Resenha: As Garotas Que Eu Fui – Tess Sharpe

Oi pessoal, tudo bem?

Após ver muitos elogios no bookstagram, estava com as expectativas bem altas pra ler As Garotas Que Eu Fui, um thriller psicológico com um público-alvo mais adolescente que em breve vai virar filme da Netflix. Vamos conhecer?

Garanta o seu!

Sinopse: O nome dela é Nora… no momento. Ela já foi muitas outras garotas: Rebecca, Samantha, Haley, Katie e Ashley. A vida de mentiras não foi sua escolha, e sim sua herança enquanto filha de uma golpista. A criminosa, cujos alvos sempre foram homens fora da lei, usava a filha como acessório em todos os seus trambiques. Mas quando um dos esquemas da mãe se transformou em paixão, Nora resolveu que era a sua vez de aplicar um golpe e desapareceu. Já faz cinco anos que Nora finge ser normal, mas ela sabe que, na sua vida, as coisas nunca permanecem calmas por muito tempo. Em meio a uma situação que já era esquisita, junto com o ex-namorado e a amiga deles (com quem ela está saindo atualmente), Nora se vê vítima de um assalto a banco. Por um lado, ela sabe que tem a lábia necessária para tirar os reféns vivos dali. Por outro, os assaltantes não sabem quem ela realmente é – uma garota que tem muito a esconder…

Considerando que a sinopse resume bem o cerne da história, vou partir direto para minhas impressões a respeito do livro. A narrativa de Tess Sharpe é bastante ágil, e o primeiro ponto positivo a me chamar a atenção foram os capítulos curtos, que conferem dinamismo à história. Nora, sua namorada Iris e seu ex-namorado/melhor amigo Wes se veem vítimas de um assalto a banco junto de algumas poucas pessoas e toda a história no tempo presente se passa em torno da angústia dos personagens de não saberem se irão ou não sobreviver à situação. Os assaltantes – apelidados por Nora de Boné Cinza, o líder, e Boné Vermelho, o lacaio – são violentos e estão sem máscara, o que a leva a crer que não têm nada a perder. Isso faz com que os instintos de sobrevivência da protagonista se ativem na potência máxima, trazendo seu passado (e sua identidade como golpista) à tona, algo que até então apenas Wes conhecia. Entre o drama de Iris descobrir o seu segredo e Nora tentar enganar os bandidos na lábia, a autora também nos leva à melhor parte da história: os flashbacks das identidades anteriores da protagonista, todas as garotas que sua mãe a obrigou a ser desde a mais tenra idade para auxiliá-la a enganar os piores tipos de homens.

Nora cresceu sendo usada pela sua mãe, Abby, uma mulher que ganhava a vida dando golpes do baú em homens criminosos. E Nora não foi a primeira a ser criada assim: sua irmã mais velha, Lee, veio antes dela, e passou por atrocidades tão ruins quanto. Foi graças a Lee que Nora pôde escapar das garras da Abby, pois ela bolou o plano que permitiu colocar a mãe e o marido atrás das grades e conseguir a guarda da irmã. Esse marido foi a chave para a liberdade de Nora, mas também é a grande ameaça que paira sobre sua cabeça: o nome dele é Robert Keane, um criminoso de grande interesse do FBI, responsável por crimes como assassinatos, chantagem, corrupção, tráfico, etc. Contudo, mesmo da prisão ele ainda exerce grande poder sobre sua rede de contatos, e se descobrir que a enteada ainda está viva, certamente mandará alguém atrás dela para matá-la. Robert foi o único homem que Abby amou, e ela o colocou à frente do bem-estar da própria filha. Ela permitiu que Robert as agredisse, as controlasse e, se ele quisesse, também permitiria que as matasse.

Mas Robert não foi o único homem que marcou a vida de Nora com violência. Inclusive, esse é um gatilho importante de ser mencionado: As Garotas Que Eu Fui é um livro essencialmente sobre abuso. Nora sofreu todos os tipos de violência possíveis, da psicológica à física e à sexual. Mas se você pensa que apenas os homens que eram os alvos dos golpes do baú de Abby foram responsáveis por ferir a protagonista, devo dizer que você está enganado. Talvez a principal pessoa a machucá-la profundamenta seja justamente sua mãe. Considero o abuso parental essencial de ser discutido, porque a influência de Abby é sentida em cada linha e em cada reflexão da narração de Nora. O leitor percebe que a protagonista deseja a aprovação da mãe mais do que tudo na vida, que ela foi uma criança que queria agradar a todo custo, que desejava ser amada e ser fonte de orgulho para Abby, mesmo que fosse tratada como um mero acessório nos golpes. Abby fez com que Nora dissociasse de sua personalidade, forçando-a a ser uma criança que assumia diferentes identidades e características a seu bel-prazer, de acordo com seu objetivo e com o homem que queria conquistar. Pior: Abby permitia que Nora fosse vítima de violências variadas ao longo dos anos, e a fazia se sentir culpada caso não aguentasse suportar alguma delas. O nível de distorção psicológica que isso causa na protagonista é muito profundo, e a autora toma a decisão acertada de mostrar que Nora precisa de ajuda e de muita terapia pra começar a superar essas feridas abertas.

O passado de Nora e as consequências psicológicas do abuso são tão interessantes que acabam tendo um revés meio negativo no livro: o plot do assalto a banco se torna desinteressante. Não existe um verdadeiro plot twist muito marcante nem uma sensação que cause verdadeira aflição nos capítulos em que Nora interage com os bandidos. Eu, pelo menos, não senti nenhuma sensação parecida durante essas cenas. Parte do meu desinteresse com esse plot também envolve meu desinteresse nos personagens envolvidos nele: Iris, por exemplo, eu achei um tédio. Ela é o estereótipo de Manic Pixie Dream Girl e, mesmo que a representatividade bissexual seja um ponto super positivo, não consegui comprar a paixão entre as duas e a química simplesmente não rolou. A conexão com Wes foi muito mais verdadeira, e a autora dedicou muito mais tempo em construir o elo entre Nora e ele do que entre Nora e Iris, por mais que ela tente forçar o amor entre as duas. Wes, além de ter sido o primeiro amor dela e o primeiro homem do qual ela não precisou se proteger, também foi uma pessoa que compartilhou da mesma dor que ela – a dor do abuso parental. A profundidade da relação dos dois me convenceu bem mais e, mesmo como amigos, gostei muito mais da interação deles, o que me fez achar que Iris era um elemento bastante dispensável.

As Garotas Que Eu Fui é um livro que poderia ser um pouco mais curto, especialmente no plot do banco, que achei que se arrastou por tempo demais. Entretanto, gostei muito de toda a história do passado de Nora e da forma como Tess Sharpe trabalhou o enredo de uma criança crescendo como filha de uma golpista e as consequências de ser moldada por uma mãe narcisista. Apesar das frases de efeito de Nora sobre ser perigosa (que por vezes me cansavam um pouco rs), eu gostei bastante dela como personagem. Ela é muito humana, tem empatia, ainda luta contra os próprios traumas e suas reações fazem sentido. Além disso, ela não é idealizada, tendo defeitos e pequenas falhas de caráter que me fizeram gostar ainda mais dela, justamente por mostrar que ela não é perfeita e nem deseja ser. Apesar do final aberto (característica da qual eu não gosto muito), a autora passa uma mensagem clara: Nora está pronta para a luta, assim como a maioria de nós, mulheres, somos ensinadas desde muito cedo a estar. Apesar de não ser um livro inesquecível, gostei muito de conhecer Nora e fiquei orgulhosa de ver quão longe ela chegou no seu processo de cura. 🙂

Título original: The Girls I’ve Been
Autora:
Tess Sharpe
Editora: Rocco
Número de páginas: 352
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Livro cedido em parceria com a editora.
Esse não é um publipost, e a resenha reflete minha opinião sincera sobre a obra.

Resenha: Poemas Tardios – Margaret Atwood

Oi pessoal, tudo bem?

Não costumo ler poesia, mas sair da zona de conforto com Margaret Atwood sempre me parece uma boa ideia. E como 21/03 foi o Dia Mundial da Poesia, também achei super válida a sugestão que recebi no post anterior de falar sobre o tema ainda esse mês pra comemorar. Sem mais delongas, vamos conhecer Poemas Tardios, o livro do de hoje?

Garanta o seu!

Sinopse: Comoventes, lúdicos e sábios, os poemas aqui reunidos falam de ausências e finais, envelhecimento e retrospecção, mas também de presentes e renovações. Eles exploram corpos e mentes em transição, bem como os objetos e rituais cotidianos que nos inserem no presente. Lobisomens, sereias e sonhos surgem ao lado de diferentes formas de vida animal e fragmentos de nosso ambiente danificado. Poemas tardios reúne muitos dos temas mais reconhecidos e celebrados de Margaret Atwood, permeados por descrições minuciosas do mundo natural, passando por encontros espirituosos com alienígenas, situações triviais e divertidas (como guardar passaportes velhos), questões políticas urgentes, lendas, mitos e a sempre obstinada defesa da mulher. Mestre da escrita, Atwood nos lembra de viver o momento e não apenas estar vivos. O mais importante, segundo a autora, é aproveitar todos os dias, seja esculpindo lanternas de Halloween em abóboras, fazendo sexo ou simplesmente lembrando-nos de ver os cogumelos de setembro brotarem.

Poemas Tardios reúne poesias que Margaret Atwood escreveu entre 2008 e 2019. De modo geral, elas permeiam temas como feminismo, opressão feminina, passagem do tempo, envelhecimento, natureza e alguns outros assuntos mais abstratos e aleatórios que não se encaixam tão bem em “categorias” específicas. Os poemas são divididos em 5 partes,  e em sua maioria são curtos e fluidos (do jeitinho que eu gosto), com poucas exceções mais longas.

Os assuntos que mais ressoaram em mim foram justamente aqueles que falavam sobre gênero e sobre a passagem do tempo. Em contrapartida, poemas mais “aleatórios” devo confessar que acabei lendo sem muita atenção, meio que passando as páginas rapidamente pra “acabar logo”. Se é apenas falta de paciência ou sensibilidade de minha parte, aí deixo o julgamento pra vocês, porque não ligo muito não rs. Inclusive, nos próximos parágrafos prefiro focar meus esforços em discorrer sobre meus poemas favoritos, e fico na torcida de que, a partir deles, eu possa inspirá-los a conferir essa coletânea também. 😉

Na Parte 1, temos “Sal”, um poema muito bonito que fala sobre olhar para trás, para um tempo passado no qual diversas coisas boas aconteceram, ainda que naquela época você não conseguisse reparar que tais coisas boas estivessem ocorrendo. É um poema que evoca nostalgia. Temos também “Nevasca”, meu poema favorito dessa primeira parte, que narra uma filha olhando para a mãe envelhecida na cama e imaginando que ela esteja vivendo aventuras em seus sonhos, aventuras estas que permitam que ela saia da opressão de estar presa na cama e entre as quatro paredes de seu quarto. Ao mesmo tempo, a parte mais dolorosa desse poema reside na reflexão dessa filha sobre o próprio apego, ao perceber que a vida da mãe deve ser muito melhor em seus sonhos, mas ainda assim essa filha sente tanta dificuldade em permitir que ela parta.

Na Parte 2 do livro, “Roupas de princesa” é uma alegoria que utiliza diferentes situações, peças de roupa e tecidos para evidenciar a falta de liberdade e adequação feminina a qualquer situação. Não importa a maneira como estamos vestidas, a opressão sempre se faz presente e estamos suscetíveis a julgamentos e violências em todos os âmbitos. “Vista-se assim”, “vista-se assado”: não importa, nossas vidas sempre estão em jogo. Ainda nessa temática, “Sombra” é um poema que coloca o corpo feminino como um bem a ser desejado. O poema gira em torno da mulher ser objetificada e, quando não nos resta mais nada a oferecer, até mesmo a nossa sombra vira um alvo. Por último, mas não menos importante, temos minha série favorita no livro: “Canções para as irmãs assassinadas”. Trata-se de uma série poderosa de poemas que conta a história de tantas irmãs, tantas mulheres assassinadas pelo ódio e pela pequenez masculina, assim como a revolta, o luto e a dor que isso deixa pra trás. Foi certamente a sequência mais intensa e que mais mexeu comigo ao longo das páginas.

As Partes 3 e 4 da obra falam (e divagam) bastante sobre a natureza, mas de modo geral não gostei tanto dos poemas. A exceção à regra está na “Sequência do Plasticeno”, que, como “Canções para as irmãs assassinadas”, trata-se de uma série que fala sobre o momento atual do nosso planeta, em que tudo gira em torno do exagero na produção de plástico e em como isso afeta profundamente o equilíbrio da natureza, assim como ameaça o nosso futuro. Essa sequência é bem bacana e promove uma reflexão atual e necessária, sendo o ponto alto da temática natural, na minha opinião. Temos, na Parte 5, alguns poemas que trazem assuntos permeando envelhecimento, natureza e devaneios abstratos, e não gostei de nenhum poema em especial.

Em suma, considero Poemas Tardios uma ótima coletânea de poesia, que mostra um lado de Margaret Atwood que eu ainda não conhecia, mas com o qual gostei muito de entrar em contato. Eu já a admirava como escritora de romances e agora também a admiro como poetisa, pois é nítida sua habilidade de permear por diferentes estilos com maestria. Ainda que eu não tenha amado todos os poemas, acho que isso é natural numa coletânea, e temos que avaliar a obra como um todo. Se você curte poesia, vale a pena conferir. 😀

Título original: Dearly
Autora:
Margaret Atwood
Editora: Rocco
Número de páginas: 176
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Livro cedido em parceria com a editora.
Esse não é um publipost, e a resenha reflete minha opinião sincera sobre a obra.

Resenha: Um Homem Chamado Ove – Fredrik Backman

Oi pessoal, tudo bem?

O post de hoje é bem especial, pois trata-se do meu último livro favoritado: Um Homem Chamado Ove, de Fredrik Backman – autor de Gente Ansiosa, que inclusive foi meu favorito de 2021. ❤

Garanta o seu!

Sinopse: À primeira vista, Ove é muito provavelmente o homem mais rabugento que você já conheceu. Mesquinho, teimoso, cheio de manias e com um temperamento ruim, ele acredita estar cercado por idiotas – esportistas sorridentes e lojistas que falam em código, sem mencionar os golpistas que o expulsaram da presidência da associação de moradores do bairro. As pessoas o consideram um homem amargurado… Mas só porque ele não anda por aí sorrindo o tempo todo, falando o que todos querem ouvir, e fica em silêncio quando não tem nada a dizer, isso significa que é amargo? Certa manhã de novembro, o mundinho organizado e solitário de Ove é abalado pela chegada de novos vizinhos. Um casal jovem e simpático que, com as duas filhas barulhentas, anuncia sua presença ao derrubar a caixa de correio de Ove com o caminhão de mudanças. O que se segue é uma divertida e cativante história sobre gatos desgrenhados, amizades improváveis e descobertas inesperadas.

Começo essa resenha com um aviso importante: existe um gatilho relacionado a suicídio que permeia toda a história, então é importante que você reflita se esse livro é pra você, tá bem? Agora, vamos à resenha. Ove é um senhor de 59 anos que está profundamente deprimido. Ele perdeu sua esposa há 6 meses, e ela era a verdadeira luz de toda a sua vida, a pessoa que dava sentido a cada um de seus dias. O único conforto que Ove tinha após a partida dela era a sensação de utilidade proporcionada pelo trabalho, mas quando ele é dispensado contra sua vontade isso também lhe é tirado. Com a criação e o contexto no qual o protagonista cresceu, sentir-se inútil à sociedade foi um baque muito forte para lidar junto ao luto. Por isso, a decisão mais lógica lhe parece óbvia: juntar-se à esposa, Sonja, por meio de um suicídio limpo e organizado. Acontece que, ao longo do livro, Ove passa a ser teimosamente interrompido pela vida – e quando digo vida, a ênfase está no novo casal de vizinhos, concentrada na figura da matriarca, Parvaneh, uma iraniana de 30 anos cuja personalidade expansiva, contagiante e, ainda assim, curiosamente parecida com a de Ove, que parece determinada em aparecer nos momentos mais inoportunos para atrapalhar os planos do protagonista. Com o passar das páginas, o mau-humor e a rabugice de Ove vão sendo confrontados pelas pessoas que o cercam, e o leitor também vai entendendo um pouquinho mais de seu passado e dos motivos que o levaram a ser alguém mais fechado e isolado.

A primeira coisa que preciso elogiar em Um Homem Chamado Ove é a narrativa. A escrita de Fredrik Backman é cativante de um jeito que nem sei explicar. A forma como ele narra as coisas, encaixando sarcasmo aqui e ali, me fisga desde a primeira frase, e isso também aconteceu lá na leitura de Gente Ansiosa. O autor nos conduz entre passado e presente, narrando em terceira pessoa de uma forma cheia de personalidade que lembra uma espécie de primeira pessoa. Por exemplo, em vez de dizer que Ove não gosta de determinada atitude, a narrativa diz “não é que Ove não goste de tal atitude, longe disso. É que…”, sabe? Então isso confere um tom de conversa e de “parcialidade” à narrativa que também torna a forma de contar histórias do autor muito característica. Eu adoro! ❤️

Ove é aquele estereótipo de “meu malvado favorito”: ele é turrão e rabugento, não tem paciência com ninguém e não faz questão de agradar. Porém, quando conhecemos suas origens, descobrimos que seu passado foi muito difícil e que ele tem motivos pra ser como é. Gente, sabe o meme da Paris Hilton de que tudo de ruim que pode dar errado com uma pessoa aconteceu com ela? É o Ove todinho. Ele perdeu os pais muito jovem, sofreu um golpe de um estelionatário, perdeu uma casa, enfim… uma série de tragédias. Isso pra não entrar no mérito das tristezas familiares que acometeram seu casamento, mas nem quero dar muitos detalhes porque isso faz parte da emoção da história. Contudo, é muito bonito perceber o quanto ele foi feliz e grato pela oportunidade de ter conhecido e convivido com Sonja. Apesar dela já ter partido quando a história começa, sua presença é palpável ao longo do livro inteiro: Sonja trazia cor para o mundo preto no branco de Ove, era a única que conseguia fazê-lo rir e era a pessoa por quem ele lutava até suas últimas forças. O amor dos dois é tão inspirador que é impossível não derramar lágrimas em diversas passagens do livro, principalmente quando ele visita seu túmulo e expõe a saudade que sente dela.

Apesar do tom triste da história de Ove, Fredrik Backman domina a arte de equilibrar cenas de drama com alívios cômicos. Em um momento eu estava chorando e, no parágrafo seguinte, o autor me fazia rir. A interação de Ove com os vizinhos é sensacional e, aos poucos, ele vai “ganhando utilidade” novamente, se envolvendo nos dilemas das pessoas – contra a sua vontade, importante frisar – e auxiliando-as com seus problemas. Porém, fiquei triste ao pensar que Ove dependa tanto desse sentimento de utilidade pra interromper os seus planos suicidas. É um reflexo de uma baixa autoestima e da pressão capitalista de que só temos valor quando servimos para algo, e não pelo que somos, e eu passei o livro todo torcendo pra vê-lo se libertar disso. Felizmente, conforme ele vai ajudando os vizinhos e se aproximando deles, os vínculos também vão se estreitando e acabam se transformando em verdadeiras amizades – e esse é o ponto de virada pra que Ove finalmente sinta uma motivação genuína pra viver novamente (ou melhor, para adiar seu reencontro com Sonja).

Um aspecto que eu gosto muito nos livros de Fredrik Backman e que novamente identifiquei em Um Homem Chamado Ove é em como ele encaixa informações importantes quando menos esperamos. Ainda que os personagens secundários tenham pouco espaço na trama – e isso possa ser lido como um dos pontos mais fracos da obra, afinal, eles poderiam ter mais desenvolvimento –, o autor conseguiu escolher os personagens ideais para serem aprofundados ou para terem detalhes sobre seu passado incluídos na história no momento certo. Rune, por exemplo, é o vizinho e rival de Ove, que “roubou” seu lugar como diretor da associação de moradores. Outrora amigos, os dois pararam de se falar há anos, mas agora Rune enfrenta o Alzheimer e é uma sombra do homem que um dia Ove conheceu. Porém, é por ele que Ove resolve assumir uma das maiores lutas do livro, o que mostra quão nobre e correto é o caráter do protagonista, que até então poderia ser erroneamente interpretado como egoísta pelos vizinhos (e até por leitores desatentos).

Outro personagem por quem você “não dá nada” é Jimmy, que passa pela história sem deixar grandes marcas, até que Fredrik Backman insere a sua origem no bairro de uma maneira tão singela e emocionante que me peguei chorando intensamente ao perceber como tudo aconteceu e o papel de Ove e Rune em sua história. É isso que mais amo nas histórias de Fredrick Backman: tudo gira em torno dos personagens e das relações entre eles, e é isso que faz com que eu me apaixone por um livro. Até mesmo o gato de rua “todo estropiado” (palavras de Ove rs) tem personalidade e cumpre um papel fundamental na mudança de Ove, sendo adotado pelo protagonista de forma inusitada e fazendo toda a diferença na sua rotina. 

Um Homem Chamado Ove é um livro maravilhoso sobre perda e luto, mas também sobre amor verdadeiro, sobre valorizar cada oportunidade de estar vivo e, principalmente, sobre as pessoas que encontramos pelo caminho. Ao se relacionar com Parvaneh e seus vizinhos, Ove relembra como é sentir a conexão com outros seres humanos, algo que desde a partida de Sonja estava adormecido dentro dele. No fim, isso é tudo que temos: o amor uns pelos outros e a marca que deixamos no coração das pessoas. Posso dizer com convicção que Ove deixou uma marca profunda no meu.

Título original: A Man Called Ove
Autor:
Fredrik Backman
Editora: Rocco
Número de páginas: 320
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Livro cedido em parceria com a editora.
Esse não é um publipost, e a resenha reflete minha opinião sincera sobre a obra.

Resenha: Vermelho, Branco e Sangue Azul – Casey McQuiston

Oi pessoal, tudo bem?

Prontos pra uma dica bem amorzinho, daquelas que prometem aquecer o coração? Então bora que hoje vou dividir minha opinião sobre um queridinho da blogosfera: Vermelho, Branco e Sangue Azul.

Garanta o seu!

Sinopse: O que pode acontecer quando o filho da presidenta dos Estados Unidos se apaixona pelo príncipe da Inglaterra? Quando sua mãe foi eleita presidenta dos Estados Unidos, Alex Claremont-Diaz se tornou o novo queridinho da mídia norte-americana. Bonito, carismático e com personalidade forte, Alex tem tudo para seguir os passos de seus pais e conquistar uma carreira na política, como tanto deseja. Mas quando sua família é convidada para o casamento real do príncipe britânico Philip, Alex tem que encarar o seu primeiro desafio diplomático: lidar com Henry, irmão mais novo de Philip, o príncipe mais adorado do mundo, com quem ele é constantemente comparado ― e que ele não suporta. O encontro sai pior do que o esperado, e no dia seguinte todos os jornais do mundo estampam fotos de Alex e Henry caídos em cima do bolo real, insinuando uma briga séria entre os dois. Para evitar um desastre diplomático, eles passam um fim de semana fingindo ser melhores amigos, e não demora para que essa relação evolua para algo que nenhum dos dois poderia imaginar ― e que não tem nenhuma chance de dar certo. Ou tem?

O livro é narrado em terceira pessoa e é focado na perspectiva de Alex, filho da presidenta dos Estados Unidos, que nutre uma rivalidade meio desproporcional com o príncipe da Inglaterra, Henry. O jeito perfeitinho do príncipe, seu cabelo sedoso, sua pose de quem tem tudo sob controle… tudo isso enerva Alex, que, apesar do talento nato para a política, tem também uma veia rebelde evidente. E essa veia se sobressai no casamento do irmão de Henry, para o qual a família da presidenta é convidada, e na qual Alex decide provocar o príncipe até que os dois se envolvam em um acidente envolvendo a queda de um bolo de casamento caríssimo no chão e uma crise de Relações Públicas estampada nos jornais. É aí que a coisa fica interessante: a mando de ambos os governos, os dois precisam fingir ser melhores amigos pra controlar os estragos feitos no casamento, e essa aproximação forçada vai acabar mostrando a Alex que o príncipe tem muito mais camadas do que transparece – assim como ele próprio.

Vermelho, Branco e Sangue Azul é um enemies to friends to lovers. 😂 E pra mim isso é muito bacana porque a relação dos dois protagonistas vai sendo construída aos poucos, dando tempo ao leitor para compreender a mudança de sentimentos, ou melhor, a compreensão de sentimentos. Enquanto Henry não demora a revelar sua orientação sexual a Alex, identificando-se como um homem gay, o Primeiro-Filho encontra-se numa posição menos clara sobre si mesmo. Ao ser beijado por Henry em um evento na Casa Branca, Alex coloca tudo que vivenciou até aquele momento sob uma nova lente: as experiências sexuais exploratórias com o amigo da escola (que ele considerava apenas consequência dos hormônios), a forma como ele se pegava observando alguns amigos no vestiário, seu interesse meio obsessivo em uma revista adolescente de sua irmã na qual Henry aparecia e até sua rivalidade meio unilateral em relação ao príncipe. O processo de (re)descoberta de Alex acerca de sua sexualidade – e seu entendimento como homem bissexual – é trabalhado de forma muito positiva e dá espaço não apenas para questionamentos, mas para aceitação.

Esse é um tópico importante em Vermelho, Branco e Sangue Azul. A aceitação da sexualidade pelos entes queridos é trabalhada das duas formas bem opostas: enquanto Alex encontra apoio daqueles que o cercam (o que é sempre positivo quando falamos de literatura jovem), Henry lida com a pressão inenarrável de não poder ser quem ele é. Tanto sua avó, a rainha, quanto seu irmão mais velho deixam claro que qualquer modelo desviante do tradicional não será tolerado, afinal, a família real precisa manter as aparências e gerar herdeiros. Além disso, Henry perdeu o pai aos 18 anos e desde então sua mãe vive o luto de forma muito isolada, o que faz com que o personagem possa contar apenas com a irmã mais velha, Bea. Esse cenário já mostra como Henry é solitário, certo? Ao longo das páginas Alex percebe isso também. Ele sente a dor do príncipe tanto quanto nós, leitores, assim como também deseja guardá-lo num potinho e protegê-lo de todo mal. É muito triste ver as crises de ansiedade pelas quais Henry passa e a pressão que ele sofre para cumprir um papel social que suprime toda a sua personalidade e espontaneidade. Tudo isso torna  compreensível o porquê dele demorar a se entregar totalmente a Alex: Henry primeiro enfrenta um medo muito grande de não ser correspondido, e depois, quando é, passa a ter medo desse amor ser tirado dele.

Com o passar das páginas, os dois obviamente se apaixonam e o relacionamento que eles constroem é a coisa mais linda de se ler. Alex é uma força da natureza e impulsiona Henry das mais variadas formas, principalmente a acreditar em si mesmo e que ambos podem fazer o relacionamento dar certo apesar de tudo. Confesso pra vocês que iniciei o livro sem gostar tanto do Alex – ele inicia a trama de modo meio prepotente e arrogante –, mas terminei a leitura sendo cadelinha demais dele. ❤ Já Henry conquistou meu coração de primeira, porque sua doçura e sensibilidade fazem dele alguém por quem você se afeiçoa e deseja a mais pura felicidade.

Além do romance, o livro tem várias passagens divertidas, especialmente quando os personagens secundários são envolvidos. Alex e Henry são pessoas de poucos amigos, mas os que eles têm são sensacionais e valem por mil. June (irmã de Alex) e Nora (neta do vice-presidente dos EUA) são inseparáveis e são as pessoas por quem Alex se atiraria na frente de um trem. A amizade dos três é maravilhosa e a personalidade de cada um se complementa de modo muito legal. Henry, por sua vez, conta com a já mencionada Bea, sua irmã, e com o carismático Pez, seu melhor amigo. Ele é a diversão em pessoa, e quando se junta a June e Nora, tudo se torna possível. Eu adorei todas as cenas em que o grupo estava junto, porque foi um alívio em meio ao caos poder ver os personagens principais se divertindo enquanto sofriam com as dificuldades de manter seu amor em silêncio pra não gerar nenhuma crise política.

Aliás, a parte política do livro foi meu aspecto “menos favorito”, digamos assim. Acho a política norte-americana um pé no saco e grande parte da tensão do livro gira em torno do fato de que a mãe de Alex está em campanha de reeleição. Esse tema não me chama a atenção e, consequentemente, não me senti muito aflita pelos desdobramentos desse plot. Outro aspecto do qual não gostei tanto foram os capítulos longos; sou uma pessoa que gosta de dinamismo e agilidade, ou no mínimo capítulos longos com pausas marcadas no meio pra que eu possa parar sem perder o fio da meada (já que leio no horário de almoço e antes de dormir, normalmente). Por esses fatores, a leitura de Vermelho, Branco e Sangue Azul acabou sendo um pouco mais demorada do que o normal, mesmo que eu tenha amado a história. Vale ressaltar que o fim do livro é um pouco clichê, especialmente quando pensamos no papel da mãe de Henry. Mas esse não chega a ser um grande defeito, especialmente por ser uma característica comum e esperada no gênero.

Por último, mas não menos importante, fica meu elogio à edição de colecionador da editora Seguinte, que ficou linda. As páginas tem um degradê de vermelho e azul que dão um charme todo especial ao livro, e há ilustrações de várias cenas marcantes da história – inclusive foi bem divertido ir dando “check” nelas conforme as situações ocorriam na trama. A única cena que eu não consegui identificar enquanto lia é uma em que Alex e Henry se beijam na escadaria de um prédio, então se alguém se lembrar me conta nos comentários por favor. 😂 Além disso, essa edição contém um capítulo extra narrado sob a perspectiva de Henry que é simplesmente TUDO e encerra com chave de ouro a história desse casalzão. ❤

Vermelho, Branco e Sangue Azul é um romance LGBTQIA+ que fala, sobretudo, sobre liberdade. Liberdade para amar, para se expressar, para dizer ao mundo quem você é de verdade – sem medo e sem reservas. É sobre encontrar alguém que te diga com todas as letras que você não merece nada menos do que isso. ❤ Por esses e por outros motivos é impossível não se apaixonar por Alex e Henry e por sua história de amor. Ah, e as cenas hot entre os dois são um bônus muito bem-vindo, é claro rs. 🔥

Título original: Red, White and Royal Blue
Autora:
Casey McQuiston
Editora: Seguinte
Número de páginas: 416
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Livro cedido em parceria com a editora.
Esse não é um publipost, e a resenha reflete minha opinião sincera sobre a obra.

Resenha: Daisy Jones and The Six – Taylor Jenkins Reid

Oi pessoal, tudo bem?

Hoje saiu mais um trailer da adaptação de Daisy Jones & The Six, então aproveitei esse dia pra compartilhar com vocês minha opinião a respeito desse livro. Considerando o quanto gosto da escrita de Taylor Jenkins Reid, fui com expectativas altíssimas pra essa leitura e… bom, vocês vão descobrir o que achei ao longo do post. 👀

Garanta o seu!

Sinopse: Todo mundo conhece Daisy Jones & The Six. Nos anos setenta, dominavam as paradas de sucesso, faziam shows para plateias lotadas e conquistavam milhões de fãs. Eram a voz de uma geração, e Daisy, a inspiração de toda garota descolada. Mas no dia 12 de julho de 1979, no último show da turnê Aurora, eles se separaram. E ninguém nunca soube por quê. Até agora. Esta é história de uma menina de Los Angeles que sonhava em ser uma estrela do rock e de uma banda que também almejava seu lugar ao sol. E de tudo o que aconteceu — o sexo, as drogas, os conflitos e os dramas — quando um produtor apostou (certo!) que juntos poderiam se tornar lendas da música. Neste romance inesquecível narrado a partir de entrevistas, Taylor Jenkins Reid reconstitui a trajetória de uma banda fictícia com a intensidade presente nos melhores backstages do rock’n’roll.

A história é narrada de uma forma criativa, por meio de “entrevistas” que buscam criar um panorama de como a lendária banda de rock Daisy Jones & The Six se formou, bem como destrinchar o motivo de seu rompimento quando estavam no auge da carreira, na turnê Aurora. TJR entra no mood já no início da obra, com uma Nota da Autora que afirma que o livro é a reunião de inúmeras entrevistas que ela fez com os músicos, como se fosse uma espécie de biografia da banda de verdade mesmo, o que é bem legal. Durante as páginas, encontramos depoimentos de todos os membros, alguns familiares ou pessoas da indústria e, desde o começo, fica claro: nem todos lembram dos fatos do mesmo modo, ou até mesmo interpretaram as coisas sob a mesma ótica. Então, o que de fato é verdade?

Como sempre, Taylor Jenkins Reid faz um ótimo trabalho em investigar o background do tema sobre o qual ela vai escrever: ela fez isso muito bem com o cinema em Evelyn Hugo, arrasou demais com o tênis em Carrie Soto e aqui mergulha no backstage da indústria fonográfica. E ela não poupa o leitor dos detalhes sórdidos, que incluem traições, abuso pesado de drogas, sexo, alcoolismo, disputa de egos e muito mais. Porém, apesar de reconhecer o quanto todo esse mundo foi bem trabalhado, o livro simplesmente não funcionou comigo e, mesmo com sua narrativa rápida (já que são sempre os depoimentos dos entrevistados), demorei a concluí-lo.

Meu maior problema com Daisy Jones & The Six tem motivo e nomes: eu odeio triângulos amorosos e odiei os personagens principais, Daisy Jones e Billy Dunne. E esses motivos merecem que eu os desenvolva nos próximos parágrafos. Billy, vocalista do grupo Dunne Brothers (que posteriormente vira a banda The Six) é um cara intenso, que se apaixona perdidamente por uma moça chamada Camila e entra de cabeça na relação com ela. Quando ela engravida, ele entra em pânico – pois teve um pai ausente e a paternidade representa um buraco horrível no seu peito – e toma uma série de decisões horríveis, de casar com ela às pressas a se afundar nas drogas e traí-la nas turnês. Ainda assim, Camila resolve perdoá-lo e o obriga a entrar numa clínica de reabilitação pra que ele possa ter contato com a filha. Isso faz com que Billy saia do fundo do poço e coloque Camila num pedestal, compondo músicas pra ela e enxergando nela seu porto-seguro, seu farol, e também sua força pra se manter longe das drogas. Até que ele conhece Daisy Jones…

Daisy é uma garota linda e rica, mas totalmente quebrada. Negligenciada pelos pais desde a infância, se tornou groupie aos 14 anos e começou a usar drogas desde então, chegando ao ponto de carregar pílulas soltas nos bolsos, perdendo até a conta do consumo. Mas uma coisa que Daisy tem de sobra (spoiler: não é estabilidade kk) é talento musical. Ela está determinada a mostrar suas composições para o mundo, então agarra a oportunidade de se unir ao The Six, já que o grupo ganhou certo destaque musical antes dela. A relação com Billy começa com animosidade, porque ele se sente intimidado com a garota chegando na banda e “metendo banca”. Mas com o tempo eles começam a se dar muito bem ao perceberem a sintonia criativa que compartilham: eles passam a compor juntos por horas a fio, um melhorando as letras do outro, e Daisy inevitavelmente se apaixona pelo primeiro homem que parece enxergá-la pra além do seu exterior. Só que tudo isso não apaga o fato de que ela é uma garota mimada, que faz tudo girar em torno dela, se mete nas decisões dos Six sem conversar abertamente sobre nada, e ainda desrespeita profundamente Camila ao tentar se envolver com Billy. Também tenho sérios problemas com relação a como Taylor Jenkins Reid explorou o corpo e o vício de Daisy: como alguém que emagrece até virar pele e osso (como alguns personagens insinuam ao longo da história), fumando e se drogando até não poder mais (algo que, sabemos, destrói a pele) conseguiu se manter tão deslumbrante quanto diziam? Impossível. Também achei UÓ a hiperssexualização disfarçada de feminismo. A Karen, pra mim, foi um exemplo melhor disso, porque tudo que ela fazia, ela fazia de modo consciente, enquanto a Daisy tava só pelo caos (ok, direito dela, mas que cansaço). Queria que ela tivesse passado por mais problemas ou causado mais problemas que realmente pesassem a trama, pra evidenciar de modo responsável o horror causado pelo abuso de drogas. O susto que a personagem leva não é o bastante para a dimensão do tanto que ela consumia.

É muito difícil pra mim me envolver com uma história quando os personagens me fazem passar raiva a cada instante. Por mais que eu compreenda a origem de seus traumas, Daisy se resume a uma garota narcisista e Billy é um homem egoísta e covarde que faz sua mulher sofrer. E aí temos o terceiro elemento do triângulo, uma das únicas personagens de quem gosto: Camila Dunne é o ponto de equilíbrio no caos da história. Ela é empática, se dá bem com todos os membros da banda e ainda é capaz de ter fé em Billy, tanto na época da reabilitação quanto no fato de que ele não abandonaria o casamento – mesmo que ela soubesse que algo estava rolando em relação a Daisy em seu coração. E apesar de eu admirar a resiliência e a maturidade da personagem (que sabe o que quer e luta por isso, mesmo que os outros a julguem), também acho que ela é mal explorada e abordada de modo superficial, no sentido de ser quase “santificada” dentro da história. Afinal, ela acredita em Billy, apoia os membros do Six, cuida de duas filhas praticamente sozinha, nunca reclama dos horários horríveis nos quais o marido trabalha, aguenta o fato dele passar mais tempo com Daisy do que com ela, perdoa a série de traições no início do casamento… tudo bem, entendo que na época manter a família era imprescindível (afinal, o livro se passa majoritariamente entre os anos 60 e 70), porém acaba que Camila é uma personagem da qual gostamos, mas sobre a qual sabemos muito pouco. Seu sofrimento, seus verdadeiros sentimentos, tudo é muito raso. A próxima frase tem um spoiler, selecione se quiser ler: também achei péssimo que ela teve que dar um fim à palhaçada que estava rolando entre o Billy e a Daisy. Depois de tudo que ela passou, ela merecia que o próprio Billy tivesse culhões de agir por conta própria.

Os outros membros de Daisy Jones & The Six têm pouco espaço significativo na trama: o baixista (Pete) nem participa das entrevistas; o baterista (Warren) só contribui com comentários de quem olhava tudo de fora; o guitarrista (Eddie) era um cara profundamente recalcado ressentido de Billy que só reclamava. Contudo, dois dos membros valem o destaque: Graham, irmão de Billy, é um cara romântico por quem torcemos, especialmente quando ele consegue ficar com a sua paixão, Karen; Karen é a pianista da banda, uma mulher que valoriza sua independência acima de tudo. Eu amo Karen porque ela aprecia as mulheres à sua volta. Pra ela, ser amiga de Camila é importante, assim como ter Daisy na banda, pra que a desigualdade no meio musical diminua e as mulheres musicistas se fortaleçam. Karen foi a personagem que mais admirei, porque além de ter esse viés feminista nas suas falas, ela também é uma pessoa realista, que ora acerta, ora falha. O mais importante, pra mim, é que ela se mantém fiel a si mesma do início ao fim.

Tenho a sensação de que posso gostar bem mais da adaptação de Daisy Jones & The Six, que estreia em março no Prime Video, do que do livro – ainda que, provavelmente, a coitada da Camila vá sofrer bem mais na tela do que as páginas mostraram. Sinto que a história tem potencial de ganhar profundidade e os aspectos rasos da relação entre os personagens serão mais bem trabalhados. Apesar de inicialmente ter achado criativo o modo de contar a história por meio dos relatos, com o passar das páginas achei o recurso cansativo e ele fez com que tivéssemos um olhar muito enviesado e limitado dos fatos. Além disso, também senti que muitas vezes os personagens não tinham um “tom de voz” próprio, sendo necessário ler o nome de quem estava falando pra associar, e isso deixou a experiência truncada pra mim. E, é claro, como ignorar o fato de que detestei toda a trama que gira em torno dos personagens principais, não é mesmo? 😂 Eu nunca tinha me decepcionado nesse nível com um livro da Taylor Jenkins Reid, mas é como dizem por aí: pra tudo tem uma primeira vez. 🤷‍♀️

P.S.: impossível não associar a “vibe” da Daisy com a Florence Welch. Não em relação às drogas hahaha! Mas em relação ao cabelo ruivo, ao estilo e à sensibilidade musical.

P.S. 2: uma das músicas mais importantes do livro foi completamente alterada pra série. 🤡 Ela se chama “Regret Me” e já está disponível no Spotify, pra quem quiser conferir. Curiosa pra saber como ficarão as outras. 👀

Título original: Daisy Jones & The Six
Autora:
Taylor Jenkins Reid
Editora: Paralela
Número de páginas: 360
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Resenha: A Loteria e Outros Contos – Shirley Jackson

Oi pessoal, tudo bem?

Eu gosto de ler contos especialmente naqueles casos em que tenho curiosidade para entrar em contato com a escrita do autor pela primeira vez. Esse foi o motivo que me fez solicitar A Loteria e Outros Contos, da Shirley Jackson – renomada autora conhecida por Sempre Vivemos no Castelo e A Assombração da Casa da Colina (este segundo dando origem à aclamada adaptação A Maldição da Residência Hill). A Loteria é seu conto mais famoso, mas o livro reúne 25 contos e 1 poema. Vamos conhecer?

Garanta o seu!

Sinopse: Única coletânea publicada enquanto Shirley Jackson ainda era viva, A loteria e outros contos traz histórias que incorporam tanto as características marcantes da escritora quanto seu poder de navegar pelos diversos aspectos da ficção. Publicado pela primeira vez em 1948 na revista The New Yorker, o conto A loteria é considerado um dos mais importantes da literatura americana – seu impacto foi tão profundo que, logo após sua publicação, a revista recebeu diversas cartas reclamando da “imoralidade” da narrativa. Esta e outras 24 histórias curtas formam uma coletânea brutal que analisa com maestria os meandros da sociedade norte-americana, a opressão velada, o lugar a que as mulheres são relegadas, o peso do matrimônio e dezenas de outros temas que ainda fazem parte da sociedade atual. Seja esmiuçando a vida nos subúrbios dos Estados Unidos, como em Estátua de sal, ou retratando a influência da bebida e da juventude na vida de um homem, como em O embriagado, Jackson constrói histórias com personagens vivazes e impressionantes que acompanharão o leitor mesmo depois de fechar o livro.

O tema central dessa coletânea é destrinchar a prisão da mulher de classe média do início do século XX às situações familiares e cotidianas. A maior parte dos contos é protagonizada por mulheres na faixa dos 30 anos, e quase todas elas são donas de casa ou almejam ser. Para ser sincera, quando solicitei esse livro eu achava que encontraria contos de terror e suspense, devido às premissas dos outros livros de Shirley Jackson. Por isso, acabei um tanto frustrada com a repetição de temas e a monotonia deles, que refletem bem o cotidiano entediante dessas mulheres.

Gostaria de dizer que fui cativada pelas problematizações e pela narrativa de Shirley Jackson, mas seria mentira. Comecei o livro entusiasmada por finalmente conhecê-la e, sem demora, me senti quase tão presa quanto as protagonistas dos contos. A verdade é que não existem bons plot twists nas histórias e grande parte delas mal parece ter sequer uma conclusão lógica. Devido à minha decepção com o livro como um todo e com o estilo da autora, decidi focar minhas opiniões nos contos que me causaram mais interesse.

O primeiro deles é O amante diabo, que conta a história de uma moça que está aguardando seu noivo chegar em seu apartamento. É o dia do casamento e o rapaz, James Harris, simplesmente sumiu. A protagonista passa a procurá-lo pelo bairro todo, perguntando nos estabelecimentos se alguém o conhecia, o que a leva até um prédio antigo e a um sótão assustador. Nesse conto o que achei interessante (de um jeito aflitivo) é que as autoridades e as pessoas pra quem ela perguntava pareciam achá-la louca, principalmente se o interlocutor fosse um homem – um claro exemplo do desdém masculino. O segundo conto que gostei se chama A renegada e conta a história de uma mãe de família, a Sra. Walpole, que veio da “cidade grande” e se sente oprimida pela vida interiorana e sua forma brutal de resolver as coisas. A tensão da trama reside no fato de que sua cadela foi acusada de matar as galinhas do vizinho e todo mundo – inclusive seus filhos pequenos – acham natural matar a cadela a tiros, como se não fosse nada. Só a protagonista parece enxergar o horror disso, e ela se sente como a cachorra: com uma coleira cheia de espinhos no pescoço.

O terceiro conto do qual gostei se chama Charles e traz um clichê, mas do tipo que eu curto: aquele que te induz a pensar uma coisa sobre determinado personagem e depois descobrimos que não era bem assim. Nesse caso, acompanhamos um garotinho, Laurie, contando à família que seu coleguinha de escola, Charles, é uma praga: briga com a professora e os colegas, apronta na aula, fica de castigo, fala palavrões, entre outras malcriações. O tal Charles vira até uma expressão no ambiente familiar, tipo um meme. Aos poucos, a autora dá pistas esquisitas sobre Charles e, quando a mãe de Laurie vai até uma reunião de pais e professores, ela descobre fatos surpreendentes. Por último, temos o conto principal da obra, A loteria, que também entrou na lista de melhores contos: nele a autora conta a rotina de uma aldeia fictícia que vai se reunindo na praça da cidade para um momento comunitário sobre o qual não sabemos muito. Tudo parece tranquilo, as famílias interagem, até que os homens que representam as famílias passam a sortear nomes, e é aí que o clima da situação começa a ganhar características ritualísticas macabras. É um conto bastante cruel que narra uma cerimônia tradicional que ninguém sequer pensa em contestar. Quando a vítima desse momento é escolhida, é bem triste ver sua reação.

O poema que encerra o livro também é bacana, e alguns outros contos tem uma ou outra tiradinha interessante, como Estátua de sal (que fala sobre ser esmagado pelo ritmo alucinante de uma cidade que não para e que parece se desfazer à plena vista) e É claro (que mostra como decisões masculinas imbecis podem alienar uma família). Além disso, existe ainda uma denúncia ao racismo, que aparece mais claramente no conto Jardim florido. Outro ponto que vale mencionar é que Shirley Jackson usa um “mesmo” personagem, James Harris, em diversos contos – ou melhor, alguém com o mesmo nome, profissão e descrição. Se é só pra confundir o leitor ou significa algum simbolismo a mais, não sei dizer. Comecei a leitura achando que era tudo uma sacada genial e terminei achando que era uma aleatoriedade. 😂

Enfim, como mencionei no início da resenha, esse livro não me proporcionou uma boa experiência. Porém, enquanto escrevia esse post, fiquei contente por ter conseguido extrair alguns aspectos positivos dela. Acredito muito que a experiência de cada leitor é única e, por isso, as pessoas devem se arriscar nas leituras que façam sentido pra elas. Mas também não posso dizer que recomendo esse título, porque foi bastante desafiador chegar até a última página. Por isso, deixo por sua conta e risco se aventurar nas palavras de Shirley Jackson por meio de A Loteria e Outros Contos.

Título original: The Lottery and Other Stories
Autora:
Shirley Jackson
Editora: Alfaguara
Número de páginas: 264
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Livro cedido em parceria com a editora.
Esse não é um publipost, e a resenha reflete minha opinião sincera sobre a obra.

Resenha: Você Não É Invisível – Lázaro Ramos

Oi oi, tudo bem com vocês?

Se tem uma coisa que minhas experiências literárias e audiovisuais recentes têm me ensinado, é a controlar as expectativas e lidar com decepções. 😂 E isso infelizmente aconteceu com Você Não É Invisível, do Lázaro Ramos.

Garanta o seu!

Sinopse: Esta é a história de uma família em quarentena. Carlos e Vitória são irmãos e moram com o pai, mas só o encontram no fim do dia. Muito diferentes um do outro, se expressam cada um a seu modo. Porém, possuem uma mesma motivação: entender seu lugar no mundo. Carlos vive trancado no quarto, gravando vídeos e áudios sobre si mesmo ou postando nas redes sociais. Já Vitória é mais do papel, escreve um diário e inventa contos de fadas num caderno antigo que era de sua mãe. Mesmo confinados, os irmãos vão trilhando seus caminhos com os recursos e instrumentos que possuem. O autor explora os muitos jeitos que temos de nos comunicar e com linguagem ágil, esse livro nos ensina que, se temos de encarar nossos monstros, que o façamos com coragem, segurando na mão de quem nos ama e quer bem – porque ninguém é, ou deveria se sentir, invisível.

Meu respeito pelo trabalho e pelas opiniões do Lázaro Ramos me deixaram muito animada pra conferir seu primeiro livro infantojuvenil, mas a obra infelizmente não funcionou comigo. Faixa etária, talvez? Não sei. Mas vou tentar explicar meus pontos e ser justa ao mesmo tempo.

A obra se passa durante a pior fase da pandemia, em que ficamos naquele “lockdown” (entre aspas porque o governo nunca instituiu um lockdown real), isolados das nossas atividades sociais e das pessoas que amamos. Os protagonistas são os irmãos Carlos (também conhecido como Carrinho) e Vitória, que lidam com a solidão e o isolamento à sua própria maneira. Na falta da companhia do pai (um homem negro que não pôde se dar ao luxo de se isolar e se proteger), Carlos direciona sua energia para a criação de vídeos, lives e áudios, enquanto Vitória busca conforto nas palavras – e no diário da mãe, ausente por estar viajando e estudando.

Meus aspectos favoritos da obra residem nesses dois pontos de tensão que citei: o fato de que o pai dos jovens precisa trabalhar mesmo em um período perigoso da pandemia e a decisão da mãe de fazer sua pós-graduação no exterior. No caso do primeiro, Lázaro Ramos expõe a problemática de qual camada da população foi obrigada a ficar mais vulnerável, enquanto outras (repletas de gente antivacina, pra não dizer pior) podiam usufruir do privilégio da segurança de suas casas. O racismo estrutural não é debatido como maior foco da obra, mas está ali, nítido nas entrelinhas pra qualquer um que esteja disposto a abrir os olhos. Já no caso da mãe, temos o conflito de emoções: ao mesmo tempo em que a empodera como mulher e profissional, mostrando que a família não é um impeditivo para correr atrás dos sonhos, existem também as consequências dolorosas que isso causa na família – especialmente em Carrinho, que se ressente dela por escolher ficar longe. Esses são, na minha opinião, os pontos fortes da leitura, que dão uma camada de profundidade à trama. Em relação à edição física, também fica meu elogio às ilustrações, que tornam a experiência mais imersiva e estão muito bonitas.

Porém, o andamento do enredo é fraquíssimo. Carlos é um personagem chato, que só fala por gírias, mas não de uma forma natural – parece que Lázaro não sabe como “os jovens” falam e me senti constrangida por ler essa tentativa. Ele é um garoto de 16 anos que fica “viajando” nas lives dele e tentando dar lição de moral nos seus seguidores de uma forma que nem sentido faz. Em paralelo, ele pega o diário da irmã às escondidas e lê o que ela escreve, num exemplo terrível de invasão de privacidade. Os dois convivem na mesma casa e mal interagem, então as leituras do diário são o único elo que Carlos constrói com Vitória. Já Vi é uma menina criativa e sonhadora, que entende o que sua mãe está perseguindo e usa sua imaginação pra criar e contar suas próprias histórias – mas que mal aparece no enredo, tendo pouquíssimo (pra não dizer nenhum) espaço.

O livro também é muito raso, sem se aprofundar em nenhum tema. Ainda que seja uma obra infantojuvenil, acho que o autor pecou em trazer muito o ponto de vista de Carrinho em suas lives, focando nos discursos cheios de gírias e expressões que parecem ter vindo direto da Malhação dos anos 2000. O potencial da obra e da premissa eram enormes, mas infelizmente foi desperdiçado por uma falta de foco, por transmitir a sensação de não saber onde a história queria chegar.

Você Não É Invisível não foi uma boa experiência pra mim, mas talvez seja pra um público bem mais jovem, crianças entrando na adolescência, talvez. Apesar disso, ressalto os pontos positivos ditos no início da resenha e o fato da ambientação ser muito relacionável e (infelizmente) fresca na memória. Nesse sentido, você consegue se identificar com os personagens, que fazem de tudo pra que o tempo passe em um período que cada minuto parece se arrastar. Mas infelizmente os minutos se arrastaram durante a leitura também. 😦

Título original: Você Não É Invisível
Autor:
Lázaro Ramos
Editora: Objetiva
Número de páginas: 112
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Livro cedido em parceria com a editora.
Esse não é um publipost, e a resenha reflete minha opinião sincera sobre a obra.

Resenha: Carrie Soto Está de Volta

Oi gente, tudo certo?

A resenha de hoje é sobre um livro que li faz um tempinho, mas que ainda não tinha encontrado inspiração pra escrever sobre. Espero que essa resenha consiga fazer jus a ele. 😉 Vamos conhecer Carrie Soto Está de Volta?

Garanta o seu!

Sinopse: A tenista Carrie Soto se aposentou no auge, com a tranquilidade de ter atingido um recorde imbatível: foram vinte títulos Grand Slam conquistados ao longo de sua carreira. Mas apenas cinco anos depois de seu retiro das quadras, ela assiste Nicki Chan igualar sua marca, trazendo a sensação de que seu legado está comprometido. Disposta a chegar aos seus limites, Carrie tem o apoio de seu pai, Javier, ex-tenista que a treina desde os dois anos de idade. Ele parece ter seus próprios motivos para incentivar a filha nesta última temporada que promete desafiar ambos num jogo que exige tanto física quanto mentalmente. Em uma inesquecível história sobre segundas chances e determinação, Taylor Jenkins Reid nos cativa com uma protagonista forte como sempre e um romance emocionante como poucos.

Quem leu Malibu Renasce pode reconhecer esse nome: Carrie é a amante de Brandon, o marido de Nina Riva, protagonista do romance. Por isso, inevitavelmente fiquei curiosa quando soube que a Taylor Jenkins Reid escreveria sobre ela, uma personagem com uma carga tão pesada de antipatia prévia. Mas uma coisa eu já adianto pra vocês: o caso de Carrie com o marido de Nina foi uma fração tão pequena de tudo que ela viveu que logo você esquece e passa a focar na complexidade de sua história.

Carrie perdeu a mãe muito cedo, sendo então criada pelo pai, Javier Soto, um ex-jogador de tênis argentino muito talentoso. Ele dava aulas em um clube de ricaços e desde cedo começou a treinar a filha no esporte, tanto como uma forma de conexão com ela (pois sempre acreditou que Carrie estava destinada à grandeza) como também para afastar a dor causada pela perda da esposa. Desde que começou a se entender por gente, Carrie ouvia do pai que seria a melhor tenista do mundo, e eles não faziam ideia do quanto essa frase teria consequências sérias na vida da garota. A confiança do pai nela era motivadora, mas também foi criando uma expectativa colossal e um objetivo tão fixo que não permitia nenhum tipo de desvio na rota.

Carrie Soto Está de Volta gira em torno da carreira de Carrie antes e após a aposentadoria. Esse contexto de sua criação é o “antes”, contando a sua trajetória da infância até a faixa dos 30 anos, quando é obrigada a se aposentar por uma lesão. Aos 37 anos, porém, Carrie vê uma nova tenista em ascensão, Nicki Chan, conquistando todos os títulos que ela conseguiu e estando a apenas uma vitória de bater o seu recorde mundial. É aí que a protagonista decide voltar às quadras para defendê-lo, entrando novamente numa rotina pesada de treinos e tendo que lidar com feridas físicas e psicológicas junto ao pai.

A pressão causada pela grandeza é o fio condutor de Carrie Soto Está de Volta. Na primeira parte do livro, vemos uma Carrie tão focada em vencer que não consegue criar uma conexão genuína: uma amizade, um amor, nada. Ela vive para vencer sua “nêmesis”, Paulina Stepanova, e rompe com diversos limites para conseguir seu objetivo. A ruptura em sua relação com o pai é uma das consequências disso, quando Carrie decide que ele não está mais apto a treiná-la por não acreditar que ela possa vencer Stepanova. É bastante triste ver o isolamento da tenista e o fato de ela se fechar para o mundo e para a vulnerabilidade, especialmente porque sabemos que muito da obsessão pela vitória foi incutida sem querer por seu pai desde que ela era uma garotinha. Javier, por sua vez, é um homem amoroso e que sente muito orgulho de Carrie, o que também ajuda o leitor a sentir empatia apesar de suas atitudes que levaram a personagem a um nível tão alto de autocobrança. Ainda que as consequências tenham sido essas, Javier sempre se orgulhou da Carrie independentemente do resultado de cada jogo. A relação dos dois é um dos principais pilares do livro e rende cenas emocionantes. O amor que sentem um pelo outro é palpável e o fato de ambos se unirem novamente para ultrapassarem seus limites juntos (cada um à sua maneira) consolida uma relação de pai e filha pautada em devoção, respeito e orgulho.

A história de Carrie fica ainda mais inspiradora quando ela já tem 37 anos e ninguém acredita que ela vai conseguir manter seu recorde ou ganhar um Grand Slam. Aqui a discussão começa a ficar mais forte em torno do machismo e do etarismo. Do machismo porque Carrie é melhor do que inúmeros jogadores masculinos e mesmo assim precisa ficar lendo e ouvindo comentaristas esportivos falando mal dela e de seu comportamento, querendo obrigá-la a ser simpática e sorridente para merecer empatia; do etarismo porque fica evidente que todos colocam um selo com prazo de validade em Carrie, partindo do pressuposto que ela não é capaz de vencer mesmo que treine mais duro que todo mundo e seja um dos maiores talentos que o tênis já viu. Se você envelheceu sendo uma mulher, você já era: é isso que o livro critica.

O que mais gosto em Carrie é sua imperfeição e sua recusa a seguir aquilo que esperam dela. Ela é uma pessoa isolada, competitiva, arrogante, mas também determinada e sincera sobre quem ela é. Ela é um exemplo de mulher que recusa a docilidade que querem impor: se os jornalistas e comentaristas esportivos desejam que ela sorria mais pra ser aprovada por todos, ela faz questão de vencer e bater todos os recordes sem se dobrar a nenhuma expectativa que eles tenham. Ela enfrenta o escárnio público sozinha após o caso com Brandon não dar certo, mostrando mais uma vez como as mulheres saem perdendo mesmo quando o pior erro foi o do homem (já que Brandon era a pessoa casada naquela relação). Com o tempo, porém, Carrie vai se tornando mais maleável. Não pela pressão citada anteriormente, mas porque ela amadurece: a protagonista começa a perceber que vinha aceitando migalhas de afeto e que merece mais; passa a aceitar melhor as derrotas, tão raras na sua carreira e mais recorrentes nesse novo momento; ela também permite que seu parceiro de treinos, Bowe, se aproxime dela; passa a jogar tênis novamente por amor, e não para vencer alguém de forma obcecada. Minha conclusão é que perder faz bem à Carrie e lhe dá perspectiva sobre o que realmente importa.

Carrie Soto Está de Volta é um livro que mexe com você. Mesmo quando Carrie está sendo arrogante, teimosa ou metendo os pés pelas mãos, você sente empatia por entender de onde tudo aquilo está vindo, onde o vazio dela se encontra. Nem todas as atitudes da personagem são louváveis, mas ela é brutalmente honesta sobre si mesma e é retratada como alguém cuja garra é inegável e admirável. Carrie é um exemplo de alguém que tem tudo e todos torcendo contra ela, mas ela vai lá e enfrenta mesmo assim. Acho que só por isso já vale a pena conhecê-la. 😉

P.S.: o final é um pouco abrupto, mas nada que estrague a experiência, principalmente porque faz muito sentido.
P.S. 2: fico admirada com a capacidade da Taylor Jenkins Reid de me entreter com assuntos pelos quais nunca tive o menor interesse, como o tênis. 😂

Título original: Carrie Soto is Back
Autora:
 Taylor Jenkins Reid
Editora: Paralela
Número de páginas: 352
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Livro cedido em parceria com a editora.
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Resenha: Flores Feitas de Espinhos – Gina Chen

Oi pessoal, tudo bem?

A primeira leitura do ano foi uma fantasia incrível que eu estava louca pra dividir com vocês: Flores Feitas de Espinhos, da autora estreante Gina Chen.

Garanta o seu!

Sinopse: Violet é uma vidente e uma mentirosa que influencia a corte com profecias cuidadosamente formuladas — e nem sempre verdadeiras. Honestidade é para os otários, como o nem-tão-encantado príncipe Cyrus, que planeja destituí-la de seu cargo assim que assumir a coroa, no fim do verão. A menos que ela faça algo a respeito. Mas quando o rei pede que ela invente uma profecia sobre Cyrus encontrar seu verdadeiro amor no próximo baile, Violet sem querer dá início a uma temida maldição, que pode tanto destruir quanto salvar o reino — dependendo de quem o príncipe escolher como futura esposa. Ela então precisa encarar as próprias opções: aproveitar a oportunidade de controlar seu destino, a qualquer custo, ou ceder à perigosa atração que vem crescendo entra ela e Cyrus. Sua esperteza pode protegê-la das tramas cruéis da corte, mas não pode mudar seu destino. Conforme a linha entre ódio e amor se embaça, Violet deve desvendar uma terrível teia de enganações para salvar a si mesma e ao reino… ou condenar a todos.

Como não gosto dessa sinopse, vou resumir a história com minhas próprias palavras pra vocês: Violet é uma garota com o poder da Visão, capaz de enxergar os fios do passado e do futuro, o que faz com que ela exerça o papel de Vidente do rei de Auveny, um dos reinos mais prósperos do Continente Solar. Porém, mesmo com o reino em paz, uma profecia proferida pela Vidente que ocupou o cargo antes dela assombra a todos: ela diz que o coração do príncipe será responsável pela danação ou pela maldição do reino, pois guerra, sangue e rosas estão a caminho. O prazo limite da profecia se aproxima, a Floresta Feérica (uma floresta mágica que faz divisa com o reino e onde residem as fadas) está apodrecendo, e Cyrus, o príncipe, não está nem perto de encontrar uma noiva. Tudo isso leva seu pai, o rei Emilius, a pedir a Violet que proclame uma profecia falsa sobre o verdadeiro amor de Cyrus ser encontrado no baile que o ocorrerá no palácio. As consequências de mexer com o destino passam a pesar nos ombros da jovem, do príncipe e de todos aqueles que residem em Auveny.

Eu gostei de cara de Flores Feitas de Espinhos por causa de Violet. Ela é sarcástica e tem a língua ferina de um jeito perspicaz e genuinamente engraçado, o que me fez sorrir enquanto lia algumas frases debochadas que ela usava pra se referir sobre pessoas ou situações. Seus pensamentos são cínicos e pragmáticos, talvez um pouco pessimistas, mas aos poucos o leitor vai entendendo o motivo de sua casca ser tão grossa e impenetrável. A protagonista ficou órfã antes mesmo de sua mãe lhe dar um nome, então tudo que ela aprendeu foi com e nas ruas do Distrito Lunar, o mais pobre da Capital Solar, e essa criação a tornou desconfiada – mas também independente. Para completar o panorama de sua personalidade, Violet transborda de teimosia e orgulho, que são as partes mais difíceis de lidar da personagem. Apesar disso, o balanço geral a respeito de Violet é de que ela é uma ótima protagonista, bem atrevida e dona de si, e eu criei simpatia por ela sem demora. Além disso, também criei empatia: por mais que Violet diga que prefere o isolamento e afirme não se importar com ninguém, aos poucos fica nítido que a personagem gostaria de acolhimento e aceitação, o que também nos faz torcer ainda mais por ela.

Cyrus, por sua vez, é sua contraparte total: o príncipe é idealista, honrado e – por que não dizer? – charmoso, daquelas pessoas que sabem que são bonitas e usam seus “dotes” pra deixar todo mundo mais confortável e à vontade. Isso enerva Violet, que o enxerga como um hipócrita. Ele, por sua vez, se ressente dela devido às mentiras que ela por ventura conta a pedido do rei. Os dois juntos funcionam como um barril de pólvora que você sabe que vai estourar a qualquer momento, mas fica o aviso: é necessário ter paciência, porque o óbvio romance estilo enemies to lovers demora bastante a engrenar. Os dois se conhecem desde pequenos, após Violet salvá-lo e ele apresentá-la ao pai, e existe uma mágoa bastante grande de ambas as partes pela forma como o relacionamento transcorreu ao longo dos anos.

Gostei muito do fio principal da história, girando em torno da maldição. O livro mescla elementos de vários contos de fada, como por exemplo a Cinderela (na profecia mentirosa da Violet), A Bela e a Fera (com as rosas e as Feras que ameaçam o reino a partir do apodrecimento da Floresta Feérica) e até referências mais simples que aparecem em ditados populares como “tão confiável quanto uma casa feita de doces”. São pequenos detalhes que tornam a experiência de leitura muito divertida, porque você fica com aquela reação de “ahá, peguei essa referência!”, sabem? 😂 Além disso, conforme o prazo da maldição se aproxima, o livro ganha um senso de urgência maior. A vilã por trás dos acontecimentos vem ameaçando Violet ao longo de toda a história, até que finalmente faz a sua estreia e causa uma série de consequências devastadoras – a principal delas sendo a instabilidade causada na mente de Violet.

Como pontos negativos, eu traria a duração do livro (que poderia ser um pouquinho mais objetivo), e também a falta de visão sobre os pensamentos e atitudes de Cyrus, para que ele fosse mais do que “apenas o Príncipe Encantado amaldiçoado”. Acredito que a trama ganharia em profundidade caso os capítulos fossem alternados entre a narração dele e dela, até porque, no meu ponto de vista, isso nos ajudaria a entender o romance um pouco melhor. As cenas entre os dois são muito mais atreladas a tesão do que a amor, então fica bem difícil “comprar” o discurso de homem apaixonado de Cyrus quando isso acontece. Se tivéssemos acesso a seus anseios e angústias, talvez ficasse mais fácil compreender porque Cyrus toma atitudes tão contraditórias em diversos momentos da trama.

Flores Feitas de Espinhos foi uma ótima leitura pra começar o ano. O livro é uma mistura deliciosa de contos de fada com Disney e Once Upon a Time, trazendo uma visão própria a vários elementos conhecidos e unindo todos eles em uma história que tem um fio condutor bem instigante. Recomendo!

Título original: Violet Made of Thorns
Autora:
Gina Chen
Editora: Rocco
Número de páginas: 384
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Livro cedido em parceria com a editora.
Esse não é um publipost, e a resenha reflete minha opinião sincera sobre a obra.

Resenha: Os Sete Maridos de Evelyn Hugo – Taylor Jenkins Reid

Oi pessoal, tudo bem?

Os Sete Maridos de Evelyn Hugo é um livro que dispensa apresentações, considerando que é praticamente unânime sua avaliação positiva entre os leitores. Chegou a minha vez de entrar pro fã-clube e panfletar essa obra que se tornou não só a favorita de 2022 como uma das favoritas da vida! Bora conhecer essa história maravilhosa, que é pra começar o ano em grande estilo. 🙌

Garanta o seu!

Sinopse: Lendária estrela de Hollywood, Evelyn Hugo sempre esteve sob os holofotes – seja estrelando uma produção vencedora do Oscar, protagonizando algum escândalo ou aparecendo com um novo marido… pela sétima vez. Agora, prestes a completar oitenta anos e reclusa em seu apartamento no Upper East Side, a famigerada atriz decide contar a própria história – ou sua “verdadeira história” –, mas com uma condição: que Monique Grant, jornalista iniciante e até então desconhecida, seja a entrevistadora. Ao embarcar nessa misteriosa empreitada, a jovem repórter começa a se dar conta de que nada é por acaso – e que suas trajetórias podem estar profunda e irreversivelmente conectadas.

Os Sete Maridos de Evelyn Hugo tem uma premissa simples, mas instigante: a estrela de cinema que dá nome ao livro, já na casa dos 70 anos, praticamente “convoca” uma jornalista de pouco renome, Monique Grant, para entrevistá-la. Escolhi a palavra “convoca” porque Evelyn se recusa a conversar com outro redator da revista em que Monique trabalha que não ela. Quando a jornalista enfim conhece a grande estrela, Evelyn Hugo revela que seu verdadeiro desejo é que Monique escreva sua biografia, que promete ser um estouro de vendas. As únicas regras são: ela só deve ser publicada após a morte de Evelyn e Monique deve ser fiel às palavras da atriz, revelando sua verdade sem manipulação ou incompreensão. Ainda que desconfiada do motivo para ter sido escolhida, Monique aceita a proposta, que pode ser sua chance de finalmente crescer na carreira. A partir desse acordo inesperado, Evelyn começa sua história, que inicia na infância com o sonho de se mudar para Hollywood.

Eu amei tanto esse livro e essa personagem que, quando terminei, senti um vazio esquisito por não estar mais na companhia de Evelyn Hugo. Ela é uma personagem tão real que é difícil virar a última página e saber que você não lerá mais nenhuma história, não saberá mais nenhum detalhe de sua vida. E essa é a característica que sempre me encanta na escrita de Taylor Jenkins Reid, mesmo nos livros dela que não me arrebatam tanto: ela domina com maestria a arte de criar personagens reais e multifacetados, com sonhos próprios, qualidades e falhas. Evelyn, apesar de ser a protagonista e a principal narradora, não é a única a ter seu desenvolvimento bem feito: Monique também tem revelados aspectos de sua vida pessoal que impactam diretamente nas decisões que ela toma. Conforme ouve o relato de Evelyn, Monique vai criando coragem e questionando as próprias decisões: ela é inspirada e desafiada pela atriz, aprende com suas artimanhas e faz movimentos pelos próprios interesses que são capazes de deixar sua entrevistada orgulhosa.

Um dos grandes segredos que Evelyn se dispõe a contar no livro é quem foi seu grande amor. Preciso falar sobre essa parte da história porque é uma questão-chave no estilo do livro e no porquê ele emociona tanto, então se quiser evitar, pule este e o próximo parágrafo. A obra é dividida entre os sete maridos de Evelyn, cada um marcando uma fase importante da sua vida. Há Ernie, com quem ela casou por interesse pra ser levada pra Hollywood; há o nojento Mick Riva, que aparece em Malibu Renasce e por quem sinto o mais profundo desprezo; há Rex, com quem ela mantém um casamento de fachada pra evitar escândalos, entre outros. Mas nenhum deles foi seu grande amor romântico. Seu grande amor romântico foi Celia St. James, sua primeira amiga e a segunda (e última) pessoa por quem se apaixonou. Após casar por amor com Don Adler e ser vítima de um relacionamento abusivo, Evelyn vira uma amiga inseparável de Celia, encontrando conforto e compreensão na sua presença. Quando Evelyn descobre que Celia é lésbica, seu coração entra em descompasso e ela percebe que o que pensava ser amizade era na verdade outra coisa. Porém, as duas estão vivendo a década de 50, e o preconceito era pesado demais para suportar – podendo levá-las à ruina. Evelyn sempre soube disso, e o desejo de não expor o segredo das duas é o principal motivo que as afasta durante muitos anos. O amor de Evelyn e Celia é inspirador e verdadeiro, intenso e imutável, mas também comove porque as duas perdem muito tempo devido à teimosia, ao medo e ao risco de perderem tudo caso sejam descobertas.

Celia é uma personagem doce e afetuosa, mas ela sabe ser cruel também. Ela fere Evelyn com suas palavras em mais de uma ocasião, e se recusa a enxergar que algumas decisões que sua amada toma visam protegê-la, considerando que Celia é uma atriz talentosíssima e em ascensão, ganhando mais de um Oscar ao longo da carreira. Evelyn, por sua vez, é muito conhecida pela sensualidade, ainda que a reconheçam como a excelente atriz que é. Mas Taylor Jenkins Reid usa de sua protagonista pra exibir o machismo do ramo, e em mais de uma ocasião Evelyn é punida pela academia e pela sociedade, perdendo chances de reconhecimento e aparecendo nos tabloides (principalmente por causa de seus casamentos). As passagens em que Evelyn e Celia estão sem se falar são aflitivas porque o leitor sabe o quanto elas se amam, mas existe um caminho a ser trilhado para que estejam prontas para ficarem juntas.

Outro personagem que vale ser mencionado é Harry Cameron, o melhor amigo de Evelyn. Ele é um produtor de Hollywood conhecido pelo bom gosto e é quem descobre uma Evelyn com menos de 17 anos atendendo em uma lanchonete. Encantado por sua beleza, ele sabe que a garota tem potencial de brilhar, e é quem a ajuda a dar os primeiros passos em Hollywood. Com o tempo, porém, ele se revela um amigo leal, uma pessoa que está ali para defendê-la e com quem ela cria uma família – real e metafórica. Harry é um personagem pelo qual o leitor se afeiçoa, e ele tem suas próprias questões para resolver, algumas delas bastante trágicas e comoventes. Mais um exemplo de que os personagens inseridos na história têm um papel a cumprir, causando sentimentos intensos no leitor.

A obra também é interessantíssima por revelar com leveza e fluidez os bastidores do cinema, os escândalos das celebridades, as maquinações necessárias para chegar ao estrelato – e, principalmente, mantê-lo – e as falsidades que acontecem por trás das cortinas. Taylor Jenkins Reid constrói a história de modo que o leitor sinta que está lendo uma biografia de verdade, de tão imersivas que essas passagens são. Você realmente se sente “aprendendo” sobre o backstage do cinema e vendo de perto os segredos desse ramo sendo revelados.

Os Sete Maridos de Evelyn Hugo é um livro comovente, que fala sobre amar verdadeiramente e sobre o quanto o preconceito pode roubar a sua vida quando você não se encaixa no “modelo pré-estabelecido” de amor. Fala também sobre uma mulher que tomou atitudes condenáveis e egoístas para crescer na vida e proteger seus interesses, mas que também agiu da forma mais altruísta possível pra cuidar daqueles que amava. Evelyn Hugo é uma personagem complexa, apaixonante, cativante e instigante. Você pode até não concordar com suas decisões, mas decididamente você vai compreendê-las e possivelmente respeitá-las. Evelyn é um exemplo de força e de determinação, alguém que acredita em si mesma sem pensar duas vezes. Acho que, no fundo, eu queria ser um pouquinho mais como ela. Sei que Monique também, e a gente vê isso acontecendo diante dos nossos olhos ao longo da leitura. Se você ainda não conheceu essa mulher marcante, meu conselho é que o faça o mais breve possível. Assim como todos que a viram atuar durante seus anos de ouro, você vai se apaixonar por ela também. ❤

Título original: The Seven Husbands of Evelyn Hugo: A Novel
Autores:
Taylor Jenkins Reid
Editora: Paralela
Número de páginas: 360
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