Resenha: Chrno Crusade – Daisuke Moriyama

Oi pessoal, tudo bem?

Depois de um tempo sem nenhuma otakice por aqui, vim compartilhar com vocês minha opinião sobre um mangá que comprei há cerca de 10 anos, mas que só li agora: Chrno Crusade!

Sinopse: A história se passa no final dos anos 1920 nos EUA. O grande desenvolvimento econômico dos EUA faz com que a ganância domine cada vez mais seres humanos. Este se torna um ambiente ideal para os demônios fazerem suas maldades: enquanto fingem ajudar os humanos, na realidade se utilizam destes para os seus próprios objetivos. Para enfrentar tamanho mal, a igreja católica criou a Ordem de Magdala, cujos membros (padres, freiras e etc) têm a função de exorcizar e destruir estes monstros através do uso de armas especializadas na captura e abatimento destes inimigos. O anime/mangá conta a história de Rosette Christopher, uma jovem freira que definitivamente não age como tal. Há quatro anos, Rosette vivia em um orfanato com seu irmão mais novo Joshua, que era um dos Apóstolos (sete humanos foram abençoados com poderes divinos), porém ele é sequestrado por um demônio chamado Aion. Desesperada, ela faz um pacto com outro demônio, Chrno, para que ele possa ajudá-la a encontrar seu irmão e salvá-lo. Mas ao fazer isso, Rosette vira sua contratante, e toda vez que Chrno usar seus poderes a vida dela será consumida. O símbolo desse contrato é um relógio que Rosette sempre carrega pendurado no pescoço e que mostra o seu tempo de vida.

Acho que demorei tanto tempo pra conferir essa coleção porque, na época da compra, eu não tinha curtido muito o anime (que eu assisti antes de ler). Acontece que esse ano eu estou colocando várias leituras antigas em dia e finalmente chegou o momento de Chrno Crusade. Enquanto eu lia, só conseguia pensar: por que demorei tanto tempo pra dar uma chance? É bom demais! ❤

A história acompanha Rosette, uma freira da Ordem de Magdala (uma instituição católica que combate e exorciza demônios), e Chrno, um demônio que faz um pacto com ela. Os dois são melhores amigos e parceiros de combate, mesmo que tal aliança possa ser vista com maus olhos, especialmente na Ordem, dada a natureza de Chrno. Com o passar dos capítulos, descobrimos que eles se conheceram quando Rosette tinha 12 anos e ainda estava acompanhada de seu irmão mais novo, Joshua – hoje desaparecido –, e as duas crianças acordaram o demônio de um sono de 50 anos numa cripta. Quando Aion, um antigo inimigo de Chrno ressurge e sequestra Joshua, Rosette e Chrno fazem o pacto e determinam que sua missão de vida será encontrá-lo e resgatá-lo são e salvo, sendo este o motivo de Rosette decidir ser treinada pela Ordem, para que possa aprender a combater os demônios. Chrno Crusade então retrata os combates da dupla, a formação de novas alianças e a busca dos dois por Joshua, ao passo que revela a ambição de Aion e os motivos nefastos pelos quais ele sequestrou o irmão de Rosette.

Com apenas 8 volumes, o mangá é curto e muito ágil. Não  há tempo para enrolação ou aventuras desnecessárias, e eu diria que apenas o primeiro mangá é um pouco mais “bobo”, retratando algumas missões dos protagonistas com o intuito de ambientar qual é o dia a dia deles como exorcistas. Do segundo volume em diante, quando o passado de ambos começa a ser revelado, se torna impossível de largar. A história é muito instigante e ela ganha uma virada dramática inesperada, porque os personagens precisam lidar com um peso enorme nos ombros após o sequestro de Joshua. Mesmo que Rosette seja uma personagem bem-humorada, explosiva, expansiva e de personalidade forte, ela vivenciou uma série de traumas muito significativos ao longo da vida: perdeu os pais muito nova, em seguida teve seu irmão sequestrado e, por fim, teve que fazer o pacto com Chrno. Esse pacto é muito importante para a história, porque é em torno dele que o simbolismo de Chrno Crusade gira: a finitude do tempo.

Na ambientação de Chrno Crusade, a fonte do poder dos demônios são seus chifres. Aion, contudo, roubou os chifres de Chrno para dar a Joshua, de modo a executar o seu plano de acabar com a mãe dos demônios, Pandemonium, a fim de libertar os demônios de qualquer tipo de controle. Para vencê-lo, Chrno precisava de uma nova fonte de poder, e essa fonte costuma vir de um pactuante (nesse caso, Rosette). O grande dilema do mangá se dá pelo fato de que, toda vez que Chrno precisa libertar o selo que Rosette carrega e que “prende” seus poderes, a alma dela é consumida e seu tempo de vida diminui. No momento em que Rosette firma o pacto com ele, ela também assume que viverá uma vida mais curta e, a cada instante de batalha ou de tensão, essa situação piora. Chrno faz o possível pra nunca precisar de seus poderes, mas a determinação de Rosette de salvá-lo e de salvar Joshua faz com que ela negligencie seu bem-estar e a própria vida, liberando o selo em inúmeras ocasiões e consumindo seu tempo de vida em prol do seu objetivo maior. Como leitora, eu ficava profundamente angustiada vendo o desenrolar da história acontecendo desse modo, porque o mangá trabalha essa questão de modo muito sério e realista, então não existe um milagre ou um Deus ex-machina servindo como uma luz no fim do túnel que resolva essa questão. Lidar com a ideia de que os minutos estão contados e de que você tem pouco tempo com quem você ama é o cerne de Chrno Crusade, o que faz desse mangá uma história muito mais profunda do que ela inicialmente indica ser.

Ao longo dos volumes, outros personagens vão sendo incluídos na história e se tornando parte do grupo de Rosette. Azmaria é uma jovem com poderes curativos, sendo considerada uma Apóstola (assim como Joshua), o que faz dela um alvo de Aion. Ela é doce, leal e se inspira fortemente em Rosette, pois também tem uma vida marcada por tristezas e enxerga na protagonista alguém em quem se espelhar. Posteriormente conhecemos Satella, uma bruxa que controla gemas poderosas e que está em busca de vingança contra um demônio que sequestrou sua irmã e matou seus pais. Ela provoca Rosette e traz um pouquinho de tensão ao grupo, mas também impulsiona Rosette a enxergar seus verdadeiros sentimentos em relação a Chrno. E já que não falei especificamente dele, mas já falei sobre Rosette, vale mencionar que eu só queria guardar esse personagem num potinho. Chrno é sensível, de coração puro e faria de tudo pra garantir a segurança e a felicidade de Rosette. Sou completamente apaixonada pelos dois. O romance presente no mangá é sutil, delicado e trabalhado de forma bastante orgânica e natural, o que faz a gente sofrer ainda mais pela forma como tudo se desenrola.

Chrno Crusade inicia parecendo uma história de ação, mas se transforma num drama que explora questões profundas e delicadas como o luto, a inevitabilidade da perda, a impossibilidade de voltar no tempo e a finitude da vida. Foi uma história que me deixou de ressaca literária e me fez procurar teorias em fóruns na internet e ir debater o final com fãs no TikTok, coisa que há muito tempo uma obra não fazia. Chorei que nem criança e sinto que ainda não superei o final, mas posso dizer que foi uma história que me marcou profundamente. Tudo isso embalado em um traço maravilhoso, com cenas lindamente desenhadas. Se você gosta de drama e de mangás, recomendo sem pestanejar. ❤

Título original: Kurono Kuruseido
Autor: Daisuke Moriyama
Editora: Panini
Volumes: 8
Número de páginas (por volume): cerca de 190

Resenha: Coraline (Graphic Novel) – Neil Gaiman e P. Craig Russell

Oi meu povo, tudo certo?

Fazia tempo que eu não lia uma graphic novel, e recentemente pude conferir a adaptação de Coraline (ilustrada por P. Craig Russell, que trabalhou em parceria com Neil Gaiman na adaptação para graphic novels de O Livro do Cemitério – Volume 1 e Volume 2).

Garanta o seu!

Sinopse: O aclamado artista P. Craig Russell dá nova vida ao encantador bestseller Coraline nessa versão adaptada para comics. Primeiro livro de Neil Gaiman escrito especialmente para o público juvenil, Coraline é um conto de fadas às avessas que reconhece a subestimada e, por vezes esquecida, maturidade da maioria dos jovens leitores. Em Coraline, a jovem descobre uma porta para um misterioso apartamento no prédio para onde acabou de se mudar. Uma história arrepiante, que vai além dos tradicionais dragões, príncipes encantados, frágeis princesas ou gigantes padronizados que habitam o universo infantil.

As férias de verão são um verdadeiro tédio para Coraline. A garota recentemente se mudou com seus pais para um casarão dividido em apartamentos, e ela tem como companhia vizinhos idosos pitorescos, um gato preto que sempre foge dela e muito tempo livre, pois seus pais não têm muito tempo para brincar com ela. Para completar, a menina não se sente ouvida, porque frequentemente seus pais lidam com ela daquela forma que adultos muitas vezes fazem: minimizando a opinião das crianças. Com todo esse contexto e cheia de vontade de explorar a nova casa, Coraline se depara com uma porta que dava para uma parede fechada – até que, subitamente, ela revela um corredor escuro, e não mais essa parede. Ao atravessar, Coraline sente arrepios e a presença de algo muito antigo e onipresente, e acaba em um mundo semelhante ao dela, com a exceção de que todas as pessoas têm olhos de botão e uma aparência assustadora. Seus “novos pais” fazem de tudo para que ela permaneça lá, mas Coraline resolve voltar para sua casa original. Ao perceber que seus verdadeiros pais sumiram, ela entende que vai precisar reunir toda a sua coragem para confrontar sua “nova mãe” em busca do paradeiro deles.

Se eu tivesse lido (ou assistido ao filme) Coraline quando era pequena, provavelmente sentiria medo, viu? 😂 A aparência dos “novos pais”, especialmente da mãe, é bastante intimidadora. As unhas em forma de garras, os olhos de botão, o sorriso com dentes que mais parecem presas… tudo isso forma uma imagem ameaçadora na figura da “nova mãe”. Mas de início Coraline não a encara desse modo, e vê com alegria o fato de que seus “novos pais” querem dar atenção a ela e agradá-la. Mas aos poucos a menina entende que as intenções dessas criaturas não são aquelas que demonstram, e dois elementos são de grande ajuda nesse processo: o primeiro deles é um artefato circular que ela ganhou no seu mundo das duas vizinhas idosas e que é usado em suas missões; o segundo é o gato preto, que no mundo depois da porta é capaz de falar e não a apenas alerta Coraline sobre os perigos que ela corre, como também a auxilia.

A trama de Coraline gira em torno da missão da menina de salvar os pais, mas também almas que ela descobre estarem presas no mundo espelhado atrás da porta. Não vou contar muito a respeito para não tirar a graça do livro, mas a protagonista age de forma corajosa e altruísta em uma situação desesperadora. Imagine como é perceber que está sozinha no mundo e seus pais sumiram sem deixar rastros? E que existem criaturas misteriosas que querem manter você presa em seu mundo? Com tudo isso em xeque, fiquei bastante admirada com os nervos de aço que Coraline demonstrou mesmo sendo tão jovem. Além da própria protagonista, gostei muito do gato preto, o aliado fiel cuja sabedoria surge nos momentos mais necessários.

É interessante que, apesar de ser uma história sombria e cheia de aventuras, a obra traz lições muito importantes. Eu, por exemplo, refleti e me incomodei com a postura dos pais verdadeiros de Coraline ao deixarem as opiniões da menina de lado. É como se, apenas por ela ser uma criança, seu gosto pessoal e seus sentimentos pudessem ser tratados com “deixa disso”, sabem? Claro, existem situações que podem ser birra ou pela criança ser mimada, mas ainda assim acredito que há formas diferentes de explicar por que determinado pedido não será atendido sem minimizar os sentimentos da criança. Enfim. O segundo ponto que Coraline aborda com força é a coragem. Em determinado momento, a protagonista se lembra de um episódio em que seu pai a protegeu de um enxame de abelhas e, mesmo com muito medo, ele fez o necessário para zelar por ela. Coraline se vê na mesma posição: tendo que enfrentar uma situação perigosa em nome de pessoas que ela precisa salvar. E é aí que a bela lição fica clara: ter coragem não é sobre não sentir medo, mas sim sobre sentir medo e agir mesmo assim. É algo que eu pessoalmente acredito muito e adorei ver nas páginas da graphic novel. ❤

Tecnicamente falando, as ilustrações de P. Craig Russell são muito bonitas e transmitiram o clima sombrio da história muito bem. Já tinha gostado bastante dos traços dele em O Livro do Cemitério, e aqui não foi diferente. O ritmo da história é ágil e rapidamente você lê os quadrinhos e passa as páginas, tornando a graphic novel de Coraline uma obra perfeita pra consumir em um único dia.

Coraline é um ótimo livro e tem como pilares a imaginação infantil, a coragem e o toque de horror causado por esse novo mundo. É uma história que dá um arrepiozinho, mas também inspira. Além da ótima trama, a graphic novel traz ilustrações que fazem você pousar os olhos com vontade de absorver cada detalhe. Recomendo muito!

Título original: Coraline: The Graphic Novel
Autores:
Neil Gaiman e P. Craig Russell
Editora: Rocco Jovens Leitores
Número de páginas: 190
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Livro cedido em parceria com a editora.
Esse não é um publipost, e a resenha reflete minha opinião sincera sobre a obra.

Resenha: Maus – Art Spiegelman

Oi pessoal, tudo bem?

Recentemente eu comprei Maus para dar de presente a um amigo e senti vontade de fazer uma releitura, especialmente porque fazia anos (mais precisamente em 2015) que eu tinha entrado em contato com a graphic novel. Sou da opinião de que, muitas vezes, uma segunda leitura transforma o modo como determinadas obras nos fazem sentir, e posso dizer com tranquilidade que o teor da graphic novel de Art Spiegelman seguiu emocionante pra mim ao narrar a história de seu pai, um sobrevivente de Auschwitz.

Garanta o seu!

Sinopse: Maus (“rato”, em alemão) é a história de Vladek Spiegelman, judeu polonês que sobreviveu ao campo de concentração de Auschwitz, narrada por ele próprio ao filho Art. O livro é considerado um clássico contemporâneo das histórias em quadrinhos. Foi publicado em duas partes, a primeira em 1986 e a segunda em 1991. No ano seguinte, o livro ganhou o prestigioso Prêmio Pulitzer de literatura. Nas tiras, os judeus são desenhados como ratos e os nazistas ganham feições de gatos; poloneses não-judeus são porcos e americanos, cachorros. Esse recurso, aliado à ausência de cor dos quadrinhos, reflete o espírito do livro: trata-se de um relato incisivo e perturbador, que evidencia a brutalidade da catástrofe do Holocausto. Spiegelman, porém, evita o sentimentalismo e interrompe algumas vezes a narrativa para dar espaço a dúvidas e inquietações. É implacável com o protagonista, seu próprio pai, retratado como valoroso e destemido, mas também como sovina, racista e mesquinho. De vários pontos de vista, uma obra sem equivalente no universo dos quadrinhos e um relato histórico de valor inestimável.

Em Maus, vemos duas histórias sendo delineadas: uma delas é a que Vladek Spiegelman, pai de Art, conta ao filho, na qual ele narra fatos importantes de sua vida antes e durante a Segunda Guerra Mundial; a segunda é a convivência dos dois enquanto Art entrevista o pai para a posterior criação dos quadrinhos. E ambas são capazes de provocar emoções, ainda que por motivos diferentes.

Vladek Spiegelman foi um homem polonês e judeu que era bem-sucedido no ramo dos tecidos. Quando ele conhece Anja Spiegelman, os dois não demoram a se apaixonar e se casar. A felicidade parece ficar completa quando o casal engravida e dá à luz o primogênito Richieu, mas a graphic novel vai ganhando contornos sombrios ao nos apresentar a uma depressão pós-parto que acomete Anja e à propagação da ideologia nazista, que aos poucos se aproxima dos Spiegelman.

Por meio do relato de Vladek, o leitor consegue sentir a surpresa dos judeus na Polônia ao observarem os primeiros signos nazistas sendo exibidos no país, assim como os primeiros assaltos de violência que passam a sofrer. Aos poucos eles são expulsos de suas casas para guetos, são destituídos de seus próprios negócios e começam a conviver com a pobreza e a fome. Ao longo das páginas, a sagacidade de Vladek é essencial para que ele e a esposa encontrem bons esconderijos e consigam se proteger dos nazistas, mas inevitavelmente ambos acabam indo para Auschwitz. A história de terror da Segunda Guerra Mundial é amplamente conhecida, então a partir daqui não vou me alongar mais nas situações vividas por Vladek nesse sentido, focando mais nas sensações subjetivas que a leitura me causou.

Um dos aspectos de que mais gostei em Maus é que os personagens principais – especialmente Vladek e Art – têm suas nuances exploradas, ainda que de formas sutis em diálogos e situações corriqueiras. Nos relatos do passado, o leitor se depara com um Vladek perspicaz, determinado, muito resiliente e capaz de tudo para proteger Anja. No presente, vemos Art exasperado ao lidar com um pai idoso, cheio de manias, teimoso e muquirana (sendo que essa última característica chega a ser até mesmo “temida” por Art, por receio de retratar um estereótipo judeu). Essa ruptura da representação de Vladek é muito eficiente em humanizar o personagem e conferir camadas à sua construção de forma a não romantizá-lo apesar de tudo que ele sofreu (uma cena ótima para colocar isso em evidência é aquela em que Vladek demonstra preconceito contra um rapaz negro; seria de se esperar que alguém que foi perseguido pelo mesmo motivo evitasse reproduzir esse erro). Tal abordagem não se aplica somente ao pai, mas também ao filho: não faltam cenas em que Art perde a paciência com Vladek, além de deixar claro em mais de uma ocasião que não tem interesse em passar muito tempo além das entrevistas em sua companhia.

E já que falei em humanização, vale comentar um aspecto que obviamente chama a atenção em Maus: o antropomorfismo. Art Spiegelman usa desse recurso para categorizar alguns personagens: os alemães são gatos, os poloneses são porcos, os estadunidenses são cachorros e, é claro, os judeus são ratos. Por meio dessas analogias, o ilustrador evidencia as relações de poder e expõe a forma como os judeus eram vistos e tratados: uma praga a ser eliminada. O teor das ilustrações também envia uma mensagem: são traços grossos, pesados, com bastante informação – que ficam ainda mais intensos ao retratar cenas cruéis, como judeus enforcados ou pessoas esmagadas em vagões de trem e abandonadas para morrer mais ao final da guerra.

Um fato que me passou pela cabeça ao longo da leitura foi o quanto o elemento sorte esteve envolvido na sobrevivência das vítimas do nazismo. Sem tirar os méritos de Vladek, que era um homem inteligente, astuto e com boas tomadas de decisão, porém outros tantos tiveram comportamentos parecidos, fizeram esforços parecidos, mas infelizmente não atingiram o mesmo resultado. Esse tipo de impotência traz um peso na boca do estômago, especialmente quando a gente se depara com uma trama assim ao viver um momento em que tantas vidas estão sendo perdidas de forma desnecessária e injusta (ainda que por motivos totalmente diferentes, que não cabem a comparação).

Maus é uma graphic novel que vai além de contar a história de um sobrevivente do Holocausto. A trama nos conduz por um processo de rememoração familiar cheio de feridas e de assuntos mal resolvidos que, com o passar das páginas, parece se dirigir para certo nível de cura. E, apesar do tema em si ser pesado e as emoções dos personagens também, há um trecho de que gosto muito e que me traz uma dose de esperança (muito bem-vinda no momento atual): “e eu vi que inferno não é em toda parte. Ainda tinha vida no mundo”. 🙂

Título original: Maus
Autor:
Art Spiegelman
Editora: Quadrinhos na Cia
Número de páginas: 296
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Resenha: Soppy: Os Pequenos Detalhes do Amor – Philippa Rice

Oi galera, tudo bem?

Em junho, ainda no clima de Dia dos Namorados, resolvi solicitar à Editora Rocco um livro muito fofo que estava no meu radar há um tempo: Soppy: Os Pequenos Detalhes do Amor, da designer Philippa Rice. Hoje conto (e mostro!) o que achei, além de comparar com Love Is, outra obra bem semelhante da editora.

soppy philippa riceGaranta o seu!

Sinopse: Soppy: os pequenos detalhes do amor, de Philippa Rice, é uma reunião de bem-humoradas tirinhas criadas a partir de momentos da vida real da designer britânica com seu namorado. Bastante popular na web, com mais de meio milhão de postagens no Tumblr, Soppy conquistou as redes sociais com declarações de amor escondidas nos detalhes do cotidiano de um relacionamento, como dividir uma xícara de chá, a leitura de um livro ou comentários irônicos à frente da TV numa tarde chuvosa. As charmosas ilustrações capturam com delicadeza a experiência universal de dividir uma vida a dois, e celebram a beleza de encontrar o amor em todo lugar. Soppy chega às prateleiras pelo Fábrica231, o selo de entretenimento da Rocco, a tempo de se tornar uma ótima opção de presente para o Dia dos Namorados.

É impossível pensar em Soppy e não lembrar imediatamente de Love Is, da Puuung. Afinal, a proposta é a mesma: ilustrar o amor no dia a dia, com suas sutilezas e detalhes do cotidiano. Ao terminar o livro, a conclusão se repete: o amor é algo a ser construído diariamente, com cuidado e dedicação; relacionamentos não duram baseados somente no fogo da paixão, mas se sustentam graças ao empenho em transformar mesmo algo simples em um momento especial. Os gestos mais despretensiosos podem ser uma forma de dizer “eu te amo”, como por exemplo preparar um chá quentinho para o seu amor, ajeitar o cachecol do(a) parceiro(a) em um dia frio, dividir as tarefas de casa ou simplesmente dormir de conchinha (dividindo-se entre quem vai ser a conchinha maior ou menor, é claro!). Me digam: como não ficar com um sorriso no rosto diante disso?

Mas apesar da proposta e conclusão serem semelhantes, Soppy tem diferenças bem importantes e marcantes em relação a Love Is. Philippa Rice traz mais personalidade aos seus personagens e tirinhas, trazendo inclusive diversos diálogos, de tom mais brincalhão e debochado. A protagonista é bem sapeca (como quando “trapaceia” no cara ou coroa para pedir pizza), e o seu namorado também tem uma participação mais ativa. O legal do livro trazer os diálogos dos dois é que isso confere personalidade ao casal, trazendo suas vivências para a nossa realidade de uma maneira mais natural. Além das cenas fofas, Soppy também aborda momentos engraçados, conseguindo me fazer rir durante a leitura (corri pra marcar meu namorado na tirinha da pizza, porque eu também sempre tento trapacear para pedir comida em vez de cozinhar rs). Por fim, também vale elogiar o fato de que a ilustradora traz o ponto de vista dos dois personagens juntos, mas também separados – valorizando a individualidade, um elemento muito importante em qualquer relação.

Apesar do estilo artístico de Love Is ser mais “bonito” visualmente (em função do traço e da aquarela), eu gostei mais de Soppy. Curti o fato de haver diálogos no livro, além de ter me identificado mais com as situações vividas pelos personagens. O traço é mais minimalista, mas não deixa de ser fofíssimo, e é muito legal acompanhar as diferentes situações que o casal vivencia. Recomendo muito, especialmente se você aprecia ilustrações e quer se divertir enquanto tem o coração aquecido ao mesmo tempo. ❤ Sem mais delongas, bora para as fotos!

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“Podemos pedir pizza mesmo assim?” 😂

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Título Original: Soppy: A Love Story
Autor: Philippa Rice
Editora: Fábrica231 (selo da Editora Rocco)
Número de páginas: 112
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Livro cedido em parceria com a editora.
Esse não é um publipost, e a resenha reflete minha opinião sincera sobre a obra.

Resenha: Love Is: Ilustrações Sobre o Amor – Puuung

Oi pessoal, tudo bem?

Hoje vim contar pra vocês o que achei do fofíssimo Love Is: Ilustrações Sobre o Amor, da ilustradora sul-coreana Puuung.

love isGaranta o seu!

Sinopse: Com suas ilustrações sensíveis e criativas, a jovem artista Puuung escolheu celebrar o amor cotidiano, retratando o dia a dia de um casal apaixonado, inspirando-se nos momentos que ela própria compartilhou com o namorado. Puuung acredita, no entanto, que qualquer casal pode se sentir retratado em suas ilustrações e a série de animação com os mesmos personagens.

Do que é feito um grande amor? De grandes gestos? De declarações colossais? Para Puuung, o amor está nas pequenas atitudes do dia a dia, no carinho cotidiano, na simplicidade que mantém o amor aceso.

Por meio de ilustrações singelas, em estilo aquarelado e traço simples, Puuung celebra os detalhes que transformam uma situação comum em um gesto de amor. Seja colocando um cobertorzinho na pessoa amada, para protegê-la do frio quando ela pegou no sono; seja trazendo algo que você sabe que ela ama comer; seja nos diálogos sobre tudo e sobre nada; seja em trabalhar juntinhos, no mesmo ambiente, mesmo que em projetos separados; seja em dar aquele abraço apertado quando tudo que a pessoa precisa é chorar.

Love Is: Ilustrações sobre o amor é um livro que aquece o coração e demonstra que o amor é construído dia a dia, com dedicação e comprometimento. São os pequenos gestos, o cuidado e o carinho constantes, que mantêm o sentimento vivo. Vejam as fotos abaixo e me digam: tem como não se encantar com essa obra (que, aliás, é uma ótima opção de presente romântico)? ❤

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Título Original: Puuung Illustration Book Love is
Autor: Puuung
Editora: Fábrica231 (selo da Editora Rocco)
Número de páginas: 208
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Livro cedido em parceria com a editora.
Esse não é um publipost, e a resenha reflete minha opinião sincera sobre a obra.

Resenha: O Livro do Cemitério: Volume 2 – Neil Gaiman e P. Craig Russell

Oi pessoal, tudo bem?

Depois de conferir O Livro do Cemitério: Volume 1, segui imediatamente para a leitura do Volume 2, de modo que pudesse ter uma conclusão mais embasada sobre a trama. Vamos descobrir o que achei? 🙂

o livro do cemitério volume 2.pngGaranta o seu!

Sinopse: Na adaptação em quadrinhos deste premiado bestseller, feita pelo parceiro de longa data de Gaiman, P. Graig Russel, a fantástica e comovente história do jovem Nin consegue atingir novos patamares. No segundo volume, é pelas mãos dos talentosos artistas David Lafuente, Scott Hampton, Kevin Nowlan, Galen Showman e o próprio P. Craig Russel, que a saga do herói de carne e ossos e seus amigos espectrais chega a seu agridoce, mas esperançoso, fim.

Em O Livro do Cemitério: Volume 2, o menino vivo, Nin Owens, está mais crescido. Essa parte da trama acompanha sua vida dos 11 anos a aproximadamente a maioridade, e várias coisas mudam em sua rotina. Aqui, o interessante é perceber os conflitos vivenciados pelo jovem, que – ao contrário das pessoas que o rodeiam – sofre com a ação do tempo, vê seus interesses mudarem e a maturidade chegar aos poucos. As crianças com quem ele brincava continuam crianças (enquanto ele cresce), os assuntos que ele tinha com elas já não o satisfazem mais. A cada dia que passa, Nin sente de maneira mais intensa o anseio de sair e explorar o mundo, de ver o que há além dos portões do cemitério.

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Esse aspecto da trama é bem relacionável e vejo como uma alegoria para o processo de crescer. Durante a adolescência e, principalmente, no início da vida adulta, são muito comuns os sentimentos experienciados pelo protagonista: sensação de não-pertencimento, vontade de ir além, curiosidade em explorar o mundo e suas inúmeras possibilidades… As angústias de Nin fazem muito sentido e refletem o que a maioria dos jovens adultos vivencia nessa fase da vida. Foi um dos aspectos que mais gostei na leitura e, só por isso, a obra já ganhou muitos pontos comigo quando comparada ao volume anterior.

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O Livro do Cemitério: Volume 2 também traz mais sequências de ação. Silas, o guardião de Nin, e a Srta. Lupescu (uma espécie de “professora substituta”, apresentada no Volume 1), protagonizam um plot interessante que envolve proteger o rapaz do perigo que ele sempre correu. Infelizmente, a abordagem é extremamente superficial e deixa um gosto de quero mais que não é saciado. O mesmo acontece com o plot do homem chamado Jack: apesar de haver uma explicação, ela fica num território muito raso e subaproveitado. Entretanto, apesar do pouco desenvolvimento, ainda assim foi bem mais interessante de acompanhar do que o volume anterior. O motivo? Aqui, senti que a história tinha um objetivo a cumprir e estava se encaminhando para algum lugar (cuja falta foi minha maior crítica em relação à obra anterior). O final é agridoce e conseguiu me emocionar. A decisão dos personagens foi a mais sensata possível e, principalmente, foi totalmente coerente com suas trajetórias ao longo da história. Gosto muito quando isso acontece e, nesse caso, o desfecho me deu uma sensação muito satisfatória de encerramento.

Falando um pouquinho da edição, novamente temos o mesmo capricho e qualidade do volume anterior. Alguns ilustradores se mantiveram e outros novos foram adicionados. O capítulo mais longo tem um traço que não foi meu favorito, mas que ainda assim é bem interessante de observar. O capítulo final foi o que mais gostei nesse sentido, trazendo ilustrações de alguns artistas de que eu já havia gostado no Volume 1.

o livro do cemitério volume 2

O Livro do Cemitério: Volume 2 superou em muito seu antecessor, especialmente pelas questões existenciais abordadas, pela condução narrativa direcionada a um objetivo e pelo ótimo desfecho. A história ganhou muito mais valor pra mim graças a esse volume. Apesar de eu não ter me apaixonado pela trama de O Livro do Cemitério, agora fiquei com uma sensação muito mais satisfeita do que quando havia lido somente o Volume 1. E, considerando a beleza das graphic novels, acredito que seja uma experiência válida para qualquer leitor que aprecie esse tipo de obra – e mais ainda para quem é fã de Neil Gaiman.

Título Original: The Graveyard Book: Volume 2
Autor: Neil Gaiman e P. Craig Russell
Editora: Rocco Jovens Leitores
Número de páginas: 176
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Livro cedido em parceria com a editora.
Esse não é um publipost, e a resenha reflete minha opinião sincera sobre a obra.

Resenha: O Livro do Cemitério: Volume 1 – Neil Gaiman e P. Craig Russell

Oi gente, tudo bem?

Eu adoro graphic novels e, em maio, tive a oportunidade de ler o primeiro volume da adaptação ilustrada de O Livro do Cemitério, de Neil Gaiman. Foi minha primeira experiência lendo algo do autor (ou talvez, melhor dizendo, uma adaptação de uma obra dele).

o livro do cemitério volume 1.pngGaranta o seu!

Sinopse: Bestseller do The New York Times e premiado com as medalhas Newbery (EUA) e Carnegie (Reino Unido), o romance O livro do cemitério, do cultuado escritor Neil Gaiman, ganha versão em quadrinhos adaptada por P. Craig Russell, parceiro de Gaiman em diversos livros, incluindo a versão em HQ de outro clássico do autor, Coraline. O livro é o primeiro de dois volumes que acompanham a trajetória de Ninguém Owens, ou Nin, um garoto como outro qualquer, exceto pelo fato de morar em um cemitério e ser criado por fantasmas. Cada capítulo nesta adaptação de Russell acompanha dois anos da vida do menino e é ilustrado por um artista diferente, apresentando uma variedade fascinante de estilos que dão ainda mais vida à atmosfera ao mesmo tempo afetuosa e sombria da história.

O livro inicia com o homem chamado Jack (sim, é desse modo que a obra se refere a ele) assassinando uma família (quase) inteira. Porém, ao chegar no quarto do último membro, um bebê, o homem chamado Jack encontra somente um berço vazio. A verdade é que, atraído por um aroma envolvente, o bebê caminhou até o cemitério da cidade, no qual foi encontrado por um casal de fantasmas, o Sr. e a Sra. Owens. Eles decidem adotá-lo e, depois de muita deliberação com os outros membros do cemitério, a criança é aceita – e é chamada de Ninguém Owens. A partir daí, acompanhamos a vida do menino conforme os anos passam, sob a proteção do cemitério.

Nin é um menino vivo que tem a “liberdade do cemitério”, ou seja, pode entrar em lugares e fazer coisas que outras pessoas vivas não podem. Além dos pais adotivos, ele também é protegido por Silas, seu guardião, um vampiro sábio e misterioso, responsável por contar a Nin tudo que existe fora dos muros de onde vivem. A passagem do tempo acompanha também as mudanças naturais da infância, e Nin vai se tornando um menino cada vez mais inquieto e curioso, cheio de vontade de saber mais sobre o mundo e sobre a vida – o que é paradoxal, já que todos ao seu redor, que podem dar algum vislumbre de como ela funciona, estão mortos.

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O Livro do Cemitério é uma literatura fantástica no sentido literal da palavra: a trama é fantasiosa, cheia de cenas meio malucas e muita criatividade. O problema, pra mim, é que cada capítulo parece um “conto” à parte, explorando diversas mitologias diferentes (como os sabujos de Deus e a dança macabra) e cuja única coisa em comum com o anterior ou posterior é o núcleo de personagens. Eu não senti como se a obra estivesse evoluindo para um “objetivo final” – e talvez nem fosse essa a ideia; talvez o livro queira somente explorar situações da vida de um menino vivo em meio aos mortos. Seja como for, isso acabou me desestimulando um pouco ao longo da leitura, por não saber aonde a história queria chegar.

O aspecto que me prendeu, pra falar a verdade, foram as artes maravilhosas. Cada capítulo é ilustrado por um artista diferente e, além de amar ilustrações de modo geral, eu também adorei observar com atenção cada quadro, absorvendo e reparando nas diferenças de estilo dos ilustradores. Os traços e cores são fantásticos e imersivos, criando uma atmosfera envolvente e mágica.

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O Livro do Cemitério: Volume 1 tem um estilo narrativo que não me conquistou, mas vou ler o Volume 2 para chegar a conclusões mais embasadas sobre a trama e seus objetivos. A qualidade gráfica da obra é inegável e as ilustrações são belíssimas, o que certamente vai encantar quem já é fã de Neil Gaiman ou da versão original de O Livro do Cemitério. E aguardem, em breve volto com minha conclusão final a respeito da trama. 😉

Título Original: The Graveyard Book: Volume 1
Autor: Neil Gaiman e P. Craig Russell
Editora: Rocco Jovens Leitores
Número de páginas: 192
Gostou do livro? Então adquira seu exemplar aqui e ajude o Infinitas Vidas! ❤

Livro cedido em parceria com a editora.
Esse não é um publipost, e a resenha reflete minha opinião sincera sobre a obra.

Resenha: Entrevista com o Vampiro: A História de Cláudia – Anne Rice e Ashley Marie Witter

Oi pessoal, tudo bem?

Eu estava louca para conferir a graphic novel Entrevista com o Vampiro: A História de Cláudia desde seu lançamento. Recebi um exemplar da Editora Rocco no mês passado e hoje vim contar pra vocês o que achei. ❤

entrevista com o vampiro a historia de claudia.pngGaranta o seu!

Sinopse: Esta não é simplesmente uma adaptação para os quadrinhos de Entrevista com o Vampiro, best-seller de Anne Rice que virou filme em 1994. Meticulosamente ilustrado por Ashley Marie Witter, a versão em graphic novel do livro de estreia da rainha dos vampiros reconta a história sob um ponto de vista inédito: o da vampira criança Cláudia, a imortal de 6 anos de idade, órfã e assassina, vítima e monstro, representada por Kirsten Dunst na versão cinematográfica.

Eu nunca li o livro Entrevista com o Vampiro, mas assisti ao filme e gostei bastante. O universo vampiresco de Anne Rice é o mais sombrio que conheço, e eu gosto dessa visão menos romantizada dos vampiros. A História de Cláudia (vou me referir à graphic novel assim, ok?) traz uma parte da história original – mais especificamente, a vida da personagem-título – sob o ponto de vista da própria vampira. E, assim como no filme, a atmosfera sombria, gótica e sedutora estão presentes nas páginas.

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Cláudia foi transformada em vampira por Lestat, cuja intenção era manter seu companheiro Louis por perto. Lestat determinou que Cláudia seria a filha dois, fazendo com que Louis se sentisse impelido a permanecer ao lado deles. De início, ela tem todo o suporte de que precisa de ambos os pais: Lestat a ensina sobre sua nova natureza, enquanto Louis lhe dá suporte afetivo. Entretanto, conforme os anos (ou melhor, as décadas) vão se passando, a menina vai se transformando em mulher, com exceção de seu corpo, paralisado para sempre na forma de criança. Essa situação, somada à vontade de Cláudia de entender de onde veio e de descobrir se existem mais vampiros por aí, vai criando uma tensão latente entre a “família”, culminando no plano de Cláudia para assassinar Lestat.

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Cláudia não é uma personagem que conquista o leitor. Ela é mesquinha, egoísta e manipuladora – exatamente como Lestat. Ela utiliza do amor de Louis para conseguir o que quer e convencê-lo a fazer suas vontades, por mais arriscadas que sejam. Entretanto, a graphic novel também revela com clareza as angústias da personagem, que se vê presa em um corpo que não lhe permite ter autonomia (já que todas as pessoas a olham como uma criança indefesa). Seus desejos e paixões evoluem para os de um adulto, mas seu físico não lhe permite realizá-los. Todas essas questões levam a personagem a um vazio existencial que é bastante compreensível, ainda que seu caráter seja extremamente falho.

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Mas a melhor parte de A História de Cláudia é, sem sombra de dúvidas, a arte. Eu coloquei mais fotos no post justamente para tentar transmitir a vocês a lindeza que é esse livro! Capa dura, título em letras douradas, páginas e ilustrações em tons de sépia (com exceção do vermelho do sangue)… cada detalhe torna essa graphic novel uma obra de arte! Eu adoro mangás, e o traço de Ashley Marie Witter conversa bastante com esse estilo de ilustração, o que já me conquistou de cara. As expressões dos personagens, seus figurinos e os cenários são feitos com tantos detalhes que é impossível não ficar admirando as ilustrações durante a leitura.

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Do capricho da edição à nova abordagem de uma história vampiresca clássica, Entrevista com o Vampiro: A História de Cláudia tem todos os elementos necessários para conquistar fãs da mitologia de Anne Rice ou de vampiros em si. É um livro que vale a pena ser conferido não apenas pelo enredo, mas pela beleza presente em cada página. Recomendo!

Título Original: Interview with the Vampire: Claudia’s Story
Autor: Anne Rice e Ashley Marie Witter
Editora: Rocco
Número de páginas: 224
Gostou do livro? Então adquira seu exemplar aqui e ajude o Infinitas Vidas! ❤

Livro cedido em parceria com a editora.
Esse não é um publipost, e a resenha reflete minha opinião sincera sobre a obra.

Resenha: Sailor Moon – Naoko Takeuchi

Oi gente, tudo bem?

Mês passado eu terminei de ler um clássico que fez parte da infância de muita gente em sua versão animada: Sailor Moon! 😀 E hoje eu conto pra vocês o que achei desse mangá!

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Sinopse: Usagi é uma ginasial de 14 anos. Como muitas meninas de sua idade, é desastrada, distraída e um tanto preguiçosa. Em um encontro, aparentemente ao acaso, a jovem acaba conhecendo uma gatinha falante e, através dela, descobre ser dona de incríveis poderes. Por conta disso, acaba recebendo uma grande missão! Agora ela terá de encontrar suas companheiras, descobrir se o mascarado que ela acha lindo é amigo ou inimigo e proteger uma princesa, mas nada disso é tão difícil para ela do que acordar cedo para ir para a escola! Será que ela consegue?

Sailor Moon é um típico shoujo, mangá voltado ao público feminino. Conta a história de Usagi Tsukino, uma garota de 14 anos que descobre ter poderes especiais, transformando-se em Sailor Moon, a guerreira da lua. Enquanto aprende a lidar com suas novas habilidades e responsabilidades, ela é guiada pela gatinha falante Luna e, aos poucos, vai descobrindo suas companheiras: Sailor Mercury, Sailor Mars, Sailor Jupiter e Sailor Venus.

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O mangá é dividido em 5 arcos, e cada um deles tem um vilão que ameaça a paz na Terra. São eles: Dark Kingdom (meu favorito!), Black Moon, Death Busters/Arautos da Destruição (ótimo arco também!), Dead Moon, Sombra Galáctica (pior arco de todos). Inicialmente, nos primeiros volumes do mangá, o leitor acompanha a construção da amizade das guerreiras sailor e é revelado que as atuais garotas são reencarnações das guerreiras que viviam no Milênio de Prata, o reino da Lua. A Princessa Serenity (real identidade de Usagi), da Lua, e o príncipe Mamoru, da Terra, se apaixonaram, mas a ganância da Rainha Beryl em dominar o Milênio de Prata provocou sua destruição e a morte da princesa, do príncipe e das guerreiras. Com o passar das edições, vemos as amigas cada vez mais unidas, enfrentando cada inimigo que surge: Rainha Beryl, que retorna em busca de vingança, Wiseman, Pharaoh 90, Rainha Nehelenia,  Sailor Galáxia e Chaos.

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É complicado falar sobre cada arco sem soltar spoilers, então vou comentar alguns pontos sobre a série em geral. Sailor Moon é um mangá que se baseia no amor e na amizade. Usagi e Mamoru são perdidamente apaixonados, mas a amizade de Usagi e as meninas (Ami, Rei, Makoto e Minako) é um dos maiores pilares da série. Elas se apoiam mutuamente, se sacrificam uma pela outra e se dedicam totalmente à sua missão. Depois do primeiro arco, novas guerreiras vão surgindo e o vínculo vai ficando cada vez mais forte, pois o intuito de todas elas é proteger a Princesa do Reino da Lua (Usagi/Serenity). Esses laços indestrutíveis entre as guerreiras sailor são o ponto forte do mangá, muito mais do que as batalhas (que, na verdade, são um pouco monótonas…). Outra coisa bacana é que a autora não se preocupa muito em delimitar o gênero de várias de suas personagens. Temos vários exemplos de guerreiras que, quando não transformadas, preferem se vestir como meninos, por exemplo. Há também relacionamentos amorosos entre elas (o namoro entre Michiru, a Sailor Neptune, e Haruka, a Sailor Uranus, é claro). Essa fluidez acontece com frequência em diversos mangás, e Sailor Moon é um deles.

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Mas, não posso negar, tem algumas coisas bem toscas em Sailor Moon. A primeira delas é o nome das mulheres do Milênio de Prata. A mãe de Usagi se chamava Rainha Serenity. A Usagi era a Princesa Serenity, que depois se tornou a Nova Rainha Serenity. A filha de Usagi com Mamoru se chama Usagi Small Lady Serenity. Serenity por acaso é sobrenome agora??? Desculpem, eu precisava desabafar, isso me incomodou a leitura inteira HAHAHA! Outro aspecto negativo do mangá é o último arco: enquanto os primeiros eram bem coerentes, com acontecimentos que iam se conectando e somando à história, no último a Naoko Takeuchi simplesmente decidiu colocar MIL informações novas que nunca tinham sido mencionadas de maneira atropelada e em pouquíssimas edições (acho que o último arco se desenvolve todinho em apenas dois volumes do mangá). Personagens e histórias sobre o “universo sailor” aparecem repentinamente com um desenvolvimento extremamente precário e superficial. Infelizmente, foi uma péssima maneira para encerrar o mangá.

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Sailor Moon é um mangá fofo, nostálgico, cheio de personagens queridas (algumas mal têm falas, diga-se de passagem), mas talvez não agrade todo mundo. A história não é imperdível, extremamente bem construída nem uma obra-prima sem igual, já que existem muitos mangás com proposta semelhante por aí. Contudo, Sailor Moon foi uma obra que inspirou e deu origem a muitas dessas novas histórias sobre guerreiras mágicas. É um clássico de respeito e, pra quem cresceu assistindo ao anime e se identificava com toda a magia da história, é impossível não se emocionar lendo essa série. Eu lembro de desenhar Sailor Moon nos meus cadernos quando eu ainda estava no Ensino Fundamental, sabem? 😛 Então fiquei muito feliz de finalmente ter acesso a essa série aqui no Brasil. Pra quem gosta do estilo clássico dos shoujos ou já curtia Sailor Moon, a leitura é obrigatória!

Título original: Pretty Guardian Sailor Moon
Autor: Naoko Takeuchi
Editora: JBC
Volumes: 12
Número de páginas (por volume): cerca de 200 + 6 coloridas

Resenha: Holy Avenger – Marcelo Cassaro e Erica Awano

Oi gente! Como estão? 😀

Tô devendo resenhas pra vocês, né? Peço desculpas. Mas para o post de hoje eu trago a resenha de uma HQ brasileira que eu amo de paixão: Holy Avenger! ❤

1Sinopse: Lisandra. Criada por animais em uma ilha selvagem, esta jovem vivia feliz em seu mundo puro… Até que os sonhos vieram. Sonhos sobre o Paladino, um herói com o poder do Panteão. Sobre como ele havia sido derrotado por forças malignas. E sobre como Lisandra poderia ressuscitá-lo se encontrasse suas gemas divinas — os vinte Rubis da Virtude. Para ajudar Lisandra surgem Sandro, filho do maior ladrão do Reinado, Niele, a bela e maluca arquimaga élfica, e Tork, o troglodita anão. Este é o começo de Holy Avenger, uma saga épica de fantasia que ultrapassou 800 páginas. Com roteiro de Marcelo Cassaro (Turma da Mônica Jovem) e arte de Erica Awano (World of Warcraft), é um dos maiores quadrinhos brasileiros de todos os tempos. E agora está de volta, em edição definitiva.

Holy Avenger é uma HQ brasileira com traço mangá (provavelmente a primeira coisa que me chamou a atenção na época em que a conheci, anos atrás) e traz uma história repleta de referências ao mundo nerd e aos animes e mangás! É possível ver as personagens vestidas com roupas de Guerreiras Mágicas de Rayearth e Evangelion em uma capa, um Pikachu de fundo num dos quadrinhos, um Mokona em outra cena… Muito amor hahaha! :3

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A trama nos apresenta à protagonista, Lisandra, uma druida que cresceu e viveu toda a sua vida em uma ilha, Galrasia, cercada por animais. Ela foi criada pelo troglodita Tork, um mercenário de temperamento forte, mas que tem um coração enorme. Lisandra tem diversos sonhos que a induzem a “salvar o Paladino”, um herói lendário que morreu há anos. Ela encontra o corpo deste herói e decide reunir os Rubis da Virtude, pedras que se encaixam perfeitamente à armadura do Paladino e que ela crê serem capazes de ressuscitá-lo. Para adquirir esses rubis, a ingênua Lisandra sai de sua ilha e pede ajuda ao ladrão Sandro Galtran, cujo sobrenome é conhecido graças aos feitos de seu pai, um ladino muito eficiente. Sandro, porém, é atrapalhado e inocente e, após ajudar Lisandra (de uma maneira bem desengonçada), percebe que se interessou por aquela moça tão pura e doce. A partir desse momento, a história passa a se desenrolar: Lisandra continua obstinadamente sua busca pelos Rubis da Virtude, enquanto Sandro faz o possível para reencontrá-la. Obviamente, novos personagens surgem pelo caminho (como a semi-nua carismática maga Niele, que torna-se uma grande amiga de Sandro).

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Holy Avenger tem diversos personagens com personalidades bem definidas e consistentes. Cada um tem suas próprias motivações e age de acordo com seus interesses, fazendo com que os destinos se cruzem em diversos momentos. Ao mesmo tempo em que acompanhamos a história dos protagonistas no presente, também somos apresentados ao que aconteceu no passado, com o pai de Sandro e seu grupo de amigos aventureiros. E, acreditem, por mais despretensioso que algum personagem ou enredo pareça, no futuro tudo se revela imprescindível para explicar o presente e o desdobramento dos fatos! E isso é uma das coisas que eu mais gosto no enredo, tudo é muito bem costurado. ❤

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Outra coisa que vale a pena mencionar: a arte de Erica Awano é linda! Sério, sou apaixonada pelo traço de Holy Avenger! Erica Awano desenha personagens e cenários que me agradam muito, e pra mim isso é um aspecto muito importante quando se trata de HQs. Atualmente, Holy Avenger está sendo relançada numa versão encadernada com capa dura, e é uma edição que eu amo ter na minha coleção, porque tá demais! 😀

Holy Avenger é uma história divertida, envolvente, cheia de personagens carismáticos (Tarso melhor mascote <3) e com uma trama bem desenvolvida e conectada. Apesar de inocente e direcionada ao entretenimento, a história se desenrola de maneira muito satisfatória. Recomendo fortemente a todos que gostam de mangás, de animes, de RPG, de paladinos, ladrões, druidas, magos e afins. 😛 Leitura mais do que aprovada!

Título original: Holy Avenger
Autor: Marcelo Cassaro
Ilustrações: Erica Awano
Editora: Jambô Editora
Volumes: 42 (edição original) e 4 (edição encadernada)
Número de páginas (por volume): 39 (edição original) e 216 (edição encadernada)