Oi pessoal, tudo certo?
Hoje vim dividir com vocês minha opinião a respeito da minissérie A Vida e a História de Madam C.J. Walker, da Netflix. Pra facilitar a minha vida ao longo do texto, vou chamar a série só de Madam C.J. Walker e a personagem de Sarah, combinado? 😂
Sinopse: A história de Madam C.J. Walker (Octavia Spencer), ativista social e primeira mulher milionária dos Estados Unidos a conquistar a própria fortuna: por meio de uma linha de produtos capilares e cosméticos para mulheres negras.
A minissérie de apenas 4 episódios é a dramatização da história real de Sarah Breedlove, posteriormente conhecida como Madam C.J. Walker. Tendo uma infância difícil (Sarah foi a primeira filha nascida livre de um casal que fora escravo), a vida adulta não trouxe muito alívio. Sarah casou cedo, ficou viúva, sofreu nas mãos do segundo marido, se separou e sustentava a família com muita dificuldade sendo lavadeira. Em determinado momento, porém, Sarah encontra a oportunidade de mudar de profissão e, consequentemente, de vida. Ela vê na cosmetologia a chance de fazer história, criando produtos específicos para as necessidades capilares das mulheres negras.
Como mencionei antes, Madam C.J. Walker é uma dramatização. Com isso, há um novo elemento na série que não existiu, mas que cumpre seu papel de causar reviravoltas e dificuldades para a protagonista: a vilanização da concorrente Addie Munroe. Addie foi a mulher cujo produto capilar salvou Sarah da calvície; entretanto, foi também a pessoa que recusou Sarah como vendedora devido à sua aparência. E o mais interessante na relação de Sarah e Addie reside no fato de que ambas são mulheres negras, mas que sofrem de maneira diferente com o racismo da época, marcado por uma abolição da escravatura ainda recente: Sarah é uma mulher negra retinta que, em diversos momentos, tem seu potencial questionado por não apresentar a imagem que os outros desejavam; Addie, por sua vez, sendo filha de uma mulher negra e um estuprador pai branco, tem cabelos ondulados e pele clara, e usa sua imagem para vender seus produtos e se aproximar do padrão branco europeu que era é muito mais aceito.
A discussão sobre colorismo percorre todos os episódios de Madam C.J. Walker. O posicionamento de Sarah é inspirador e ela recusa toda e qualquer alusão a um padrão de mulher ideal atrelado a seus produtos. Da fórmula à embalagem, o objetivo de Sarah é incluir todas as mulheres negras, de todos os tons de pele e de todas as formas. Obviamente a personagem tem suas inseguranças, o que fica claro na sua relação conturbada com Addie e em todas as vezes em que ela reforça não ser aquele modelo padrão, mas isso não faz com que Sarah ceda e mude de ideia. Quando seu terceiro marido (C.J. Walker, de quem Sarah apropria-se do nome) sugere uma campanha publicitária excludente, ela se recusa a utilizá-la. Outro ponto importante é o empoderamento feminino e a construção da autoestima por meio do cabelo (tema também abordado no ótimo Felicidade Por Um Fio). Madam C.J. Walker evidencia que os fios vão além da estética, eles significam ascensão, negritude, ancestralidade e beleza.
A trama ainda pincela assuntos importantes, além da construção da autoestima negra. Há um acontecimento bem forte, relacionado a movimentos de ódio como Ku Klux Klan, em que homens brancos assassinam um personagem apenas por ele ter tido a “ousadia” de enfrentar seus filhos enquanto eles faziam bullying. E o mais chocante é pensar que, diferente da série (em que a escravidão havia acabado há cerca de 40, 50 anos), até hoje a violência contra pessoas negras acontece e com uma frequência alarmante. Outro ponto importante é a abordagem natural relacionada à sexualidade de Lelia, filha de Sarah – futuramente conhecida como “deusa da alegria do Harlem”, um bairro marcado pela diversidade e pela representatividade negra.
A transformação de Sarah Breedlove em Madam C.J. Walker é inspiradora. O modo como ela não desiste frente ao racismo, ao machismo e todas as dificuldades impostas em seu caminho é uma lição sobre determinação. De lavadeira a milionária, Madam C. J. Walker transformou a vida de inúmeras pessoas, fazendo uma verdadeira revolução em uma época na qual pessoas negras – principalmente mulheres – não tinham voz nem espaço. Se há algum defeito na série é o fato dela ser tão curta: Madam C.J. Walker não apenas fez a diferença na indústria cosmética, mas também foi ativista e filantropa, sempre colaborando com a causa negra e incentivando a emancipação feminina, e seria bem legal ver isso retratado na tela também. Mas e aí, tá esperando o quê pra dar o play na Netflix e conhecer um pouquinho dessa mulher incrível? 😉
Título original: Self Made: Inspired by the Life of Madam C.J. Walker
Ano de lançamento: 2020
Direção: Nicole Asher
Elenco: Octavia Spencer, Tiffany Haddish, Carmen Ejogo, Blair Underwood, Kevin Carroll