Dica de Série: Ruptura

Oi pessoal, tudo bem?

Hoje a dica é de uma das séries mais interessantes a que assisti nos últimos tempos, e olha que isso não é pouca coisa, hein? Hoje o nosso papo é sobre Ruptura.

Sinopse: Mark lidera uma equipe de funcionários cujas memórias foram cirurgicamente divididas entre vida profissional e pessoal. Um misterioso colega aparece fora do ambiente trabalho, e ele começa uma jornada para descobrir a verdade sobre seu emprego.

Imagine uma realidade em que você pudesse separar sua vida pessoal da profissional. Mas não estou dizendo isso de forma metafórica, daquele jeito saudável que a gente tenta fazer quando busca equilíbrio entre os nossos compromissos. Estou falando de um modo brutalmente literal: nessa realidade, você poderia fazer uma intervenção no seu cérebro que “apagaria” a sua versão de “fora do trabalho” (ou “Outie”) no momento em que você chegasse ao escritório, assim como apagaria sua versão “do escritório” (ou “Innie”) quando você saísse dele. Durante o expediente, você não lembraria nada sobre quem você é lá fora: seus gostos, sua família, seus hobbies, seus amores; fora do expediente, você não saberia se seu trabalho é meramente burocrático ou se, digamos, envolve escravizar ou matar pessoas, por exemplo. Esse é o grande dilema moral de Ruptura, que gira em torno desse procedimento médico que dá nome à série e é realizado pelo protagonista – Mark S. – após perder a esposa em um acidente, sendo consumido pelo luto. Como cerca de 8h ou 9h do seu dia são dedicadas ao trabalho, lhe parece uma boa troca não ter que lembrar que essa dor existe durante esse período. Porém, quando ele é abordado por um homem que alega ser seu ex-colega de departamento, Mark começa a apresentar sintomas estranhos e a nutrir dúvidas desse sistema.

Ruptura é o tipo de série que vem e faz você sentir o impacto. A fotografia é pálida, a abertura é profundamente angustiante e o tom da história faz você se sentir tão preso quanto os personagens. A ambientação por si só é um personagem também: Mark e sua equipe trabalham em um escritório que mais parece um labirinto, todo sem janelas e com fortes luzes brancas, causando neles uma sensação de que o tempo não passa. Considerando que os Innies realmente não sentem o tempo passar (afinal, no momento em que eles saem do escritório, sua consciência é desligada e só é religada ao retornarem), é como se eles vivessem aprisionados dentro das paredes da Lumon, a empresa por trás do procedimento da ruptura.

A saúde mental no ambiente de trabalho é um dos tópicos mais latentes de Ruptura, e fica evidente na personagem Helly. Ela é a novata da equipe e tem grande dificuldade de se ajustar, tentando se demitir a todo custo. Acontece que, ao entrar na Lumon e fazer a ruptura, sua versão Outie grava um vídeo contando pra você que foi realmente você quem decidiu por aquilo, e que é de fato a melhor escolha, numa tentativa de fazer a versão Innie se tranquilizar e aproveitar o trabalho. Contudo, isso não funciona com Helly, que tenta diariamente burlar o sistema para fugir do prédio e conseguir ter suas memórias de volta no ambiente exterior, de modo que possa “avisar a si mesma” lá fora que a Lumon é uma cilada. O plot de Helly vem acompanhado de alguns gatilhos, inclusive suicídio, então fica o aviso caso você seja uma pessoa sensível a esse tópico. Mas por meio dela vemos como é o desespero de alguém que deseja se libertar de uma rotina esmagadora e claustrofóbica e não consegue, enquanto seus pares ao redor parecem ter se conformado a ponto de fazer parte da engrenagem. Essa problematização perdura ao longo de toda temporada, até que pequenos sinais de rebeldia vão acontecendo e o status quo vai sendo alterado.

É muito bacana ver a transformação da equipe de Mark ao longo da temporada. Os já mencionados Mark e Helly têm grande foco porque o primeiro é o principal protagonista e a segunda é justamente quem mexe com a “paz” do setor, mas temos também Irving e Dylan, os outros dois membros da equipe que são fundamentais pra que movimentos significativos aconteçam ao longo dos episódios. Acho que a grande questão aqui é que essa equipe representa a rebeldia, a curiosidade e a liberdade do espírito humano: por mais que tentem cercear as pessoas, limar suas possibilidades e controlar os seus passos, a busca por ir além sempre está ali, no fundo do coração, por fazer parte da nossa natureza. A curiosidade de saber o que está acontecendo, de ir mais a fundo, de se ver livre da opressão, principalmente depois que você “quebra o vidro” da ilusão que tentam criar (ilusão essa que a Lumon faz na mesma medida em que utiliza de coerção física e psicológica pra colocar as pessoas “nos trilhos”).

Ruptura é uma série de desenvolvimento lento, com cenas mais pacatas, que focam nos diálogos e no aprofundamento psicológico dos personagens e das suas relações, mas nem por isso ela é uma série entediante ou cansativa. Pelo contrário, a sensação que os episódios causam é de querer ver mais para descobrir mais informações, e também angústia, tanto no ambiente externo (enquanto a versão Outie de Mark tenta investigar as pistas que seu ex-colega de departamento deixou) mas, principalmente, no ambiente interno (devido a opressão do escritório). Ainda que a série crie um ambiente inóspito de forma proposital e, quem sabe, levemente exacerbada, não podemos dizer que é irreal; muitos lugares pelo mundo oferecem condições de trabalho iguais ou piores para seus funcionários, influenciando diretamente na sua sensação de bem-estar e saúde psicológica. Passando ou não pelo procedimento médico, Ruptura nos faz confrontar o equilíbrio entre vida e trabalho de uma forma bastante dura, e como eu disse antes: você sente o impacto. 👀 Vale a pena conferir!

Título original: Severance
Ano de lançamento: 2022
Direção: Dan Erickson
Elenco: Adam Scott, Britt Lower, Zach Cherry, John Turturro, Tramell Tillman, Jen Tullock, Dichen Lachman, Christopher Walken, Patricia Arquette

Dica de Série: Ted Lasso

Oi gente, tudo bem?

Nem só de decepções minhas últimas semanas têm sido (quem leu os dois posts anteriores vai entender 😂). Hoje eu quero dividir com vocês uma dica que simplesmente ganhou meu coração todinho, me arrancando sorrisos, lágrimas e esperança: Ted Lasso, uma série que já ganhou vários prêmios e é super elogiada. ❤

Sinopse: Jason Sudeikis é Ted Lasso, treinador de um pequeno time de futebol americano de faculdade da cidade de Kansas contratado para ser o técnico de um time de futebol profissional na Inglaterra, apesar da falta de experiência.

Quem diria que eu, que sou zero apegada a esportes, teria meu coração arrebatado por uma série que fala sobre isso? Na trama, Ted Lasso é um treinador de futebol americano que é contratado, junto de seu treinador técnico – Beard –, para treinar um time de futebol inglês (ou seja, nosso futebol tradicional). Ted nada entende do assunto, mas topa o desafio mesmo assim, e é recebido em Londres com muita animosidade, já que o esporte é forte na cultura do país e o time para qual Ted é contratado – AFC Richmond – tem uma legião leal de fãs. Com o tempo, Ted precisa construir relações fortes no time, ao mesmo tempo que passa por desafios na sua vida pessoal.

Como descrever Ted Lasso? Bom, começo dizendo que ele é o tipo de amigo que todo mundo deveria ter na vida. Ele é quase irreal de tão perfeito? Sim, mas isso não vem ao caso. 😂 Ted é alguém que te cativa à primeira vista. Ele tem um nível de empatia enorme, um coração que mal cabe no peito e uma crença ferrenha no potencial de cada uma das pessoas com quem trabalha. Um exemplo dos seus gestos de carinho tão naturais é o ritual que ele constrói com Rebecca, sua chefe: toda segunda-feira ele vai até o escritório dela com biscoitos pelos quais ela se apaixona, e esse dia da semana ganha um caráter especial graças a esse pequeno momento.

Rebecca é uma personagem que, à primeira vista, pode incomodar. Ela contratou Ted sabendo que ele tinha zero experiência com futebol porque seu intuito verdadeiro era afundar o Richmond. Essa atitude é um desejo de vingança contra o ex-marido, que a traiu e a trocou por mulheres mais jovens, mas que tinha no clube de futebol sua maior paixão. Como Rebecca ficou com Richmond após a separação, ela quer feri-lo levando o time para o buraco. Isso é super mesquinho, né? É claro. Mas juro pra vocês, a série consegue humanizar Rebecca de uma forma muito natural. A gente sente a dor do abandono, o medo de ficar sozinha e a humilhação e o escárnio públicos que ela enfrenta. Porém, quanto mais convive com Ted, mais ela vai sendo contagiada por seu otimismo e a amizade que os dois constroem pouco a pouco se torna uma das melhores coisas da produção.

Os personagens são definitivamente o ponto alto de Ted Lasso. Adoro a alegria contagiante de Keeley (e sua amizade com Rebecca), os palavrões do craque veterano Roy Kent, o caminho de redenção do petulante Jamie Tartt, o jeitão taciturno (mas leal ao Ted) de Beard, entre outros personagens que roubam a cena quando estão na tela. Até os vilões conseguem causar uma profunda comoção na gente. Por mais que Ted Lasso seja uma série sobre um time de futebol, ela é muito mais sobre as relações humanas, o poder dos laços e, é claro, sobre liderança.

Me senti inspirada pelo jeito de liderar de Ted. Ele é muito mais atento do que as pessoas ao seu redor imaginam, prestando atenção em pequenos detalhes que podem fazer a diferença na motivação de alguém. Ele se preocupa genuinamente com as pessoas que ele lidera, fazendo tudo que está ao seu alcance pra que elas acreditem em si mesmas tanto quanto ele acredita nelas. Ted Lasso foi uma série que mexeu comigo até em questões profissionais, no sentido de admirar profundamente o modo que o personagem lida com o dia a dia e querer ser cada vez mais parecida com ele. ❤

Ted Lasso é tudo e mais um pouco. Ela é bom humor, ela é emoção, ela é amadurecimento, ela é sensível (fala inclusive sobre saúde mental), ela é emoção (com os jogos de futebol) e ela é inspiração. Se você nunca quis dar uma chance por não se identificar com o mundo esportivo, juro que te entendo porque eu também não me identifico. Mas meu conselho é: abra seu coração e conheça essa série e esse personagem – ou melhor, essa gama de personagens – que vão te deixar com um sorriso no rosto.

Título original: Ted Lasso
Ano de lançamento: 2020
Direção: Jason Sudeikis, Bill Lawrence, Joe Kelly
Elenco: Jason Sudeikis, Brendan Hunt, Hannah Waddingham, Nick Mohammed, Brett Goldstein, Juno Temple, Phil Dunster, Jeremy Swift, Toheeb Jimoh

Dica de Série: The Morning Show

Oi povo, tudo certinho por aí?

Por aqui, a ansiedade tá enorme pelo dia de hoje. Já deixei claro o quanto sou antibolsonarista em todas as oportunidades que tive (inclusive com dica de leitura), e hoje a esperança de que um país melhor é possível está forte, mas com uma sombra de medo de que 2018 se repita. Então, pra me distrair, coloquei as mãos na massa pra tentar colocar alguns conteúdos pendentes em dia.

Meu ritmo de leituras caiu um pouco, então por enquanto vou focar mais em dicas de séries e filmes por aqui. Mas fiquem tranquilos que tem títulos ótimos pra entrarem no radar de vocês, e é sobre um deles que vou falar sobre: a série The Morning Show, protagonizada pelas incríveis Jennifer Aniston e Reese Whiterspoon.

Sinopse: Alex Levy é âncora do The Morning Show, um popular programa de notícias que mudou a cara da televisão americana. Depois que seu parceiro de 15 anos, Mitch Kessler, é demitido em meio a um escândalo de má conduta sexual, Alex luta para manter seu emprego como principal âncora, provocando uma rivalidade com Bradley Jackson, uma repórter de campo casual cuja série de decisões impulsivas a leva a um novo mundo do jornalismo de TV.

Alex Levy é a prestigiada apresentadora do The Morning Show, um dos programas de maior sucesso dos Estados Unidos. Quando seu co-apresentador, Mitch Kessler, é acusado de má conduta sexual, Alex vê sua vida virar de cabeça para baixo: ela perde uma amizade de 15 anos e se vê no centro da confusão na qual sua emissora (UBA) está imersa Para deixar Alex ainda mais insegura, a emissora começa a dar indícios de interesse em Bradley Jackson, uma repórter de campo que viralizou na internet por explodir ao fazer denúncias na cobertura de uma matéria – atitude que a fez ser lida como um sopro de juventude para o The Morning Show e um potencial nome pra “limpar” a imagem do programa. Alex, com medo de ser substituída, vira o jogo ao anunciar publicamente que Bradley será sua nova co-apresentadora, pegando todos de surpresa, inclusive a própria Bradley (que até o momento havia sido apenas entrevistada por Alex por ter sido viral). Essa atitude faz com que todos os envolvidos no TMS comecem a mover os próprios pauzinhos para conseguir atingir seus objetivos e alcançar o sucesso.

The Morning Show começa de forma explosiva com a denúncia de Mitch, e acompanhamos toda a correria por trás da tentativa de limpar a imagem do programa e de Alex por parte dos produtores e dos empresários da UBA. Porém, infelizmente a série perde um pouco seu ritmo durante os episódios do meio da temporada, o que me fez demorar mais do que o normal para concluí-la. Quando eu já estava desesperançosa e pronta pra desistir de The Morning Show, os últimos episódios trazem reviravoltas bastante chocantes, me fazendo dar uma nova chance ao programa. Digo tudo isso pra deixar claro que a série tem sim alguns problemas de ritmo, mas que no balanço geral a história foi capaz de me fazer querer conferir o que vem por aí.

Acho que um dos principais motivos pra eu não ter entrado de cabeça em The Morning Show é o fato de que não consegui torcer pelos personagens. Mesmo com duas mulheres fortes à frente da trama, a verdade é que ambas me irritaram demais. Alex é bastante humana e falha, e eu gosto que não tenham poupado a personagem dessas características. Ela esteve em silêncio por 15 anos ao lado de Mitch, sendo conivente com um comportamento que todos sabiam existir. Alex é também uma pessoa que se orgulha do que conquistou e não tem vergonha disso, o que é um bom exemplo de força e determinação, mas é difícil esquecer que ela se beneficiou do fato de ser a mulher aceita no Clube do Bolinha sem fazer nada a respeito. Bradley, por sua vez, representa o idealismo jornalístico. Ela quer lutar por justiça, expor a verdade sobre os fatos e fazer o que for certo independente de quem ferir no processo. Por um lado, são objetivos louváveis e o coração da personagem pode estar no lugar certo; por outro, a personalidade perfeitinha que ela assume após entrar no TMS me exauriu, especialmente porque difere completamente da Bradley explosiva que ganhou notoriedade.

O maior mérito de The Morning Show reside no tema que decide abordar. O assédio sexual no ambiente de trabalho é um assunto muito pertinente, e a série usa o movimento #MeToo como o grande impulsionador da discussão. Existe uma cena em que Mitch discute com outro homem exposto pelo movimento que é tão real que embrulha o estômago: homens em posição de poder, em sua maioria, não estão preocupados em refletir sobre seu papel nessa cadeia de abuso; eles só pensam sobre isso quando são pegos, e ainda acham que são as vítimas da situação. Para eles, que controlam a narrativa e as decisões, as mulheres estão ali porque querem e também para subir na carreira, e não porque são coagidas em função do medo de perderem os empregos, as oportunidades e ainda serem expostas e desacreditadas no processo. The Morning Show faz um excelente trabalho em colocar um holofote nessas situações, dando voz às vítimas e mostrando quão devastadoras as consequências do assédio e do abuso podem ser.

Com atuações sólidas e uma crítica relevante, The Morning Show é uma série que recomendo especialmente pelo assunto central. Ela me causou uma sensação semelhante ao do livro Rede de Sussurros: não foi a melhor experiência que tive, mas trata de situações tão sérias e, infelizmente, recorrentes, que acho importante que mais pessoas tenham contato e possam refletir a respeito. Há também intrigas políticas e jogos de poder que buscam tornar os episódios mais instigantes e, ainda que não tenham funcionado comigo, podem funcionar com você. De maneira geral, vale a pena tanto pela reflexão quanto pelas excelentes performances de um elenco de peso, que conseguem transmitir as diversas nuances que uma situação assim possui. Por aqui, vou seguir pra segunda temporada. E se você já conferiu, me conta o que achou nos comentários? 😉

Título original: The Morning Show
Ano de lançamento: 2019
Criação: Jay Carson, Kerry Ehrin
Elenco: Jennifer Aniston, Reese Witherspoon, Billy Crudup, Mark Duplass, Nestor Carbonell, Karen Pittman, Steve Carell

Review: Luck

Oi pessoal, tudo bem?

Eu adoro conferir animações, então a estreia de Luck na Apple TV caiu como uma luva pra um domingo de preguiça. Bora conhecer? 🍀

Sinopse: A corajosa e azarada Sam Greenfield se aventura na encantada Terra da Sorte, onde terá que se aliar a criaturas mágicas para mudar seu destino

Sam é a garota mais azarada do mundo. Com ela, a torrada sempre cai com a manteiga virada pra baixo, sempre chove se ela estiver sem guarda-chuva ou qualquer outra situação semelhante que vocês possam imaginar. Ao atingir a maioridade, Sam precisa deixar o único lar que conheceu – uma casa de acolhimento para meninas – e se virar sozinha em um apartamento novo e em um emprego no qual ela se atrapalhou toda já no primeiro dia. A vida de Sam dá uma guinada quando ela divide seu sanduíche com um gato preto com o qual cruzou na rua, e ele foge deixando pra trás uma moedinha, que acaba se revelando ser uma moeda da sorte. Quando a moeda é perdida, Sam e o gato – que é capaz de falar e se chama Bob – precisam se unir e adentrar num lugar fantástico e secreto chamado Terra do Sorte para conseguir outra moeda, cada um tendo seus próprios objetivos pro item mágico.

O mundo etéreo e fofo no qual Sam adentra – povoado por leprechauns, coelhos e outras criaturas bonitinhas que fazem alusão à atração de coisas boas – é de encher os olhos, e a ambientação do filme realmente tem muitos cenários e premissas que buscam fazer uma imersão do espectador em seu mundo. Sam e Bob exercem aquele papel de outsiders que estão fora da lei (ela por ser uma humana naquele mundo secreto; ele por ter perdido sua moedinha da sorte), o que confere muitas sequências de planos malucos pra fugir das autoridades e “evoluir” na sua missão ao longo da história.

Entretanto, não consegui me sentir 100% fisgada pelas aventuras de Sam e Bob. Achei o filme um pouquinho mais longo do que o necessário e, depois de um tempo de tê-lo assistido, percebi que nem consegui gravar muitos detalhes da história na memória. Meu maior problema foi provavelmente Sam: ela é uma personagem perfeitinha demais, linear demais. Apesar de ter uma história de origem triste (por nunca ter sido adotada), toda a sua motivação vem de conseguir uma moeda da sorte para que uma amiga da casa de acolhimento, Hazel, possa ser adotada. E é claro que essa é uma meta louvável! Acontece que, pra mim, o problema reside no fato de todo o plot de Sam girar em torno desse objetivo e de Hazel, como se a própria Sam não merecesse receber mais nuances.

Apesar dos pesares, a provocação que Luck deseja fazer é bacana. O filme visa mostrar que uma vida composta apenas de boas marés não é possível, que o azar faz parte do equilíbrio da balança e é elementar para valorizarmos os golpes de sorte que o universo oferece. Dá para se divertir, especialmente porque Bob é um personagem bastante carismático, mas não é o longa de animação mais marcante que vai passar pela sua vida. Ainda assim, é uma opção de entretenimento interessante pra um dia em que você busca aquela leveza descomplicada. Deixo a seu critério dar uma chance ou não! 🙂

Título original: Luck
Ano de lançamento: 2022
Direção: Peggy Holmes
Elenco: Eva Noblezada, Simon Pegg, Jane Fonda, Whoopi Goldberg, Colin O’Donoghue, Flula Borg, Adelynn Spoon

Dica de Série: Em Defesa de Jacob

Oi pessoal, tudo bem?

Como boa fã de suspenses que sou, conferi uma série que estava no meu radar há tempos: Em Defesa de Jacob. Bora conhecer?

Sinopse: Uma família sofre um grande baque quando o filho é acusado de matar um colega de classe.

Os Barber são, aparentemente, a família perfeita: Andy, o pai, é um assistente de promotoria bem-sucedido; Laurie, a mãe, trabalha com educação infantil; e Jacob, o filho, é um adolescente de 14 anos tímido e comum. Esse status quo sofre uma ruptura quando Ben Rifkin, colega de Jacob, é encontrado morto – e as evidências apontam para Jacob como autor do crime. A partir desse momento começa a luta contra o tempo dos Barber pra provar a inocência do filho, ao mesmo tempo em que precisam lidar com as próprias dúvidas e questões ao longo do processo.

De modo geral, achei Em Defesa de Jacob um tantinho lenta demais, mas não necessariamente cansativa ou enfadonha. Somos guiados pela trama por Andy que, afastado da promotoria enquanto o caso se desenrola, fica obcecado em investigar por conta própria Leonard Patz, um outro suspeito que poderia inocentar seu filho. Além disso, Andy também precisa lidar com um segredo de seu passado vindo à tona, agora que a mídia caiu em cima de sua família como abutres: ele é filho de um estuprador e assassino conhecido como Billy Sangrento, que cumpre prisão perpétua desde que Andy tinha 5 anos. Esse segredo vem para abalar ainda mais a confiança da família Barber, especialmente a de Laurie, que fica estupefata com uma revelação dessas feita após 15 anos de relacionamento.

Aliás, confiança é a palavra-chave aqui. Laurie se torna a personagem mais interessante da série justamente por conta disso: é ela que fica mais abalada com as revelações sobre o passado de Andy e com as suspeitas sobre seu filho. Mas, indo além, Laurie também teme ter falhado como mãe, ter perdido sinais que apontassem que seu filho pudesse ser um sociopata. As cenas de flashback, em que Laurie relembra um momento potencialmente violento de seu filho na infância, cumprem o papel de evidenciar que, desde sempre, Laurie temia que algo não estivesse certo com Jacob. O fato de que Andy permanece irredutível em sua crença no filho faz com que a esposa se sinta sozinha, culpada e incompreendida, temendo ter errado tanto na criação do filho quanto por desconfiar dele. Essa zona cinzenta dos sentimentos de Laurie me fez lembrar de O Impulso, que também explora a dúvida de uma mãe sobre a inocência de seu filho. Como reagir quando, no fundo do seu coração, você sente que seu filho pode ter feito algo imperdoável? É essa a pergunta que Laurie se faz ao longo dos 8 episódios que compõem a minissérie.

Gostei também da atuação do elenco como um todo. A série se passa no presente, 10 meses após o assassinato de Ben, e no passado, durante o processo de julgamento. No presente Andy está conversando com Neal, o assistente de promotor que o substituiu no caso dos Rifkin. As perguntas parecem pressionar Andy em direção à revelação do veredicto a respeito de Jacob, e é palpável no rosto de Chris Evans que naquele momento o personagem está carregando um fardo muito pesado. É com o passar dos episódios, conforme o interrogatório no presente se aproxima dos acontecimentos da época do julgamento, que entendemos o verdadeiro plot twist que a série nos reserva. Além da atuação de Evans, Michelle Dockery entrega a dor, a confusão e o dilema interno de Laurie com muita competência, sendo a personagem que mais mexeu comigo ao longo da trama. Fica também meu elogio para Jaeden Martell, que deu vida a um Jacob inexpressivo e apático, diria até que com um quê de falta de emoção. Eu gostei muito da performance dele em It e, no filme, eu curti muito o personagem e senti pena por ele ter perdido o irmão, enquanto aqui ele me surpreendeu por conseguir oferecer uma performance fria e totalmente diferente.

O final da série não me chocou tanto quanto poderia e, de certo modo, foi coerente. Porém, achei um tanto quanto covarde. Fui pesquisar o final do livro pra comparar e achei muito melhor do que sua versão televisiva. O resto do parágrafo tem spoiler, selecione se quiser ler: na série, Laurie vinha sendo trabalhada como uma personagem cuja estabilidade emocional estava muito abalada por ter desconfiado do próprio filho, ter se tornado uma pária em sua comunidade e depois ver Jacob sendo inocentado do caso Rifkin – ou seja, percebendo que suas suspeitas foram teoricamente injustas e infundadas. Quando um novo desaparecimento próximo dos Barber acontece (de Hope, uma namoradinha que Jacob faz enquanto a família viaja de férias para o México) e Laurie desconfia novamente de Jacob, a série perde a oportunidade de mostrar que a decisão final dela foi pautada no medo de que seu filho matasse novamente. Enquanto no livro fica 90% claro que Jacob matou Hope, na série a garota desaparece mas é encontrada alguns dias depois (porque algum cara colocou drogas em sua bebida numa festa). Ou seja, na adaptação Laurie descobre que Jacob não matou a menina e ainda assim tenta se matar junto com ele, parecendo que ela deu uma de surtada do nada. Como disse, achei covarde e colocou uma carga de “exagero” injusta na personagem de Laurie. O final do livro, em que ela vê essa atitude como a única forma de parar seu filho, um potencial serial killer, foi muito mais interessante e corajoso pra mim. Fim do spoiler. 😛

Em Defesa de Jacob é uma boa série de suspense, cuja proposta não gira em torno de ter respostas definitivas sobre culpa ou inocência, mas sim sobre quão longe uma família pode ir para defender quem ama – mesmo que isso signifique medidas extremas. Apesar de ser um pouquinho enrolada, o carisma do elenco principal e as dúvidas que cercam os personagens fazem o espectador se manter atento aos desdobramentos que virão. Um outro ponto que adoro são cenas de julgamento, sempre emocionantes e cheias de reviravoltas, e as encontramos em Em Defesa de Jacob. Resumindo: pra quem gosta do gênero, recomendo bastante! 😉

Título original: Defendind Jacob
Ano de lançamento: 2020
Direção: Morten Tyldum
Elenco: Chris Evans, Michelle Dockery, Jaeden Martell, Cherry Jones, Pablo Schreiber, Betty Gabriel, J.K. Simmons