog. Contudo, as ótimas críticas da continuação, Glass Onion, acabaram me deixando curiosa, e cá estou pra contar pra vocês se valeu a pena dar uma segunda chance. Bora de resenha? 😉

Sinopse: O ricaço Miles Bron convida seus amigos excêntricos para sua ilha para jogar um jogo de detetive. Mas um assassinato real é cometido e as coisas saem do controle. Todos são suspeitos e a morte pode vir de onde se menos imagina.

A sinopse é curta, direta e eficiente, então não vou me estender muito além dela pra resumir a trama. O adendo que farei é que, além dos amigos de Miles, quem também recebe um convite para a ilha é o detetive Benoit Blanc. Quando ele chega ao local, o próprio Miles fica surpreso, pois não foi ele quem enviou o convite a Benoit. Porém, a presença do detetive se torna mais um elemento para “abrilhantar” o jogo maluco de Miles, cujo ego supera qualquer estranheza com o fato de que alguém enviou um convite sem seu consentimento. Para completar o panorama geral, uma das convidadas – Cassandra “Andi” Brand – é a ex-sócia de Miles, e foi muito prejudicada ao ser expulsa da empresa que ela idealizou e que fez de Miles milionário, o que deixa o clima da confraternização super tenso.

Podemos definir o cenário de Glass Onion como uma torta de climão. O espectador não demora a perceber que a amizade entre os personagens é frágil como um castelo de cartas, pronta a ruir ao menor sopro. O dinheiro de Miles parece comprar muito mais do que bens materiais, e ao longo do filme isso vai sendo mostrado aos poucos: cada personagem deve algum tipo de lealdade a ele, e isso é fundamental para o cerne do crime que ocorre lá pela metade do filme. Miles convida seus antigos amigos para esse jogo de detetive que ele idealizou, mas demora um certo tempo até que um assassinato de verdade aconteça. Porém, para a minha surpresa, não achei que o filme se tornou lento ou entediante até que isso ocorresse (diferente do seu antecessor, que mesmo tendo um assassinato de cara me fez querer dormir o longa inteiro). O ritmo de Glass Onion é muito bom, e ele intercala a comédia de uma forma bem mais competente e interessante do que o primeiro Entre Facas e Segredos. Deixo também o mérito pra atuação de Edward Norton, que entrega bem esse tipo de papel – conseguindo ser ao mesmo tempo mesquinho, engraçado de modo constrangedor e profundamente irritante, tal qual esses milionários sem noção.

Glass Onion é um filme que satiriza diversos tipos sociais, então temos uma socialite envolvida em escândalos trabalhistas com sua fábrica de roupas, uma política que conta com o dinheiro sujo do amigo na sua campanha, um homem extremamente machista que faz vídeos pro Youtube, entre outros estereótipos que, quando colocados juntos, transformam o ambiente numa panela de pressão prestes a explodir. Benoit é o ponto de equilíbrio, aquele observador externo que vai juntando as pontas soltas pra descobrir o verdadeiro culpado pelo assassinato que ocorre na ilha, mas também por outro mistério – sobre o qual não vou falar pra não estragar uma das melhores partes do filme. Mas é um plot bem interessante e que é a verdadeira graça da história. Inclusive, preciso destacar a atuação de Janelle Monáe como Andi, que é o grande destaque do longa. Ela consegue entregar nuances super diferentes na sua interpretação (que vão da inocência ao rancor), além de protagonizar as melhores cenas do filme com uma energia hipnotizante.

Em resumo, adorei Glass Onion e fiquei contente por decidir dar uma nova chance a essa franquia (já podemos chamar assim?). Com o sucesso, é possível que venham mais filmes, e agora estou definitivamente mais empolgada para conferir os próximos. Glass Onion: Um Mistério Knives Out é uma ótima história de detetive com humor na medida certa, um final surreal divertidíssimo e plot twists que mantêm o espectador ligado o tempo todo. Recomendo!

Título original: Glass Onion: A Knives Out Mystery
Ano de lançamento: 2022
Direção: Rian Johnson
Elenco: Daniel Craig, Edward Norton, Janelle Monáe, Kathryn Hahn, Leslie Odom Jr., Kate Hudson, Dave Bautista, Jessica Henwick, Madelyn Cline, Noah Segan

Review: Super Mario Bros. – O Filme

Oi pessoal, tudo bem?

Uma das estreias pelas quais eu estava mais ansiosa esse ano era Super Mario Bros. – O Filme, que parecia lúdico, divertido e cheio de referências aos jogos. O longa chegou aos cinemas essa semana e é claro que corri para assistir!

Sinopse: Mario é um encanador junto com seu irmão Luigi. Um dia, eles vão parar no reino dos cogumelos, governado pela Princesa Peach, mas ameaçado pelo rei dos Koopas, que faz de tudo para conseguir reinar em todos os lugares.

O Reino Cogumelo está em perigo. Depois de colocar as mãos na Super Estrela que lhe confere poderes sem igual, Bowser – rei dos Koopas – está determinado a governar todos os reinos, e o dos Cogumelos é o próximo em seu radar. Sua governante, a Princesa Peach, está planejando alianças com reinos vizinhos e tentando todas as estratégias possíveis para proteger seus súditos. O que ela não imaginava é que seu maior aliado poderia ser um encanador bigodudo do Brooklyn que caiu por acidente em seu reino após encontrar uma tubulação mágica que une a Terra a outros universos. Já sabem de quem estou falando, né? Mas nosso querido Mario também teu seus próprios objetivos: ele precisa salvar Luigi, seu irmão, que também caiu na tubulação com ele mas teve um destino menos auspicioso: em vez de cair no Reino Cogumelo, Luigi caiu no território de Bowser, e Mario precisa correr contra o tempo pra resgatá-lo.

Posso começar exaltando o fato de que quem precisa ser salvo aqui não é a princesa, mas sim Luigi? Além de Peach não ser colocada nessa posição de fragilidade, sendo na verdade uma governante decidida, corajosa e que coloca a mão na massa, Super Mario Bros. ainda escolhe focar no elo entre os irmãos e em quanto um confia no outro: Luigi sabe que Mario não vai desistir dele, enquanto Mario está disposto a ir até os confins do mundo para resgatar seu irmão. A relação de irmandade é muito bonita, e não é somente no mundo fantástico em que estão que ela é evidenciada. Mesmo no Brooklyn, vivendo a vida de encanadores, fica claro pro espectador que Mario e Luigi são o suporte um do outro. Os dois decidiram abrir a própria empresa e, mesmo que todas as pessoas duvidem que a empreitada vai dar certo, eles se apoiam mutuamente.

O filme gira em torno da missão de Mario de resgatar o irmão e de Peach de conseguir a aliança do reino dos Kongs (ou Donkey Kong Island) para combater o exército de Bowser. Não vou revelar muito mais sobre o enredo pra não estragar um dos elementos mais legais do filme: as referências e easter eggs. Desde os primeiros momentos, os fãs do jogo são presenteados com detalhes que arrancam sorrisos. A trilha sonora clássica já aparece na primeira cena, com Bowser chegando em um de seus ataques. Em outro momento, quando Mario e Luigi precisam correr pelo Brooklyn pra chegar na casa de um cliente, vemos a cena numa perspectiva que se assemelha a um 2D, como se fosse uma fase do jogo. É divertido demais! Há aparições e referências de diversos cenários, fases, memes, personagens e situações de inúmeros jogos da franquia, mas tudo isso é inserido de forma bem orgânica.

Com um roteiro simples, mas que entretém do início ao fim, Super Mario Bros. tem como ponto forte o amor e a confiança entre irmãos, assim como a subversão do clichê da princesa que precisa ser salva. É um prato cheio pra quem é fã dos jogos, mas também diverte quem não tem todas as referências do mundo, como é o meu caso (sempre preferi Donkey Kong a Super Mario rs). A história me empolgou e fiquei deslumbrada com as paisagens, com o carisma dos personagens, com as referências a jogos que eu adoro (como Mario Kart) e com a forma despretensiosa que o filme deu vida a esses personagens clássicos na telona. Apesar do filme ter encerrado de forma redondinha, as cenas pós-créditos dão abertura para mais, e se um segundo filme vier com certeza eu estarei prontinha pra assistir. Resumindo: recomendo muito!

Título original: The Super Mario Bros. Movie
Ano de lançamento: 2023
Direção: Aaron Horvath, Michael Jelenic
Elenco: Chris Pratt, Charlie Day, Jack Black, Anya Taylor-Joy, Keegan-Michael Key, Seth Rogen, Fred Armisen

Review: Na Sua Casa ou Na Minha?

Oi gente, tudo bem?

Não é à toa que Na Sua Casa ou Na Minha? ficou no Top 10 Filmes da Netflix por vários dias: que comédia romântica gostosa, gente! ❤ Se você também tava com saudade de um filme que realmente suprisse essa categoria, continue lendo porque essa dica vale a pena.

Sinopse: Grandes amigos e totalmente opostos, Debbie e Peter trocam de casa por uma semana. Será que essa experiência vai abrir as portas para o amor?

Eu costumo dar meu voto de confiança ao que é produzido pela Reese Whiterspoon porque adoro muitas das séries e filmes dela, então isso somado ao buzz em torno do seu novo longa me fizeram dar o play com bastante empolgação em Na Sua Casa ou na Minha?. O filme nos apresenta a Debbie e Peter, dois melhores amigos que se conhecem desde os 20 e poucos anos, quando dormiram juntos, mas cujo relacionamento não evoluiu para a esfera amorosa e se transformou em uma amizade sólida e duradoura. Isso já me surpreendeu, porque o título e o pôster me induziram a pensar que o longa seria algo mais relacionado ao clichê de friends with benefits. Debbie é divorciada, mora em Los Angeles com o filho (Jack) e abandonou o sonho de ser uma editora literária pra focar em uma carreira como contadora – uma opção mais segura e estável para manter sua família. Peter mora em Nova York e nunca alcançou o antigo sonho de ser escritor, trabalhando como um bem-sucedido profissional de branding. Quando Debbie precisa fazer um curso em NY mas não tem ninguém com quem deixar Jack, Peter se oferece pra passar a semana na casa dela como babá, oferecendo seu apartamento no Brooklyn pra Debbie se hospedar. A semana na qual eles trocam de casas vira a rotina dos dois de cabeça pra baixo, e eles passam a descobrir detalhes sobre o outro que nem 20 anos de amizade foram capazes de desvendar.

Na Sua Casa ou Na Minha? conseguiu a façanha de fazer com que os dois plots fossem cativantes, na minha opinião. Eu adorei ver Ashton Kutcher no papel de novo “parceiro no crime” de Jack, tentando se aproximar do garoto, dando conselhos pra ele se enturmar na escola (com conselhos bem ruins, admito) e levando ele pro mau caminho alimentar. 😂 Peter é um personagem que a princípio parece raso – é o estereótipo de bonitão que nunca namora alguém por muito tempo –, mas durante sua estada na casa de Debbie vamos entendendo o porquê dele manter essa “fachada”. É nítido o ciúme que ele sente do vizinho de sua amiga, especialmente quando ele descobre que existe uma amizade colorida rolando ali (afinal, Debbie não tá morta, né?). O espectador percebe sem demora que Peter é apaixonado por Debbie, mas não fica claro o motivo pelo qual esse sentimento nunca veio à tona e porque ele nunca tentou nada com ela ao longo de duas décadas, especialmente quando lembramos que o primeiro encontro deles foi sexual. Por que ele deu um ghosting na Debbie pra não terem mais nenhum date e depois se tornou amigo dela? O filme explica isso, mas leva um tempinho. Aliás, aproveitando esse gancho, eis uma das críticas negativas que tenho em relação à produção: sua duração é mais longa do que precisava ser.

Retornando à história… Em Nova York, Debbie se depara com a vida de luxo do amigo, completamente diferente da sua. Só que, apesar do dinheiro, Peter vive uma vida solitária – seu apartamento não tem um toque pessoal, uma decoração, um aconchego, nada. Os copos têm até etiqueta de preço! Debbie acaba fazendo amizade com a vizinha de Peter (e ex-peguete dele), Minka, que é uma personagem com intuito de ser um alívio cômico pra história. Eu acho ela um pouco forçada (quem é que fica tão bff de alguém assim tão rápido, gente?), mas sua índole é boa e ela tenta dar empurrõezinhos bem-vindos em Debbie, então dá pra relevar. Também é bacana a vibe “girls taking New York” das duas. 😂 Durante sua semana na cidade, Debbie conhece e se relaciona brevemente com um editor famoso, o que a possibilita entrar em contato com o mundo literário, que sempre foi seu grande sonho; porém, assim como Peter, Debbie também precisa enfrentar seus verdadeiros sentimentos e tomar decisões importantes se quiser ser verdadeiramente feliz e honesta consigo mesma.

É muito bacana assistir uma comédia romântica com personagens mais velhos e com preocupações relacionadas a coisas além do amor, como a carreira, por exemplo. Tanto Debbie quanto Peter deixaram sonhos pra trás devido às obrigações da vida e às necessidades que surgiram, mas ao mesmo tempo o longa também traz a esperança de que nunca é tarde pra recomeçar: seja vivendo seu grande amor ou recalculando a rota da sua profissão. Eu tô chegando nos 30, gente, então esse tipo de história ressoa forte por aqui. 😂 Gosto de ser impactada por tramas que mostrem que nossos sonhos podem ser realizados em diversos momentos da vida, e que não temos só a casa dos 20 pra realizarmos todas as nossas conquistas pessoais, como muitas das produções hollywoodianas tentam vender.

Na Sua Casa ou Na Minha? é um filme que entrega uma dupla de protagonistas carismáticos, pelos quais a gente torce individualmente e também shippa muito como casal. Além disso, a história de ambos é envolvente em cada uma das cidades, e o filme consegue construir um romance mesmo com os personagens a km de distância e mal interagindo um com o outro. A trama faz com que o espectador acredite na história da amizade deles e, consequentemente, no amor que sempre esteve ali. Então se você procura uma boa comédia romântica e um casal de quem gostar, esse filme é a escolha certa. ❤

Título original: Your Place or Mine
Ano de lançamento: 2023
Direção: Aline Brosh McKenna
Elenco: Reese Witherspoon, Ashton Kutcher, Zoe Chao, Jesse Williams, Wesley Kimmel, Tig Notaro, Steve Zahn

Dica de Série: Ruptura

Oi pessoal, tudo bem?

Hoje a dica é de uma das séries mais interessantes a que assisti nos últimos tempos, e olha que isso não é pouca coisa, hein? Hoje o nosso papo é sobre Ruptura.

Sinopse: Mark lidera uma equipe de funcionários cujas memórias foram cirurgicamente divididas entre vida profissional e pessoal. Um misterioso colega aparece fora do ambiente trabalho, e ele começa uma jornada para descobrir a verdade sobre seu emprego.

Imagine uma realidade em que você pudesse separar sua vida pessoal da profissional. Mas não estou dizendo isso de forma metafórica, daquele jeito saudável que a gente tenta fazer quando busca equilíbrio entre os nossos compromissos. Estou falando de um modo brutalmente literal: nessa realidade, você poderia fazer uma intervenção no seu cérebro que “apagaria” a sua versão de “fora do trabalho” (ou “Outie”) no momento em que você chegasse ao escritório, assim como apagaria sua versão “do escritório” (ou “Innie”) quando você saísse dele. Durante o expediente, você não lembraria nada sobre quem você é lá fora: seus gostos, sua família, seus hobbies, seus amores; fora do expediente, você não saberia se seu trabalho é meramente burocrático ou se, digamos, envolve escravizar ou matar pessoas, por exemplo. Esse é o grande dilema moral de Ruptura, que gira em torno desse procedimento médico que dá nome à série e é realizado pelo protagonista – Mark S. – após perder a esposa em um acidente, sendo consumido pelo luto. Como cerca de 8h ou 9h do seu dia são dedicadas ao trabalho, lhe parece uma boa troca não ter que lembrar que essa dor existe durante esse período. Porém, quando ele é abordado por um homem que alega ser seu ex-colega de departamento, Mark começa a apresentar sintomas estranhos e a nutrir dúvidas desse sistema.

Ruptura é o tipo de série que vem e faz você sentir o impacto. A fotografia é pálida, a abertura é profundamente angustiante e o tom da história faz você se sentir tão preso quanto os personagens. A ambientação por si só é um personagem também: Mark e sua equipe trabalham em um escritório que mais parece um labirinto, todo sem janelas e com fortes luzes brancas, causando neles uma sensação de que o tempo não passa. Considerando que os Innies realmente não sentem o tempo passar (afinal, no momento em que eles saem do escritório, sua consciência é desligada e só é religada ao retornarem), é como se eles vivessem aprisionados dentro das paredes da Lumon, a empresa por trás do procedimento da ruptura.

A saúde mental no ambiente de trabalho é um dos tópicos mais latentes de Ruptura, e fica evidente na personagem Helly. Ela é a novata da equipe e tem grande dificuldade de se ajustar, tentando se demitir a todo custo. Acontece que, ao entrar na Lumon e fazer a ruptura, sua versão Outie grava um vídeo contando pra você que foi realmente você quem decidiu por aquilo, e que é de fato a melhor escolha, numa tentativa de fazer a versão Innie se tranquilizar e aproveitar o trabalho. Contudo, isso não funciona com Helly, que tenta diariamente burlar o sistema para fugir do prédio e conseguir ter suas memórias de volta no ambiente exterior, de modo que possa “avisar a si mesma” lá fora que a Lumon é uma cilada. O plot de Helly vem acompanhado de alguns gatilhos, inclusive suicídio, então fica o aviso caso você seja uma pessoa sensível a esse tópico. Mas por meio dela vemos como é o desespero de alguém que deseja se libertar de uma rotina esmagadora e claustrofóbica e não consegue, enquanto seus pares ao redor parecem ter se conformado a ponto de fazer parte da engrenagem. Essa problematização perdura ao longo de toda temporada, até que pequenos sinais de rebeldia vão acontecendo e o status quo vai sendo alterado.

É muito bacana ver a transformação da equipe de Mark ao longo da temporada. Os já mencionados Mark e Helly têm grande foco porque o primeiro é o principal protagonista e a segunda é justamente quem mexe com a “paz” do setor, mas temos também Irving e Dylan, os outros dois membros da equipe que são fundamentais pra que movimentos significativos aconteçam ao longo dos episódios. Acho que a grande questão aqui é que essa equipe representa a rebeldia, a curiosidade e a liberdade do espírito humano: por mais que tentem cercear as pessoas, limar suas possibilidades e controlar os seus passos, a busca por ir além sempre está ali, no fundo do coração, por fazer parte da nossa natureza. A curiosidade de saber o que está acontecendo, de ir mais a fundo, de se ver livre da opressão, principalmente depois que você “quebra o vidro” da ilusão que tentam criar (ilusão essa que a Lumon faz na mesma medida em que utiliza de coerção física e psicológica pra colocar as pessoas “nos trilhos”).

Ruptura é uma série de desenvolvimento lento, com cenas mais pacatas, que focam nos diálogos e no aprofundamento psicológico dos personagens e das suas relações, mas nem por isso ela é uma série entediante ou cansativa. Pelo contrário, a sensação que os episódios causam é de querer ver mais para descobrir mais informações, e também angústia, tanto no ambiente externo (enquanto a versão Outie de Mark tenta investigar as pistas que seu ex-colega de departamento deixou) mas, principalmente, no ambiente interno (devido a opressão do escritório). Ainda que a série crie um ambiente inóspito de forma proposital e, quem sabe, levemente exacerbada, não podemos dizer que é irreal; muitos lugares pelo mundo oferecem condições de trabalho iguais ou piores para seus funcionários, influenciando diretamente na sua sensação de bem-estar e saúde psicológica. Passando ou não pelo procedimento médico, Ruptura nos faz confrontar o equilíbrio entre vida e trabalho de uma forma bastante dura, e como eu disse antes: você sente o impacto. 👀 Vale a pena conferir!

Título original: Severance
Ano de lançamento: 2022
Direção: Dan Erickson
Elenco: Adam Scott, Britt Lower, Zach Cherry, John Turturro, Tramell Tillman, Jen Tullock, Dichen Lachman, Christopher Walken, Patricia Arquette

Review: Gato de Botas 2: O Último Pedido

Oi pessoal, tudo bem?

Recuperados do feriado de Carnaval? Por aqui, curti o bloquinho do sofá, das séries e do cinema. 😂 Uma das produções a que assisti foi Gato de Botas 2: O Último Pedido, e já adianto pra vocês que ele é 500 mil vezes melhor que seu antecessor (sobre o qual eu não lembro praticamente nada e nem é relevante aqui, pra ser honesta).

Sinopse: O Gato de Botas descobre que sua paixão pela aventura cobrou seu preço: ele esgotou oito de suas nove vidas. O Gato de Botas embarca em uma jornada épica para encontrar o mítico Último Desejo e recuperar suas nove vidas.

Depois de viver 8 vidas cheias de aventuras – mas também repletas de insensatez – o famoso e destemido Gato de Botas chega à sua nona e última vida. Quando um caçador de recompensas ameaçador, o Lobo, começa a persegui-lo e parece ser um adversário que o Gato não é capaz de enfrentar, ele decide viver uma vida como gato doméstico na casa de uma protetora. Lá ele ouve falar que João Trombeta, um colecionador de itens mágicos raros, recebeu um mapa que leva à Estrela dos Desejos, capaz de devolver ao Gato suas nove vidas e seus tempos de glória. Nosso anti-herói peludo parte então para essa missão, sendo acompanhado (a contragosto) de um cãozinho sem nome, que ganha o apelido de Perrito, e reencontrando uma gata de seu passado com quem precisa novamente se aliar, Kitty Pata-Mansa.

Gato de Botas 2 é um filme muito dinâmico. A história não para em momento algum, nos levando a diversos cenários e colocando os personagens em movimento constante. O protagonista está muito fragilizado nesse longa, e os motivos são basicamente dois. Em primeiro lugar: ele finalmente está enfrentando a perspectiva de que a morte está a um acidente de distância, algo que nunca nem sequer fez parte de suas preocupações antes. Em segundo lugar: por causa dessa percepção, ele se tornou um gato com muito medo – especialmente quando enfrenta o Lobo e precisa fugir porque percebe que vai perder (e perder agora significa ser morto). Para alguém que sempre baseou sua reputação no fato de ser lendário, aventureiro e destemido, sentir-se vulnerável assim é um grande choque.

Eu diria que Gato de Botas 2 é um filme que levanta questionamentos sobre identidade, ou melhor, sobre as coisas que consideramos que compõem a nossa identidade. No caso do Gato, no momento em que ele é privado de ser a lenda que sempre acreditou ser, ele passa a duvidar de si mesmo e a se sentir um pária. Para ele, nada mais importa além de conseguir fazer um desejo à Estrela, de modo que consiga suas vidas de volta e possa ser aquela “pessoa” (ou gato rs) de novo, mesmo que pra isso precise abandonar os amigos e trair Kitty novamente.  Inevitavelmente, o filme coloca o personagem (e o espectador) pra confrontar o que de fato faz a gente ser o que é: são apenas alguns recortes ou são todas as nossas características, inclusive as nossas fragilidades? Com a experiência vivida ao longo da trama, o Gato de Botas vai percebendo que é o segundo caso; ele é mais do que o chapéu com a pena, a espada e as botas, e ele não depende da ovação do povo pra ser amado. Pessoalmente, toda essa discussão me toca num lugar bastante sensível, porque diversas vezes paro pra pensar sobre as coisas que de fato me definem e quais ainda fazem sentido na minha vida hoje, e a mensagem transmitida em Gato de Botas 2 foi bonita, positiva e inspiradora.

Outro elogio fica a cargo do Perrito, o novo companheiro de viagem do Gato. Ele tem uma história bem triste, que é contada na forma de piada no maior estilo “gatinhos chegando no céu no episódio de Tom & Jerry” (entendedores entenderão). Ele é fofo, engraçado e traz a leveza que o Gato perdeu ao ter seu estilo de vida tão amado tirado de si. Ele vê no Gato e em Kitty a chance de finalmente ter amigos, e como um bom cachorro demonstra sua lealdade em toda oportunidade possível. Também adorei rever Kitty, que fez sua primeira aparição no filme solo de estreia do Gato de Botas, mas cujo passado não tinha sido tão aprofundado (não que eu me lembre pelo menos; só me recordo que eles tinham um histórico do Gato tê-la traído). Ela é uma personagem de personalidade marcante, mas com o coração generoso. É engraçado que o filme usa o fato do trio ser composto por dois gatos e um cachorro pra brincar com os “preconceitos” envolvendo as espécies: enquanto o mapa leva por um caminho gentil quando conduzido por Perrito, ele é cheio de percalços nas mãos de Kitty e do Gato, pois faz parte do funcionamento do mapa mostrar o que está no coração de quem o manuseia. 😂 Mesmo adorando gatos, achei engraçada essa piadinha sutil com o estereótipo.

Outro aspecto bacana do longa reside na animação, que mistura o 3D com momentos 2D (numa pegada bem Homem-Aranha no Aranhaverso) e, é claro, a aventura presente na história, que é bem legal também. Existem três grupos competindo pra chegar à Estrela dos Desejos primeiro: o grupo do Gato, o grupo do João Trombeta e o grupo de Cachinhos Dourados e sua família de ursos. Aproveito esse gancho pra fazer minha primeira crítica negativa: que dublagem horrorosa a da Gio Ewbank! Ela dubla a Cachinhos e faz parecer que a personagem é uma idosa fumante de 80 anos sem um pingo de emoção. Foi sofrível de assistir. Minha segunda crítica negativa ao filme é que ele é um pouquinho longo demais, e eu não me importaria se as cenas envolvendo esses outros personagens fossem um pouco menores.

Gato de Botas 2: O Último Desejo é um filme divertido, que entretém e ainda oferece ótimas reflexões sobre o que forma a nossa identidade. Por meio da proximidade com a morte, o protagonista pôde finalmente entender a responsabilidade e o privilégio que é viver – e essas são lições que valem a pena em qualquer idade. Recomendo!

P.S.: o assobio do Lobo perseguindo o Gato é de assustar até adultos, hein! 👀
P.S. 2: quero muito assistir com o áudio original pra ouvir o Wagner Moura dublando o Lobo, vi um trecho no TikTok e ficou demais! 🔥

Título original: Puss in Boots: The Last Wish
Ano de lançamento: 2022
Direção: Joel Crawford
Elenco: Antonio Banderas, Salma Hayek, Harvey Guillén, Florence Pugh, Olivia Colman, Ray Winstone, Samson Kayo, John Mulaney, Wagner Moura

Dica de Série: Ted Lasso

Oi gente, tudo bem?

Nem só de decepções minhas últimas semanas têm sido (quem leu os dois posts anteriores vai entender 😂). Hoje eu quero dividir com vocês uma dica que simplesmente ganhou meu coração todinho, me arrancando sorrisos, lágrimas e esperança: Ted Lasso, uma série que já ganhou vários prêmios e é super elogiada. ❤

Sinopse: Jason Sudeikis é Ted Lasso, treinador de um pequeno time de futebol americano de faculdade da cidade de Kansas contratado para ser o técnico de um time de futebol profissional na Inglaterra, apesar da falta de experiência.

Quem diria que eu, que sou zero apegada a esportes, teria meu coração arrebatado por uma série que fala sobre isso? Na trama, Ted Lasso é um treinador de futebol americano que é contratado, junto de seu treinador técnico – Beard –, para treinar um time de futebol inglês (ou seja, nosso futebol tradicional). Ted nada entende do assunto, mas topa o desafio mesmo assim, e é recebido em Londres com muita animosidade, já que o esporte é forte na cultura do país e o time para qual Ted é contratado – AFC Richmond – tem uma legião leal de fãs. Com o tempo, Ted precisa construir relações fortes no time, ao mesmo tempo que passa por desafios na sua vida pessoal.

Como descrever Ted Lasso? Bom, começo dizendo que ele é o tipo de amigo que todo mundo deveria ter na vida. Ele é quase irreal de tão perfeito? Sim, mas isso não vem ao caso. 😂 Ted é alguém que te cativa à primeira vista. Ele tem um nível de empatia enorme, um coração que mal cabe no peito e uma crença ferrenha no potencial de cada uma das pessoas com quem trabalha. Um exemplo dos seus gestos de carinho tão naturais é o ritual que ele constrói com Rebecca, sua chefe: toda segunda-feira ele vai até o escritório dela com biscoitos pelos quais ela se apaixona, e esse dia da semana ganha um caráter especial graças a esse pequeno momento.

Rebecca é uma personagem que, à primeira vista, pode incomodar. Ela contratou Ted sabendo que ele tinha zero experiência com futebol porque seu intuito verdadeiro era afundar o Richmond. Essa atitude é um desejo de vingança contra o ex-marido, que a traiu e a trocou por mulheres mais jovens, mas que tinha no clube de futebol sua maior paixão. Como Rebecca ficou com Richmond após a separação, ela quer feri-lo levando o time para o buraco. Isso é super mesquinho, né? É claro. Mas juro pra vocês, a série consegue humanizar Rebecca de uma forma muito natural. A gente sente a dor do abandono, o medo de ficar sozinha e a humilhação e o escárnio públicos que ela enfrenta. Porém, quanto mais convive com Ted, mais ela vai sendo contagiada por seu otimismo e a amizade que os dois constroem pouco a pouco se torna uma das melhores coisas da produção.

Os personagens são definitivamente o ponto alto de Ted Lasso. Adoro a alegria contagiante de Keeley (e sua amizade com Rebecca), os palavrões do craque veterano Roy Kent, o caminho de redenção do petulante Jamie Tartt, o jeitão taciturno (mas leal ao Ted) de Beard, entre outros personagens que roubam a cena quando estão na tela. Até os vilões conseguem causar uma profunda comoção na gente. Por mais que Ted Lasso seja uma série sobre um time de futebol, ela é muito mais sobre as relações humanas, o poder dos laços e, é claro, sobre liderança.

Me senti inspirada pelo jeito de liderar de Ted. Ele é muito mais atento do que as pessoas ao seu redor imaginam, prestando atenção em pequenos detalhes que podem fazer a diferença na motivação de alguém. Ele se preocupa genuinamente com as pessoas que ele lidera, fazendo tudo que está ao seu alcance pra que elas acreditem em si mesmas tanto quanto ele acredita nelas. Ted Lasso foi uma série que mexeu comigo até em questões profissionais, no sentido de admirar profundamente o modo que o personagem lida com o dia a dia e querer ser cada vez mais parecida com ele. ❤

Ted Lasso é tudo e mais um pouco. Ela é bom humor, ela é emoção, ela é amadurecimento, ela é sensível (fala inclusive sobre saúde mental), ela é emoção (com os jogos de futebol) e ela é inspiração. Se você nunca quis dar uma chance por não se identificar com o mundo esportivo, juro que te entendo porque eu também não me identifico. Mas meu conselho é: abra seu coração e conheça essa série e esse personagem – ou melhor, essa gama de personagens – que vão te deixar com um sorriso no rosto.

Título original: Ted Lasso
Ano de lançamento: 2020
Direção: Jason Sudeikis, Bill Lawrence, Joe Kelly
Elenco: Jason Sudeikis, Brendan Hunt, Hannah Waddingham, Nick Mohammed, Brett Goldstein, Juno Temple, Phil Dunster, Jeremy Swift, Toheeb Jimoh

Dica de Série: Quem Era Ela

Oi pessoal, tudo bem?

Quem Era Ela estava no meu radar de leituras há mil anos, mas acabei conhecendo a história por meio da sua adaptação em minissérie. Hoje divido minha opinião sobre essa produção com vocês!

Sinopse: Uma mulher se apaixona por um arquiteto e tem uma estranha premonição sobre sua casa, quando descobre que outra mulher morreu ali.

Jane é uma mulher que passou por um terrível trauma pessoal e decide se mudar para começar seu processo de cura. Ao ser aprovada em um rígido “processo seletivo” para morar na Folgate Street, Nº 1 – uma casa minimalista projetada por um arquiteto de renome –, Jane sente que finalmente terá seu recomeço. Só que, morando na casa, ela começa a se sentir desconfortável ao perceber as inúmeras interações tecnológicas que parecem vigiá-la. Ao mesmo tempo, ela descobre que a inquilina anterior morreu na residência e, para completar o estranho panorama, ela se aproxima do tal arquiteto, Edward. Aos poucos Jane fica em dúvida do papel desse homem tão misterioso nos acontecimentos trágicos da casa, e começa a investigar tudo que aconteceu ali.

Quem Era Ela transcorre em duas timelines diferentes: a de Jane e a de Emma, a garota que morreu. Na história de Emma, descobrimos que ela se mudou para a casa com Simon, seu então noivo. A jovem também tem seus traumas e segredos, buscando na casa consolo e também status. Assim como Jane, Emma se vê envolvida pelo mistério e charme de Edward, rompendo com Simon e entrando de cabeça nesse novo relacionamento. Em ambas as linhas do tempo, a série nos apresenta a um Edward metódico, agindo inclusive da mesma forma com ambas as mulheres. É óbvia a tentativa do roteiro de deixar claro o quão problemático é esse comportamento, já que Edward também tem traços controladores não só na casa que projetou, mas em sua vida pessoal também.

A premissa de Quem Era Ela sempre me interessou muito, mas a execução da minissérie se revelou decepcionante. Achei o andamento dos episódios morno e, além de tudo, o roteiro inverossímil. Não consegui engolir o encantamento das duas personagens por Edward, mas especialmente o de Jane (já que Emma era mais bobinha e imatura mesmo). A personagem desconfia dele, se sente desconfortável com o que passa a descobrir na casa e, mesmo assim, entra em um relacionamento com o arquiteto. Why, God? Esse tipo de atitude me faz querer gritar com a personagem e xingá-la por não ter um único neurônio operante na cabeça.

Emma, a personagem por quem deveríamos sentir empatia, é alguém bem difícil de engolir. Carente, chata e dependente, a forma como ela se apoia em Edward é meio deprimente. Isso faz com que metade do enredo – que foca nela – seja difícil de assistir. Jane pelo menos tem um senso de autopreservação e, ao mesmo tempo que se relaciona com Edward, resolve investigá-lo, bem como a planta da casa em si.

A casa por si só é um personagem bem assustador. Ela não é só minimalista: ela é sem vida, sem alma, sem aconchego. Existem regras inegociáveis para morar nela: você não pode redecorá-la, você não pode beber no sofá, você não pode fazer isso, você não pode fazer aquilo. Como chamar um espaço assim de lar? Ela é toda tecnológica e faz tudo por comando de voz (o que encanta Emma, por exemplo, que quer exibir o sucesso pros amigos), mas aos poucos vai ficando doentio o fato de que a casa pergunta coisas cada vez mais pessoais e determinantes para o morador, como seu posicionamento político, crenças e valores pessoais. Cadê a LGPD pra barrar esse projeto? 🗣️

Queria dizer pra vocês que gostei de Quem Era Ela, mas a verdade é que minhas expectativas foram bastante frustradas. Gostei apenas do final, em que Jane toma uma atitude muito bacana em relação a si mesma, protegendo seus interesses e respeitando o seu momento. Apesar de não ter sido um final “comercial de margarina”, ele foi bem otimista, dado tudo que aconteceu. Infelizmente, já tirei o livro da minha wishlist de leituras, porque não fiquei morrendo de vontade de conferir essa história de novo. :/ E vocês, já leram ou assistiram? Se sim, quero saber o que acharam nos comentários!

Título original: The Girl Before
Ano de lançamento: 2021
Direção: Lisa Brühlmann
Elenco: Gugu Mbatha-Raw, David Oyelowo, Jessica Plummer, Ben Hardy

Dica de Série: Wandinha

Oi gente, tudo bem?

Ainda dá tempo de falar sobre a série que se tornou febre no TikTok? Espero que sim, porque eu amei Wandinha e não poderia deixar de indicar por aqui. 🤭

Sinopse: Inteligente, sarcástica e apática, Wandinha Addams pode estar meio morta por dentro, mas na Escola Nunca Mais ela vai fazer amigos, inimigos e investigar assassinatos.

Após um… digamos… “incidente” na escola que Wandinha frequentava (também conhecido como defender seu irmão de bullies usando piranhas enquanto eles treinavam na piscina), a jovem Addams é transferida pra uma escola especial, na qual seus pais também estudaram: a Nevermore Academy. Ela é conhecida por ser um internato para quem tem habilidades e características especiais, então por lá existem lobisomens, vampiros, sereias e outras pessoas excluídas da sociedade que possuem dons. A escola fica ao lado de uma cidade minúscula, Jericho, cuja economia até gira em torno do internato, mas tem um histórico não superado de ódio aos excluídos. Quando mortes estranhas começam a acontecer e todos passam a desconfiar dos alunos da Nevermore, Wandinha decide investigar por conta própria, dando início a uma trama muito maior do que ela – e com consequências letais.

É impossível falar desse fenômeno da Netflix sem mencionar a atuação de Jenna Ortega, que entregou uma Wandinha maravilhosamente ácida e cativante, mesmo que cheia de defeitos. A arrogância é um deles, por exemplo. 😂 Pra completar, ela tem uma postura totalmente fechada a novos amigos e relações. Por outro lado, Wandinha é inteligente, destemida e obstinada, além de engraçada justamente pelo seu modo seco, apático e cínico de ver a vida. Os comentários dela envolvendo morte e outras coisas obscuras são divertidos e rapidamente você se afeiçoa ao jeito turrão da personagem. O grande mérito por trás disso reside na atuação entregue e dedicada de Jenna Ortega, que se empenhou a criar vários “detalhes” na personagem (como o fato de atuar sem piscar). 

As amizades que a série constrói também são um ponto forte. Wandinha e Mãozinha, sua fiel escudeira, bolam planos juntas e Mãozinha está sempre ali para o que a protagonista precisa: seja entrar num cômodo trancado e desligar as câmeras, seja para amolecer um pouco o coração de gelo da garota. Como pode a gente torcer tanto pra uma mão, né? 😂 A outra amizade que surge na vida de Wandinha é Enid, sua colega de quarto e exato oposto em todos os sentidos possíveis. Eu adoro os paralelos de como tudo que cerca Enid é colorido, vibrante e otimista, enquanto o universo de Wandinha é preto, branco e cinza. Enid tem que insistir nessa amizade e por um bom tempo se doa mais do que Wandinha, mas é também com essa persistência que Enid consegue transformar o coração da amiga de uma forma significativa e bonita.

O único ponto que não gostei é o triângulo amoroso da primeira temporada, envolvendo um “normie” de Jericho e um aluno da Nevermore. Enquanto o primeiro, Tyler, vai conquistando Wandinha aos poucos por mostrar que, independentemente dela ser diferente, ela merece seu afeto, o segundo, Xavier, tem uma aura de mistério e uma química com a garota que fica clara desde o início da série. Os dois acabam envolvidos na investigação de Wandinha, que descobre que há um monstro à solta causando as mortes, e são muito importantes para todo o desenrolar da trama. Não posso falar muito sobre nenhum deles pra não soltar spoilers, mas posso dizer que são nomes que vão estar presentes de forma significativa em toda a investigação – e na conclusão dela.

Adorei o plot investigativo, porque naturalmente tenho afinidade com esse tipo de história. O fato de Wandinha não ser só uma série adolescente sobre romance, os poderes de clarividência da protagonista ou sua adaptação à escola nova me agradou muito, porque deu um senso de propósito à história e ótimos ganchos. A cada nova descoberta que Wandinha faz sobre o monstro e os mistérios envolvendo Jericho e Nevermore, você fica com mais e mais vontade de continuar dando play. Gostei bastante do desfecho da história e acho que amarrou bem as pontas soltas, deixando um caminho de possibilidades para uma segunda temporada, mas sem depender exclusivamente dela (ainda bem que a confirmação da renovação já chegou!).

Independentemente da coreografia que tomou conta do TikTok, Wandinha é uma série divertida e envolvente por si só. O clima macabro, o humor ácido e a investigação são pontos fortes que tornam a produção um entretenimento de qualidade, daqueles que divertem e fazem você nem ver o tempo passar, mesmo com episódios mais longos. Vale o hype e vale o play! 📺

Título original: Wednesday
Ano de lançamento: 2022
Criação: Alfred Gough, Miles Millar
Elenco: Jenna Ortega, Emma Myers, Hunter Doohan, Percy Hynes White, Joy Sunday, Georgie Farmer, Christina Ricci, Victor Dorobantu, Gwendoline Christie, Riki Lindhome