Oi pessoal, como estão?
Lembram que na semana passada, quando postei sobre Jessica Jones, comentei que tinha terminado 13 Reasons Why e não sabia exatamente como falar a respeito? Pois bem, durante a semana fui maturando meus sentimentos, lendo opiniões diversas e debatendo o assunto, e hoje trago pra vocês a síntese do que senti em relação a essa série. Esse post é e não é ao mesmo tempo um Dica de Série, pois não quero apenas fazer um review, mas levantar também algumas reflexões. Espero que gostem e tenham paciência pra ler esse textão. 🙂

Sinopse: Uma caixa de sapatos é enviada para Clay (Dylan Minnette) por Hannah (Katheriine Langford), sua amiga e paixão platônica secreta de escola. O jovem se surpreende ao ver o remetente, pois Hannah acabara de se suicidar. Dentro da caixa, há várias fitas cassete, onde a jovem lista os 13 motivos que a levaram a interromper sua vida – além de instruções para elas serem passadas entre os demais envolvidos.
Vamos falar um pouco sobre a série. 13 Reasons Why tem a seguinte premissa: Hannah Baker se suicidou. Enquanto a escola na qual a garota estudava lida com isso, Clay Jensen, nosso protagonista (que era apaixonado por Hannah), recebe uma caixa com fitas gravadas pela garota. Nessas fitas, ela conta os motivos pelos quais tomou tal atitude, e Clay está nessas fitas. Enquanto as ouve, o garoto se depara com o sofrimento de Hannah e com coisas muito mais sombrias do que pensava.

Eis o grande “trunfo” da série pra manter o espectador curioso: por que Clay está nas fitas? O que ele fez? O que ele deixou de fazer? Essa dúvida faz com que você queira continuar assistindo episódio após episódio, por mais que o desenrolar da trama seja bastante lento em diversos momentos. Alguns episódios são arrastados e talvez não precisassem de 50 minutos pra serem contados. Pra mim, esse é um dos maiores defeitos enquanto série (analisando apenas como uma produção para a TV, sem debates mais profundos).
Contudo, a série acerta muito em outros aspectos: a atuação dos jovens atores é brilhante, com destaque para os dois protagonistas, Katherine Langford e Dylan Minnette (Hannah e Clay, respectivamente). Enquanto Katherine conseguia passar toda a esperança, o sofrimento e as desilusões de Hannah (e ao mesmo tempo imitar perfeitamente o sotaque americano, considerando que ela é australiana), Dylan trouxe à vida um Clay desajustado socialmente, tímido, mas carismático (no passado) e também fechado, magoado e confuso (no presente). Outros dois jovens atores merecem destaque nas atuações: Alisha Boe (Jessica) e Brandon Flynn (Justin). Ambos foram protagonistas de cenas de grande sofrimento e entregaram muita emoção no que faziam. Kate Walsh, que interpreta a mãe de Hannah, também emociona, como uma mãe que não aceita o destino da filha e está obcecada em descobrir por quê Hannah fez o que fez, já que a garota não deixou nenhum bilhete ou explicação.

Bullying e machismo
A partir de agora, o review contém spoilers!
Bom, agora eu gostaria de entrar no primeiro ponto de debate sobre 13 Reasons Why. Conversando com algumas colegas da faculdade, percebi uma coisa que não tinha notado: sim, a série é sobre bullying. Mas ela é também sobre machismo. E quase ninguém está falando a respeito.
Hannah começa a sofrer quando iniciam um boato de que ela transou com Justin. Depois, ela vai parar em uma lista das “melhores e piores da escola” como tendo a melhor bunda. Depois, uma falsa amiga espalha boatos sobre sua reputação para esconder o próprio segredo. Depois, um cara se acha no direito de tentar tocá-la. Depois, ela presencia um estupro. Depois, ela própria é estuprada. E, por fim, quem deveria ajudá-la acaba culpabilizando a garota pelo que aconteceu. Ou seja, as agressões que a personagem sofre, em sua maioria, são originadas do julgamento alheio a respeito da sua sexualidade. Sim, acontecem outras coisas no meio de tudo isso que entram na categoria de bullying, mas se analisarmos o cerne de tudo que acontece com ela e que faz com que o copo transborde, vamos encontrar um denominador comum: o machismo.

Em determinado momento, Hannah diz a essa falsa amiga que não se importa com rumores. E, por um tempo, a garota consegue “aguentar o tranco” por mais que sofra com tudo que está acontecendo. O problema é que o acúmulo de coisas vai se tornando um fardo muito pesado, e a personagem (que começa a série mentalmente saudável) vai adoecendo, apesar do enredo não focar nisso com muita eficiência. No final, após o estupro, ela já se sente morta. E eu imagino que muitas mulheres que passam por isso realmente possam se sentir assim – sem esperança, sem vontade de seguir em frente, após terem seu corpo e sua alma violados.

Ainda dentro desse espectro, unindo bullying e machismo, a série critica comportamentos que, infelizmente, são extremamente comuns na nossa sociedade. Alguns personagens são passivos e deixam coisas erradas acontecerem, motivados pelo desejo de aceitação. Outros, como Bryce, são o estereótipo de sucesso americano: ricos, poderosos, inatingíveis. São aqueles homens que fazem parte do time da escola, que tem um futuro brilhante e que acreditam que todas as mulheres querem estar com eles. São o tipo de cara que não sabem ouvir “não” e que acreditam que o mundo está sob seus pés. Infelizmente, esse tipo de homem é mais comum do que eu gostaria de acreditar.
13 Reasons Why é sobre bullying e suas consequências? Também. Tyler é uma prova disso, já que no final vemos o tipo de personagem que ele vai se tornar. Mas a série traz outra questão fundamental que, infelizmente, nem a própria série parece assumir: machismo. E machismo mata.
Sobre gatilhos, riscos e a cena do suicídio
Outro debate que vem tomando as redes sociais é sobre a irresponsabilidade da série em relação aos riscos que ela traz para pessoas emocionalmente fragilizadas. Explico: alguns estudiosos do assunto, pessoas com depressão e educadores têm se mostrado preocupados com a abordagem escolhida por 13 Reasons Why para tratar da questão do suicídio. Segundo esses críticos, a série não segue recomendações da Organização Mundial de Saúde ao retratar de modo explícito o suicídio, o que pode servir como gatilho para pessoas que já pensam no assunto.

Honestamente, não posso falar nessa questão com propriedade, pois não me enquadro no grupo de risco. Mas posso dizer o seguinte: a série me causou tanta bad que, no fim de semana em que terminei, eu realmente não queria fazer nada, nem mesmo sair de casa. Tenho crises de ansiedade e, como mulher, sofri especialmente nas cenas de estupro – pois sabia que é um risco que todas nós corremos. A cena da morte da Hannah, pra MIM, não foi romantizada: não havia música de fundo, a personagem sofre ao se machucar e tudo ocorre de modo visceral e agoniante. E, mesmo eu não sendo grupo de risco, fiquei mal. Falei disso com a minha psicóloga, pra vocês terem ideia.
Então se eu, que não sofro com problemas psicológicos graves, fiquei fragilizada, consigo imaginar o que alguém nessa situação possa ter sentido. E isso me fez entender que sim, existem riscos, e essa abordagem pode sim ser gatilho pra alguém que pensa no assunto. Porque o final da Hannah é desesperançoso: quando ela tenta buscar ajuda, ela não consegue. E, por mais que o final tente trazer alguma luz por meio de Clay e Skye, a verdade é que nós nos afeiçoamos à Hannah. Nos identificamos com Hannah. E a Hannah não vê outra solução que não se matar. Entendem como isso é problemático? Não acredito que a série faça suicidas. Infelizmente, pessoas que pretendem fazer isso sabem como fazer e onde pesquisar. É triste, mas é a realidade. Mas eu acredito que sim, a série possa disparar gatilhos em quem já se vê sem esperança.

Por outro lado, o Centro de Valorização à Vida – que fez uma parceria de divulgação com a Netflix – vem registrando um aumento significativo na busca por ajuda. É algo positivo? Com certeza. Vale o risco de perder alguém que não veja outra solução? Eis o x da questão.
Eis o que penso que poderia ter ajudado nessas questões: acredito que a série deveria trazer avisos de “conteúdos fortes” desde o primeiro episódio, pois isso começa a acontecer apenas no episódio 9 e, até lá, o espectador já está envolvido com a história. Além disso, acredito que no fim de cada episódio poderia ter alguma cena com algum psicólogo ou psiquiatra dando conselhos a respeito do assunto e divulgando os telefones do CVV. Acho que seria uma forma de minimizar os riscos trazidos pela história e falar no assunto com mais responsabilidade. E, por fim, o adoecimento mental da Hannah – que é mais subentendido do que mostrado – poderia ter mais espaço na trama, em vez de tanto “suspense” acerca das fitas.
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Em suma, eu gostei de 13 Reasons Why. É uma série que me fez pensar e mexeu comigo. Porém, acredito que ela funcione mais para pessoas que podem ser “porquês” do que pra pessoas fragilizadas emocionalmente. Se eu recomendo a série? Não pra todo mundo. Leia a respeito dela, pegue spoilers se for preciso, reflita sobre como você se sente e, só depois disso, tome a decisão de assistir ou não. E não esqueça: você é importante. 🙂
(Deixo aqui embaixo o telefone do CVV e alguns links com opiniões que tem mais propriedade pra falar da questão da depressão e do suicídio.)
Título original: 13 Reasons Why
Ano de lançamento: 2017
Criadores: Brian Yorkey
Elenco: Dylan Minnette, Katherine Langford, Christian Navarro, Brandon Flynn, Alisha Boe, Miles Heizer, Justin Prentice, Michele Ang, Kate Walsh