Oi pessoal, tudo bem?
O Peso do Pássaro Morto, livro de estreia de Aline Bei, se tornou uma das minhas leituras favoritas do ano passado. Então é claro que agarrei a chance de ler sua segunda obra, Pequena Coreografia do Adeus, e hoje compartilho minhas impressões com vocês.
Sinopse: Júlia é filha de pais separados: sua mãe não suporta a ideia de ter sido abandonada pelo marido, enquanto seu pai não suporta a ideia de ter sido casado. Sufocada por uma atmosfera de brigas constantes e falta de afeto, a jovem escritora tenta reconhecer sua individualidade e dar sentido à sua história, tentando se desvencilhar dos traumas familiares. Entre lembranças da infância e da adolescência, e sonhos para o futuro, Júlia encontra personagens essenciais para enfrentar a solidão ao mesmo tempo que ensaia sua própria coreografia, numa sequência de movimentos de aproximação e afastamento de seus pais que lhe traz marcas indeléveis. Escrito com a prosa original que fez de Aline Bei uma das grandes revelações da literatura brasileira contemporânea, Pequena coreografia do adeus é um romance emocionante que mostra como nossas relações moldam quem somos.
Mais uma vez Aline nos apresenta a uma protagonista feminina cujas emoções, reflexões e cicatrizes nos guiam por sua história. Aqui acompanhamos Júlia, que cresceu em um lar desestruturado e hostil, presenciando as brigas constantes de seus pais. Quando eles enfim resolvem se separar, a jovem se vê numa situação de solidão ainda maior do que a anterior: sua mãe vive em amargura pela separação e destrata a filha, inclusive com agressões físicas e verbais; seu pai encontrou tanto alívio fora do casamento que não faz questão de ser mais presente na vida de Júlia. Em meio a essa sensação de não-pertencimento, vemos os anos passarem e Júlia tentando encontrar seu lugar no mundo – e o modo como ela percorre esse caminho é por meio da escrita.
Assim como ocorre em O Peso do Pássaro Morto, Pequena Coreografia do Adeus tem uma prosa lírica e cheia de sensibilidade. A obra causa uma sensação de impotência porque percebemos quão disfuncional é a relação da família de Júlia e o quanto isso molda a sua estrutura psicológica e emocional. A jovem sente emoções conflitantes, porque ao mesmo tempo que deseja estar perto dos pais e ser aceita por eles, ela obviamente se ressente dos anos de brigas, abandono e abusos emocionais. Júlia tem medo de deixar a mãe para trás, mas seus ombros chegam a descer de alívio quando ela não está presente; ela sente saudades da companhia do pai, mas sente mágoa por saber que ele prefere seguir a vida sozinho, com suas diversas namoradas.
Quando levamos em consideração que acompanhamos os pensamentos de Júlia ainda criança e, posteriormente, quando adulta, percebemos quão profundas podem ser as marcas da infância. Esses primeiros anos muitas vezes são cruciais em moldar a nossa base e, por mais que a gente seja plenamente capaz de traçar nossos próprios caminhos, é impossível simplesmente ignorar algumas dores. Por meio da escrita, que desde pequena fez parte da vida de Júlia, a protagonista encontra um refúgio no qual ela consegue buscar não apenas sua própria identidade, mas também sua cura.
Apesar da ótima escrita de Aline Bei e da sensibilidade da história, confesso pra vocês que Pequena Coreografia do Adeus não causou um impacto tão forte em mim quanto O Peso do Pássaro Morto, por isso sigo tendo o livro de estreia da autora como meu favorito dela até o momento. Entretanto, ainda que não tenha entrado pro hall das melhores leituras, é um livro que sem dúvidas recomendo. O estilo narrativo da autora é criativo e delicado e, por si só, merece ser conferido. Mas, para além disso, a autora aborda temas muito relevantes e que não são facilmente encontrados por aí, como a toxicidade familiar e as dores e cicatrizes causadas por aqueles que deveriam ser os primeiros a nos amar e nos proteger. Vale (muito) a leitura!
Título original: Pequena Coreografia do Adeus
Autora: Aline Bei
Editora: Companhia das Letras
Número de páginas: 282
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