Dica de Série: Dahmer: Um Canibal Americano

Oi pessoal, tudo bem?

Que eu adoro histórias policiais, de serial killer e thrillers, quem me acompanha aqui já sabe. Por isso, minha curiosidade foi ativada quando estreou Dahmer: Um Canibal Americano na Netflix, série que é fortemente baseada na história real de Jeffrey Dahmer e dramatiza a história de um dos piores assassinos dos EUA desde sua infância até sua morte.

Sinopse: Por mais de uma década, Jeffrey Dahmer conseguiu matar 17 jovens rapazes sem levantar suspeitas da polícia. Como ele conseguiu evitar a prisão por tanto tempo?

Começo essa resenha dizendo que o primeiro episódio da série foi um dos mais aflitivos a que já assisti em um bom tempo. Como eu já tinha lido sobre o caso Dahmer – um serial killer que sequestrava, estuprava e matava homens, especialmente negros, além de canibalizá-los –, sabia várias informações sobre seu MO e também a forma como ele foi capturado. Mas fui pega de surpresa ao perceber que a série começa a contar a história de trás pra frente, ou seja, mostrando como foi sua tentativa de assassinar Tracy Edwards, a vítima que fugiu e conseguiu levar a polícia ao apartamento de Dahmer, ocasionando a sua prisão. Como o episódio inteiro gira em torno do modo como Dahmer trata Edwards, o espectador fica com uma bola no estômago durante toda sua duração, torcendo pra que acabe logo, pra que Tracy Edwards fuja. Mal sabia eu que os próximos episódios seriam ainda mais desconfortáveis, pois sei que os outros rapazes não tiveram a mesma sorte. 😦 

Existe uma crítica muito forte à espetacularização do true crime, algo que o livro Garota, 11 (resenhado aqui) também trata. Concordo bastante que seja necessário um olhar crítico e não colocar o assassino em uma posição de destaque e protagonismo, porque esse viés pode causar uma certa idolatria (Ted Bundy e o próprio Dahmer são ótimos exemplos de criminosos que tinham fãs). Houve críticas a Dahmer: Um Canibal Americano, especialmente por parte de algumas famílias cuja dor foi exposta pela série; porém, no meu humilde ponto de vista, acredito que Ryan Murphy não tenha colocado Dahmer como alguém a ser admirado, mas sim como um ser humano problemático, porém no controle das ações monstruosas que tomou. O fato de enxergarmos Dahmer como um ser humano é importante, pois não nos deixa esquecer que não é um “monstro possuído pelo demônio” que é capaz de atrocidades; seu vizinho pode ser essa pessoa.

Além disso, Dahmer: Um Canibal Americano tem uma abordagem que até então eu não tinha visto em nenhuma série baseada em true crime: ela foca na perspectiva das vítimas, fazendo com que o espectador se lembre que elas são pessoas de verdade, com sonhos, famílias e aspirações. Enquanto outros títulos por aí apenas trazem nomes e fotos em uma linha do tempo, nessa dramatização da história de Dahmer nós realmente conseguimos criar conexão com as vítimas, sentir empatia e torcer pra que de alguma forma elas consigam escapar – ainda que saibamos que isso é impossível. Em Um Canibal Americano, as vítimas não são nomes numa lista, mas pessoas pelas quais torcemos e por quem sentimos luto.

Um dos maiores pontos fortes da série é também o que causa mais revolta: ela evidencia sem hesitar a podridão do sistema policial e judicial americano. Dahmer chegou a carregar sua primeira vítima desmembrada em sacos de lixo no banco de trás do carro, mas ao ser parado por um policial simplesmente foi mandado pra casa. Um garoto asiático de 14 anos conseguiu fugir do seu apartamento, mas estava tão drogado pelas substâncias que Dahmer colocou em sua bebida que a polícia simplesmente acreditou na história que Dahmer contou do menino ser maior de idade, ser seu namorado e ter bebido demais. Os policiais não apenas compram a história do assassino como ajudam a colocar o jovem Konerak Sinthasomphone de volta no apartamento do seu algoz, em cujas mãos o garoto morreu na mesma noite. Com o passar do tempo, mais e mais nomes de pessoas não-brancas (principalmente negras) vão aparecendo na lista de “desaparecidos” da cidade, mas ninguém mexe um dedo pra investigar além da superfície. A vizinha de Dahmer escuta sons, gritos e sente um cheiro desagradável vindo do apartamento do serial killer, mas mesmo após meses e meses de súplica por telefone, a polícia nunca veio checar. E mesmo quando Dahmer é julgado e condenado por se masturbar em público, ele é tratado de forma indulgente pelo juiz, que afirma não querer estragar a vida do rapaz por causa de um erro causado pelo alcoolismo. Com tudo isso posto, fica claro que Dahmer entendeu seu privilégio branco e o usou em todas as oportunidades que teve para sair impune de seus crimes, que iniciaram no fim dos anos 70 e terminaram com sua prisão nos anos 90 (com alguns anos de inatividade nesse intervalo). O racismo, a xenofobia e a homofobia das autoridades foram tão culpados quanto Jeffrey Dahmer pelo seu rastro de horror.

Se você tem curiosidade de conferir a série mas tem receio dela ser muito gráfica, aproveito pra te tranquilizar: poderia ser bem mais, mas optou-se por dar bem menos foco à parte da violência e dos assassinatos e mais no Modus Operandi de Dahmer e de sua história pessoal. Fica claro que sua família desestruturada, a sensação de abandono e a negligência parental frente a problemas que ele nitidamente apresentava são elementos que constituem o caminho que Dahmer tomou, ainda que jamais justifiquem. Nesse sentido, fiquei aliviada, pois odeio cenas de violência, especialmente quando desnecessárias e gráficas demais. A dificuldade em assistir veio mais da revolta que senti contra a polícia e o Estado do que em relação a sangue e ao que ele fazia com os corpos das vítimas (na série nem fala sobre necrofilia e mal mostra o canibalismo, por exemplo).

Dahmer: Um Canibal Americano é uma série muito imersiva e revoltante, mas que coloca sob um forte holofote as consequências de um sistema que privilegia pessoas de determinada cor enquanto negligencia outras que não se enquadram nesse padrão. Ao focar nas vítimas em vez de endeusar os atos do criminoso, a dramatização também coloca o espectador na posição de encarar o fato de que essas pessoas eram reais e tiveram tudo tomado de si, deixando buracos incapazes de serem preenchidos em suas comunidades e famílias. Não posso deixar de elogiar também a performance dos atores, com destaque para Evan Peters, que encarna todas as nuances de Dahmer: a vazia, a explosiva, a machucada, a cruel. Depois de assistir à série eu conferi o documentário com as falas reais de Dahmer e é bem impressionante o quanto o ator conseguiu dar vida de forma convincente a esse serial killer terrível. Pra quem gosta de true crime, Dahmer: Um Canibal Americano vale o play!

Título original: Dahmer – Monster: The Jeffrey Dahmer Story
Ano de lançamento: 2022
Criação: Ian Brennan, Ryan Murphy
Elenco: Evan Peters, Richard Jenkins, Molly Ringwald, Niecy Nash

8 comentários sobre “Dica de Série: Dahmer: Um Canibal Americano

  1. Oi Priih! True crime não é muito para mim, ainda que eu goste muito de ler histórias fictícias sobre assassinatos, as reais me deixam com um sensação muito ruim, ao ver que o ser humano pode ser tão cruel e maldoso como foi esse assassino aqui. Que bom que gostou da produção. Bjos!! Cida
    Moonlight Books

  2. Oi, Priih, tudo bem?

    Eu não tenho coragem de assistir a série. Nossa, eu ia ficar muito mal com a sensação toda de injustiça, por terem demorado tanto a prender esse criminoso e por culpa disso tantas pessoas perderam a vida. Fico muito abalada com essas coisas. Prefiro não arriscar!
    Sua resenha foi muito completa e deu para visualizar bem do que a série se trata.

    beijos

  3. Pingback: Assisti, mas não resenhei #8 | Infinitas Vidas

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