Oi, gente!
E hoje chegamos à conclusão de minhas resenhas sobre a trilogia Jogos Vorazes. Escrevo agora para falar a respeito de A Esperança, o terceiro e último volume.
Eu comprei o meu box com os três livros em 2012 e li todos no mesmo ano. Concluí A Esperança no dia 31 de dezembro de 2012, porque estava totalmente vidrada e precisava saber o desfecho da história. Só consegui pensar na virada do Ano Novo depois que fechei o livro hahaha 😛 Eu tinha vontade para escrever a minha opinião desde aquela época, então finalmente posso realizar esse desejo! Cuidado: o texto a seguir pode conter spoilers sobre os livros anteriores. Ah, o sexto parágrafo contém uma informação importante que eu considero pertinente de ser discutida, então, se preferirem, podem pulá-lo (ou então evitem as primeiras frases). 🙂
Sinopse: Katniss conseguiu sair da arena pela segunda vez, mas, mesmo assim, ainda não está a salvo. A Capital está irritada e quer vingança e, por isso, inicia uma represália a toda a população. Numa trama tão violenta quanto psicológica, Suzanne Collins consegue provocar, em A Esperança, um debate sobre a moral e os valores da guerra e as consequências das escolhas feitas por cada um dos personagens.
Definitivamente, A Esperança é o livro que menos gosto da trilogia, por diversos motivos. Acredito que muitas coisas foram mal explicadas, mal resolvidas e feitas com pressa. Explico: assim como os livros anteriores, este também é divido em três partes. Na primeira, a autora nos apresenta o Distrito 13, o novo lar de Katniss e dos sobreviventes do Distrito 12. Ainda nessa primeira parte, podemos ver o que a Capital aparentemente tem feito com Peeta, que foi levado no fim de Em Chamas: ele agora é obrigado a gravar comerciais que estimulam a paz e tentam dissuadir os rebeldes. Já na segunda parte do livro, “O Ataque”, podemos ver os personagens iniciando um treinamento árduo para a guerra. Katniss, Finnick, Gale e outros personagens treinam exaustivamente, aprendendo a lidar com armas de fogo e estratégias de combate. Suzanne Collins usa mais da metade do livro nessas duas partes que, teoricamente, são uma preparação para a guerra, para o combate real. Ela gasta páginas e mais páginas em momentos como os “prontopops” que Katniss grava, uma espécie de “comercial” dos rebeldes que é transmitido na Capital graças à invasão da rede de televisão feita por Beete. Claro que é interessante ver a forma como o Distrito 13 se prepara para fragilizar a Capital e, só depois disso, partir para o combate. Entretanto, esse ritmo da história tem uma consequência bem grave na terceira parte: a guerra de verdade. Na última parte do livro, Katniss e seus companheiros de batalhão decidem invadir a Capital na tentativa de assassinar Snow. Nesse processo, como em toda guerra, ocorre muita ação e mortes são inevitáveis. Suzanne Collins corre com tudo isso numa velocidade inaceitável, e essa foi a minha maior decepção. Eu sinceramente não esperava esse tipo de coisa vinda de Jogos Vorazes.
Falando um pouco sobre o Distrito 13, então. Liderado pela presidente do distrito, Alma Coin, o lugar é repleto de regras e de disciplina. A primeira impressão que o local me passou foi de opressão e de controle, mas de uma forma mais mascarada: todos usam o mesmo tipo de uniforme, a quantidade de comida é racionalizada, entre outras atitudes do tipo. Coin é uma mulher seca, de poucas palavras e pulso firme, então Katniss encontra dificuldades em lidar com ela. A rebelião precisa que Katniss aceite se tornar o Tordo, ou seja, o símbolo e o rosto da revolução. Para isso, Katniss exige que Peeta e Johanna, que estão nas mãos da Capital, sejam resgatados e absolvidos de qualquer tipo de julgamento. A negociação com Coin é difícil, mas no fim elas firmam esse acordo.
Katniss sente muita dificuldade em aceitar ser o Tordo. Nesse terceiro livro, a personagem já está completamente destruída. Ela perdeu o lar, perdeu grandes amigos e perdeu Peeta. Johanna também se foi numa tentativa de salvá-la, e Katniss sabe que ambos devem estar sendo torturados de formas horríveis na Capital. Katniss nunca quis ser o Tordo e nunca quis que houvesse toda uma trama para salvá-la da arena nos Jogos anteriores, e isso a leva a um grande conflito emocional. A sanidade da protagonista está cada vez mais sendo colocada em xeque, ela tem pesadelos constantes e se sente coagida a fazer a maior parte das coisas que faz em prol da rebelião. O que temos agora não é mais uma Katniss forte, protetora da família e vencedora dos Jogos Vorazes. O que temos é uma pessoa transtornada, totalmente solitária e muito incompreendida. A profundidade dos sentimentos dela é algo notável, e é angustiante ver o que os Jogos e a guerra foram capazes de fazer com ela.
Nesse livro, descobrimos o passado e a profundidade de outro personagem: Finnick. Sua amada, Annie Cresta, também está sob custódia da Capital, e por essa e outras razões ele é a única pessoa que chega perto de compreender os sentimentos de Katniss. Ele se torna um ombro amigo importantíssimo para a personagem, apesar de ter toda a sua energia e vitalidade roubada enquanto Annie não volta para os seus braços. Finnick protagoniza duas cenas de grande carga dramática no livro, fazendo dele um personagem ainda mais querido e memorável. Contudo, não posso deixar de dizer: a Suzanne Collins estragou totalmente o desfecho do personagem. Ele merecia muito mais do que um parágrafo depois de salvar a quantidade de vidas que salvou na guerra. Não falo mais para estragar a experiência de quem for ler, mas acredito que vocês irão concordar comigo nesse aspecto (sim, fiquei muito revoltada quando li a cena em questão e a pouca importância dada a ela hahaha).
Gale é outro personagem que sofre mudanças drásticas de comportamento. Ele sempre deixou claro, durante a história, o seu ódio pela Capital e a sua vontade de mudar as coisas. Agora, ele tem a oportunidade e faz questão de agarrá-la com unhas e dentes. Ele deixa de ser uma pessoa capaz de confortar Katniss, pois está concentrado demais em estratégias de guerra. De certa forma, é realmente triste ver o desenrolar do relacionamento dos dois, que sempre foram o porto-seguro um do outro. É nesse livro que eu passo a detestar o personagem, apesar de ele me desagradar desde Em Chamas, com sua pouca solidariedade a Katniss.
Porém, a cartada mais surpreendente e destrutiva usada por Suzanne Collins diz respeito ao meu personagem favorito: Peeta. Vocês devem lembrar que, no primeiro livro, a maior preocupação de Peeta era não ser transformado em uma mera peça nos Jogos da Capital. Seu grande objetivo era continuar sendo ele mesmo, até o fim. Bom, nesse quesito, a Capital venceu. Através de torturas e lavagem cerebral (o que no livro chamamos de telessequestro) eles modificam as memórias do personagem com relação à Katniss. Não vou falar muito mais a respeito, mas é uma reviravolta chocante. Eu me senti totalmente sem chão quando compreendi isso e quando li a primeira cena do Peeta, após ser resgatado das garras da Capital. Foi muito duro ver um personagem tão querido ser transformado justamente na única coisa que ele não queria: uma peça, uma marionete, uma casca vazia. E sabem o que mais me revolta? A Katniss não dá a mínima pra ele! Ela se sente “no direito” de brigar com o Peeta várias vezes e virar as costas para ele. Como Gale menciona em certo momento da história, ela é uma pessoa que escolheria aquele que desse a ela mais chances de sobrevivência. Ela mostra um lado mesquinho e egoísta dela que não se mostrou nos dois primeiros volumes (no primeiro, ela é altruísta com a irmã; no segundo, com Peeta).
Acho que o que mais me incomodou no livro foi a terceira parte do enredo. Existem diversos personagens queridos que ficam para trás – como o braço direito de Coin, o comandante Boggs – e as cenas de ação são constantes e aceleradas. Particularmente, eu acharia muito mais coerente que Suzanne Collins tivesse despendido menos páginas às cenas operacionais dentro do Distrito 13 e tivesse dado mais atenção ao combate propriamente dito e à carga emocional gerada pelas mortes que ocorrem. Porém, tenho que admitir que é impossível não ficar apreensiva e devorar as páginas, já que muitas coisas acontecem ao mesmo tempo e o batalhão de Katniss se aproxima cada vez mais da mansão do Presidente Snow. O final da guerra é uma das coisas mais chocantes – e sem necessidade, diga-se de passagem – que Suzanne Collins poderia escrever. Obviamente não vou contar o que acontece, mas coloquemos assim: analisando friamente, tudo pelo que Katniss passou desde o primeiro livro foi em vão. E isso destrói o leitor, porque as consequências para os personagens serão eternas. Uma coisa ótima do final é o retorno da impetuosidade de Katniss, que reage de uma forma totalmente inesperada após uma conversa decisiva com o agora prisioneiro Snow. Infelizmente, o destino de vários personagens (como Effie, por exemplo) após essa cena sequer é mencionado, o que me deixou um pouco insatisfeita.
Ao fim de tudo, Katniss e Peeta conseguem voltar um para o outro, carregando marcas e traumas gerados pela experiência terrível que tiveram, mas se ajudando mutuamente na recuperação de sua sanidade. Apesar de tudo, a mensagem do final é de que, por piores que tenham sido os acontecimentos, ainda é possível ser feliz. Quando você tem alguém do seu lado pra te ajudar a curar as suas feridas, continuar vivendo e encontrar alguma forma de felicidade se tornam perspectivas possíveis. As cicatrizes sempre estarão ali, é claro, mas é possível aprender a lidar com elas e lutar para encontrar novamente a alegria.
Ufa. Sei que a resenha ficou um pouco negativa, como se eu tivesse odiado o livro e quisesse queimá-lo. 😛 Longe disso. Como eu já disse várias vezes, Jogos Vorazes é uma das minhas trilogias favoritas, e A Esperança é somente o meu livro “menos favorito” dentre os três. Porém, a falta de coerência em algumas passagens e a pressa da autora em momentos cruciais foram coisas que me incomodaram muito, e eu realmente precisava botar esses sentimentos pra fora e desabafar sobre os conflitos que esse livro me gerou. Talvez nem todos concordem com o meu ponto de vista decepcionado, mas considerando que a história só cresceu de Jogos Vorazes para Em Chamas, eu realmente esperava a mesma qualidade no seu desfecho. Infelizmente, isso não foi possível. Eeeentretanto, eu tenho uma grande expectativa com relação aos filmes. Acho que eles conseguirão deixar as passagens no Distrito 13 menos monótonas e a guerra mais emocionante. E eu torço muito por isso! Enfim, pessoal. Chega ao fim as minhas resenhas sobre essa trilogia maravilhosa que, apesar de não ter tido um ritmo que eu gostaria em seu encerramento, continua sendo uma história que eu adoro e que recomendo. 🙂
Série: Trilogia Jogos Vorazes
Editora: Rocco
Número de páginas: 424
Gostou do livro? Então adquira seu exemplar aqui e ajude o Infinitas Vidas! ❤