Oi gente, tudo bem?
Hoje vim contar pra vocês o que achei de O Conto da Aia, clássico distópico de Margaret Wood que deu origem à série The Handmaid’s Tale. 😉
Sinopse: Escrito em 1985, o romance distópico O conto da aia, da canadense Margaret Atwood, tornou-se um dos livros mais comentados em todo o mundo nos últimos meses, voltando a ocupar posição de destaque nas listas do mais vendidos em diversos países. Além de ter inspirado a série homônima (The Handmaid’s Tale, no original) produzida pelo canal de streaming Hulu, o a ficção futurista de Atwood, ambientada num Estado teocrático e totalitário em que as mulheres são vítimas preferenciais de opressão, tornando-se propriedade do governo, e o fundamentalismo se fortalece como força política, ganhou status de oráculo dos EUA da era Trump.
Offred é uma moradora da República de Gilead (conhecida, no passado, como Estados Unidos). Diversos fatores fizeram com que grande parte da população tenha se tornado infértil, e há uma grande preocupação com a natalidade em declínio. A função de Offred nessa nova sociedade é ser uma Aia: uma mulher responsável por gerar um filho para a família de um membro do alto escalão do governo. Gilead é um país teocrata, calcado nas crenças do Antigo Testamento, e as mulheres têm papéis bem delimitados: reprodutoras (Aias), esposas, professoras (Tias) ou “domésticas” (Marthas). É através dos olhos de Offred que o leitor tem um vislumbre dos horrores que envolvem esse sistema
Eu terminei de ler esse livro em julho, mas só agora consegui escrever a respeito. A verdade é que O Conto da Aia não é um livro para ser devorado e lido de uma vez, mas sim uma obra que deve ser lida com calma, para que você possa absorver sua atmosfera enquanto compreende sua realidade. A autora é bem misteriosa no início da trama: você vai entendendo aos poucos, de acordo com as reflexões da protagonista.
A narrativa de Offred vai e vem no passado. Sabemos apenas que ela foi capturada 3 anos antes e, desde então, passou pelo treinamento necessário para se tornar uma Aia. Em Gilead, as mulheres são proibidas de ler e escrever (com exceção das Tias), então a oralidade é uma característica da narrativa: como Offred não pode escrever, ela conta ao leitor o que aconteceu com ela; desse modo, acompanhamos seu fluxo de pensamentos e seus devaneios. Isso confere à narrativa um tom intimista e também sufocante: estamos o tempo todo imersos na mente de Offred. Ela narra seu tédio, sua apatia e, claro, suas lembranças. Ela viveu em um mundo com liberdades e direitos civis e presenciou isso ser retirado das mulheres, o que é muito doloroso.
A autora faz uma reflexão que mexeu bastante comigo: ela mostra ao leitor que as transformações podem ocorrer lentamente. Nem sempre é algo explosivo e repentino que causa mudanças drásticas em uma sociedade; muitas vezes, o discurso dos indivíduos vai dando indícios do que está por vir. Em O Conto da Aia, existem matérias nos jornais que dão pistas de que algo grave está por acontecer, mas a população não liga, não leva a sério, simplesmente porque parece distante e irreal demais. Até que acontece. Não nos comportamos exatamente assim fora da ficção?
Outra reflexão óbvia trazida por Margaret Atwood é a questão do papel da mulher em Gilead. Nessa sociedade extremista religiosa, as mulheres são designadas a papéis estereotipados: reprodutoras, professoras, donas de casa, esposas. Elas não podem ler, trabalhar, amar, conversar… Não podem nada. Nesse contexto, as Tias gozam de autoridade, mas somente sobre as mulheres sob sua tutela. Quando todos os seus direitos e liberdades são retirados, exercer poder sobre um grupo acaba sendo muito tentador, e as Tias ilustram essa situação. O papel biológico dita as regras em Gilead; sendo a reprodução o pilar dessa sociedade, gays e lésbicas não-férteis são descartáveis.
O Conto da Aia faz um trabalho primoroso em expor sutilezas do patriarcado de modo gritante. Por meio de lavagem cerebral (ou imposição de medo mesmo), as Tias fazem com que as mulheres aceitem seus papéis e condenem quem sai da norma. Gilead também exerce vigilância constante, por meio dos Olhos (espiões) e das próprias Aias, que fiscalizam e denunciam umas às outras, demonstrando o quanto mulheres estão inseridas em um contexto que as coloca contra si mesmas. Além disso, a obra também escancara a hipocrisia do sistema: apesar de ser baseado em regras religiosas rigorosas e punitivas, os Comandantes usufruem de prazeres proibidos graças ao seu status elevado.
Eu tinha a expectativa de que a trama fosse sofrer alguma reviravolta. Mas a verdade é que o livro não se trata de uma revolta. Inclusive, esse aspecto me lembrou muito 1984 (do George Orwell), cujo foco é fazer o leitor mergulhar na realidade opressora dos personagens, muito mais do que propor um enredo que busque impressionar por conta dos acontecimentos em si. O final do livro incomoda, causa desconforto. As notas históricas mostram Offred sob a luz acadêmica – de um homem. Ele fala de suas vivências com frieza e até certo divertimento/ironia. É muito doloroso perceber a história de Offred, de uma mulher com tantos sofrimentos e nuances, sendo resumida a um estudo.
Como crítica, eu diria que o estilo narrativo é um pouco estranho. Não tem aspas nem travessão pra demarcar a maior parte dos diálogos: eles acontecem realmente como uma narração oral (o que faz sentido, considerando que é essa a sensação que a protagonista deseja transmitir). Essas situações ocorrem quando a personagem rememora conversas do passado, como as lições dadas pelas Tias. Com o tempo o leitor acostuma, mas é estranho ler frases construídas assim: Olá, meninas, disse a Tia Lydia. Vocês são especiais.
Sendo mulher e feminista, devo dizer que foi doloroso chegar ao fim de O Conto da Aia. O livro é poderoso não por trazer inúmeras reviravoltas de tirar o fôlego, mas por narrar com muito realismo e verossimilhança uma situação distópica com alicerces reais. Não é difícil imaginar algo desse nível acontecendo (lembrei da revolução no Irã, por exemplo, e Marjane Satrapi fala sobre as mudanças na sociedade em Persépolis). Entretanto, por mais difícil que a leitura seja, ela também tem seus momentos de inspiração: os lampejos de revolta e insubordinação de Offred dão certo consolo.
Sei que a resenha ficou enorme, mas fiz o melhor que pude pra botar pra fora todos os sentimentos e reflexões que tive ao ler O Conto da Aia. Esse é um daqueles livros que podem até não agradar todo mundo, mas que definitivamente mexem com você. Recomendo MUITO essa leitura, e obrigada por ter lido até aqui! ❤
Título Original: The Handmaid’s Tale
Autor: Margaret Atwood
Editora: Rocco
Número de páginas: 368
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Tenho esse livro na minha wishlist, não vi a série, mas tenho muita curiosidade com esse livro, você referiu alguns aspectos que eu não gosto numa leitura, mas mesmo assim daria uma oportunidade =)
MRS. MARGOT
Quando você resolver ler tenho certeza que irá gostar muito. Falo isso como alguém que leu O Conto da Aia e também Os Testamentos.
Como a Priih disse, pode ser difícil de devorar pela densidade da obra, mas quando você o fizer, sua maneira de ver o mundo vai mudar muito.
Estamos mais perto de Gilead do que conseguimos imaginar.
Oi Prih,
A série é uma das minhas favoritas atualmente.
O que você escreveu, é mais ou menos o que sinto assistindo.
Anseio muito por comprar não só esse, mas outros livros da autora.
Agora, sem condições haha
até mais,
Nana – Canto Cultzíneo
Oie
Eu estava curiosa por este livro, mas com um certo receio de le-lo. Sua resenha me deixou mais interessada peka trama. Ainda não assisti a série.
Beijinhos
http//:diariodeincentivoaleitura.blogspot.com
Oie, tudo bem?!
Essa é a segunda resenha que leio desse livro em menos de 24hrs, então acho que é um sinal de que eu preciso começar a ler essa obra. Eu estou acompanhando a série exibida na TV, mas sei que muitas coisas são diferentes no livro, e foi por esse motivo que eu quis adquirir minha obra e tirar minhas próprias conclusões. Apesar de ter sido escritos tantos anos atrás, O conto da Aia parece ser tão real e possível (o que é uma pena). Estou interessada, também, pelo livro ‘Vulgo Grace’ dessa mesma autora – não sei se você conhece, mas é um livro baseado em uma história real – vc já leu?!
Beijão
http://www.procurei-em-sonhos.com
Oi, Priih.
Não li o livro, mas gostei bastante da primeira temporada do seriado.
A gente pensa que é algo utópico, distante de acontecer,
mas ultimamente vem crescendo o ódio e o radicalismo no nosso meio…
É uma situação bem complicada especialmente pras mulheres.
Bela resenha.
Abraços.
Oiii Prih
Com certeza é um livro que não deixa ninguém indiferente. Tb achava que teria alguma revolta e talz, mas entendo a intenção da autora ao manter as coisas como estão, fazendo o leitor refletir, entender e literalmente mergulhar naquele universo opressor. Não sei se leria nesse momento por conta do estilo narrativo, me parece um pouco cansativo, mas não descarto arriscar a leitura dele futuramente.
Beijos
http://www.derepentenoultimolivro.com
Oi Priih!
Não sei qnd lerei este livro, mas com certeza lerei! rs
Como vi a série (só a primeira temporada, tenho q começar a segunda), consigo compreender tudo o que disse na resenha. É uma história muito forte e necessária!
Bjs
http://acolecionadoradehistorias.blogspot.com
Olaa Prih! Tudo bem?
Nossa, que pesadoooo! Eu não sabia muito bem sobre o que era e fico muito curiosa para ler um pouco mais sobre esse sistema absurdo e opressor, mas deve ser muito doloroso mesmo pada nos mulheres… mas gosto de livros assim que incomodam! Ótima resenha!
Beeijo
Lecaferouge.blogspot.com.br
Parabéns pela resenha Pri! Estou ansiosa para ler O Conto da Aia! Beijo!
http://www.newsnessa.com
Oi Prih, como vai?
Esse parece ser um livro bem denso e com muito drama e reflexões. Eu não sei se leria neste momento, mas ele já faz parte da lista de futuras aquisições. Gostei muito da sua resenha. Deu para perceber o quanto essa história mexeu com você.
Bjus
http://www.docesletras.com.br
Oies! Prih, quero muito ler o livro, mas está sempre tão caro 😦 E também ver a série 😉
Olá, Priih.
Eu tenho esse livro aqui em casa, mas ainda não consegui pegar para ler. Acredito que vou ter dificuldade com essa parte dos diálogos, mas como você disse a gente se acostuma hehe. Quando vejo livros do tipo já fico pensando nos acontecimentos atuais e os livros não parecem mais ser ficção. E o povo só vai acordar quando acontecer algo do tipo.
Prefácio
Acredito que esse livro traga muito contexto social para ser discutido.
Eu comecei a ver a primeira temporada da série que surgiu a partir do livro, mas não tive estômago para continuar, por isso eu concordo com você, creio que O Conto da Aia tbm seja tão forte quanto a série, e que seja necessário ler devagar, dando tempo para digerir os acontecimentos. Porém, apesar de forte, acho que esse é um livro necessário e digno de discussão.
Amei a sua resenha, ficou grande sim, mas o conteúdo é tão gostoso de ler (e vc escreve tão bem) que o post terminou sem eu nem perceber que estava no final quando eu terminei a leitura dele.
Beijo, Blog Apenas Leite e Pimenta ♥
Oi Prih, tudo bem?
Eu vi o trailer da série e achei a trama muito forte, então sei se leria o livro, mas gostei da sua resenha.
*bye*
Marla
https://loucaporromances.blogspot.com.br/
Oi, Priih
Eu estou postergando até não poder mais a leitura desse livro, porque eu tenho certeza que ele vai mexer muito comigo. Acho assustador ler histórias assim porque são cenários não muito difíceis de imaginar, é apavorante.
Não sabia desta característica da narrativa, achei bem inusitada. Rs
Beijos e bom final de semana. 🙂
– Tami
https://www.meuepilogo.com
Oi, Priih!
Esse livro vai ser discutido no clube no fim do ano. Eu vi a série e dizem que é bem fiel, por isso ando protelando se leio ou não…
Beijos
Balaio de Babados
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Prih
a sua resenha foi sensacional, pelo amor, de verdade!
Adorei como você a construiu
Fiquei com + vontade ainda de ler
um livro forte, que ataca o cérebro e parece ser o que dá dor e cabeça e fazer pensar ❤
Beijocas da Pâm
Blog Interrupted Dreamer
Oi Priih,
Já ouvi falar do livro e o quanto ele é reflexivo.
Apesar de não ter uma reviravolta, o que é algo que adoro, parece ser uma leitura interessante.
Bjs e uma boa semana!
Diário dos Livros
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Oi, Priih!
Entendo o que você quer dizer. Tem livros que precisam ser lidos com calma para absorvermos todas as suas mensagens, fora o peso das situações neles. Sua resenha ficou magnífica, tenho muito interesse na história, mas acho que primeiro vou arriscar na série, que imagino que também seja ótima.
xx Carol
http://caverna-literaria.blogspot.com/
Oi Priih,
Eu não consegui ler o livro ainda, acho lento e pesado, só que a série eu sou mega fã!!!!!!!!!!
Aproveitei ontem que teve maratona do Paramount, só preciso me atualizar na temporada 2.
As reflexões da obra são sensacionais!
Beijos
http://estante-da-ale.blogspot.com/
Não li ainda, nem conhecia!
Mas não é muito meu estilo não… Acho que sou chata né?! haha
Nova postagem no blog! Como combinar acessórios com vestidos estampados
Beijos da Ju!
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Olá! Assisti as 3 temporadas da série e já encomendei o livro, mal posso esperar para começar a ler. Estava a procura de resenhas sobre o livro e encontrei a sua. Gostei e concordo com as suas observações me pareceu que a série é um pouco diferente do livro, mas acredito que vou gostar muito!!! Um beijo!!! Boa Quarentena #ficaemcasa
Olá Priih
Gostei muito da sua resenha, deu pra ver que você realmente foi a fundo ja leitura e absorveu tudo. Eu também fiquei alguns meses de ressaca literária depois de ler O Conto da Aia, tanto que a resenha que tem no meu blog foi a Thais quem escreveu e não eu.
Fico sempre refletindo se devo assistir à série ou não. Eu já li O Conto da Aia e Os Testamentos, então basicamente eu iria preencher o meio da história, mas fico com medo de perder a magia.
Conheci seu blog pelo Twinkle, aparentemente a Vitória tem ótimo gosto.
Um beijo e se cuida Priih