Dica de Série: Ruptura

Oi pessoal, tudo bem?

Hoje a dica é de uma das séries mais interessantes a que assisti nos últimos tempos, e olha que isso não é pouca coisa, hein? Hoje o nosso papo é sobre Ruptura.

Sinopse: Mark lidera uma equipe de funcionários cujas memórias foram cirurgicamente divididas entre vida profissional e pessoal. Um misterioso colega aparece fora do ambiente trabalho, e ele começa uma jornada para descobrir a verdade sobre seu emprego.

Imagine uma realidade em que você pudesse separar sua vida pessoal da profissional. Mas não estou dizendo isso de forma metafórica, daquele jeito saudável que a gente tenta fazer quando busca equilíbrio entre os nossos compromissos. Estou falando de um modo brutalmente literal: nessa realidade, você poderia fazer uma intervenção no seu cérebro que “apagaria” a sua versão de “fora do trabalho” (ou “Outie”) no momento em que você chegasse ao escritório, assim como apagaria sua versão “do escritório” (ou “Innie”) quando você saísse dele. Durante o expediente, você não lembraria nada sobre quem você é lá fora: seus gostos, sua família, seus hobbies, seus amores; fora do expediente, você não saberia se seu trabalho é meramente burocrático ou se, digamos, envolve escravizar ou matar pessoas, por exemplo. Esse é o grande dilema moral de Ruptura, que gira em torno desse procedimento médico que dá nome à série e é realizado pelo protagonista – Mark S. – após perder a esposa em um acidente, sendo consumido pelo luto. Como cerca de 8h ou 9h do seu dia são dedicadas ao trabalho, lhe parece uma boa troca não ter que lembrar que essa dor existe durante esse período. Porém, quando ele é abordado por um homem que alega ser seu ex-colega de departamento, Mark começa a apresentar sintomas estranhos e a nutrir dúvidas desse sistema.

Ruptura é o tipo de série que vem e faz você sentir o impacto. A fotografia é pálida, a abertura é profundamente angustiante e o tom da história faz você se sentir tão preso quanto os personagens. A ambientação por si só é um personagem também: Mark e sua equipe trabalham em um escritório que mais parece um labirinto, todo sem janelas e com fortes luzes brancas, causando neles uma sensação de que o tempo não passa. Considerando que os Innies realmente não sentem o tempo passar (afinal, no momento em que eles saem do escritório, sua consciência é desligada e só é religada ao retornarem), é como se eles vivessem aprisionados dentro das paredes da Lumon, a empresa por trás do procedimento da ruptura.

A saúde mental no ambiente de trabalho é um dos tópicos mais latentes de Ruptura, e fica evidente na personagem Helly. Ela é a novata da equipe e tem grande dificuldade de se ajustar, tentando se demitir a todo custo. Acontece que, ao entrar na Lumon e fazer a ruptura, sua versão Outie grava um vídeo contando pra você que foi realmente você quem decidiu por aquilo, e que é de fato a melhor escolha, numa tentativa de fazer a versão Innie se tranquilizar e aproveitar o trabalho. Contudo, isso não funciona com Helly, que tenta diariamente burlar o sistema para fugir do prédio e conseguir ter suas memórias de volta no ambiente exterior, de modo que possa “avisar a si mesma” lá fora que a Lumon é uma cilada. O plot de Helly vem acompanhado de alguns gatilhos, inclusive suicídio, então fica o aviso caso você seja uma pessoa sensível a esse tópico. Mas por meio dela vemos como é o desespero de alguém que deseja se libertar de uma rotina esmagadora e claustrofóbica e não consegue, enquanto seus pares ao redor parecem ter se conformado a ponto de fazer parte da engrenagem. Essa problematização perdura ao longo de toda temporada, até que pequenos sinais de rebeldia vão acontecendo e o status quo vai sendo alterado.

É muito bacana ver a transformação da equipe de Mark ao longo da temporada. Os já mencionados Mark e Helly têm grande foco porque o primeiro é o principal protagonista e a segunda é justamente quem mexe com a “paz” do setor, mas temos também Irving e Dylan, os outros dois membros da equipe que são fundamentais pra que movimentos significativos aconteçam ao longo dos episódios. Acho que a grande questão aqui é que essa equipe representa a rebeldia, a curiosidade e a liberdade do espírito humano: por mais que tentem cercear as pessoas, limar suas possibilidades e controlar os seus passos, a busca por ir além sempre está ali, no fundo do coração, por fazer parte da nossa natureza. A curiosidade de saber o que está acontecendo, de ir mais a fundo, de se ver livre da opressão, principalmente depois que você “quebra o vidro” da ilusão que tentam criar (ilusão essa que a Lumon faz na mesma medida em que utiliza de coerção física e psicológica pra colocar as pessoas “nos trilhos”).

Ruptura é uma série de desenvolvimento lento, com cenas mais pacatas, que focam nos diálogos e no aprofundamento psicológico dos personagens e das suas relações, mas nem por isso ela é uma série entediante ou cansativa. Pelo contrário, a sensação que os episódios causam é de querer ver mais para descobrir mais informações, e também angústia, tanto no ambiente externo (enquanto a versão Outie de Mark tenta investigar as pistas que seu ex-colega de departamento deixou) mas, principalmente, no ambiente interno (devido a opressão do escritório). Ainda que a série crie um ambiente inóspito de forma proposital e, quem sabe, levemente exacerbada, não podemos dizer que é irreal; muitos lugares pelo mundo oferecem condições de trabalho iguais ou piores para seus funcionários, influenciando diretamente na sua sensação de bem-estar e saúde psicológica. Passando ou não pelo procedimento médico, Ruptura nos faz confrontar o equilíbrio entre vida e trabalho de uma forma bastante dura, e como eu disse antes: você sente o impacto. 👀 Vale a pena conferir!

Título original: Severance
Ano de lançamento: 2022
Direção: Dan Erickson
Elenco: Adam Scott, Britt Lower, Zach Cherry, John Turturro, Tramell Tillman, Jen Tullock, Dichen Lachman, Christopher Walken, Patricia Arquette

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12 comentários sobre “Dica de Série: Ruptura

  1. Oi Priih! Fico imaginando como seria desligar uma parte de sua vida, enquanto vive outra e definitivamente é uma experiência que não gostaria de viver. Esquecer minha vida e pensar só em trabalho seria deprimente. A série tem uma premissa criativa. Bjos!! Cida
    Moonlight Books

  2. Mais uma vez aqui lamentando não ter apple tv!
    É uma série que fala sobre temas importantes e que estou mais atenta atualmente (apesar de que acabaria assistindo devagar por causa dos gatilhos mencionados).

    beijos

  3. Menina, que enredo diferentão! Eu não conhecia a série, mas agora fiquei com vontade e não assino o Streaming. Acabei de assinar a Paramount+ e, com os que já tenho, se assinar mais um, a swat invade a casa, kkkkkk.

    =)

    Suelen Mattos
    ______________
    Romantic Girl

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