Review: Glass Onion: Um Mistério Knives Out

Oi pessoal, tudo bem?

Eu não perco a chance de assistir ou ler uma história de mistério/investigação policial, mas apesar das críticas positivas, o primeiro filme Knives Out (Entre Facas e Segredos, aqui no Brasil) não me ganhou, e eu fiz um review bem decepcionado aqui no blog. Contudo, as ótimas críticas da continuação, Glass Onion, acabaram me deixando curiosa, e cá estou pra contar pra vocês se valeu a pena dar uma segunda chance. Bora de resenha? 😉

Sinopse: O ricaço Miles Bron convida seus amigos excêntricos para sua ilha para jogar um jogo de detetive. Mas um assassinato real é cometido e as coisas saem do controle. Todos são suspeitos e a morte pode vir de onde se menos imagina.

A sinopse é curta, direta e eficiente, então não vou me estender muito além dela pra resumir a trama. O adendo que farei é que, além dos amigos de Miles, quem também recebe um convite para a ilha é o detetive Benoit Blanc. Quando ele chega ao local, o próprio Miles fica surpreso, pois não foi ele quem enviou o convite a Benoit. Porém, a presença do detetive se torna mais um elemento para “abrilhantar” o jogo maluco de Miles, cujo ego supera qualquer estranheza com o fato de que alguém enviou um convite sem seu consentimento. Para completar o panorama geral, uma das convidadas – Cassandra “Andi” Brand – é a ex-sócia de Miles, e foi muito prejudicada ao ser expulsa da empresa que ela idealizou e que fez de Miles milionário, o que deixa o clima da confraternização super tenso.

Podemos definir o cenário de Glass Onion como uma torta de climão. O espectador não demora a perceber que a amizade entre os personagens é frágil como um castelo de cartas, pronta a ruir ao menor sopro. O dinheiro de Miles parece comprar muito mais do que bens materiais, e ao longo do filme isso vai sendo mostrado aos poucos: cada personagem deve algum tipo de lealdade a ele, e isso é fundamental para o cerne do crime que ocorre lá pela metade do filme. Miles convida seus antigos amigos para esse jogo de detetive que ele idealizou, mas demora um certo tempo até que um assassinato de verdade aconteça. Porém, para a minha surpresa, não achei que o filme se tornou lento ou entediante até que isso ocorresse (diferente do seu antecessor, que mesmo tendo um assassinato de cara me fez querer dormir o longa inteiro). O ritmo de Glass Onion é muito bom, e ele intercala a comédia de uma forma bem mais competente e interessante do que o primeiro Entre Facas e Segredos. Deixo também o mérito pra atuação de Edward Norton, que entrega bem esse tipo de papel – conseguindo ser ao mesmo tempo mesquinho, engraçado de modo constrangedor e profundamente irritante, tal qual esses milionários sem noção.

Glass Onion é um filme que satiriza diversos tipos sociais, então temos uma socialite envolvida em escândalos trabalhistas com sua fábrica de roupas, uma política que conta com o dinheiro sujo do amigo na sua campanha, um homem extremamente machista que faz vídeos pro Youtube, entre outros estereótipos que, quando colocados juntos, transformam o ambiente numa panela de pressão prestes a explodir. Benoit é o ponto de equilíbrio, aquele observador externo que vai juntando as pontas soltas pra descobrir o verdadeiro culpado pelo assassinato que ocorre na ilha, mas também por outro mistério – sobre o qual não vou falar pra não estragar uma das melhores partes do filme. Mas é um plot bem interessante e que é a verdadeira graça da história. Inclusive, preciso destacar a atuação de Janelle Monáe como Andi, que é o grande destaque do longa. Ela consegue entregar nuances super diferentes na sua interpretação (que vão da inocência ao rancor), além de protagonizar as melhores cenas do filme com uma energia hipnotizante.

Em resumo, adorei Glass Onion e fiquei contente por decidir dar uma nova chance a essa franquia (já podemos chamar assim?). Com o sucesso, é possível que venham mais filmes, e agora estou definitivamente mais empolgada para conferir os próximos. Glass Onion: Um Mistério Knives Out é uma ótima história de detetive com humor na medida certa, um final surreal divertidíssimo e plot twists que mantêm o espectador ligado o tempo todo. Recomendo!

Título original: Glass Onion: A Knives Out Mystery
Ano de lançamento: 2022
Direção: Rian Johnson
Elenco: Daniel Craig, Edward Norton, Janelle Monáe, Kathryn Hahn, Leslie Odom Jr., Kate Hudson, Dave Bautista, Jessica Henwick, Madelyn Cline, Noah Segan

Review: Super Mario Bros. – O Filme

Oi pessoal, tudo bem?

Uma das estreias pelas quais eu estava mais ansiosa esse ano era Super Mario Bros. – O Filme, que parecia lúdico, divertido e cheio de referências aos jogos. O longa chegou aos cinemas essa semana e é claro que corri para assistir!

Sinopse: Mario é um encanador junto com seu irmão Luigi. Um dia, eles vão parar no reino dos cogumelos, governado pela Princesa Peach, mas ameaçado pelo rei dos Koopas, que faz de tudo para conseguir reinar em todos os lugares.

O Reino Cogumelo está em perigo. Depois de colocar as mãos na Super Estrela que lhe confere poderes sem igual, Bowser – rei dos Koopas – está determinado a governar todos os reinos, e o dos Cogumelos é o próximo em seu radar. Sua governante, a Princesa Peach, está planejando alianças com reinos vizinhos e tentando todas as estratégias possíveis para proteger seus súditos. O que ela não imaginava é que seu maior aliado poderia ser um encanador bigodudo do Brooklyn que caiu por acidente em seu reino após encontrar uma tubulação mágica que une a Terra a outros universos. Já sabem de quem estou falando, né? Mas nosso querido Mario também teu seus próprios objetivos: ele precisa salvar Luigi, seu irmão, que também caiu na tubulação com ele mas teve um destino menos auspicioso: em vez de cair no Reino Cogumelo, Luigi caiu no território de Bowser, e Mario precisa correr contra o tempo pra resgatá-lo.

Posso começar exaltando o fato de que quem precisa ser salvo aqui não é a princesa, mas sim Luigi? Além de Peach não ser colocada nessa posição de fragilidade, sendo na verdade uma governante decidida, corajosa e que coloca a mão na massa, Super Mario Bros. ainda escolhe focar no elo entre os irmãos e em quanto um confia no outro: Luigi sabe que Mario não vai desistir dele, enquanto Mario está disposto a ir até os confins do mundo para resgatar seu irmão. A relação de irmandade é muito bonita, e não é somente no mundo fantástico em que estão que ela é evidenciada. Mesmo no Brooklyn, vivendo a vida de encanadores, fica claro pro espectador que Mario e Luigi são o suporte um do outro. Os dois decidiram abrir a própria empresa e, mesmo que todas as pessoas duvidem que a empreitada vai dar certo, eles se apoiam mutuamente.

O filme gira em torno da missão de Mario de resgatar o irmão e de Peach de conseguir a aliança do reino dos Kongs (ou Donkey Kong Island) para combater o exército de Bowser. Não vou revelar muito mais sobre o enredo pra não estragar um dos elementos mais legais do filme: as referências e easter eggs. Desde os primeiros momentos, os fãs do jogo são presenteados com detalhes que arrancam sorrisos. A trilha sonora clássica já aparece na primeira cena, com Bowser chegando em um de seus ataques. Em outro momento, quando Mario e Luigi precisam correr pelo Brooklyn pra chegar na casa de um cliente, vemos a cena numa perspectiva que se assemelha a um 2D, como se fosse uma fase do jogo. É divertido demais! Há aparições e referências de diversos cenários, fases, memes, personagens e situações de inúmeros jogos da franquia, mas tudo isso é inserido de forma bem orgânica.

Com um roteiro simples, mas que entretém do início ao fim, Super Mario Bros. tem como ponto forte o amor e a confiança entre irmãos, assim como a subversão do clichê da princesa que precisa ser salva. É um prato cheio pra quem é fã dos jogos, mas também diverte quem não tem todas as referências do mundo, como é o meu caso (sempre preferi Donkey Kong a Super Mario rs). A história me empolgou e fiquei deslumbrada com as paisagens, com o carisma dos personagens, com as referências a jogos que eu adoro (como Mario Kart) e com a forma despretensiosa que o filme deu vida a esses personagens clássicos na telona. Apesar do filme ter encerrado de forma redondinha, as cenas pós-créditos dão abertura para mais, e se um segundo filme vier com certeza eu estarei prontinha pra assistir. Resumindo: recomendo muito!

Título original: The Super Mario Bros. Movie
Ano de lançamento: 2023
Direção: Aaron Horvath, Michael Jelenic
Elenco: Chris Pratt, Charlie Day, Jack Black, Anya Taylor-Joy, Keegan-Michael Key, Seth Rogen, Fred Armisen

Review: Na Sua Casa ou Na Minha?

Oi gente, tudo bem?

Não é à toa que Na Sua Casa ou Na Minha? ficou no Top 10 Filmes da Netflix por vários dias: que comédia romântica gostosa, gente! ❤ Se você também tava com saudade de um filme que realmente suprisse essa categoria, continue lendo porque essa dica vale a pena.

Sinopse: Grandes amigos e totalmente opostos, Debbie e Peter trocam de casa por uma semana. Será que essa experiência vai abrir as portas para o amor?

Eu costumo dar meu voto de confiança ao que é produzido pela Reese Whiterspoon porque adoro muitas das séries e filmes dela, então isso somado ao buzz em torno do seu novo longa me fizeram dar o play com bastante empolgação em Na Sua Casa ou na Minha?. O filme nos apresenta a Debbie e Peter, dois melhores amigos que se conhecem desde os 20 e poucos anos, quando dormiram juntos, mas cujo relacionamento não evoluiu para a esfera amorosa e se transformou em uma amizade sólida e duradoura. Isso já me surpreendeu, porque o título e o pôster me induziram a pensar que o longa seria algo mais relacionado ao clichê de friends with benefits. Debbie é divorciada, mora em Los Angeles com o filho (Jack) e abandonou o sonho de ser uma editora literária pra focar em uma carreira como contadora – uma opção mais segura e estável para manter sua família. Peter mora em Nova York e nunca alcançou o antigo sonho de ser escritor, trabalhando como um bem-sucedido profissional de branding. Quando Debbie precisa fazer um curso em NY mas não tem ninguém com quem deixar Jack, Peter se oferece pra passar a semana na casa dela como babá, oferecendo seu apartamento no Brooklyn pra Debbie se hospedar. A semana na qual eles trocam de casas vira a rotina dos dois de cabeça pra baixo, e eles passam a descobrir detalhes sobre o outro que nem 20 anos de amizade foram capazes de desvendar.

Na Sua Casa ou Na Minha? conseguiu a façanha de fazer com que os dois plots fossem cativantes, na minha opinião. Eu adorei ver Ashton Kutcher no papel de novo “parceiro no crime” de Jack, tentando se aproximar do garoto, dando conselhos pra ele se enturmar na escola (com conselhos bem ruins, admito) e levando ele pro mau caminho alimentar. 😂 Peter é um personagem que a princípio parece raso – é o estereótipo de bonitão que nunca namora alguém por muito tempo –, mas durante sua estada na casa de Debbie vamos entendendo o porquê dele manter essa “fachada”. É nítido o ciúme que ele sente do vizinho de sua amiga, especialmente quando ele descobre que existe uma amizade colorida rolando ali (afinal, Debbie não tá morta, né?). O espectador percebe sem demora que Peter é apaixonado por Debbie, mas não fica claro o motivo pelo qual esse sentimento nunca veio à tona e porque ele nunca tentou nada com ela ao longo de duas décadas, especialmente quando lembramos que o primeiro encontro deles foi sexual. Por que ele deu um ghosting na Debbie pra não terem mais nenhum date e depois se tornou amigo dela? O filme explica isso, mas leva um tempinho. Aliás, aproveitando esse gancho, eis uma das críticas negativas que tenho em relação à produção: sua duração é mais longa do que precisava ser.

Retornando à história… Em Nova York, Debbie se depara com a vida de luxo do amigo, completamente diferente da sua. Só que, apesar do dinheiro, Peter vive uma vida solitária – seu apartamento não tem um toque pessoal, uma decoração, um aconchego, nada. Os copos têm até etiqueta de preço! Debbie acaba fazendo amizade com a vizinha de Peter (e ex-peguete dele), Minka, que é uma personagem com intuito de ser um alívio cômico pra história. Eu acho ela um pouco forçada (quem é que fica tão bff de alguém assim tão rápido, gente?), mas sua índole é boa e ela tenta dar empurrõezinhos bem-vindos em Debbie, então dá pra relevar. Também é bacana a vibe “girls taking New York” das duas. 😂 Durante sua semana na cidade, Debbie conhece e se relaciona brevemente com um editor famoso, o que a possibilita entrar em contato com o mundo literário, que sempre foi seu grande sonho; porém, assim como Peter, Debbie também precisa enfrentar seus verdadeiros sentimentos e tomar decisões importantes se quiser ser verdadeiramente feliz e honesta consigo mesma.

É muito bacana assistir uma comédia romântica com personagens mais velhos e com preocupações relacionadas a coisas além do amor, como a carreira, por exemplo. Tanto Debbie quanto Peter deixaram sonhos pra trás devido às obrigações da vida e às necessidades que surgiram, mas ao mesmo tempo o longa também traz a esperança de que nunca é tarde pra recomeçar: seja vivendo seu grande amor ou recalculando a rota da sua profissão. Eu tô chegando nos 30, gente, então esse tipo de história ressoa forte por aqui. 😂 Gosto de ser impactada por tramas que mostrem que nossos sonhos podem ser realizados em diversos momentos da vida, e que não temos só a casa dos 20 pra realizarmos todas as nossas conquistas pessoais, como muitas das produções hollywoodianas tentam vender.

Na Sua Casa ou Na Minha? é um filme que entrega uma dupla de protagonistas carismáticos, pelos quais a gente torce individualmente e também shippa muito como casal. Além disso, a história de ambos é envolvente em cada uma das cidades, e o filme consegue construir um romance mesmo com os personagens a km de distância e mal interagindo um com o outro. A trama faz com que o espectador acredite na história da amizade deles e, consequentemente, no amor que sempre esteve ali. Então se você procura uma boa comédia romântica e um casal de quem gostar, esse filme é a escolha certa. ❤

Título original: Your Place or Mine
Ano de lançamento: 2023
Direção: Aline Brosh McKenna
Elenco: Reese Witherspoon, Ashton Kutcher, Zoe Chao, Jesse Williams, Wesley Kimmel, Tig Notaro, Steve Zahn

Review: Gato de Botas 2: O Último Pedido

Oi pessoal, tudo bem?

Recuperados do feriado de Carnaval? Por aqui, curti o bloquinho do sofá, das séries e do cinema. 😂 Uma das produções a que assisti foi Gato de Botas 2: O Último Pedido, e já adianto pra vocês que ele é 500 mil vezes melhor que seu antecessor (sobre o qual eu não lembro praticamente nada e nem é relevante aqui, pra ser honesta).

Sinopse: O Gato de Botas descobre que sua paixão pela aventura cobrou seu preço: ele esgotou oito de suas nove vidas. O Gato de Botas embarca em uma jornada épica para encontrar o mítico Último Desejo e recuperar suas nove vidas.

Depois de viver 8 vidas cheias de aventuras – mas também repletas de insensatez – o famoso e destemido Gato de Botas chega à sua nona e última vida. Quando um caçador de recompensas ameaçador, o Lobo, começa a persegui-lo e parece ser um adversário que o Gato não é capaz de enfrentar, ele decide viver uma vida como gato doméstico na casa de uma protetora. Lá ele ouve falar que João Trombeta, um colecionador de itens mágicos raros, recebeu um mapa que leva à Estrela dos Desejos, capaz de devolver ao Gato suas nove vidas e seus tempos de glória. Nosso anti-herói peludo parte então para essa missão, sendo acompanhado (a contragosto) de um cãozinho sem nome, que ganha o apelido de Perrito, e reencontrando uma gata de seu passado com quem precisa novamente se aliar, Kitty Pata-Mansa.

Gato de Botas 2 é um filme muito dinâmico. A história não para em momento algum, nos levando a diversos cenários e colocando os personagens em movimento constante. O protagonista está muito fragilizado nesse longa, e os motivos são basicamente dois. Em primeiro lugar: ele finalmente está enfrentando a perspectiva de que a morte está a um acidente de distância, algo que nunca nem sequer fez parte de suas preocupações antes. Em segundo lugar: por causa dessa percepção, ele se tornou um gato com muito medo – especialmente quando enfrenta o Lobo e precisa fugir porque percebe que vai perder (e perder agora significa ser morto). Para alguém que sempre baseou sua reputação no fato de ser lendário, aventureiro e destemido, sentir-se vulnerável assim é um grande choque.

Eu diria que Gato de Botas 2 é um filme que levanta questionamentos sobre identidade, ou melhor, sobre as coisas que consideramos que compõem a nossa identidade. No caso do Gato, no momento em que ele é privado de ser a lenda que sempre acreditou ser, ele passa a duvidar de si mesmo e a se sentir um pária. Para ele, nada mais importa além de conseguir fazer um desejo à Estrela, de modo que consiga suas vidas de volta e possa ser aquela “pessoa” (ou gato rs) de novo, mesmo que pra isso precise abandonar os amigos e trair Kitty novamente.  Inevitavelmente, o filme coloca o personagem (e o espectador) pra confrontar o que de fato faz a gente ser o que é: são apenas alguns recortes ou são todas as nossas características, inclusive as nossas fragilidades? Com a experiência vivida ao longo da trama, o Gato de Botas vai percebendo que é o segundo caso; ele é mais do que o chapéu com a pena, a espada e as botas, e ele não depende da ovação do povo pra ser amado. Pessoalmente, toda essa discussão me toca num lugar bastante sensível, porque diversas vezes paro pra pensar sobre as coisas que de fato me definem e quais ainda fazem sentido na minha vida hoje, e a mensagem transmitida em Gato de Botas 2 foi bonita, positiva e inspiradora.

Outro elogio fica a cargo do Perrito, o novo companheiro de viagem do Gato. Ele tem uma história bem triste, que é contada na forma de piada no maior estilo “gatinhos chegando no céu no episódio de Tom & Jerry” (entendedores entenderão). Ele é fofo, engraçado e traz a leveza que o Gato perdeu ao ter seu estilo de vida tão amado tirado de si. Ele vê no Gato e em Kitty a chance de finalmente ter amigos, e como um bom cachorro demonstra sua lealdade em toda oportunidade possível. Também adorei rever Kitty, que fez sua primeira aparição no filme solo de estreia do Gato de Botas, mas cujo passado não tinha sido tão aprofundado (não que eu me lembre pelo menos; só me recordo que eles tinham um histórico do Gato tê-la traído). Ela é uma personagem de personalidade marcante, mas com o coração generoso. É engraçado que o filme usa o fato do trio ser composto por dois gatos e um cachorro pra brincar com os “preconceitos” envolvendo as espécies: enquanto o mapa leva por um caminho gentil quando conduzido por Perrito, ele é cheio de percalços nas mãos de Kitty e do Gato, pois faz parte do funcionamento do mapa mostrar o que está no coração de quem o manuseia. 😂 Mesmo adorando gatos, achei engraçada essa piadinha sutil com o estereótipo.

Outro aspecto bacana do longa reside na animação, que mistura o 3D com momentos 2D (numa pegada bem Homem-Aranha no Aranhaverso) e, é claro, a aventura presente na história, que é bem legal também. Existem três grupos competindo pra chegar à Estrela dos Desejos primeiro: o grupo do Gato, o grupo do João Trombeta e o grupo de Cachinhos Dourados e sua família de ursos. Aproveito esse gancho pra fazer minha primeira crítica negativa: que dublagem horrorosa a da Gio Ewbank! Ela dubla a Cachinhos e faz parecer que a personagem é uma idosa fumante de 80 anos sem um pingo de emoção. Foi sofrível de assistir. Minha segunda crítica negativa ao filme é que ele é um pouquinho longo demais, e eu não me importaria se as cenas envolvendo esses outros personagens fossem um pouco menores.

Gato de Botas 2: O Último Desejo é um filme divertido, que entretém e ainda oferece ótimas reflexões sobre o que forma a nossa identidade. Por meio da proximidade com a morte, o protagonista pôde finalmente entender a responsabilidade e o privilégio que é viver – e essas são lições que valem a pena em qualquer idade. Recomendo!

P.S.: o assobio do Lobo perseguindo o Gato é de assustar até adultos, hein! 👀
P.S. 2: quero muito assistir com o áudio original pra ouvir o Wagner Moura dublando o Lobo, vi um trecho no TikTok e ficou demais! 🔥

Título original: Puss in Boots: The Last Wish
Ano de lançamento: 2022
Direção: Joel Crawford
Elenco: Antonio Banderas, Salma Hayek, Harvey Guillén, Florence Pugh, Olivia Colman, Ray Winstone, Samson Kayo, John Mulaney, Wagner Moura

Review: Uma Garota de Muita Sorte

Oi pessoal, tudo bem?

Assisti há algumas semanas Uma Garota de Muita Sorte, mas outros conteúdos ganharam prioridade e só agora consegui trazer minha opinião a respeito. Vamos conhecer?

Sinopse: A vida perfeita de uma escritora começa se despedaçar quando um documentário sobre crimes reais faz com que ela confronte seu angustiante passado no colégio.

No longa, estrelado pela carismática Mila Kunis, conhecemos Ani, uma mulher com a vida dos sonhos: ela tem um emprego bacana como escritora numa revista, é noiva de um homem charmoso e rico e tem aquele corpo magro que o padrão de beleza impõe. Sua vida começa a ser balançada quando o diretor de um documentário a procura, insistindo que ela tope dar seu depoimento sobre um evento traumático do seu tempo de escola. Ani hesita, pois não quer que as sombras de seu passado atrapalhem seu presente e futuro brilhantes – até que, aos poucos, vai ficando claro que o castelo que ela construiu é feito de cartas, e qualquer sopro pode fazê-lo desmoronar.

Não demora a ficar claro como o dia que tudo no comportamento de Ani é milimetricamente calculado. Ela sai para almoçar com o namorado e come somente duas fatias da sua pizza napoletana individual, pedindo à garçonete para embalar o resto pra viagem. Quando o noivo vai ao banheiro, ela come o resto da pizza com uma voracidade digna de episódio de compulsão alimentar. Ela então finge que a garçonete derrubou a bebida em cima da pizza e eles vão embora. Esse é apenas um exemplo simples pra evidenciar a atuação que Ani aplica em cada aspecto de sua vida, porque ela deseja ser perfeita e construir a vida perfeita, já que ela não teve nada disso quando era adolescente (e aos poucos vamos entendendo a profundidade do seu trauma). Só que isso também torna a personagem difícil de gostar, pelo menos na maior parte do filme: é difícil torcer por alguém que interpreta um papel forçado para agradar a todos à sua volta. Ani não tem espontaneidade e nem vulnerabilidade, e isso afasta o espectador dela.

Quando ela decide participar do documentário, o filme vai entrando no âmbito do suspense/thriller. Começam a ser exibidas cenas da época em que a protagonista estudou em um colégio particular graças a uma bolsa dada por seu brilhantismo, especialmente em termos de redação. Ao mesmo tempo em que faz amizade com dois outsiders da escola, ela também consegue criar vínculo com o grupinho dos populares, e começa a namorar um deles. Uma festa dos alunos é o estopim para uma sequência de eventos destrutiva para todos os envolvidos, e as peças aos poucos se encaixam. O filme demora um pouco a trazer esses elementos à luz, o que pode cansar um pouco o espectador, mas a moral da história por trás de tudo isso vale a espera.

Esse parágrafo é pra discutir o principal ponto do filme, mas é spoiler, então pule para o parágrafo seguinte não quiser ler, tá bem? Uma Garota de Muita Sorte não se destacou pra mim por ser um filme de suspense excelente, mas sim por trazer o tema “consentimento” com tanta veemência e seriedade. Ani foi vítima de um estupro coletivo que, de certa forma, serviu como incentivo para que seus amigos – que já odiavam os populares – somassem o trauma dela aos seus próprios e resolvessem fazer um tiroteio na escola. Tudo isso faz com que a personagem de Mila Kunis sofra um trauma que a impede de seguir a vida normal, porque ela nunca se curou desse passado. Enquanto isso, um dos rapazes que a estuprou ficou paraplégico no tiroteio e se tornou uma espécie de “herói nacional” ao escrever livros e dar palestras contra o armamento da população; acontece que ninguém sabe do estupro, porque quando Ani tentou denunciar, ninguém deu ouvidos. Uma Garota de Muita Sorte machuca ao mostrar a dura realidade do que acontece quando pessoas que deveriam proteger simplesmente negligenciam a vítima, que precisa viver não apenas a violência do ato como também a humilhação de ser desacreditada. A atuação de Mila Kunis e de Chiara Aurelia, que a interpreta quando jovem, também merecem destaque: ambas conseguem demonstrar com muita competência a profundidade das cicatrizes emocionais causadas por tudo que aconteceu. Como crítica negativa, fica uma decisão desnecessária do roteiro: precisavam mesmo terem sido tão gráficos nas cenas de estupro? Eu respondo: não. É desconfortável e degradante ver Ani naquela situação, e a falta de um trigger warning pra quem já passou por violências semelhantes me preocupa. Não me impressiona que o filme tenha sido dirigido por um homem, porque acho improvável que uma mulher que se preocupe minimamente com o impacto da violência sexual fosse escolher esse caminho narrativo. :/ 

Uma Garota de Muita Sorte é um bom filme sobre traumas, sobre o peso de ser mulher em uma sociedade que nos sexualiza e nos descredibiliza e sobre ser fiel a si mesma. A jornada de Ani para recuperar o controle da própria vida e narrativa é bastante comovente, porque aos poucos ela vai percebendo que precisa de bases mais sólidas do que aquelas que criou, e vemos sua mudança e seus sacrifícios pra encarar esse novo momento. Ainda que inicialmente a protagonista não seja cativante, aos poucos entendemos o seu jeito e passamos a torcer por ela. Recomendo, mas deixo aqui o trigger warning a respeito da violência sexual.

Título original: Luckiest Girl Alive
Ano de lançamento: 2022
Direção: Mike Barker
Elenco: Mila Kunis, Chiara Aurelia, Finn Wittrock, Connie Britton, Justine Lupe, Alex Barone

Review: Pantera Negra: Wakanda Forever

Oi pessoal, tudo bem?

Que o primeiro Pantera Negra é um dos meus filmes favoritos do MCU não é novidade. Que a morte prematura de Chadwick Boseman partiu meu coração em pedacinhos também não. Por isso, eu estava ao mesmo tempo ansiosa e receosa pra ver como lidariam com a ausência dele na continuação, Pantera Negra: Wakanda Forever. Vamos descobrir?

Sinopse: Rainha Ramonda, Shuri, M’Baku, Okoye e Dora Milaje lutam para proteger sua nação das potências mundiais intervenientes após a morte do rei T’Challa.

O filme começa já dando um soco na boca do nosso estômago e fazendo a gente sentir novamente a perda de Chadwick – dessa vez, sob o manto de T’Challa, acometido por uma doença misteriosa e não revelada. Vemos que Shuri veio trabalhando na tentativa de fazer uma versão criada em laboratório da Erva Coração (que Killmonger eliminou no primeiro filme após passar pelo ritual do Pantera Negra), mas a garota falha em sua missão e perde o irmão, cena seguida pelo funeral de T’Challa. Não tenho nem o que dizer, gente: as lágrimas chegam nos primeiros minutos do filme. Além da cerimônia fúnebre ser linda (com trajes e canções típicas e o rosto pintado de T’Challa em uma parede enorme de uma construção), a gente sente que está se despedindo de Chadwick mais uma vez. Eu sinceramente estou com os olhos marejados só de lembrar disso enquanto escrevo.

A perda do Pantera faz com que Wakanda fique numa posição mais vulnerável, já que as grandes nações desejam que o país compartilhe o Vibranium. Com a recusa, é criada uma máquina capaz de detectar o metal raro e poderoso, que é surpreendentemente encontrado no mar. Quando o exército americano se aproxima dessa fonte de Vibranium, criaturas surgem na água e começam a cantar, levando os soldados a pularem do barco. É uma cena que me fez pensar diretamente nas sereias, mas sob aquele viés mais vilanesco do mito, sabem? Gostei bastante dessa abordagem. Esse povo que estamos conhecendo pela primeira vez são oriundos do reino de Talokan, uma espécie de Atlantida protegida e governada pelo Príncipe Namor, que inicialmente deseja se unir a Wakanda contra os povos da superfície, mas que declara animosidade contra o reino de Ramonda quando se recusam a fazê-lo.

Eu gostei bastante de Namor como antagonista. Seu passado foi bem explorado, ele revela um lado mais vulnerável (apesar de também saber ser cruel) e seus motivos são compreensíveis. Namor não gera o mesmo sentimento causado pelo intenso Killmonger e suas razões, mas a fonte de sua ira contra a superfície é parecida: ainda criança Namor viu o vilarejo de sua mãe ser escravizado pelos espanhóis, o que lhe dá inúmeros motivos para não confiar em ninguém da superfície. A história de origem sobre seus talentos e sobre as características de seu povo também é bem bacana e aposto que muitos fãs adoraram poder finalmente ouvi-la no contexto do MCU, mas não vou falar a respeito pra não dar spoiler nem estragar a experiência. 😛

Mas se Namor é um bom antagonista, devo dizer que o brilho do filme reside nas personagens femininas. Shuri está enfrentando um luto violento e desesperançoso, que a afasta das possibilidades de cura (e Letitia Wright atuou tão bem em sua dor que até relevei por alguns momentos ela ser uma antivax); Okoye é responsabilizada pelas consequências de um acidente e vê toda a sua identidade estremecer; a rainha Ramonda é uma força da natureza, sendo um pilar mesmo após perder o marido e o filho e vendo seu reino ser ameaçado; temos também o retorno da espiã Nakia, uma personagem-chave no primeiro Pantera Negra que havia sumido do MCU; e por último, mas não menos importante, há a chegada da brilhante Riri Williams, a futura Coração de Ferro, que simplesmente roubou a cena – amei cada segundo dela em tela, porque seu carisma é simplesmente cativante.

O longa tem uma certa barriga ali pela metade, sendo um pouco mais longo do que o necessário. Apesar disso, não fiquei cansada ou entediada. Na verdade, pra ser honesta, fiquei talassofóbica: apesar de eu amar praia, tenho medo do alto-mar e de grandes profundidades, e uma parte considerável/importante do filme se passa nesses cenários (mas consegui ignorar esse desconforto pra apreciar a beleza de Talokan, cidade inspirada na mitologia asteca). Quando a produção consegue vencer essa barriga e voltar para a ação, a empolgação retorna e nos rende excelentes cenas de batalha.

Mas se eu tiver que resumir Pantera Negra: Wakanda Forever, eu diria que ele é uma homenagem a Chadwick Boseman do início ao fim. O filme consegue fazer na prática o que os personagens de Wakanda dizem: não é necessário estar fisicamente presente para se estar ali. T’Challa e Chadwick podem ter partido para um outro plano (pra quem acredita nele), mas eles estão presentes em cada segundo do longa. Wakanda Forever acerta em não correr com os processos de luto dos personagens, porque também não acelera o processo de luto do espectador. Pra mim, foi difícil assistir Pantera Negra: Wakanda Forever, mas não porque o filme seja fraco em relação ao seu antecessor (apesar de não chegar nem perto de sua grandiosidade). Foi difícil porque Chadwick estava ali, sua ausência estava ali, e ainda dói encarar o fato de que ele e T’Challa partiram. Resta torcer para que estejam em paz, com seus ancestrais, onde estiverem.

Título original: Black Panther: Wakanda Forever
Ano de lançamento: 2022
Direção: Ryan Coogler
Elenco: Letitia Wright, Angela Bassett, Danai Gurira, Lupita Nyong’o, Winston Duke, Tenoch Huerta, Martin Freeman, Dominique Thorne

Review: Nada de Novo no Front

Oi pessoal, tudo bem?

Nada de Novo no Front é um romance de Erich Maria Remarque (sobre o qual já falei aqui no blog) e que ganhou uma nova adaptação este ano pela Netflix. Considerando que o livro foi um dos mais intensos que já li, estava mais do que ansiosa para conferir esse longa cheio de potencial.

Sinopse: Convocado para a linha de frente da Primeira Guerra Mundial, o adolescente Paul encara a dura realidade da vida nas trincheiras.

A trama gira em torno da Primeira Guerra Mundial, sob o ponto de vista dos soldados alemães – especialmente do protagonista, Paul Bäumer. O filme começa em 1917, no terceiro ano de guerra, e Paul e seus três amigos (Ludwig, Franz e Kropp) são motivados pelos professores e pelo idealismo nacionalista a se alistarem. Ainda que a família de Paul fosse contra, o rapaz não deseja ficar pra trás, querendo cumprir seu papel de herói patriótico ao lado dos camaradas. O filme evidencia de cara os sorrisos nos rostos dos recrutas, a forma empolgada como eles cantam suas canções e a inflamação provocada por discursos apaixonados de professores e figuras de poder em relação à guerra e ao papel da Alemanha nela. Porém, quando chegam no acampamento e se preparam para ir até o front, o grupo de amigos sente o baque do que a guerra realmente representa: fome, frio, falta de higiene, doenças e, é claro, a iminência constante da morte. Paul então vê cada um desses elementos atingirem a si e ao seu grupo, enquanto os rapazes vão perecendo e deixando Paul sozinho.

Quando terminei o longa, cheguei à conclusão de que ele é um excelente filme sobre guerra, mas não uma excelente adaptação literária. O início de Nada de Novo no Front segue bastante a atmosfera e a trama criadas por Remarque em sua obra, mas da metade pro final o filme toma decisões próprias que o afastam do material base. Como eu não sou fã de filmes de guerra e só estava assistindo por amar o livro, isso acabou me desapontando um pouco. Mas, se você não leu a obra original e curte esse estilo de filme, certamente vai adorar, porque é um longa muito competente em equilibrar excelentes atuações, cenas de guerra aflitivas e violentas e também expor as hipocrisias dos diplomatas, que bebem vinho e tomam decisões literalmente de vida ou morte enquanto os soldados se matam no campo de batalha.

A entrega total do elenco é fundamental pra tornar Nada de Novo no Front mais do que um filme de guerra. O desespero de Ludwig, por exemplo, é palpável: ele não demora a perceber o risco que corre e o arrependimento por ter se alistado. Paul, por sua vez, tem seu rosto completamente mudado do início pro meio e pro fim do filme: o brilho no olhar se vai e os sorrisos se tornam mais raros, o cansaço está estampado em cada linha de expressão, bem como sua desolação. Felix Kammerer, o ator que dá vida ao protagonista, me impactou com sua performance, transmitindo com poucas palavras o quanto a guerra destruiu os sonhos do jovem Paul.

E já que estamos falando sobre as emoções dos personagens, é aqui que entra uma diferença absurda da adaptação que eu senti muita falta. Enquanto o longa se concentra 100% na guerra nas trincheiras e nas negociações que acontecem em paralelo, o livro tem momentos emocionantes fora desses cenários. Paul chega a ir para casa duas vezes na obra original, e eu lembro que essas ocasiões foram muito marcantes durante a leitura, porque evidenciam a sensação de desconexão do personagem com o “mundo normal”. Ao tentar se readequar à sociedade, Paul se sente um outsider, pois ninguém ali sabe o que ele vivenciou e é capaz de compartilhar da sua dor e de seus traumas. Por outro lado, fiquei contente em ver que o filme adaptou uma das melhores sequências do livro: o surto de Paul após vitimar um homem na luta corpo a corpo pela primeira vez. O rapaz fica desesperado por suas mãos terem sido a causa daquela vida ter chegado ao fim, e é uma cena marcante porque mostra ao protagonista que os inimigos também são pessoas normais, com vidas e famílias. Acho que grande parte da carga emocional do livro reside nesses dois momentos (a inadequação fora da guerra e a morte do soldado francês), e eu teria adorado ver ambos retratados na tela.

Nada de Novo no Front é um filme melancólico, intenso e que causa um desconforto no estômago (ainda mais pelas mudanças que o roteiro optou por fazer no final, me pegando desprevenida). Ele revolta, especialmente quando coloca homens cheios de ego – mas convenientemente bem longe da batalha – tomando decisões que vão afetar permanentemente a vida dos soldados, ou até mesmo causando suas mortes. O patriotismo incentivado pelas figuras de referência dos jovens é usado para manipulá-los e levá-los a lutar uma batalha que não é sua, em nome de uma honra que não existe. Porque não existe honra na guerra, ela nada mais é do que a evidência de que falhamos enquanto seres humanos e falhamos na capacidade de dialogar. Nesse sentido, filmes como Nada de Novo no Front servem como um alerta doloroso e necessário de que os poderosos não ligam para a vida humana, desde que seus objetivos sejam alcançados. Assim como o livro, recomendo sem pensar duas vezes.

Título original: Im Westen nichts Neues
Ano de lançamento: 2022
Direção: Edward Berger
Elenco: Felix Kammerer, Albrecht Schuch, Aaron Hilmer, Moritz Klaus, Adrian Grünewald, Edin Hasanovic, Daniel Brühl, Devid Striesow

Review: A Mulher Rei

Oi pessoal, tudo bem?

Eu admiro demais o trabalho da Viola Davis, uma atriz que dispensa apresentações, tamanho seu talento e influência. Por isso, fiz questão de assistir ao longa A Mulher Rei no cinema, protagonizado e produzido por ela. ❤ Vamos conhecer?

Sinopse: Em 1800, o general Nanisca treina um grupo de mulheres guerreiras para proteger o reino africano de Dahomey de um inimigo estrangeiro.

Além do envolvimento de Viola Davis no projeto, outras duas razões me deixaram animada com essa produção: o protagonismo feminino negro e o fato de ser baseado em uma história real. A trama acompanha o treinamento de um grupo de soldadas de elite – as Agojie – no reino de Dahomey, ou Daomé, na África, que está em guerra com reinos rivais e sob ameaça da escravidão europeia. Nanisca é a general responsável por esse exército feminino, e ao mesmo tempo em que ela e suas lideradas precisam treinar as recém-chegadas, Nanisca também deseja convencer o seu rei de que vender os prisioneiros de guerra para os europeus é um erro – pois ela entende que, no fim das contas, os brancos não os enxergam como iguais, independentemente de estarem negociando com seu rei.

Como contraponto à experiência da protagonista, temos o ponto de vista da jovem Nawi, uma garota que foi cedida pelo pai para fazer parte do exército. A garota é impulsiva e tem uma dificuldade tremenda de agir em conjunto e seguir ordens, mas consegue criar um vínculo bastante forte com a tenente que a treina, Izogie. Aos poucos, Nawi vai se destacando no treinamento, tendo como objetivo ser a melhor guerreira dentre as novatas e ser notada por Nanisca.

A Mulher Rei é um filme que impressiona. O treinamento das novatas faz com que você não pisque o olho pra não perder nenhum movimento. As lutas são incrivelmente coreografadas, os exercícios são intensos e o filme consegue deixar claro o porquê daquele grupo de mulheres ser tão potente e ameaçador. A força de Nanisca, impressa em cada gesto e expressão facial de Viola Davis, transborda e contagia todas que fazem parte das Agojie. Não há dor que elas não suportem nem desafio que não vençam em nome de seu rei e de seu povo. As lutas não são menos brutais por serem protagonizadas por mulheres, e inclusive as Agojie – e Nanisca – têm mais prestígio junto ao rei do que seu exército masculino. Ver essa inversão de papéis sendo transmitida com tanta potência é de arrepiar, especialmente se você é mulher.

Apesar do foco maior na ação e nas batalhas sangrentas, A Mulher Rei também trabalha com competência as relações entre os personagens. Nanisca é muito próxima de Izogie, sua tenente, e também de Amenza, a líder espiritual do grupo, e é nas cenas com elas que vemos os traços da sua fragilidade. Porque mesmo sendo uma general implacável, a protagonista tem sombras e dores ainda não curadas em seu coração. Nawi é como seu oposto: ela ainda é “inocente” (mesmo que se ache madura) e curiosa, se aproximando dos europeus e flertando com soldados de Dahomey, uma clara afronta às regras das Agojie, que não permitem relacionamentos conjugais. O bacana nessa personagem é ver seu crescimento conforme ela é obrigada a confrontar os horrores da guerra, sem o prisma glamuroso pelo qual ela enxergava as Agojie e seu treinamento.

Porém é Nawi que está envolvida em minhas duas únicas críticas negativas ao roteiro. Não tenho como falar sobre sem soltar spoilers, então selecione se quiser ler: o filme infelizmente cai no clichê em duas circunstâncias diferentes envolvendo a personagem. A primeira delas está na relação com o europeu descendente de uma escrava, Malik, que se encanta por Nawi. Os dois flertam um pouco e têm uma ou duas conversas significativas, mas já é o suficiente para que ele a salve e lute para protegê-la. Achei inverossímil e rápido demais, mesmo que ele tenha como justificativa o fato de sua mãe ter sido escrava. A segunda situação está na relação entre Nawi e Nanisca: o fato de serem mãe e filha foi um recurso preguiçoso e conveniente do roteiro, e não curti nem um pouco. Quando Nanisca assume um papel de “mãezona” no final, chamando a garota de filha, me soou forçado e não consegui me emocionar. Se não fossem essas duas decisões, eu teria dado nota máxima em todos os aspectos para A Mulher Rei.

A Mulher Rei é um filme que acerta em cheio ao mostrar a perspectiva feminina e negra num momento importante da história africana, colocando não só o poder dessas mulheres em destaque, como também o debate sobre a escravidão e as consequências dela para os reinos e tribos que negociavam seus prisioneiros com brancos europeus. Sabemos o quanto essa prática ganhou escala e os terrores gerados, mas diferente de muitas produções que falem do tema, A Mulher Rei evidencia a força, a garra, a vontade de lutar e o espírito livre dos homens e mulheres negros que lutaram em e por Dahomey. Esse é um daqueles filmes que merecem ser assistidos na telona, tamanha sua imponência. Mas, se não for possível, deixe esse nome anotadinho e assista assim que conseguir: prometo que vai valer (muito!) o seu tempo.

Título original: The Woman King
Ano de lançamento: 2022
Direção: Gina Prince-Bythewood
Elenco: Viola Davis, Thuso Mbedu, Lashana Lynch, Sheila Atim, John Boyega, Hero Fiennes Tiffin, Jordan Bolger

Review: Um Lugar Bem Longe Daqui

Oi gente, tudo bem?

Depois de 9 dias maravilhosos em Fernando de Noronha, estou de volta à rotina! Pra retornar com o pé direito, quero indicar um filme que adapta o livro best-seller Um Lugar Bem Longe Daqui.

Sinopse: Kya é uma garota abandonada, que teve que se criar sozinha no brejo da Carolina do Norte. Por anos, rumores da “Menina do Brejo” assombraram Barkley Cove, isolando a afiada e inteligente Kya de sua comunidade. Atraída por dois jovens na cidade, Kya se abre para um mundo novo e estimulante, mas quando um deles é encontrado morto, ela é imediatamente considerada a principal suspeita. Conforme o caso vai se desdobrando, a verdade sobre o que aconteceu se torna cada vez mais nebulosa, ameaçando revelar os muitos segredos que existem no brejo.

Apesar de não ter lido o livro, ele é uma obra muito recomendada pela Pam Gonçalves (em cujo gosto literário confio plenamente), então fiquei bem animada para conferir sua adaptação. Além disso, a produção ficou a cargo da Reese Whiterspoon, que vem apostando em obras focadas na força feminina. Ótimos motivos pra gerar curiosidade, né? A trama gira em torno da vida de Kya Clark, uma jovem que foi abandonada para viver sozinha em um casebre no brejo quando ainda era criança. Sua família foi destruída pela violência de seu pai, e um a um todos foram deixando a casa à beira do lago pra trás: primeiro sua mãe, depois seus irmãos mais velhos, até que o próprio pai também partiu. Kya podia contar apenas com o apoio de um homem chamado Pulinho e sua esposa, Mabel, donos de um mercadinho da cidade que se compadeciam da situação da menina e a ajudavam como podiam. No presente, Kya é uma bela jovem que se vê no centro de uma investigação de assassinato; o filme então vai intercalando passado e presente para apresentar cada fato que levou Kya até o momento desesperador que vivencia.

Impossível falar de Um Lugar Bem Longe Daqui sem enfatizar o desespero que sentimos pela infância de Kya. Ver sua família inteira partir fez com que a garota desenvolvesse traços de personalidade muito marcantes, assim como óbvios traumas: ela tem dificuldade para confiar nas pessoas, vive mais confortavelmente em meio à natureza do que em meio às pessoas, é bastante tímida e reclusa; por outro lado, Kya é sensível, determinada, tem um forte senso de sobrevivência e é uma excelente observadora, o que fica claro nos desenhos que faz da flora e da fauna do brejo. A população da cidade destina muito preconceito a Kya – chamando-a inclusive de “Menina do Brejo” e transformando-a em uma outsider no processo –, mas a garota encontra alento quando seu caminho se cruza com o de Tate Walker, seu primeiro amor. Eles compartilham da paixão pela natureza e ele é a pessoa que alfabetiza Kya, além de incentivá-la a aprender cada vez mais sobre biologia. Tate é um rapaz apaixonante e o relacionamento dos dois não poderia ser mais incrível, até que ele é aprovado na universidade e vai embora, quebrando uma promessa que fez à protagonista. Já podem imaginar o quão doloroso foi ver o coração de Kya se partindo por causa do abandono novamente, né? Passei o filme todo querendo guardá-la num potinho e protegê-la de todo o mal. 😦

Falando em mal… chegamos à vítima do assassinato que foi mostrado no início do longa, Chase Andrews. Ele cumpre bem o estereótipo de mauricinho que tem a vida ganha e cujos passos estão traçados dentro do que a elite da cidade espera dele. Porém, ele se interessa por Kya e logo eles engatam um namoro (que não demora a se revelar extremamente problemático). A verdade é que a protagonista é alguém que, apesar de sobreviver na solidão, deseja desesperadamente uma conexão, o que a torna um alvo fácil para alguém como Chase; é isso que permite que ela acredite no rapaz e se envolva com ele mesmo sem de fato amá-lo. Em contrapartida, Chase vê em Kya uma conquista “exótica”, sentindo-se engrandecido por conseguir para si a “Menina do Brejo”. Sinceramente, só por ele chamá-la desse modo eu já fiquei enojada, pois é claro desde o primeiro instante que ele não a respeita por quem ela é, estando com Kya somente pelo fetiche que criou em torno dela. Parabéns a Harris Dickinson pela atuação, porque conseguiu com sucesso me fazer sentir um asco descomunal pelo seu personagem. 🤮

Kya passa por coisas terríveis nas mãos de Chase, mas no julgamento da garota as pessoas parecem já ter a decisão tomada sobre sua culpa. Como o corpo foi encontrado no brejo, é mais fácil para a população conservadora apontar os dedos para aquela que destoa. Felizmente a protagonista encontra apoio em Tom Milton, que se oferece para ser seu advogado de forma pro bono por acreditar que o preconceito da cidade é o verdadeiro vilão naquela história. Porém, devo avisar: a parte do julgamento em si não é a mais instigante do longa. Não existem boas reviravoltas nem argumentos cortantes, e sim uma condução mais morna que aponta fatos óbvios sobre o caso. O que causa aflição em Um Lugar Bem Longe Daqui não é o presente, mas o passado: não é o julgamento de Kya, mas o medo pelo que pode ter acontecido e pelos traumas que a ela podem ter se somado antes da morte de Chase.

A narrativa me deixou bastante presa à trama e envolvida por ela. É impossível não ficar de coração partido por tudo que Kya passou e torcer para que ela encontre alento e felicidade. Conforme conhecemos Chase, a sensação de revolta cresce e, sendo bem honesta com vocês, me fez sentir um belo “bem feito” pelo desfecho que ele encontra. Além da condução envolvente da trama, o filme conta com belas paisagens bucólicas, que transmitem a sensação ora de paz, ora de isolamento e perigo que Kya precisa lidar diariamente. Todo o clima naturalista do longa conversa com a própria essência de Kya, que encontra na flora e na fauna não só os recursos que precisa para sobreviver, como também para se proteger.

Um Lugar Bem Longe Daqui não é um filme de mistério ou, ainda, sobre crime e julgamento, mas sim um drama que apresenta o abismo entre um romance lindo (atrapalhado pela distância) e uma relação tóxica e suas consequências. É também um filme sobre o poder do instinto de sobrevivência e sobre a garra de persistir e resistir. O final é excelente e traz um plot twist daqueles – e, não vou mentir, fiquei feliz com ele sim. A história de Kya mexeu comigo ao longo de toda a duração do longa: quis chorar com ela, sorri com ela, torci e sofri por ela (muito disso sendo mérito da atuação delicada e envolvente de Daisy Edgar-Jones). Pra mim, está aprovadíssimo!

Título original: Where the Crawdads Sing
Ano de lançamento: 2022
Direção: Olivia Newman
Elenco: Daisy Edgar-Jones, Taylor John Smith, Harris Dickinson, David Strathairn, Michael Hyatt, Sterling Macer Jr.

Review: Luck

Oi pessoal, tudo bem?

Eu adoro conferir animações, então a estreia de Luck na Apple TV caiu como uma luva pra um domingo de preguiça. Bora conhecer? 🍀

Sinopse: A corajosa e azarada Sam Greenfield se aventura na encantada Terra da Sorte, onde terá que se aliar a criaturas mágicas para mudar seu destino

Sam é a garota mais azarada do mundo. Com ela, a torrada sempre cai com a manteiga virada pra baixo, sempre chove se ela estiver sem guarda-chuva ou qualquer outra situação semelhante que vocês possam imaginar. Ao atingir a maioridade, Sam precisa deixar o único lar que conheceu – uma casa de acolhimento para meninas – e se virar sozinha em um apartamento novo e em um emprego no qual ela se atrapalhou toda já no primeiro dia. A vida de Sam dá uma guinada quando ela divide seu sanduíche com um gato preto com o qual cruzou na rua, e ele foge deixando pra trás uma moedinha, que acaba se revelando ser uma moeda da sorte. Quando a moeda é perdida, Sam e o gato – que é capaz de falar e se chama Bob – precisam se unir e adentrar num lugar fantástico e secreto chamado Terra do Sorte para conseguir outra moeda, cada um tendo seus próprios objetivos pro item mágico.

O mundo etéreo e fofo no qual Sam adentra – povoado por leprechauns, coelhos e outras criaturas bonitinhas que fazem alusão à atração de coisas boas – é de encher os olhos, e a ambientação do filme realmente tem muitos cenários e premissas que buscam fazer uma imersão do espectador em seu mundo. Sam e Bob exercem aquele papel de outsiders que estão fora da lei (ela por ser uma humana naquele mundo secreto; ele por ter perdido sua moedinha da sorte), o que confere muitas sequências de planos malucos pra fugir das autoridades e “evoluir” na sua missão ao longo da história.

Entretanto, não consegui me sentir 100% fisgada pelas aventuras de Sam e Bob. Achei o filme um pouquinho mais longo do que o necessário e, depois de um tempo de tê-lo assistido, percebi que nem consegui gravar muitos detalhes da história na memória. Meu maior problema foi provavelmente Sam: ela é uma personagem perfeitinha demais, linear demais. Apesar de ter uma história de origem triste (por nunca ter sido adotada), toda a sua motivação vem de conseguir uma moeda da sorte para que uma amiga da casa de acolhimento, Hazel, possa ser adotada. E é claro que essa é uma meta louvável! Acontece que, pra mim, o problema reside no fato de todo o plot de Sam girar em torno desse objetivo e de Hazel, como se a própria Sam não merecesse receber mais nuances.

Apesar dos pesares, a provocação que Luck deseja fazer é bacana. O filme visa mostrar que uma vida composta apenas de boas marés não é possível, que o azar faz parte do equilíbrio da balança e é elementar para valorizarmos os golpes de sorte que o universo oferece. Dá para se divertir, especialmente porque Bob é um personagem bastante carismático, mas não é o longa de animação mais marcante que vai passar pela sua vida. Ainda assim, é uma opção de entretenimento interessante pra um dia em que você busca aquela leveza descomplicada. Deixo a seu critério dar uma chance ou não! 🙂

Título original: Luck
Ano de lançamento: 2022
Direção: Peggy Holmes
Elenco: Eva Noblezada, Simon Pegg, Jane Fonda, Whoopi Goldberg, Colin O’Donoghue, Flula Borg, Adelynn Spoon