Oi pessoal, tudo bem?
Eu gosto bastante de revezar minhas leituras “confortáveis” (como fantasia, romance, young adult, etc.) com livros que fujam um pouco de tais temas. Uma dessas exceções foi a obra mais recente da brilhante Chimamanda Ngozi Adichie, que dialoga com a experiência humana em si: Notas Sobre o Luto.
Sinopse: Escrito após a morte do pai de Chimamanda Ngozi Adichie em junho de 2020, durante a pandemia de covid-19 que mantinha distante a família Adichie, Notas sobre o luto é um poderoso relato sobre a imensurável dor da perda e as lembranças e resiliência trazidas por ela. Consciente de ser uma entre milhões de pessoas sofrendo naquele momento, a autora se debruça não só sobre as dimensões familiares e culturais do luto, mas também sobre a solidão e a raiva inerentes a ele. Com uma linguagem precisa e detalhes devastadores em cada capítulo, Chimamanda junta a própria experiência com a morte de seu pai às lembranças da vida de um homem forte e honrado, sobrevivente da Guerra de Biafra, professor de longa carreira, marido leal e pai exemplar. Em poucas páginas, Notas sobre o luto é um livro imprescindível, que nos conecta com o mundo atual e investiga uma das experiências mais universais do ser humano.
Em 2020, Chimamanda viveu a terrível experiência de perder seu pai subitamente em pleno período de isolamento social. O falecimento não teve relação com o Covid-19, mas esse contexto foi crucial no processo de luto da autora, já que sua família foi privada de qualquer tipo de ritual de despedida, e ela própria não pôde estar com seus entes queridos. Ao longo dos capítulos, Chimamanda discorre sobre como foram os primeiros dias e meses depois dessa experiência ao mesmo tempo que rememora fatos importantes sobre o que viveu com seu pai.
Notas Sobre o Luto é um livro que fala, obviamente, sobre o luto. Mas não é só sobre isso: é também sobre a sensação de impotência. A impotência de não ser capaz de impedir a partida, a impotência de não saber lidar com o vazio no peito, a impotência de não poder voltar no tempo. Só quem já viveu essa experiência sabe o quanto um evento assim pode ser transformador, especialmente quando existe uma relação tão próxima e amorosa quanto a que Chimamanda nitidamente tinha com seu pai. A situação por si só já é desoladora, e ter que enfrentar isso “parcialmente sozinha” (nesse caso, me refiro a não poder estar junto da mãe e dos irmãos), faz com que ler sobre o luto de Chimamanda seja profundamente tocante.
Tem uma frase que mexeu muito comigo ao longo da leitura: “nós não sabemos como será o nosso luto até o nosso luto acontecer”. As pessoas podem ficar deprimidas, podem tentar fingir que estão bem, podem ficar agressivas e reativas, podem tentar manter o sorriso no rosto pelo bem dos familiares… há uma infinidade de reações possíveis. Por isso é tão importante respeitar o próprio processo e também o do próximo quando algo assim acontece em uma família. Eu vivi a experiência de Chimamanda muito jovem, e muitas coisas a respeito disso eu só estou conseguindo entender agora, 15 anos depois. O luto é uma vivência triste, complexa, dolorosa, confusa, revoltante e angustiante – e ninguém precisa passar por julgamentos a respeito de como a enfrenta.
Ler o relato de Chimamanda sobre o seu processo de dor e cura também nos faz pensar que um dos aspectos mais difíceis do luto é pensar que aquela pessoa nunca vai presenciar novos momentos importantes da sua vida. Nesse momento foi difícil não deixar as emoções transbordarem, porque enfrentar esse fato imutável é muito difícil. Chimamanda relembra cenas com os pais em sua casa, nos Estados Unidos, lembra de passeios que eles deram, de conversas que tiveram – sabendo que nada disso poderá ser reproduzido novamente, e que suas filhas também não terão a chance de criar mais memórias com o avô.
Talvez esse post tenha sido muito mais uma reflexão do que uma resenha literária, mas achei difícil desvincular a leitura das minhas próprias vivências. O que posso afirmar é que Notas Sobre o Luto é um livro curto, mas emocionante e sensível, sobre uma das emoções mais complexas que todos nós vamos viver um dia. Acho que não há nada sobre o qual Chimamanda Ngozi Adichie não consiga escrever, e foi muito bonito poder me sentir próxima da autora mesmo num momento tão delicado. Leitura mais do que recomendada, é claro!
Título original: Notes on Grief
Autora: Chimamanda Ngozi Adichie
Editora: Companhia das Letras
Número de páginas: 144
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