Oi gente, tudo bem?
Uma das leituras favoritas do ano passado e que estava há tempos na minha wishlist finalmente ganhou um espaço por aqui: Não Confie Em Ninguém, do Charlie Donlea! Esse autor é sempre muito elogiado por seus thrillers e, como fã do gênero, estava animada pra conhecer sua escrita.
Sinopse: O destino de Grace Sebold toma um rumo inesperado durante uma tranquila viagem com o namorado. O rapaz é assassinado… e ela é condenada pelo crime. Depois de dez anos na prisão, surge a chance de Grace provar sua inocência ao conhecer a cineasta Sidney. Em um documentário que exibe as falhas do processo, a cineasta questiona se a condenação foi fruto de incompetência policial ou se a jovem foi vítima de uma conspiração. Antes do término das filmagens, o clamor popular leva o caso ser reaberto, mas um novo fato provoca uma reviravolta: Sidney recebe uma carta anônima afirmando que ela está sendo enganada pela assassina. A cineasta começa a investigar o passado de Grace e quanto mais se aprofunda na história, mais dúvidas aparecem. No entanto, agora, o que está em jogo não é apenas a repentina fama e carreira, mas sua própria vida.
A premissa do livro reúne dois elementos que por si só me instigam muito: uma personagem não confiável e um documentário de true crime como pano de fundo. Vamos explorar o primeiro elemento: Grace Sebold é o foco do documentário de Sidney Ryan, uma cineasta em ascensão que produz documentários sobre condenados que alegam inocência pelos crimes dos quais foram acusados. Grace cumpre pena numa ilha caribenha pelo assassinato de seu namorado há 10 anos, em tese empurrado por ela de um penhasco. Durante todo o seu tempo de prisão, Grace, sua melhor amiga e sua família escreveram cartas para Sidney, pedindo para que ela investigasse seu caso, afirmando sem hesitar que Grace não foi responsável pela morte do rapaz. Sidney decide pesquisar a respeito, deparando-se então com várias falhas processuais tanto na investigação quanto no julgamento, fazendo então com que Grace seja a protagonista de sua próxima produção. Porém, durante essa investigação, Sidney também se aprofunda no passado de Grace e algumas peças não parecem se encaixar com os relatos de sua entrevistada, fazendo com que ela – e o leitor – passem a ter dúvidas sobre sua inocência. Quem é a verdadeira Grace Sebold? O que Sidney vai encontrar em suas pesquisas sobre ela? Essa ambiguidade deixa o leitor curioso para saber mais e mais a respeito da personagem, cuja aura de mistério é envolvente. E aí entramos no segundo elemento atrelado ao plot de Não Confie Em Ninguém: ele gira em torno de um documentário de true crime investigado em tempo real, e o autor explora isso para nos deixar curiosos e imersos. Ou seja, há capítulos focados no presente e na investigação de Sidney e outros focados em descrições sobre os episódios, que constroem a narrativa que põe em xeque a culpa de Grace. Esse paralelismo anda para o mesmo rumo até o ponto de ruptura, aí o leitor chega numa encruzilhada: em qual vertente acreditar? Na inocência ou na culpa de Grace?
Outro elemento que Charlie Donlea utiliza ao longo do livro pra manter o leitor fisgado é inserir conversas de um júri a respeito de um caso misterioso que está sendo discutido. É um pouco revoltante perceber os motivos que levam determinadas pessoas a serem escolhidas para liderar, ou como o machismo também afeta a capacidade de julgamento de outras, que estão dispostas a serem taxativas a respeito de uma decisão que vai impactar para sempre a vida de alguém mesmo sem ter todos os fatos debatidos e expostos ainda. Ao longo da obra, você se pergunta sobre quem essas pessoas estão falando, tenta descobrir se é a respeito do caso de Grace e faz o possível pra juntar essas pistas com o que vai descobrindo junto da investigação de Sidney. As entrevistas que a cineasta conduz com as pessoas de interesse são ricas em detalhes, revelando nuances do passado de Grace que a força policial de Santa Lúcia, o paraíso no qual a tragédia ocorreu e onde ela esteve presa, não fez questão de investigar.
Existem poucos personagens secundários, o que eu considero positivo. Isso dá margem para que todos sejam possíveis suspeitos, com motivos plausíveis para terem matado Julian, o namorado assassinado. Inclusive a própria Grace. Ninguém é eliminado completamente da equação, especialmente após a inserção na história de um ex-policial que envia uma carta a Sidney informando que ela possivelmente cometeu um engano ao acreditar na protagonista de seu documentário. Para o detetive aposentado, Grace é inegavelmente culpada, e coloca Sidney na pista que pode comprovar sua teoria. Com isso, Charlie Donlea busca deixar o caminho pavimentado para confundir ainda mais os leitores, e acredito que com muitos tenha funcionado. Porém, eu tenho duas opiniões divergentes sobre o final: eu não fui surpreendida pela pessoa responsável pela morte, porque consegui desvendar sua identidade; entretanto, fiquei de queixo caído com a ousadia do autor em ter escolhido o caminho que escolheu. Então, por mais que talvez a revelação da pessoa culpada possa ser descoberta pelo leitor, como foi o meu caso, Charlie Donlea ainda assim consegue surpreender pela tomada de decisão chocante da reta final da história.
Não Confie Em Ninguém é um livro que você devora, pois é construído de uma forma ágil e que mantém você desconfiado do que está sendo dito nas páginas. Intercalando a investigação com cenas do documentário, você se sente parte da trama, como se o que estivesse acontecendo ali fosse real – o que torna a experiência muito imersiva. Talvez certos aspectos abertos do final desagradem alguns leitores, mas pra mim ficou uma sensação mais de “possibilidades” do que de “não fechamento”, por assim dizer, então o desfecho não chegou a me incomodar. Ou talvez eu só estivesse tentando levantar meu queixo mesmo, depois de ler certa cena. 😂 Foi uma ótima primeira experiência com Charlie Donlea e recomendo bastante pra quem gosta de livros do gênero!
Título original: Don’t Believe It
Autor: Charlie Donlea
Editora: Faro Editorial
Número de páginas: 352
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