Resenha: A Paciente Silenciosa – Alex Michaelides

Oi pessoal, tudo bem?

Se tem um gênero que eu tenho lido com frequência este ano é o meu queridinho: isso mesmo, thriller. E recentemente aproveitei pra conferir um livro que causou bastante rebuliço na blogosfera, A Paciente Silenciosa. Vamos conhecer?

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Sinopse: Alicia Berenson escreve um diário para colocar suas ideias em ordem. Ele é tanto uma válvula de escape quanto uma forma de provar ao seu adorado marido que está bem. Ela não consegue suportar conviver com a ideia de que está deixando Gabriel preocupado, de que está lhe causando algum mal. Alicia Berenson tinha 33 anos quando matou seu marido com cinco tiros. E nunca mais disse uma palavra. O psicoterapeuta forense Theo Faber está convencido de que é capaz de tratar Alicia, depois de tantos outros falharem. E, se ela falar, ele será capaz de ouvir a verdade?

Alicia Berenson é uma artista que, após ser encontrada junto ao corpo do marido, foi presa em uma instituição psiquiátrica. Além da brutalidade da morte, o que mais provocou frisson na mídia foi o fato de que Alicia não falou uma única palavra sobre o acontecido (nem mesmo para se defender). Do momento em que foi encontrada em diante, Alicia permaneceu muda, transformando-se em um verdadeiro mistério. E é esse mistério que nosso narrador, o psiquiatra Theo Faber, quer desvendar. Completamente fascinado pelo caso da jovem artista, ele consegue um emprego na instituição em que ela está cumprindo sua pena, conseguindo a chance de tentar se aproximar dela e desenterrar segredos há muito ocultos.

A Paciente Silenciosa se divide entre capítulos narrados por Theo e transcrições de um diário que Alicia mantinha. E já aviso que o livro começa de forma impactante: iniciamos com um trecho do diário em que Alicia deixa claro o quanto ama seu marido e que pretende registrar somente os momentos bons de sua vida com ele. No capítulo seguinte, já narrado por Theo, descobrimos que Alicia matou o marido. VRÁ! Essa transição na narrativa me deixou impressionada e causou grandes expectativas para o decorrer da obra. Algumas foram atingidas, outras não.

Desde o início da história eu pensei que havia algo de errado com a postura de Theo. Ele tem um certo nível de obsessão com a história de Alicia que me fez pensar que ele não estava preocupado com o bem-estar da paciente, mas sim com sua própria curiosidade (e ego). Além disso, em alguns capítulos ele conta sobre sua vida pessoal e seu casamento, e nesses trechos também fica evidente que ele não sabe manter um relacionamento saudável. Com isso, por mais que Theo tente transparecer as melhores intenções, não consegui me conectar com ele – já que me mantive desconfiada quanto ao seu caráter a leitura toda.

Alicia, por outro lado, é como um lago profundo em que você não consegue ver além do óbvio, da superfície. Nosso único contato com sua mente se dá por meio do diário, que não revela nada além de amor e carinho pelo marido. Esse abismo entre o que ela narra e o que de fato aconteceu é o que mantém o leitor curioso, querendo entender qual foi o estopim que a levou ao assassinato – se é que, de fato, ela o cometeu (já que ela nunca disse nem que sim, nem que não). Entretanto, o livro ganha um quê de romance policial quando Theo inicia uma jornada fora do expediente para descobrir mais detalhes da vida de Alicia, procurando pessoas-chave do seu convívio para entrevistar (alô, Conselho de Medicina, corre aqui!).

Brincadeiras à parte, a história de A Paciente Silenciosa é bem envolvente, mas o desenrolar foi um pouco cansativo e não trouxe aquela bomba que a transição do prólogo pro primeiro capítulo trouxe. Fiquei esperando o tempo todo ser surpreendida novamente com aquela sensação, mas isso não aconteceu. Theo é um narrador tedioso, antiético e que fica tentando se (e nos) convencer de que o que ele faz está certo. Existe também um fator de previsibilidade: eu saquei o que viria pela frente enquanto fui lendo um capítulo decisivo, que dá todas as pistas pra desvendar o mistério. Mistério esse que eu esperava que fosse se desenvolver por um caminho mais psicológico, mas foi por outro, menos interessante e mais na vibe de thrillers criminais mesmo. Somado a isso, como ponto negativo ressalto também o final abrupto e com elementos em aberto, que não deixa claro o destino dos personagens.

Eu diria que boa parte da base-tema do livro não é somente sobre doenças mentais e o peso dos traumas da nossa vida, mas também sobre machismo e posse. O trecho a seguir é um spoiler, pule para o parágrafo seguinte se não quiser ler: ao causar a morte de Gabriel, Theo se comportou como dono de Kathy. Tudo que ele fez para mantê-la ao seu lado ignora que ela é um ser humano com desejos próprios que fogem do seu controle. Ela é uma cretina mentirosa? Sim. Mas Theo não tinha nenhum direito de controlar a sua vida, segui-la e planejar uma vingança; no momento em que ele descobriu a traição, o único caminho certo era falar sobre isso.

Em resumo, A Paciente Silenciosa é um bom thriller, mas não excepcional. O plot twist apresentado logo nas primeiras páginas foi muito mais interessante do que diversas outras revelações ao longo da trama, então meu nível de expectativa foi caindo cada vez mais por conta disso. Ainda assim, é um livro instigante e tem um potencial audiovisual enorme, podendo ser facilmente adaptado para uma série ou filme de suspense. Certamente vale a leitura, só recomendo que você tenha cuidado com o hype pra não se decepcionar.

Título original: The Silent Patient
Autor: Alex Michaelides
Editora: Record
Número de páginas: 350
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Resenha: Uma Estranha Em Casa – Shari Lapena

Oi pessoal, tudo bem?

Ultimamente eu tenho tentado dar certa prioridade para livros que estavam na minha wishlist há muito tempo e, com isso, finalmente li o thriller Uma Estranha Em Casa.

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Sinopse: Karen Krupp acorda no hospital, sem ter a menor ideia de como foi parar nele. Tom, seu marido, diz que a porta estava destrancada quando ele entrou em casa, as luzes acesas, e que a esposa provavelmente saiu às pressas quando estava preparando o jantar, pelo que ele viu na cozinha. Karen perdeu o controle do carro enquanto dirigia a toda a velocidade e bateu de frente num poste. O mais estranho: o acidente aconteceu num dos bairros mais perigosos da cidade. A polícia suspeita de que Karen esteja envolvida em algo obscuro, mas Tom tem certeza de que não. Ele está casado com ela há dois anos, conhece muito bem a mulher. Será mesmo? Vai perguntar tudo a Karen quando chegar ao hospital, depois de dizer que a ama e que está feliz por ela ter sobrevivido, é claro. Mas Tom não obtém resposta nenhuma… porque ela não se lembra de absolutamente nada.

A história começa com a fuga de uma mulher de um restaurante abandonado. Ela entra no carro alucinada e dirige de forma imprudente até que bate num poste. A mulher em questão é Karen Krupp, e seu marido, Tom, fica transtornado ao chegar em casa e encontrar a porta destrancada, a preparação do jantar em curso abandonada e nenhum sinal de sua esposa. Quando a polícia bate à porta e o leva para o hospital em que Karen está, ele descobre que ela perdeu a memória de curto prazo graças ao traumatismo craniano provocado pelo acidente. Para completar a fórmula de incertezas, um homem é encontrado morto na região em que Karen bateu o carro, e ela vira uma peça-chave na investigação.

Uma Estranha Em Casa reúne vários elementos clichê de thrillers: um personagem desconfiado de alguém em quem sempre confiou, um aspecto físico/de saúde muito conveniente para manter o mistério e até mesmo uma vizinha enxerida (no caso, Brigid, melhor amiga de Karen e vizinha da frente). O desenrolar da trama é muito ágil e o livro tem uma característica que eu adoro: capítulos curtos. Graças a isso, e ao fato da narrativa em terceira pessoa focar em personagens diferentes, é muito fácil devorar as páginas.

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Porém, Uma Estranha Em Casa é um livro simples. A investigação dos detetives não tem grandes reviravoltas, os personagens são meio estereotipados e lineares e os clichês que eu mencionei anteriormente o colocam numa posição bastante lugar-comum, ainda que segura. Lá pela metade do livro eu estava bastante desconfiada de determinada personagem e me vi tendo razão a respeito dela (que se revelou uma pessoa mesquinha e falsa). Por outro lado, o final em si traz um desfecho muito interessante pras pessoas envolvidas. Ele transmite uma ideia de “bem feito!” e eu achei legal que, de certa forma, os personagens paguem pelos seus erros.

As duas personagens pelas quais senti algum nível de afeição foram Karen, que está angustiada com a perda da memória, e o detetive responsável pelo caso, Rasbach. Ele é um homem determinado e vivaz, mas quanto mais ele investiga o passado de Karen, mais empatia ele demonstra. Tom é um fraco e eu não gostei de nenhum aspecto dele. SPOILER ALERT: tem um momento da história que ele trai Karen “por estar muito bêbado e precisar de conforto” e isso me enfurece. Eu odeio a autoindulgência masculina envolvendo traição e como eles ainda são retratados como “incapazes de se controlar”.

Enfim, resumindo: Uma Estranha Em Casa é um livro mediano, mas mediano não significa ruim. Ele se apropria de elementos que já vi em diversas outras obras do gênero e nos apresenta a uma história linear, mas envolvente. Não foi a melhor leitura do ano mas também não foi a pior, e pode ser uma boa opção pra alguém que esteja se aventurando nesse gênero literário pela primeira vez. 🙂

Título original: A Stranger in the House
Autor: Shari Lapena
Editora: Record
Número de páginas: 266
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Resenha: O Segredo de Emma Corrigan – Sophie Kinsella

Oi pessoal, tudo bem?

Após uma ótima primeira experiência com chick-lits a partir de Lendo de Cabeça Para Baixo, fiquei ansiosa pra conferir mais obras do gênero. Unindo essa vontade com o desejo de conhecer a escrita da elogiada Sophie Kinsella, nas últimas semanas eu li O Segredo de Emma Corrigan. Bora descobrir o que eu achei?

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Sinopse: Emma Corrigan tem alguns segredinhos… Mas quem não tem? Durante uma viagem de avião bem turbulenta, Emma acredita que não sobreviverá aos solavancos, e acaba contando todos – mas todos! – os seus segredos para o homem sentado na poltrona ao lado. Quando a aeronave pousa em segurança, ela pede desculpas ao companheiro de voo pelo desabafo, pensando que nunca mais veria aquele estranho bonitão. No dia seguinte, no entanto, ela descobre que seu colega de viagem era ninguém menos que Jack Harper, um dos fundadores da grande Corporação Panther, empresa na qual Emma trabalha como assistente de marketing. E que seu encontro desajeitado com o milionário a colocaria na maior confusão.

O que você faria se estivesse enfrentando uma turbulência terrível e jurasse de pés juntos que o avião iria cair? No caso de Emma Corrigan, embalada por algumas doses de álcool, a opção escolhida foi tagarelar para o estranho sentado ao seu lado sobre seus segredos pessoais, dos mais bobos até às inseguranças familiares. Ora, mas se você nunca mais vai ver esse homem, não tem nenhum problema, né? Acontece que o avião não cai, Emma segue a vida e, para completar, reencontra o homem – que, por acaso, é Jack Harper, o dono da empresa na qual ela trabalha. Jack tem suas próprias razões para manter o encontro prévio dos dois em segredo, o que Emma encara com gratidão. Acontece que os dois vão se aproximando e a atração física logo fica evidente.

A partir dessa premissa, eu esperava um livro fofo e que me fizesse rir. O que encontrei, entretanto, foi uma história por muitas vezes enervante. A leitura de O Segredo de Emma Corrigan me deixou clara uma coisa: eu já não tenho mais paciência pro estereótipo da mocinha atrapalhada. A Emma é uma mulher infantil. Ela não fala o que pensa e reage de forma boba a diversas situações que pedem uma atitude mais condizente com seus 25 anos. Esse aspecto da protagonista, que é também a narradora, tornou muito difícil pra mim me afeiçoar à história e à própria Emma.

O romance também não flui de uma maneira legal. Jack é o clichê do cara poderoso, mas “humilde”, aquele “chefe legalzão”. A verdade é que, aos meus olhos, Jack não é nada apaixonante: ele manda sinais estranhos pra Emma, critica o (até então) namorado atencioso dela sem nenhuma intimidade pra isso e tem atitudes bastante questionáveis – saindo como vítima ainda por cima, o que me deixou indignada. Além disso, o modo como ele trata a garota nos encontros é simplesmente detestável. Parece que Emma acaba sempre o perdoando por não acreditar que alguém tão bonito e inteligente tenha se interessado por ela, motivação esta que eu acho bastante perigosa.

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O aspecto mais interessante do livro foi ver Emma ganhando voz. Tanto no trabalho, no qual ela defende uma ideia audaciosa e perspicaz, quanto em sua conturbada relação familiar, na qual seus pais privilegiam sua prima (adotada por eles) em detrimento de Emma, o leitor percebe que existe evolução no modo como a protagonista lida com os problemas. 

Fora isso, não acontece muita coisa realmente instigante na história. Há o dilema da protagonista sobre amar ou não o atual namorado, os encontros estranhos com Jack e um plot twist que, como em toda comédia romântica, visa separar o casal. Talvez se eu tivesse conhecido a trama por meio de sua adaptação cinematográfica, eu tivesse gostado mais. Agora, na forma de leitura, não senti nada além de “preferia ter investido meu tempo em outra coisa”. Não me sinto confortável em indicar O Segredo de Emma Corrigan, mas acho importante lembrar que aquilo que não funciona para um leitor pode funcionar superbem para outro. Então, se a premissa te despertou curiosidade e você está disposto a arriscar (apesar das ressalvas), vá em frente. 😉

Título original: Can You Keep a Secret?
Autor:
Sophie Kinsella
Editora: Record
Número de páginas: 384
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Resenha: Em Águas Sombrias – Paula Hawkins

Oi pessoal, tudo bem?

Vim resenhar pra vocês mais um suspense psicológico (gênero que adoro). Hoje é dia de falar sobre Em Águas Sombrias, da Paula Hawkins.

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Sinopse: Nos dias que antecederam sua morte, Nel ligou para a irmã. Jules não atendeu o telefone e simplesmente ignorou seu apelo por ajuda. Agora Nel está morta. Dizem que ela se suicidou. E Jules foi obrigada a voltar ao único lugar do qual achou que havia escapado para sempre para cuidar da filha adolescente que a irmã deixou para trás. Mas Jules está com medo. Com um medo visceral. De seu passado há muito enterrado, da velha Casa do Moinho, de saber que Nel jamais teria se jogado para a morte. E, acima de tudo, ela está com medo do rio, e do trecho que todos chamam de Poço dos Afogamentos…Paula Hawkins nos presenteia com uma leitura vigorosa e que supera quaisquer expectativas, partindo das histórias que contamos sobre nosso passado e do poder que elas têm de destruir a vida que levamos no presente.

Eu adorei o filme A Garota no Trem. Achei a construção do mistério e a crítica ao machismo tão poderosas que fiquei ansiosa pra ler algum livro da Paula Hawkins. Decidi começar com Em Águas Sombrias, para ter uma experiência inédita, mas infelizmente a leitura não foi o que eu esperava. Como a sinopse é bem satisfatória e objetiva, vou partir direto para as minhas considerações sobre a obra, certo? 😉 Então, o livro não é ruim, e eu seria injusta se dissesse isso. Mas ele também passa longe de ser maravilhoso. Percebi que o livro não estava me ganhando logo nas primeiras páginas, que já não são tão envolventes. Praticamente cada capítulo é narrado por um personagem diferente, o que, nesse caso, não funcionou (porque quebrou muitas vezes o ritmo da narrativa, diminuindo minha curiosidade).

Além disso, tive problemas com personagens. Jules é uma personagem sem brilho e sem carisma, e isso não me parece ter a ver somente com seus traumas do passado. Na verdade, ela é tão desinteressante quando comparada a outras personagens (como Lena, Nickie e até mesmo a já falecida Nel) que os capítulos dela simplesmente não me envolveram ao longo da narrativa. Entretanto, é importante exaltar uma qualidade do plot da Jules, pois ele aborda uma questão que precisa ser discutida: consentimento.

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Outra trama importante, a de Katie e Mark, não me agradou. Em primeiro lugar, por ter sido previsível; em segundo, porque me pareceu desconectada, especialmente quando penso no plot de Nel. Parece que toda a questão envolvendo os personagens serviu apenas para criar um mistério maior ao longo do livro que, na verdade, não teve impacto. A fuga e o desfecho de Mark também foram desconexos, e não teriam feito diferença caso não existissem. A morte de Nel, por outro lado, conduz a uma série de revelações sobre os moradores de Beckford, e sua morte – ao contrário da de Katie – faz sentido dentro do contexto maior que envolve o livro.

Mas os elogios também merecem ser feitos. Paula Hawkins mais uma vez traz um enredo que expõe os diversos tipos de violência que nós, mulheres, sofremos ou corremos o risco de sofrer apenas por sermos mulheres. O Poço dos Afogamentos, o local para se livrar de mulheres encrenqueiras, infelizmente não é tão distante da nossa realidade.

Outro aspecto interessante de Em Águas Sombrias é a sensação cíclica que o fim proporciona. Senti, ao fechar o livro, que a autora conclui sua narrativa colocando os personagens em pontos diferentes da vida – mas que outros já ocuparam anteriormente. Existe ainda a inquietação e o desejo por saber a verdade, existe uma tentativa de recomeço, existe uma sensação de continuidade. Não pude evitar lembrar de O Segredo do Meu Marido, da Liane Moriarty, quando cheguei ao final da trama, porque Paula Hawkins também me causou a sensação de que existem coisas que, no fim das contas, nunca serão reveladas. Nesse caso, ficarão submersas nas águas de Beckford.

Título Original: Into The Water
Autor: Paula Hawkins
Editora: Record
Número de páginas: 364
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Resenha: O Poderoso Chefão – Mario Puzo

Olar, tudo bem?

Depois de me enrolar por 4 anos após ganhar um exemplar de presente, finalmente li o clássico O Poderoso Chefão!

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Sinopse: Publicada em 1969, a saga O Poderoso Chefão é, ainda hoje, a mais perfeita reconstrução das famílias mafiosas de Nova York. O carismático Don Vito Corleone é o chefão de uma delas. Apesar de implacável, Don Vito é, essencialmente, um homem justo. Padrinho benevolente, nada recasa a seus afilhados: conselho, dinheiro, vingança e até mesmo o assassinato de alguém. Em troca, o poderoso chefão pede apenas o respeito e a amizade de seus protegidos. Mas ninguém pode vencer as trapaças da idade. Quando todos os seus inimigos resolverem atacar, e seu bem mais precioso, a família, estiver por um fio, o velho Corleone terá de escolher, entre seus filhos, um sucessor à altura. Mario Puzo constrói, de maneira hábil, um mundo de intrigas, decisões cruéis e honra, num legado de tradição e sangue.

É bem provável que a maioria de vocês, assim como eu, conheçam O Poderoso Chefão por meio dos filmes da trilogia. O livro de Mario Puzo (que foi adaptado no primeiro longa) aprofunda ainda mais a história, com uma narrativa envolvente e personagens bem construídos.

Don Vito Corleone veio da Sicília, na Itália, para os Estados Unidos ainda criança, fugindo de uma ameaça de morte. Em terras americanas, ao longo das décadas ele construiu o seu império por meio da importação de azeite e de negócios ilegais (principalmente no ramo dos jogos). O livro se passa na década de 40, após a Segunda Guerra Mundial, e Don Corleone é chefe de uma das Famílias mais poderosas de Nova York. E, por Família, quero dizer grupo mafioso mesmo. 😛 Don Corleone é um homem muito respeitado, com grande influência política. Tendo amizade e relações de negócios com juízes, senadores, governadores e outros figurões, seu poder vai muito além do financeiro. Seus filhos o auxiliam nos negócios, com exceção da única pessoa da família Corleone que não deseja ter envolvimento com esse universo: seu filho homem mais novo, Michael. O rapaz lutou na guerra, está noivo de uma típica moça americana e traça um caminho bem diferente dos seus outros irmãos, que trabalham para a Família (percebam que, quando utilizo Família com F maiúsculo, me refiro à máfia). As coisas ficam complicadas quando Don Corleone sofre um atentado à sua vida, após recusar sua participação no negócio de entorpecentes, proposta por um homem perigoso chamado Sollozzo. O tiroteio que debilitou o chefe dos Corleone faz com que Michael precise se envolver, mudando todo o rumo da história.

O Poderoso Chefão tem um início lento, com o objetivo de mostrar a extensão dos poderes de Don Corleone. Com uma essência diplomática e justa, mas ainda assim implacável, o líder dos Corleone valoriza a amizade e o respeito: ele ajuda sua comunidade e seus amigos sem hesitar, desde que possa contar com seu apoio quando necessário. No início do livro, Don Corleone manda seu consigliere, Tom Hagen (que é também seu filho adotivo) resolver um problema que seu afilhado, o ator e cantor Johnny Fontane, enfrenta: o jovem deseja estrelar um filme de Hollywood, mas o diretor do longa tem uma implicância pessoal com ele. Tom Hagen viaja até lá e, a mando de Don Corleone, resolve o problema de um modo bastante sangrento. Essa situação é apenas um exemplo que ilustra a fidelidade de Don Corleone para com seus protegidos, bem como seu modo de resolver as coisas: primeiro, com uma tentativa de diálogo; em caso de recusa, com métodos mais “diretos”.

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O que eu mais gostei durante a leitura foi, sem dúvidas, o desenvolvimento dos personagens. Mario Puzo consegue fazer com que o leitor se identifique e sinta empatia por… criminosos. Simples assim. Ao descrever o bom coração do violento Sonny Corleone, filho mais velho do Don, muitas vezes nos esquecemos dos episódios de infidelidade, dos crimes cometidos, entre outras coisas. Ao narrar os excelentes diálogos de Don Vito Corleone, muitas vezes nos pegamos torcendo pelo sucesso de suas empreitadas. E Tom Hagen, um rapaz dedicado, inteligente e fiel a Don Corleone, nos conquista (ainda que saibamos que ele está envolvido em cada detalhe sujo dos negócios da Família). Mas quem tem o melhor desenvolvimento, na minha opinião, é Michael Corleone. No filme, eu senti que a decadência moral do personagem foi um tanto rápida demais, me surpreendendo como um rapaz de tanta ética poderia sucumbir tão rápido à realidade da Família. Porém, no livro, Mario Puzo vai narrando o prazer que Michael sente ao auxiliar os planos da Família, a eletricidade que corre por seu corpo quando ele participa de algum plano. Isso, somado às tragédias que o assolam posteriormente, é uma justificativa muito mais plausível para explicar a trajetória do personagem.

As discussões sobre moralidade também são um ponto fortíssimo no livro. Don Vito e os outros líderes mafiosos não confiam no sistema. O chefe dos Corleone, inclusive, o tem na mão (por meio de suas conexões com políticos e juízes). Em um mundo que não protege os indivíduos e beneficia quem tem nome e/ou dinheiro, os mafiosos cumprem esse papel, acolhendo e dando suporte aos seus protegidos e passando por cima da justiça tradicional e das regras do Estado. O caso de Amerigo Bonasera, que viu os jovens que espancaram sua filha sendo soltos graças à influência de seus sobrenomes, ilustra muito bem essa situação. O senso de justiça é muito presente na obra, ainda que muitas vezes de modo deturpado. Entretanto, o livro aborda essas questões de modo a fazer o leitor refletir e, até certo ponto, entender e concordar com o posicionamento e as atitudes dos Corleone.

Como crítica negativa, eu diria apenas que o livro dedica tempo demais a personagens pouco relevantes. Temos toda uma parte da obra que narra a história de Lucy Mancini, ex-amante de Sonny Corleone, por exemplo. Durante essa passagem, o enredo foca nos problemas sexuais da moça e em como ela consegue resolvê-los. E não, isso não tem impacto nenhum para a história de modo geral. O mesmo ocorre com Johnny Fontane, que tem mais páginas do que deveria. Isso serve para aprofundar os personagens secundários e torná-los mais reais, o que é algo que valorizo; entretanto, achei que isso se prolongou por tempo demais, afastando o livro da trama principal (que era a que realmente me mantinha interessada).

O Poderoso Chefão reúne diversos elementos atrativos: uma história bem contada, um enredo envolvente, uma narrativa instigante e personagens excelentes. Não há preto e branco, mas cinza: as diversas camadas dos personagens (com qualidades e defeitos) fazem com que eles sejam verossímeis e relacionáveis. O livro questiona ainda a integridade do Estado, mostrando que existe muita sujeira e corrupção nas diversas camadas das autoridades (o que fica explícito graças aos contatos políticos de Don Corleone). É uma obra excelente sobre a máfia, mas que aborda também as relações familiares e suas complicações, bem como a decadência e a desconstrução moral dos personagens. Recomendadíssimo!

Título Original: The Godfather
Autor: Mario Puzzo
Editora: Record
Número de páginas: 461
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