Resenha: Um Homem Chamado Ove – Fredrik Backman

Oi pessoal, tudo bem?

O post de hoje é bem especial, pois trata-se do meu último livro favoritado: Um Homem Chamado Ove, de Fredrik Backman – autor de Gente Ansiosa, que inclusive foi meu favorito de 2021. ❤

Garanta o seu!

Sinopse: À primeira vista, Ove é muito provavelmente o homem mais rabugento que você já conheceu. Mesquinho, teimoso, cheio de manias e com um temperamento ruim, ele acredita estar cercado por idiotas – esportistas sorridentes e lojistas que falam em código, sem mencionar os golpistas que o expulsaram da presidência da associação de moradores do bairro. As pessoas o consideram um homem amargurado… Mas só porque ele não anda por aí sorrindo o tempo todo, falando o que todos querem ouvir, e fica em silêncio quando não tem nada a dizer, isso significa que é amargo? Certa manhã de novembro, o mundinho organizado e solitário de Ove é abalado pela chegada de novos vizinhos. Um casal jovem e simpático que, com as duas filhas barulhentas, anuncia sua presença ao derrubar a caixa de correio de Ove com o caminhão de mudanças. O que se segue é uma divertida e cativante história sobre gatos desgrenhados, amizades improváveis e descobertas inesperadas.

Começo essa resenha com um aviso importante: existe um gatilho relacionado a suicídio que permeia toda a história, então é importante que você reflita se esse livro é pra você, tá bem? Agora, vamos à resenha. Ove é um senhor de 59 anos que está profundamente deprimido. Ele perdeu sua esposa há 6 meses, e ela era a verdadeira luz de toda a sua vida, a pessoa que dava sentido a cada um de seus dias. O único conforto que Ove tinha após a partida dela era a sensação de utilidade proporcionada pelo trabalho, mas quando ele é dispensado contra sua vontade isso também lhe é tirado. Com a criação e o contexto no qual o protagonista cresceu, sentir-se inútil à sociedade foi um baque muito forte para lidar junto ao luto. Por isso, a decisão mais lógica lhe parece óbvia: juntar-se à esposa, Sonja, por meio de um suicídio limpo e organizado. Acontece que, ao longo do livro, Ove passa a ser teimosamente interrompido pela vida – e quando digo vida, a ênfase está no novo casal de vizinhos, concentrada na figura da matriarca, Parvaneh, uma iraniana de 30 anos cuja personalidade expansiva, contagiante e, ainda assim, curiosamente parecida com a de Ove, que parece determinada em aparecer nos momentos mais inoportunos para atrapalhar os planos do protagonista. Com o passar das páginas, o mau-humor e a rabugice de Ove vão sendo confrontados pelas pessoas que o cercam, e o leitor também vai entendendo um pouquinho mais de seu passado e dos motivos que o levaram a ser alguém mais fechado e isolado.

A primeira coisa que preciso elogiar em Um Homem Chamado Ove é a narrativa. A escrita de Fredrik Backman é cativante de um jeito que nem sei explicar. A forma como ele narra as coisas, encaixando sarcasmo aqui e ali, me fisga desde a primeira frase, e isso também aconteceu lá na leitura de Gente Ansiosa. O autor nos conduz entre passado e presente, narrando em terceira pessoa de uma forma cheia de personalidade que lembra uma espécie de primeira pessoa. Por exemplo, em vez de dizer que Ove não gosta de determinada atitude, a narrativa diz “não é que Ove não goste de tal atitude, longe disso. É que…”, sabe? Então isso confere um tom de conversa e de “parcialidade” à narrativa que também torna a forma de contar histórias do autor muito característica. Eu adoro! ❤️

Ove é aquele estereótipo de “meu malvado favorito”: ele é turrão e rabugento, não tem paciência com ninguém e não faz questão de agradar. Porém, quando conhecemos suas origens, descobrimos que seu passado foi muito difícil e que ele tem motivos pra ser como é. Gente, sabe o meme da Paris Hilton de que tudo de ruim que pode dar errado com uma pessoa aconteceu com ela? É o Ove todinho. Ele perdeu os pais muito jovem, sofreu um golpe de um estelionatário, perdeu uma casa, enfim… uma série de tragédias. Isso pra não entrar no mérito das tristezas familiares que acometeram seu casamento, mas nem quero dar muitos detalhes porque isso faz parte da emoção da história. Contudo, é muito bonito perceber o quanto ele foi feliz e grato pela oportunidade de ter conhecido e convivido com Sonja. Apesar dela já ter partido quando a história começa, sua presença é palpável ao longo do livro inteiro: Sonja trazia cor para o mundo preto no branco de Ove, era a única que conseguia fazê-lo rir e era a pessoa por quem ele lutava até suas últimas forças. O amor dos dois é tão inspirador que é impossível não derramar lágrimas em diversas passagens do livro, principalmente quando ele visita seu túmulo e expõe a saudade que sente dela.

Apesar do tom triste da história de Ove, Fredrik Backman domina a arte de equilibrar cenas de drama com alívios cômicos. Em um momento eu estava chorando e, no parágrafo seguinte, o autor me fazia rir. A interação de Ove com os vizinhos é sensacional e, aos poucos, ele vai “ganhando utilidade” novamente, se envolvendo nos dilemas das pessoas – contra a sua vontade, importante frisar – e auxiliando-as com seus problemas. Porém, fiquei triste ao pensar que Ove dependa tanto desse sentimento de utilidade pra interromper os seus planos suicidas. É um reflexo de uma baixa autoestima e da pressão capitalista de que só temos valor quando servimos para algo, e não pelo que somos, e eu passei o livro todo torcendo pra vê-lo se libertar disso. Felizmente, conforme ele vai ajudando os vizinhos e se aproximando deles, os vínculos também vão se estreitando e acabam se transformando em verdadeiras amizades – e esse é o ponto de virada pra que Ove finalmente sinta uma motivação genuína pra viver novamente (ou melhor, para adiar seu reencontro com Sonja).

Um aspecto que eu gosto muito nos livros de Fredrik Backman e que novamente identifiquei em Um Homem Chamado Ove é em como ele encaixa informações importantes quando menos esperamos. Ainda que os personagens secundários tenham pouco espaço na trama – e isso possa ser lido como um dos pontos mais fracos da obra, afinal, eles poderiam ter mais desenvolvimento –, o autor conseguiu escolher os personagens ideais para serem aprofundados ou para terem detalhes sobre seu passado incluídos na história no momento certo. Rune, por exemplo, é o vizinho e rival de Ove, que “roubou” seu lugar como diretor da associação de moradores. Outrora amigos, os dois pararam de se falar há anos, mas agora Rune enfrenta o Alzheimer e é uma sombra do homem que um dia Ove conheceu. Porém, é por ele que Ove resolve assumir uma das maiores lutas do livro, o que mostra quão nobre e correto é o caráter do protagonista, que até então poderia ser erroneamente interpretado como egoísta pelos vizinhos (e até por leitores desatentos).

Outro personagem por quem você “não dá nada” é Jimmy, que passa pela história sem deixar grandes marcas, até que Fredrik Backman insere a sua origem no bairro de uma maneira tão singela e emocionante que me peguei chorando intensamente ao perceber como tudo aconteceu e o papel de Ove e Rune em sua história. É isso que mais amo nas histórias de Fredrick Backman: tudo gira em torno dos personagens e das relações entre eles, e é isso que faz com que eu me apaixone por um livro. Até mesmo o gato de rua “todo estropiado” (palavras de Ove rs) tem personalidade e cumpre um papel fundamental na mudança de Ove, sendo adotado pelo protagonista de forma inusitada e fazendo toda a diferença na sua rotina. 

Um Homem Chamado Ove é um livro maravilhoso sobre perda e luto, mas também sobre amor verdadeiro, sobre valorizar cada oportunidade de estar vivo e, principalmente, sobre as pessoas que encontramos pelo caminho. Ao se relacionar com Parvaneh e seus vizinhos, Ove relembra como é sentir a conexão com outros seres humanos, algo que desde a partida de Sonja estava adormecido dentro dele. No fim, isso é tudo que temos: o amor uns pelos outros e a marca que deixamos no coração das pessoas. Posso dizer com convicção que Ove deixou uma marca profunda no meu.

Título original: A Man Called Ove
Autor:
Fredrik Backman
Editora: Rocco
Número de páginas: 320
Gostou do livro? Então adquira seu exemplar aqui e ajude o Infinitas Vidas! ❤

Livro cedido em parceria com a editora.
Esse não é um publipost, e a resenha reflete minha opinião sincera sobre a obra.
Publicidade

13 comentários sobre “Resenha: Um Homem Chamado Ove – Fredrik Backman

  1. Amei a resenha. Eu vi que a Pam Gonçalves estava com esse livro no clube de leitura dela e fiquei querendo muito ler, mas deixei passar e agora com a resenha me deu vontade de novo.
    Parece ser um livro bem sensível e com ótimas camadas.
    Beijos

  2. Olá,
    Eu adorei Gente Ansiosa e não fiquei doida só pra ler só esse, mas todos os livros do autor, pq é como vc disse: a escrita vicia na primeira linha.
    E adoro que ele tá sempre abordando saúde mental de forma séria, mas sem perder o humor – pq senão a gente fica louco msm. hahaha
    Já quero conhecer o gato tb.

    até mais,
    Canto Cultzíneo

  3. OI Priih! Será que supera Gente ansiosa no meu coração? Eu comecei a ver o filme, mas aí parei e resolvi ler o livro antes. Eu gosto bastante das escrita deste autor, de sua sensibilidade e a forma como torna os personagens tão reais para nós.
    Bjos!! Cida
    Moonlight Books

  4. Pingback: TAG: No Outono É Sempre Igual Book Tag | Infinitas Vidas

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s